segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ELEVAÇÃO DO NÍVEL DOS OCEANOS EXIGE POLÍTICAS DE LONGO PRAZO

André Julião  |  Agência FAPESP
A elevação do nível dos oceanos pode ultrapassar 1,6 metro até o fim do século, com consequências desastrosas principalmente para as populações costeiras. Além de medidas para a redução das emissões de gases do efeito estufa a serem adotadas pelos países, os cidadãos precisam mudar hábitos e pressionar os tomadores de decisão para evitar um cenário catastrófico.

Elevação do nível dos oceanos exige políticas de longo prazo
A avaliação foi feita pelos pesquisadores que participaram do primeiro episódio do programa Ciência Aberta em 2019, lançado no dia 19 de março com o tema “Oceanos Ameaçados”. A iniciativa é uma parceria da FAPESP com a Folha de S.Paulo.
“São necessárias políticas de Estado, o que não quer dizer políticas de governo. É preciso que seja algo perene, ao longo de décadas”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, professor no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).
Participaram do programa Ilana Wainer, professora no Departamento de Oceanografia Física do IO-USP e membro do comitê gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera, e Cristiano Mazur Chiessi, professor na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e líder do subgrupo Paleoclima do Núcleo de Apoio à Pesquisa – Mudanças Climáticas (Incline).
Chiessi lembrou que a cidade de Santos foi uma das primeiras a estabelecer um plano no longo prazo para o enfrentamento das mudanças climáticas. A iniciativa foi parte de um projeto com apoio da FAPESP.
“Não foi algo feito apenas por pesquisadores, mas em conjunto com o poder público e com a sociedade civil. O plano ainda não foi colocado em prática, é muito recente. Mas, se for, vai efetivamente gerar condições um pouco menos difíceis para as populações afetadas pela elevação do nível do mar e por outras questões associadas a mudanças climáticas dos oceanos”, disse o pesquisador.
O estudo concluiu que o custo mínimo com obras na região da Ponta da Praia de Santos e na Zona Noroeste, as mais afetadas pela elevação do nível do mar no município, ficaria em torno de R$ 300 milhões. Não se adaptar às mudanças climáticas, por outro lado, poderia custar até R$ 1,5 bilhão.
Os pesquisadores ressaltaram que a elevação do nível dos oceanos já ocorreu em outros períodos na Terra, mas não em uma velocidade tão alta como agora.
“A taxa em que esse aumento está ocorrendo é muito rápida. Desde 1993, a elevação é de 3,1 milímetros (mm) por ano. Em 1900, era de 1,7 a 2 mm por ano. A partir de um determinado ponto, o aumento começou a ser exponencial. Mudanças [climáticas] sempre existiram, mas agora estamos alimentando o sistema com os gases [do efeito] estufa”, disse Wainer.
O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Organização das Nações Unidas (ONU), lançado em 2013, apontou que a taxa de elevação do mar seria de 8 a 16 mm por ano até o fim do século, muito maior do que os 3,2 mm anuais observados atualmente. Para o ano 2100, portanto, o nível dos mares subiria entre 50 centímetros e 1 metro.
“É importante mencionar que, quando o quinto relatório do IPCC foi fechado, a compreensão e a representação do degelo das calotas polares eram extremamente incipientes”, disse Chiessi.
Os novos modelos, explicou, preveem um aumento ainda maior, chegando a 1,6 metro de elevação até 2100, levando em conta o derretimento das calotas polares. Estudos recentes, que serão contemplados no próximo relatório do IPCC, indicam valores anda mais altos do que 1,6 metro de elevação para o fim do século.
Sintonia com a atmosfera
Os oceanos têm um papel fundamental na regulação do clima do planeta, ao redistribuir o calor que chega em excesso na região tropical até as regiões polares, ao mesmo tempo em que levam o frio dos polos para os trópicos.
“Os oceanos, junto com a atmosfera, funcionam como um ar condicionado do planeta, levando calor para as regiões frias e frio para onde está muito quente”, disse Wainer.
Chiessi explicou que a transferência de energia na forma de calor do Atlântico Sul para o Atlântico Norte anualmente é da ordem de 0,4 petawatt, o equivalente ao produzido por 285 mil usinas hidrelétricas de Itaipu. “Essa grande circulação no Atlântico está marcantemente ameaçada”, disse.
“Quando há o derretimento das geleiras, existe um aporte de água doce no mar. Desse modo, não se consegue mais formar essa água profunda e densa necessária para a circulação continuar se movendo. Como consequência, o oceano acaba sendo menos eficiente em redistribuir o calor”, explicou Wainer.
Consciência e tecnologia
Para os pesquisadores, pressionar os tomadores de decisão é fundamental para evitar um cenário catastrófico. Além de diminuir o consumo de plástico, que afeta os ecossistemas marinhos e inevitavelmente chega aos humanos por meio do consumo de peixes e frutos do mar, é fundamental diminuir as emissões de gases do efeito estufa.
“Obviamente, ninguém vai abandonar os carros, parar o transporte aéreo e marítimo da noite para o dia. Não é isso. Mas existem dois pontos importantes. Um é a tomada de consciência, individual e coletiva, de que é necessário um maior respeito pelos oceanos e pelo planeta. E o outro é usar a tecnologia a nosso favor. Optar por meios de transporte menos poluentes, por exemplo. Existem várias coisas que podem ser feitas, senão para impedir, pelo menos para diminuir a taxa de crescimento [de emissões]. Temos que ter consciência de que só temos esse planeta [e por isso] temos que cuidar melhor dele”, disse Mahiques.
FONTE:

