quinta-feira, 25 de março de 2021

CÂMARA DOS DEPUTADOS APERTA SINAL AMARELO PARA PRESIDENTE BOLSONARO: "NÃO VAMOS COMPACTUAR COM ERROS PRIMÁRIOS". "TUDO TEM LIMITE". RESUMO: NINGUÉM QUER TER MORTES NA CONTA.

 


O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira, começou a mostrar que a Câmara não vai querer na sua conta as mortes pela COVID-19. A carta dos banqueiros e empresários foi o sinal amarelo para o Congresso: 

CHEGA DE ESTUPIDEZ NA CONDUÇÃO DA CRISE SANITÁRIA.

Já ficou provado que a Presidência da República, seus ministros, agregados e seguidores não estão preocupados com as consequências da pandemia. A preocupação é manter seus agregados e seguidores alimentados com fake news e assim mobilizados em redes sociais para a defesa da PESSOA e família presidencial. 

Defesa do governo NÃO HÁ ALGUMA. 

Ninguém quer morte na sua conta, exceto o próprio presidente que em falas públicas já defendeu a tortura e mais mortes no período dos governos militares e fuzilamento de presidente.

Transcrição da fala de Arthur Lira:

Minhas senhoras e meus senhores,

Como todos sabem, participei hoje como representante desta Casa de encontro com o senhor Presidente da República e todos os Chefes de Poderes para tratar de uma abordagem eficaz, pragmática e holística da questão da pandemia.

Pandemia é vacinar, sim, acima de tudo. Mas para vacinar temos de ter boas relações diplomáticas, sobretudo com a China, nosso maior parceiro comercial e um dos maiores fabricantes de insumos e imunizastes do planeta. Para vacinar temos de ter uma percepção correta de nossos parceiros americanos e nossos esforços na área do meio ambiente precisam ser reconhecidos, assim como nossa interlocução.

Então, essa mudança de atitude em relação à pandemia, quero crer, é a semente de algo muito maior, muito mais necessário e, diria, urgente é inadiável: será preciso evoluir, dar um salto para a frente, libertamos as amarras que nos prendem a condicionamentos que não funcionam mais, que nos escravizam a condicionamentos que já se esgotaram.

Minhas senhoras e meus senhores,

Esta Presidência tem procurado se conduzir na trilha de um estrito equilíbrio entre o espírito de colaboração que, mais que nunca, é necessário manter e construir com os demais Poderes durante estes momentos dramáticos da pandemia e a observância fiel e disciplinada à vontade soberana desta Casa.

Vivemos nestes dias o pior do pior, as horas mais dolorosas da maior desgraça humanitária que se abateu sobre nosso povo. E quero dizer a todos que estou sensível ao desespero dos brasileiros e à angústia de Vossas Excelências, que nada mais fazem do que traduzir o terror que testemunham em suas bases, em suas comunidades.

Como presidente da Câmara dos Deputados, quero deixar claro que não ficaremos alienados aqui, votando matérias teóricas como se o mundo real fosse apenas algo que existisse no noticiário. Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar: não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo com o compromisso de não errar com o país se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que que são muito menores do que os acertos cometidos continuarem a serem praticados...

Leia o pronunciamento completo em:

Carta Capital

Vídeo com parte da fala de Artur Lira.

Veja o vídeo aqui

quarta-feira, 24 de março de 2021

O PARTIDO MILITAR ESTÁ NO PODER. COMO OS MILITARES ENTRARAM NO PODER E NÃO PRETENDEM SAIR.

                                                                     Tanque T-72 em um museu no Canadá — Foto: Balcer/Wikimedia


O Partido Militar

Ele está no poder e não pretende sair.

Quero tratar mais sobre essa tema no futuro, aqui nas nossas conversas por e-mail, mas é importante que todos vocês saibam: o Partido Militar, que está exercendo seu poder no Brasil, não pretende largar o osso. Com o desenrolar do fio mórbido da pandemia, fica cada vez mais nítido que as Forças Armadas entraram com tudo na aventura bolsonarista e que relutam em sair dela. Os generais viram em Bolsonaro, claro, um para-raio de votos. Ele tem o carisma eleitoral que nenhum general teria – quantos votos faria Mourão? Mas não viram (e não veem) no capitão fracassado a liderança para os rumos do país. Quem apita, hoje, são os generais que o circundam. É preciso lembrar de algumas coisas.