CIÊNCIA ABERTA

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

MAIS DE 70 MILHÕES DE BRASILEIROS PODEM SOFRER FALTA D'ÁGUA ATÉ 2035.

Matéria com o pesquisador Carlos Joly (foto) para Agência Fapesp.

O Brasil possui a maior reserva terrestre de águas superficiais, além de duas das maiores áreas úmidas do mundo – o Pantanal Mato-Grossense e a Bacia Amazônica – e vastos reservatórios de água subterrânea. Essa abundância de água, porém, não garante a segurança hídrica do país. O recurso natural está distribuído de forma bastante desigual pelo território nacional e, sem investimentos em infraestrutura para garantir o abastecimento, 74 milhões de brasileiros podem sofrer com a falta d’água até 2035. As conclusões são do relatório temático “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil” e de seu respectivo sumário para tomadores de decisão, lançados no úlitmo dia 8 de agosto, durante o 15º Congresso Brasileiro de Limnologia, em Florianópolis (SC). Resultado de uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês) – apoiada pelo programa BIOTA-FAPESP– e as universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o relatório foi elaborado por um grupo de 17 pesquisadores, de diversas instituições do país.
“A água é um recurso de suma importância para o Brasil, onde já vemos regiões, como o Sudeste, que têm enfrentado crises hídricas bastante sérias nos últimos anos”, disse à Agência FAPESP o pesquisador  Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES. “A redução da disponibilidade de água poderá acirrar os conflitos pelo uso desse recurso no país”, avaliou o pesquisador, que também é coordenador do programa BIOTA-FAPESP.
O relatório destaca que, além da população e da biodiversidade, praticamente todas as atividades econômicas no Brasil dependem de água. A agricultura irrigada e a pecuária são os principais usuários dos recursos hídricos do país, consumindo, respectivamente, por volta de 750 mil e 125 mil litros de água por segundo. Além disso, 85% da produção agropecuária nacional – localizada nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul – depende da água proveniente das chuvas, que tem, aproximadamente, 40% de sua origem na evapotranspiração da Amazônia.
Já a indústria usa mais de 180 mil litros de água por segundo e, pelo menos, 80% dos reservatórios hidrelétricos recebem água proveniente de unidades de conservação, que asseguram o fornecimento do recurso em quantidade e qualidade necessárias para suas operações, apontam os autores.
Esses setores econômicos altamente dependentes de água já têm sofrido os impactos da diminuição da disponibilidade do recurso em função de fatores como as mudanças climáticas, de uso do solo, fragmentação de ecossistemas e poluição, apontam o relatório.
Anos de seca prolongada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste resultaram em uma perda estimada de R$ 20 bilhões no faturamento do setor agrícola em 2015 – um recuo de quase 7% em relação ao ano anterior. Por outro lado, mudanças no uso do solo em função da expansão agrícola e do represamento de rios podem comprometer a disponibilidade e a qualidade da água em todo o país, afetando os usos pela biodiversidade aquática e pela população humana.
Essas mudanças, bem como a transposição de rios, promovem modificações na dinâmica e na estrutura dos ambientes aquáticos, causando perda na conectividade e alteração no regime hidrológico, o que favorece o estabelecimento de espécies exóticas. Da mesma forma, o aumento no aporte de poluentes em rios, lagos e riachos acarreta prejuízos à biodiversidade e aos serviços providos por ecossistemas aquáticos, como o fornecimento de água limpa e de peixes para o consumo, ressaltam os autores. “A água não é só um recurso hídrico, mas também um componente-chave da biodiversidade, patrimônio cultural do país e um elemento essencial para o bem-estar da população brasileira”, disse Aliny Pires, professora da UERJ e coordenadora do relatório.
Garantia de segurança hídrica
De acordo com o relatório, cerca de 10% das espécies de peixe continentais do país estão sob risco de extinção e 30% do total de espécies da fauna ameaçada no Brasil compreendem peixes e invertebrados de água doce. Quase 65% das áreas úmidas brasileiras – fundamentais na prevenção de enchentes e de outros desastres naturais – foram perdidas e a taxa atual de alteração desses ambientes observada é três vezes mais rápida que a de perda de floresta. “Em biomas como a Amazônia e o Pantanal, a alternância entre as cheias e as vazantes determina a estrutura e a dinâmica dos diversos ecossistemas da região”, afirmou Joly. “Nesses casos, a interrupção do pulso de inundações periódicas leva a um colapso no funcionamento dos ecossistemas”, disse.
O enfrentamento das ameaças e a conservação dos ambientes aquáticos e das áreas úmidas nas diferentes regiões do Brasil serão fundamentais para garantir a segurança hídrica no país, indica o relatório. A restauração florestal e a conservação dos mananciais e da vegetação ribeirinha podem trazer benefícios consistentes para a qualidade da água e reduzir, consideravelmente, os gastos com tratamento. No sistema Cantareira, que está situado na Região Metropolitana de São Paulo e abastece a capital, a recomposição da vegetação nativa, por exemplo, pode reduzir em cerca de três vezes os custos com o tratamento da água, considerando-se os valores da restauração, apontam os autores. “Um dos fatores que causaram as crises hídricas pelas quais São Paulo tem passado nos últimos anos é a remoção de cobertura vegetal nativa”, afirmou Joly.
Segundo o relatório, estima-se que a cada R$ 1 investido em infraestrutura para a segurança hídrica, mais de R$ 15 são obtidos em benefícios associados à manutenção das distintas atividades produtivas no país. Já a falta de investimento para essa finalidade pode causar perdas econômicas principalmente para o setor industrial, seguido pela pecuária e a agricultura de irrigação, além de comprometer a saúde da população e a manutenção da biodiversidade aquática. “A questão da segurança hídrica não está atrelada apenas à garantia da disponibilidade de água, mas também à gestão desse recurso, de modo a assegurar que exista e seja disponível para todos os setores usuários”, afirmou Pires.
A vazão média anual dos rios brasileiros é de, aproximadamente, 180 milhões de litros por segundo. A distribuição desse recurso, contudo, se dá de maneira extremamente desigual no território brasileiro e o país apresenta grandes perdas na distribuição. Uma redução média da perda de água na distribuição para valores próximos a 15% promoveria um ganho líquido em torno de R$ 37 bilhões até 2033, estima o relatório. “A região Norte do Brasil, por exemplo, tem a maior disponibilidade hídrica do país, em função da Amazônia, mas perde muita água na distribuição”, exemplificou Pires.

Fonte: 
Agência Fapesp

CIENTISTA BAIANA CRIA NOVA VACINA PARA ALERGIAS.

A vacina tem potencial para fornecer ao Brasil, e outros países, um tratamento mais eficaz e com baixo custo.