A gestão assassina da crise humanitária em que nos metemos foi feita por um general da ativa. A eventual responsabilidade, inclusive criminal, pelas centenas de milhares de brasileiros mortos precisa ser direcionada aos homens do Exército brasileiro, não a Bolsonaro isoladamente. Ou alguém acredita que Eduardo Pazuello decidiu, sozinho, assumir o Ministério da Saúde? Ele precisou de autorização oficial do Comando, que libera seus homens como “órgão movimentador”, como é chamado tecnicamente. 

Ao autorizar que um militar da ativa exerça função “fora da Força” – esse é o jargão –, o chefe de Pazuello deve se ater ao regulamento que estabelece os  “princípios e normas gerais para a movimentação de oficiais e praças da ativa do Exército”. O documento R-50, que normatiza essas movimentações, diz que essa decisão precisa considerar “a predominância do interesse do serviço sobre o individual”. Não é Pazuello o gestor da pandemia, é o Exército, representado por ele.  

Eu ainda não vi ninguém perguntar ao comandante Edson Leal Pujol coisas como: “Qual o interesse do Exército em ter milhares de militares da ativa exercendo cargos políticos no governo Bolsonaro?”; “O senhor acha que é benéfico pra instituição a percepção popular de identificação das Forças Armadas com a política do governo?”; “O senhor se manifestou diretamente ao presidente Jair Bolsonaro, que é de sua turma, sobre a presença massiva de militares no Executivo? Em que sentido: positivo ou negativo?”.

Não se enganem, o Partido Militar está ativo e em campanha de reeleição. Com Bolsonaro? Talvez não. Outros nomes estão na mesa, entre eles o de Sergio Moro. Dias atrás, Mourão foi escalado para fazer o papel de afastar as FFAA da gestão assassina da pandemia. Ele disse: "o ministro é um executor das decisões do presidente da República."

Mourão não estava falando de Queiroga, o novo ministro da Saúde com nome de personagem de alguma crônica do Luis Fernando Verissimo. Mourão está pouco se lixando para ele. O general estava falando de Pazuello, tentando tirar das Forças Armadas a responsabilidade pela pilha de mortos. Havia uma expectativa de que, naturalmente, a covid fosse ser dissipada durante a gestão Pazuello. Os méritos, claro, iriam para a "eficiência das Forças Armadas". Como estamos, hoje, nadando em um mar de quase 300 mil brasileiros sepultados, os generais estão tentando bater em retirada. Em retirada do capitão, não do poder.

Na semana passada, a revista piauí publicou uma reportagem na qual afirma, com fontes em off, que dois meses antes da eleição presidencial de 2018, o então comandante do Exército Villas Bôas ouviu de Dias Toffoli, que presidia o STF, “garantias” de que o Supremo manteria Lula preso e longe das urnas. O texto foi lido por estudiosos do tema com os quais eu conversei como um release dos militares, um recado explícito de que a interferência eleitoral por parte dos fardados não vai parar. Uma fonte militar me disse:

“Para o público interno (a base eleitoral e militante do Exército) a reportagem é um press release no estilo ‘fiquem tranquilos, estamos no controle’. Para o STF, o recado é: não só estamos no controle como também sabemos muito… sobre os senhores ministros! Para o eleitor de esquerda/centro-esquerda em geral: ‘Procurem uma frente eleitoral sem o PT e sem Lula’. Para o eleitor fiel do PT: ‘Desistam de Lula’”.

Dias depois da reportagem da revista, o general Carlos Alberto Santos Cruz apareceu no Estadão defendendo uma candidatura de centro, longe de Lula ou Bolsonaro, e elogiando a Lava Jato. Santos Cruz foi ministro da Secretaria de Governo e se afastou de Bolsonaro depois que deixou o governo e representa, hoje, o papel de “militar moderado” que mostra para a população a imagem de um Exército que flutua acima das polarizações mundanas nossas aqui de baixo. Nós já entendemos, general.