A ciência ainda não tinha criado um tratamento para alergias de maneira eficaz e sem efeitos colaterais, até surgirem os primeiros estudos de biologia molecular. Agora, um grupo de pesquisadores da Bahia, liderado pela professora Neuza Alcântara Neves, decidiu desenvolver uma nova forma de combater as doenças alérgicas, a partir desta técnica. O projeto, que é produzido simultaneamente em Salvador e na Europa, traz a recombinação dos agentes causadores da reação alérgica no organismo do indivíduo com o intuito de curar a alergia ao ácaro, a mais comum entre a população baiana.
De acordo com a cientista, o trabalho teve início há mais de 10 anos no laboratório de Alergia e Acarologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), onde, junto a um grupo de pesquisa, ela presta serviços para a empresa Alergolatina, ao mesmo tempo em que realiza estudos sobre alergia e asma com a população de Salvador em colaboração com os professores Maurício Barreto, Camila Figueiredo e Álvaro Cruz da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Ufba. “Através deste trabalho, mostramos que as alergias são muito prevalentes na capital baiana e resultam em grande custo financeiro por parte da saúde pública para disponibilizar tratamento”, sinalizou.
A diferença em relação às vacinas que já existem está na quantidade de efeitos colaterais. “Em vez de utilizar o próprio organismo que causa alergia para gerar imunidade no paciente, nesta nova vacina, o gene que codifica a proteína causadora da reação alérgica no indivíduo é colocado em uma bactéria que faz ela produzir grandes quantidades desta proteína. Este processo diminui para quase zero a possibilidade de a vacina gerar efeitos adversos como sintomas de alergia comuns em vacinas de extratos”, explicou.
Vale ressaltar que, a princípio, o trabalho está destinado à alergia ao ácaro, conhecida como Blomia Tropicalis, que é uma das mais comuns entre a população baiana. Segundo Neuza Alcântara, se o projeto for concluído abrirá portas para que sejam criadas outras vacinas a partir deste modelo. E quando se trata de conclusão, esta é uma etapa que exige atenção, pois de acordo com a pesquisadora, a iniciativa precisa de financiamento para poder avançar. “Assim como qualquer imunização, esta vacina precisa passar por testes antes de ser comercializada. Por se tratar de biologia molecular, é necessário um laboratório que produza as moléculas com boas práticas e um biotério registrado na Anvisa. Chineses se mostraram interessados”, afirmou.
Atualmente, há uma preocupação latente em deixar que uma descoberta tão importante para o cenário da saúde seja reconhecida como uma realização da comunidade acadêmica brasileira. Conforme Neuza, o grupo iniciou uma nova forma de arrecadar recursos. “Não levamos a proposta da China adiante, pois o país não costuma respeitar as patentes estrangeiras, por isso contatamos o Instituto de apoio à pesquisa e inovação de Minas Gerais (Biominas) que poderá nos ajudar a encontrar investidores interessados em comercializar esses produtos, que já estão patenteados”, ressaltou.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

AMAZONAS DE DAOMÉ: AS MULHERES MAIS TEMIDAS DO MUNDO!

HISTÓRIAS OMITIDAS NOS LIVROS DE HISTÓRIA 

Bravas guerreiras da África Ocidental repeliram com sucesso invasores europeus.