Fonte:

The Intercept Brasil

Leandro Demori
Editor Executivo

terça-feira, 23 de março de 2021

AGORA CHEGOU A VEZ DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS - CNM: MANDAR UM PAPO RETO PARA O PRESIDENTE!

Carta aberta ao presidente da República 

O Brasil vive o maior colapso sanitário e hospitalar de sua história, tornando-se epicentro mundial da pandemia. Diante desse triste cenário, a Confederação Nacional de Municípios (CNM), no exercício de representação dos Municípios brasileiros e de seus governantes, conclama ao presidente da República que assuma de uma vez por todas o papel constitucional de coordenação nacional no enfrentamento da Covid19 no país, promovendo o alinhamento entre as esferas de governo e de poder. É hora de focar no presente, produzir resposta efetiva, colocar a evidência científica como norte e despolitizar a pandemia, superando divergências e priorizando a defesa da vida para estancar as milhares de mortes e aplacar o sofrimento das famílias brasileiras. Agora, na pior fase da pandemia, com resultados trágicos cuja dimensão social e econômica ainda é incalculável, o movimento municipalista reitera que a soma de esforços representa o único e inadiável caminho, no qual o papel de coordenação da União faz-se indispensável. Dessa forma, o presidente da República deve estar pessoalmente empenhado na execução de campanha de comunicação em prol da eficácia e da segurança das vacinas, além da defesa das medidas não farmacológicas, como o distanciamento social, o uso de máscaras e álcool gel, que vêm sendo adotadas em todo o país por Estados e Municípios. Faz-se urgente também a implementação de medidas pela União nas atividades de âmbito nacional, dando maior efetividade às ações dos demais Entes federados. Não cabe transferência de responsabilidades neste momento dramático. É urgente que todas as autoridades públicas de todos os Poderes, da União, dos Estados e dos Municípios, bem como a sociedade brasileira, trabalhem de forma harmônica e colaborativa. Esse alinhamento é o único caminho para frear o crescimento geométrico de casos diante de um sistema de saúde colapsado, com esgotamento estrutural e pessoal. Urgem ações emergenciais para o fomento à produção e à importação de neurobloqueadores e oxigênio, além de uma operação logística nacional para o monitoramento e o remanejamento desses insumos no território. Uma nação não pode aceitar cidadãos morrendo sufocados ou tendo que suportar dores indescritíveis decorrentes de intubação sem anestesia. O Brasil está em guerra contra o vírus e, na guerra, todos têm responsabilidades. A União precisa reorientar as plantas produtivas à disposição no país e, mais do que nunca, mobilizar a diplomacia internacional a fim de garantir as condições necessárias, para responder a esta batalha. As prefeitas e os prefeitos do Brasil fazem a sua parte e continuarão não medindo esforços para exercer seu papel de corresponsabilidade, mas precisam e clamam para que o presidente da República assuma, de forma inadiável, seu dever de coordenar a nação, respeitando a população, a ciência e a comunidade internacional com a humanidade e a empatia exigidas de um Chefe de Estado. 

Brasília, 23 de março de 2021. 

Glademir Aroldi Presidente da CNM

Fonte:

CNM

INSPIRADA NA CONSTITUIÇÃO ESTADUNIDENSE, SENADOR BRASILEIRO PROPÕE PEC DE AFASTAMENTO DO PRESIDENTE INCAPAZ A PEDIDO DO VICE-PRESIDENTE E MINISTROS DE ESTADOS. PEDIDO DEVERÁ SER CONFIRMADO PELO CONGRESSO NACIONAL.


Trata-se da 25ª Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América

Segundo o Senador Jaques Wagner - PT, o presidente da república já deu sinais inequívocos de não possuir capacidade mental para dirigir o país que está vivendo uma crise sanitária, econômica e social.

“Eu não estou falando de xingamento, mas de análise comportamental à luz do conhecimento da psiquiatria. Ele é um tipo perigoso e desequilibrado, por tudo o que faz. Então, depois que eu vi uma tentativa de estabelecer esse mesmo conceito, a chamada Emenda 25 americana, eu acho uma saída que seria menos traumática do que o processo normal de impeachment, apesar de que você também leva para o Congresso”.

Mais informações em:

Carta Capital

A PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAJUÍPE INICIOU ONTEM 22 DE MARÇO A DISTRIBUIÇÃO DE CESTAS BÁSICAS PARA A POPULAÇÃO. SERÃO 13 TONELADAS DE ALIMENTOS DISTRIBUÍDOS.

                                       








Projeto Itajuípe a Favor da Vida!

Equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social deu início a entrega das cestas básicas.

Até a Semana Santa, serão 13 toneladas de alimentos e 7 toneladas de peixes para cerca de 3.500 famílias itajuipenses.
Aqui, o Trabalho Continua!











segunda-feira, 22 de março de 2021

CARTA ABERTA À SOCIEDADE: E OS BILIONÁRIOS JÁ NÃO SUPORTAM MAIS TOMAR PREJUÍZO POR IRRESPONSABILIDES GENERALIZADAS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA



CAPITALISTAS LIBERAIS JÁ NÃO SUPORTAM TANTA INCOMPETÊNCIA, TANTO DESCASO, TANTO ÓDIO AO INVÉS DE AÇÕES!

CARTA ABERTA À SOCIEDADE REFERENTE A MEDIDAS DE COMBATE À PANDEMIA

O Brasil é hoje o epicentro mundial da covid-19, com a maior média móvel de novos casos.

Enquanto caminhamos para atingir a marca tétrica de 3 mil mortes por dia e um total de mortes acumuladas de 300 mil ainda esse mês, o quadro fica ainda mais alarmante com o esgotamento dos recursos de saúde na grande maioria de estados, com insuficiente número de leitos de UTI, respiradores e profissionais de saúde. Essa situação tem levado a mortes de pacientes na espera pelo atendimento, contribuindo para uma maior letalidade da doença.

A situação econômica e social é desoladora. O PIB encolheu 4,1% em 2020 e provavelmente observaremos uma contração no nível de atividade no primeiro trimestre deste ano. A taxa de desemprego, por volta de 14%, é a mais elevada da série histórica, e subestima o aumento do desemprego, pois a pandemia fez com que muitos trabalhadores deixassem de procurar emprego, levando a uma queda da força de trabalho entre fevereiro e dezembro de 5,5 milhões de pessoas.

A contração da economia afetou desproporcionalmente trabalhadores mais pobres e vulneráveis, com uma queda de 10,5% no número de trabalhadores informais empregados, aproximadamente duas vezes a queda proporcional no número de trabalhadores formais empregados.

Esta recessão, assim como suas consequências sociais nefastas, foi causada pela pandemia e não será superada enquanto a pandemia não for controlada por uma atuação competente do governo federal. Este subutiliza ou utiliza mal os recursos de que dispõe, inclusive por ignorar ou negligenciar a evidência científica no desenho das ações para lidar com a pandemia. Sabemos que a saída definitiva da crise requer a vacinação em massa da população. Infelizmente, estamos atrasados. Em torno de 5% da população recebeu ao menos uma dose de vacina, o que nos coloca na 45ª posição no ranking mundial de doses aplicadas por habitante.

O ritmo de vacinação no país é insuficiente para vacinar os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI) no 1º semestre de 2021, o que amplia o horizonte de vacinação para toda a população para meados de 2022.

As consequências são inomináveis. No momento, o Brasil passa por escassez de doses de vacina, com recorrentes atrasos no calendário de entregas e revisões para baixo na previsão de disponibilidade de doses a cada mês. Na semana iniciada em 8 de março foram aplicadas, em média, apenas 177 mil doses por dia.

No ritmo atual, levaríamos mais de 3 anos para vacinar toda a população. O surgimento de novas cepas no país (em especial a P.1) comprovadamente mais transmissíveis e potencialmente mais agressivas, torna a vacinação ainda mais urgente. A disseminação em larga escala do vírus, além de magnificar o número de doentes e mortos, aumenta a probabilidade de surgirem novas variantes com potencial de diminuir a eficácia das vacinas atuais.

Vacinas são relativamente baratas face ao custo que a pandemia impõe à sociedade. Os recursos federais para compra de vacinas somam R$ 22 bilhões, uma pequena fração dos R$ 327 bilhões desembolsados nos programas de auxílio emergencial e manutenção do emprego no ano de 2020.