REPRODUÇÃO

Nansica, uma jovem soldado do reino de Daomé, no atual Benin, de cerca de 16 anos, se aproxima rapidamente de um sargento francês e o decapita com furor. Em seguida, tem seu corpo atravessado por uma baioneta e tomba de costas, braços estendidos para a frente. Na mesma batalha, um soldado gabonês de infantaria, recrutado pelos franceses, desarma outra militar de Daomé. Sem opção, ela rasga a garganta do inimigo com os próprios dentes.
Apesar de a França ter conquistado Daomé em 1894, após duas guerras num período de 4 anos, a ferocidade das mulheres que compunham 1/3 das tropas do país africano ao longo do século 19 impressionou visitantes e soldados estrangeiros. “O valor das amazonas é real. Treinadas desde a infância com os mais árduos exercícios, constantemente incitadas à guerra, elas levavam às batalhas uma fúria verdadeira e um ardor sanguinário... Inspirando com sua coragem e sua energia indomável tropas que as seguiam”, escreveu em 1895 o major francês Léonce Grandin, que lançou Le Dahomey: À l'Assaut du Pays des Noirs, em que analisa a guerra na qual lutou.
“Notavelmente bravas”, “extraordinárias por sua coragem e ferocidade” e de “tenacidade selvagem” são algumas das características atribuídas a elas por combatentes franceses em diários escritos no calor das batalhas.
Donas do palácio
Mulheres lutando em exércitos não eram novidade. Mas um exército de mulheres, sim. Esqueça as lendárias amazonas da Grécia antiga, que estão no terreno do mito. Como escreve o jornalista e pesquisador Stanley B. Alpern em Amazons of Black Sparta (Amazonas da Esparta Negra), "na verdade, as únicas amazonas documentadas da História são o tema deste livro".
Para a autora de Wives of the Leopard: Gender, Politics and Culture in the Kingdom of Dahomey (Esposas do Leopardo: Gênero, Política e Cultura no Reino de Daomé), Edna G. Bay, elas talvez nem fossem tão melhores e mais ferozes que seus companheiros de armas. “Mas a visão de mulheres combatentes foi um choque para os franceses”, comenta ela.
Algumas das Amazonas / Crédito: Reprodução
As mulheres soldados e oficiais do exército de Daomé possuíam escravas, moravam no palácio do rei e eram tão respeitadas e poderosas que, quando andavam pelas ruas, os homens comuns deviam dar um passo atrás para abrir caminho e olhar para o outro lado: não podiam dirigir seu olhar a elas. Usavam uniformes, carregavam bandeiras e cantavam hinos.
Acostumadas desde cedo a um treinamento rigoroso, eram grandes guerreiras, fortes, velozes, que escalavam paredões, empunhavam espadas, machadinhas e punhais com vigor e, armadas com espingardas, atiravam com boa mira. Decapitavam sem pena. Estavam, normalmente, na linha de frente dos ataques aos reinos inimigos, à frente dos homens.
Esparta das mulheres
As militares não eram as únicas mulheres com poder na sociedade de Daomé, cuja etnia principal era a fon e onde havia a prática do vodu. Outras estavam em posições-chave na política e em cargos burocráticos. “Isso não era incomum na África Ocidental, onde em muitos reinos havia, por exemplo, a figura da rainha-mãe. Mas Daomé levou isso ao extremo. Em nenhum outro lugar havia tropas inteiras de combatentes femininas, em toda a história”, ressalta Edna Bay.
Como um exército de mulheres surgiu naquele lugar particular da África do século 19 é algo que gera discussões e questionamentos. Mas acredita-se que as origens das tropas femininas de Benin estejam em dois grupos. O de mulheres caçadoras de elefantes, comuns nos séculos 17 e 18, ou o mais provável: o de guardas do palácio real. Apenas mulheres e eunucos podiam guardar os aposentos do rei e de suas centenas de esposas. Mas no Benin tais sentinelas teriam evoluído para a formação de uma guarda pretoriana do governante.
Havia cerca de 5 mil mulheres no palácio, entre esposas do rei, guardas, administradoras, funcionárias e escravas. “As mulheres eram criadas, desde a infância, para serem leais à sua família de nascença e à família do marido”, conta Edna. Assim, quase todas as mulheres do palácio eram esposas do rei, mesmo que não tivessem relações sexuais com ele. É o caso das mulheres militares, celibatárias.
Daomé era um dos grandes fornecedores de escravos para países como o Brasil. Os ataques a reinos vizinhos muitas vezes tinham como objetivo capturar escravos para a venda. Era o destino também de prisioneiros de guerra. Porém o número de mulheres negociadas era menor. Muitas eram treinadas para se tornar amazonas.
As primeiras notícias das mulheres soldadas em Daomé datam de cerca de 1830. Daomé lutava em muitas guerras, o que levou ao declínio da população masculina. Isso é outro fator que pode explicar o uso de mulheres como militares. A última vez que elas entraram num campo de batalha foi em 1894, quando a França venceu a 2º Guerra Franco-Daomeana e subjugou o reino africano. “O colonialismo fez com que as mulheres africanas se encolhessem, perdessem a força, passassem a se casar para ser sustentadas pelos maridos”, conta Edna Bay.


FONTE:

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

CONHEÇA 5 CIVILIZAÇÕES AFRICANAS TÃO IMPRESSIONANTES QUANTO A DO EGITO.

O continente Africano guarda a memória e o poder de povos milenares. Por quê nós não sabemos disso? Por quê não estudamos esses Reinos? 