Vacinas têm um benefício privado e social elevado, e um custo total comparativamente baixo. Poderíamos estar em melhor situação, o Brasil tem infraestrutura para isso. Em 1992, conseguimos vacinar 48 milhões de crianças contra o sarampo em apenas um mês.

Na campanha contra a Covid-19, se estivéssemos vacinando tão rápido quanto a Turquia, teríamos alcançado uma proporção da população duas vezes maior, e se tanto quanto o Chile, dez vezes maior. A falta de vacinas é o principal gargalo. Impressiona a negligência com as aquisições, dado que, desde o início da pandemia, foram desembolsados R$ 528,3 bilhões em medidas de combate à pandemia, incluindo os custos adicionais de saúde e gastos para mitigação da deteriorada situação econômica. A redução do nível da atividade nos custou uma perda de arrecadação tributária apenas no âmbito federal de 6,9%, aproximadamente R$ 58 bilhões, e o atraso na vacinação irá custar em termos de produto ou renda não gerada nada menos do que estimados R$ 131,4 bilhões em 2021, supondo uma recuperação retardatária em 2 trimestres.

Nesta perspectiva, a relação benefício custo da vacina é da ordem de seis vezes para cada real gasto na sua aquisição e aplicação. A insuficiente oferta de vacinas no país não se deve ao seu elevado custo, nem à falta de recursos orçamentários, mas à falta de prioridade atribuída à vacinação.

O quadro atual ainda poderá deteriorar-se muito se não houver esforços efetivos de coordenação nacional no apoio a governadores e prefeitos para limitação de mobilidade. Enquanto se busca encurtar os tempos e aumentar o número de doses de vacina disponíveis, é urgente o reforço de medidas de distanciamento social. Da mesma forma é essencial a introdução de incentivos e políticas públicas para uso de máscaras mais eficientes, em linha com os esforços observados na União Europeia e nos Estados Unidos.

A controvérsia em torno dos impactos econômicos do distanciamento social reflete o falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento da população vulnerável. Na realidade, dados preliminares de óbitos e desempenho econômico sugerem que os países com pior desempenho econômico tiveram mais óbitos de covid-19. A experiência mostrou que mesmo países que optaram inicialmente por evitar o lockdown terminaram por adotá-lo, em formas variadas, diante do agravamento da pandemia - é o caso do Reino Unido, por exemplo. Estudos mostraram que diante da aceleração de novos casos, a população responde ficando mais avessa ao risco sanitário, aumentando o isolamento voluntário e levando à queda no consumo das famílias mesmo antes ou sem que medidas restritivas formais sejam adotadas.15 A recuperação econômica, por sua vez, é lenta e depende da retomada de confiança e maior previsibilidade da situação de saúde no país.

Logo, não é razoável esperar a recuperação da atividade econômica em uma epidemia descontrolada.

O efeito devastador da pandemia sobre a economia tornou evidente a precariedade do nosso sistema de proteção social. Em particular, os trabalhadores informais, que constituem mais de 40% da força de trabalho, não têm proteção contra o desemprego. No ano passado, o auxílio emergencial foi fundamental para assistir esses trabalhadores mais vulneráveis que perderam seus empregos, e levou a uma redução da pobreza, evidenciando a necessidade de melhoria do nosso sistema de proteção social. Enquanto a pandemia perdurar, medidas que apoiem os mais vulneráveis, como o auxílio emergencial, se fazem necessárias. Em paralelo, não devemos adiar mais o encaminhamento de uma reforma no sistema de proteção social, visando aprimorar a atual rede de assistência social e prover seguro aos informais. Uma proposta nesses moldes é o programa de Responsabilidade Social, patrocinado pelo Centro de Debate de Políticas Públicas, encaminhado para o Congresso no final do ano passado.

Outras medidas de apoio às pequenas e médias empresas também se fazem necessárias. A experiência internacional com programas de aval público para financiamento privado voltado para pequenos empreendedores durante um choque negativo foi bem-sucedida na manutenção de emprego, gerando um benefício líquido positivo à sociedade.

O aumento em 34,7% do endividamento dos pequenos negócios durante a pandemia amplifica essa necessidade. A retomada de linhas avalizadas pelo Fundo Garantidor para Investimentos e Fundo de Garantia de Operações é uma medida importante de transição entre a segunda onda e o pós-crise.