Desconhecidos pela maioria das pessoas, inúmeros reinos floresceram no continente africano durante a Antiguidade e Idade Média, controlando rotas comerciais e o poder local.
Conheça alguns desses Impérios, que produziram grandes monumentos e marcaram o território até os dias atuais.
1. Reino de Gana
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Império de Gana / Crédito: answersafrica.com
O antigo Império de Gana, que teve seu apogeu entre os anos de 700 e 1200 da Era Cristã, ficava próximo a uma imensa mina de ouro na África Ocidental e era tão rico que até seus cães usavam coleiras de metal precioso. Com planejamento estratégico, líderes poderosos e uma abundância em recursos naturais, Gana logo se tornou uma grande influência no território africano.
Negociando com europeus e norte-africanos, Gana importava livros, tecidos e cavalos em troca de ouro e marfim, e comerciantes árabes passavam meses viajando em busca de negociações. O antigo império controlava o comércio de todo o ouro e sal da região, e uma boa proporção do então recém-descoberto elemento ferro, que aumentou sua influência e poder. Sendo um entreposto comercial, Gana controlava o comércio entre produtos árabes ao norte e ouro e marfim ao sul.
Apesar de ter detido muitas invasões, Gana acabou por desmoronar em 1240. Isolado do comércio e enfraquecido pelos seus rivais, o reino foi absorvido pelo crescente Império do Mali.

2. Império do Mali
Império Mali / Crédito: Reprodução
O Império do Mali floresceu entre os séculos 13 e 16. Fundado por Sundiata Keita, também conhecido como Rei Leão, o império se localizava ao sul do Saara Ocidental, estrategicamente localizado junto a minas de ouro e campos férteis próximos ao rio Níger.
Embora o Rei Leão tenha sido um governante impressionante, o império prosperou sob o governo de Mansa Musa, que detém o título de homem mais rico da história, com fortuna equivalente a US$ 400 bilhões. Musa também fez de Timbuktu, a capital do Mali, um dos principais centros de educação e cultura na África, permitindo que estudiosos de todo o continente viessem se aprimorar.
Como Benim, o Mali teve sucesso no comércio devido à sua localização no rio Níger. No entanto, foi saqueada por invasores do Marrocos em 1593, o que enfraqueceu o império e o fez deixar de ser esta importante entidade política.
3. Reino de Kush
Reino de Kush / Crédito: Wikimedia Commons
Relativamente desconhecido fora da África, o antigo reino de Kush dominava uma região na época chamada Núbia, e que hoje faz parte do Sudão. A princípio colônia do Egito, Kush mais tarde veio a dominar boa parte do vale do rio Nilo, e sua civilização mesclava cultura egípcia com a de outros povos africanos. Esse reino teve seu equivalente aos faraós, realizando a mumificação de mortos, construção de pirâmides e adoração a deuses. No entanto, existiam diferenças fundamentais entre os Kuchitas e os Egípcios.
Economicamente, o ferro havia se tornado um enorme recurso para Kush, enquanto os egípcios ainda estavam a descobrir as maravilhas desse metal. Socialmente, as mulheres tinham papel de maior relevância política, e as rainhas muitas vezes sucediam os reis no papel de governante. Exemplo disso é que uma das maiores pirâmides de Kush foi construída para homenagear uma governante feminina.
Kush também era famoso por seus arqueiros, frequentemente retratados em obras de arte. Teoriza-se que sua cultura declinou após ser invadida, por volta do ano 350 da era cristã, pelo Império de Axum, o que deu origem a uma nova sociedade denominada Ballana.
4. Império de Songhai
Império de Songhai / Crédito: Reprodução
A sede do império Songhai ficava onde atualmente é a região central do Mali, se estendendo para oeste em direção à costa atlântica, e para leste na direção dos atuais Níger e Nigéria. Com uma duração de quase 800 anos, o reino foi considerado um dos maiores impérios do mundo entre os séculos 15 e 16.
Tal como outros reinos africanos, Songhai derivou a maior parte de sua riqueza do comércio, que era extremamente seguro devido ao exército de 200.000 pessoas localizado ao longo de suas fronteiras. O império submetia milhares de etnias, mantidas juntas por uma burocracia governamental centralizada.
As dificuldades no controle do Império, que atingia enormes proporções, foram a causa de sua queda. Songhai entrou em conflitos internos que, em fins do século 16, levaram ao seu desmembramento em grupos menores.
5. Reino de Axum