Estamos no limiar de uma fase explosiva da pandemia e é fundamental que a partir de agora as políticas públicas sejam alicerçadas em dados, informações confiáveis e evidência científica. Não há mais tempo para perder em debates estéreis e notícias falsas. Precisamos nos guiar pelas experiências bem-sucedidas, por ações de baixo custo e alto impacto, por iniciativas que possam reverter de fato a situação sem precedentes que o país vive.

Medidas indispensáveis de combate à pandemia: a vacinação em massa é condição sine qua non para a recuperação econômica e redução dos óbitos.

1. Acelerar o ritmo da vacinação. O maior gargalo para aumentar o ritmo da vacinação é a escassez de vacinas disponíveis. Deve-se, portanto, aumentar a oferta de vacinas de forma urgente. A estratégia de depender da capacidade de produção local limitou a disponibilidade de doses ante a alternativa de pré-contratar doses prontas, como fez o Chile e outros países. Perdeu-se um tempo precioso e a assinatura de novos contratos agora não garante oferta de vacinas em prazo curto. É imperativo negociar com todos os laboratórios que dispõem de vacinas já aprovadas por agências de vigilância internacionais relevantes e buscar antecipação de entrega do maior número possível de doses. Tendo em vista a escassez de oferta no mercado internacional, é fundamental usar a política externa - desidratada de ideologia ou alinhamentos automáticos - para apoiar a obtenção de vacinas, seja nos grandes países produtores seja nos países que têm ou terão excedentes em breve.

A vacinação é uma corrida contra o surgimento de novas variantes que podem escapar da imunidade de infecções passadas e de vacinas antigas. As novas variantes surgidas no Brasil tornam o controle da pandemia mais desafiador, dada a maior transmissibilidade.

Com o descontrole da pandemia é questão de tempo até emergirem novas variantes. O Brasil precisa ampliar suas capacidades de sequenciamento genômico em tempo real, de compartilhar dados com a comunidade internacional e de testar a eficácia das vacinas contra outras variantes com máxima agilidade. Falhas e atrasos nesse processo podem colocar em risco toda a população brasileira, e também de outros países.

2. Incentivar o uso de máscaras tanto com distribuição gratuita quanto com orientação educativa. Economistas estimaram que se os Estados Unidos tivessem adotado regras de uso de máscaras no início da pandemia poderiam ter reduzido de forma expressiva o número de óbitos. Mesmo se um usuário de máscara for infectado pelo vírus, a máscara pode reduzir a gravidade dos sintomas, pois reduz a carga viral inicial que o usuário é exposto. Países da União Europeia e os Estados Unidos passaram a recomendar o uso de máscaras mais eficientes - máscaras cirúrgicas e padrão PFF2/N95 - como resposta às novas variantes. O Brasil poderia fazer o mesmo, distribuindo máscaras melhores à população de baixa renda, explicando a importância do seu uso na prevenção da transmissão da covid.

Máscaras com filtragem adequada têm preços a partir de R$ 3 a unidade. A distribuição gratuita direcionada para pessoas sem condições de comprá-las, acompanhada de instrução correta de reuso, teria um baixo custo frente aos benefícios de contenção da Covid-1923. Considerando o público do auxílio emergencial, de 68 milhões de pessoas, por exemplo, e cinco reusos da máscara, tal como recomenda o Center for Disease Control do EUA, chegaríamos a um custo mensal de R$ 1 bilhão. Isto é, 2% do gasto estimado mensal com o auxílio emergencial. Embora leis de uso de máscara ajudem, informar corretamente a população e as lideranças darem o exemplo também é importante, e tem impacto na trajetória da epidemia. Inversamente, estudos mostram que mensagens contrárias às medidas de prevenção afetam a sua adoção pela população, levando ao aumento do contágio.