Reino de Axum / Crédito: Reprodução

Enquanto uma revolução cristã ocorria na Europa, um poderoso reino emergia no continente africano. Na atual Etiópia, o Império Axum tornou-se um dos maiores mercados do nordeste da África, com grande poder comercial e naval, dominando a costa do Mar Vermelho durante séculos. Os vestígios deste reino datam de 5 a.C., mas seu apogeu se deu por volta de meados do século 4 d.C., quando os Axumitas levaram o reino Kush, seu rival, à ruína.
Influenciando outras superpotências na África, Europa e Ásia, esse império contava com uma multidão de visitantes estrangeiros. Um escritor persa saudou Axum como “uma das quatro maiores potências do mundo”. Ainda assim, pouco se sabe sobre essa impressionante civilização africana. 
O reino de Axum continuou imponente até o século 11 d.C., época em que o islamismo já havia se expandido pela Península Arábica e conquistado boa parte dos territórios do reino. A população do Império foi forçada ao isolamento político, o que levou seu declínio comercial e cultural.


COMO A PESTE BUBÔNICA SE ESPALHOU PELA EUROPA? UMA PANDEMIA!

Uma tentativa de restaurar o Império Romano do Ocidente ajudou ter espalhado uma praga que matou metade dos europeus.
Uniforme de médicos que cuidavam de pacientes infectados pela peste

Era o início da Alta Idade Média, ou Idade das Trevas, período que foi marcado pelo abandono das cidades, estagnação da economia e miséria da população. Numa tentativa de restaurar o Império Romano do Ocidente, o imperador bizantino Justiniano, colocou o continente todo em guerra.
Foi nessa época que os europeus tiveram de enfrentar a primeira pandemia da história. Foi a chamada Praga de Justiniano, a primeira epidemia de peste bubônica, que voltaria a assolar a Europa séculos depois, entre 1346 e 1352.
A praga, transmitida por pulgas de ratos infectados, vindos dos navios, tinha surgido no Egito. Passou pelo Oriente Médio e chegou à capital do Império Bizantino, Constantinopla, em 540, matando 5 mil moradores por dia, e eliminando metade da população (estimada entre 500 mil e 1 milhão de pessoas) da cidade. A doença se espalhou também pela Síria, Europa e atual Turquia.
Meio século depois, haviam morrido em decorrência da doença entre 25 e 100 milhões de pessoas. "É difícil precisar dados estatísticos, mas é possível afirmar que 40% da população de toda a área mediterrânea foi dizimada por volta do ano 600", afirma Celso Taveira, doutor em história bizantina e professor da Universidade Federal de Ouro Preto.
A peste bubônica, que mais tarde ficou conhecida como peste negra, ataca os nódulos linfáticos, localizados em axilas, virilhas e pescoço, que incham e formam enormes bolhas de pus. As extremidades do corpo são atacadas por necrose, o que dava aos infectados uma aparência aterradora, algo como mortos-vivos.
Devido à sua mobilidade, as tropas justinianas podem ter ajudado a propagar a doença, mas foram também extremamente afetadas por ela. O exército foi assolado pela praga e até o próprio imperador contraiu a doença, mas sobreviveu. O impacto na população europeia e, consequentemente, nas guerras travadas por Justiniano se deu de várias formas. Constantinopla chegou a ser fechada e a entrada de navios foi proibida, fazendo com que as pessoas passassem a morrer de fome.
Em questões militares, com a falta de pessoal para as batalhas, a situação foi de estagnação e derrotas. A praga afetou também os persas, que contraíram a doença durante a guerra contra os bizantinos, em 543. Com o enfraquecimento do exército, Justiniano viu-se incapaz de dar continuidade aos combates e foi forçado a firmar um acordo de paz com o rei persa, Cosroes, em 545.
Alguns historiadores acreditam que os danos causados aos persas e bizantinos os tornaram vulneráveis às conquistas muçulmanas no século seguinte. Estima-se que a pandemia tenha durado mais de 200 anos. "Não se pode falar de uma epidemia que durou de um período a outro, mas que ela mudava de lugar", afirma Silvia Waisse, professora de história da ciência da PUC-SP.
Na pandemia do século 6, nem a imperatriz Teodora escapou. Alguns a culparam, dizendo que a praga era uma punição divina por sua promiscuidade. Não passava pela cabeça dos médicos que pulgas, ratos e organismos invisíveis pudessem causar o mal. "A noção de que havia alguma coisa que se transmitia só se estabeleceu no final do século 15", diz Silvia.
O (quase) retorno do Império Romano
Em 285, tentando organizar o caos administrativo do decadente Estado romano, o imperador Diocleciano dividiu o Império em duas partes, Ocidente e Oriente. Roma - e, com isso, o Império Romano do Ocidente - caiu nas mãos dos bárbaros em 476, mas a parte oriental sobreviveu. A capital, na cidade de Constantinopla, foi chamada de Bizâncio até 330 - daí o nome Império Bizantino, que, aliás, não era usado pelos bizantinos. Para eles era Império Romano e ponto, mesmo depois de mudarem a língua oficial para o grego, em 620.
A peste foi um imenso revés na campanha de Justiniano para restaurar o Império Romano às suas antigas fronteiras. Iniciada em 527, e contando com generais legendários, como Belisário e Narses, Justiniano retomaria dos bárbaros toda a Itália, norte da África e parte da península Ibérica. No entanto, pelo impacto brutal da doença, e problemas políticos e econômicos, a reunificação de Roma seria efêmera.
A Itália seria perdida para os lombardos em 568, meros 3 anos após a morte de Justiniano, e o Império Romano do Oriente sofreria grandes derrotas para os povos islâmicos a partir do século 8, até a queda de Constantinopla para os turcos otomanos, em 1453. Os gregos viveram sob domínio otomano até 1822, quando declararam independência e iniciaram uma guerra contra os turcos com o apoio de países europeus.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

CONSÓRCIO NORDESTE NÃO É SEPARATISMO: É AUTONOMIA E UNIÃO EM PROL DO FEDERALISMO!

CAMILO SANTANA (CE), FLÁVIO DINO (MA) E FÁTIMA BEZERRA (RN) EM EDIÇÃO DOS DIÁLOGOS CAPITAIS SOBRE O CONSÓRCIO NORDESTE.


O Consórcio Nordeste, segundo o governador, quer atrair investimentos do setor privado para a região com mediação estratégica do Estado

O governador Flávio Dino (PCdoB-MA) rejeitou, em discurso nesta terça-feira 20, que o projeto Consórcio Nordeste tenha propósito separatista, mas sim “diferente”. Dino participou do evento Diálogos Capitais, da revista CartaCapital, em São Paulo, junto aos governadores Camilo Santana (PT-CE), Fátima Bezerra (PT-RN) e Wellington Dias (PT-PI).

“Não temos nenhuma perspectiva separatista”, disse o governador. “O consórcio representa esta perspectiva democrática que não significa oposição, mas sim, diferença. Nós acreditamos na democracia, no pluralismo e na limitação do poder, de quem quer que seja”, declarou. O Consórcio Nordeste é uma iniciativa de estados do Nordeste para atrair investimentos e alavancar projetos de forma integrada.
Em seguida, o governador destacou a perspectiva “popular” do Consórcio Nordeste A ideia é atrair investimentos do setor privado para a região com mediação estratégica do Estado.
“Nós, orgulhosamente, não aderimos aos modismos que acham que o Estado nada tem a dizer na conjuntura atual. Não aderimos que o mercado pode tudo e vai resolver tudo”, declarou. “Socialistas utópicos, pré-Marx, já diziam que era o papel indissociável dos governos. A urna corrige o papel do mercado.”
Dino enumerou as prioridades do Consórcio e reforçou a necessidade de construir diálogo com as empresas privadas para o desenvolvimento nacional. “Nós sabemos o lugar insubstituível do capital privado e das empresas, mas, para que ele possa se desenvolver em sua plenitude, é preciso que haja uma instância pública, apta em fazer a compatibilização de múltiplos interesses legítimos na sociedade. Nós acreditamos em soberania energética, em bolsas de pós graduação, em desenvolvimento nacional”, disse.
O governador do Piauí, Wellington Dias, destacou que as principais oportunidades na região estão no setor de geração e distribuição de energia. “O que está apontado é que essa região do Brasil tem condição de gerar 80% da energia necessária até 2030”, afirmou.

FONTE:
Carta Capital - Consórcio Nordeste