3. Implementar medidas de distanciamento social no âmbito local com coordenação nacional. O termo "distanciamento social" abriga uma série de medidas distintas, que incluem a proibição de aglomeração em locais públicos, o estímulo ao trabalho a distância, o fechamento de estabelecimentos comerciais, esportivos, entre outros, e - no limite - escolas e creches. Cada uma dessas medidas tem impactos sociais e setoriais distintos. A melhor combinação é aquela que maximize os benefícios em termos de redução da transmissão do vírus e minimize seus efeitos econômicos, e depende das características da geografia e da economia de cada região ou cidade. Isso sugere que as decisões quanto a essas medidas devem ser de responsabilidade das autoridades locais.

Com o agravamento da pandemia e esgotamento dos recursos de saúde, muitos estados não tiveram alternativa senão adotar medidas mais drásticas, como fechamento de todas as atividades não-essenciais e o toque de recolher à noite. Os gestores estaduais e municipais têm enfrentado campanhas contrárias por parte do governo federal e dos seus apoiadores. Para maximizar a efetividade das medidas tomadas, é indispensável que elas sejam apoiadas, em especial pelos órgãos federais. Em particular, é imprescindível uma coordenação em âmbito nacional que permita a adoção de medidas de caráter nacional, regional ou estadual, caso se avalie que é necessário cercear a mobilidade entre as cidades e/ou estados ou mesmo a entrada de estrangeiros no país.

A necessidade de adotar um lockdown nacional ou regional deveria ser avaliado. É urgente que os diferentes níveis de governo estejam preparados para implementar um lockdown emergencial, definindo critérios para a sua adoção em termos de escopo, abrangência das atividades cobertas, cronograma de implementação e duração.

Ademais, é necessário levar em consideração que o acréscimo de adesão ao distanciamento social entre os mais vulneráveis depende crucialmente do auxílio emergencial. Há sólida evidência de que programas de amparo socioeconômico durante a pandemia aumentaram o respeito às regras de isolamento social dos beneficiários. É, portanto, não só mais justo como mais eficiente focalizar a assistência nas populações de baixa renda, que são mais expostas nas suas atividades de trabalho e mais vulneráveis financeiramente.

Dentre a combinação de medidas possíveis, a questão do funcionamento das escolas merece atenção especial. Há estudos mostrando que não há correlação entre aumento de casos de infecção e reabertura de escolas no mundo. Há também informações sobre o nível relativamente reduzido de contágio nas escolas de São Paulo após sua abertura.

As funções da escola, principalmente nos anos do ensino fundamental, vão além da transmissão do conhecimento, incluindo cuidados e acesso à alimentação de crianças, liberando os pais - principalmente as mães - para o trabalho. O fechamento de escolas no Brasil atingiu de forma mais dura as crianças mais pobres e suas mães. A evidência mostra que alunos de baixa renda, com menor acesso às ferramentas digitais, enfrentam maiores dificuldade de completar as atividades educativas, ampliando a desigualdade da formação de capital humano entre os estudantes.

Portanto, as escolas devem ser as últimas a fechar e as primeiras a reabrir em um esquema de distanciamento social. Há aqui um papel fundamental para o Ministério da Educação em cooperação com o Ministério da Saúde na definição e comunicação de procedimentos que contribuam para a minimização dos riscos de contágio nas escolas, além do uso de ferramentas comportamentais para retenção da evasão escolar, como o uso de mensagens de celular como estímulo para motivar os estudantes, conforme adotado em São Paulo e Goiás.

4. Criar mecanismo de coordenação do combate à pandemia em âmbito nacional - preferencialmente pelo Ministério da Saúde e, na sua ausência, por consórcio de governadores - orientada por uma comissão de cientistas e especialistas, se tornou urgente. Diretrizes nacionais são ainda mais necessárias com a escassez de vacinas e logo a necessidade de definição de grupos prioritários; com as tentativas e erros no distanciamento social; a limitada compreensão por muitos dos pilares da prevenção, particularmente da importância do uso de máscara, e outras medidas no âmbito do relacionamento social.

Na ausência de coordenação federal, é essencial a concertação entre os entes subnacionais, consórcio para a compra de vacinas e para a adoção de medidas de supressão.

O papel de liderança: Apesar do negacionismo de alguns poucos, praticamente todos os líderes da comunidade internacional tomaram a frente no combate ao covid-19 desde março de 2020, quando a OMS declarou o caráter pandêmico da crise sanitária. Informando, notando a gravidade de uma crise sem precedentes em 100 anos, guiando a ação dos indivíduos e influenciado o comportamento social.

Líderes políticos, com acesso à mídia e às redes, recursos de Estado, e comandando atenção, fazem a diferença: para o bem e para o mal. O desdenho à ciência, o apelo a tratamentos sem evidência de eficácia, o estímulo à aglomeração, e o flerte com o movimento antivacina, caracterizou a liderança política maior no país. Essa postura reforça normas antissociais, dificulta a adesão da população a comportamentos responsáveis, amplia o número de infectados e de óbitos, aumenta custos que o país incorre.

O país pode se sair melhor se perseguimos uma agenda responsável. O país tem pressa; o país quer seriedade com a coisa pública; o país está cansado de ideias fora do lugar, palavras inconsequentes, ações erradas ou tardias. O Brasil exige respeito.

Fonte:


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domingo, 21 de março de 2021

Vídeo que mostra o “papel” dos militares no governo Bolsonaro viraliza nas redes

Imagens mostram integrantes das Forças Armadas cumprindo uma missão "importante": segurar a "cola" de um discurso do presidente. Assista:

Revista Fórum


Nomeação de Queiroga não saiu porque ele tem empresas na área da saúde. Aceitou o cargo sem se desvincular oficialmente.



Filiado ao PSL, o cardiologista já foi denunciado por crime contra o patrimônio.

Apesar de aparecer como novo ministro da Saúde desde a última segunda-feira (15), o cardiologista Marcelo Queiroga segue sem ser nomeado oficialmente pelo presidente Jair Bolsonaro. A razão do imbróglio é o vínculo com empresas privadas, o que esbarra na Lei 8.112/1990, que institui o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais.

Segundo informações o jornalista André Shalders, do Estado de S. Paulo, o Planalto esqueceu de checar com a Receita Federal se o possível ministro estava vinculado a alguma empresa, o que impede a sua nomeação.

Ele aparece como sócio administrador de duas clínicas em João Pessoa e precisaria se descompatibilizar.

Bolsonaro havia anunciado que a nomeação sairia já na terça-feira (16), o que não ocorreu. Oficialmente, Eduardo Pazuello segue no comando da Saúde do país durante a semana em que houve mais mortes desde o início da pandemia – mais de 15 mil.

Neste sábado, o presidente do PSL de Goiás, deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), disse ao Jornal Opção que o possível ministro possui filiação ao PSL.

Segundo reportagem de Helena Mader, da Revista Crusoé, Queiroga foi denunciado pelo Ministério Público em 2000 por apropriação indébita previdenciária, crime contra o patrimônio público. na ocasião ele administrava o Hospital Prontocor, em João Pessoa.

Com informações da:

Revista Fórum


terça-feira, 9 de março de 2021

ESTÍMULO À NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM PODE SER VOTADO PELO SENADO NESTA SEMANA.

                                                                         donvictorio/iStockphoto

O texto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro

Fonte: Agência Senado

O Senado poderá votar nesta semana o PL 4.199/2020, projeto de lei que institui o Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem. A navegação de cabotagem é aquela realizada entre portos marítimos mantendo a costa à vista.

De acordo com o PL 4.199/2020, as empresas poderão fretar embarcações a "casco nu" (alugar um navio vazio para navegação de cabotagem). Além disso, seria liberado progressivamente o uso de navios estrangeiros entre portos brasileiros, mesmo que as embarcações tenham sido construídas fora do país.

O autor do projeto é o deputado federal Gurgel (PSL-RJ). O texto foi aprovado na Câmara em dezembro, com alterações. Uma delas aumentou de três para quatro anos o tempo de transição para o afretamento de navios estrangeiros. Uma outra alteração direciona 10% dos recursos do Fundo da Marinha Mercante (FMM) ao financiamento total de projetos de dragagem de portos, hidrovias e canais de navegação apresentados por arrendatários e operadores de terminais de uso privado.

A proposta determina que as empresas operadoras deverão seguir regras internacionais, como as estabelecidas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Constituição Federal, que garante direitos como 13º salário, adicional de um terço de férias, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e licença-maternidade.

No Senado, o projeto tramita em conjunto com os PLs 4.199/2020, 3.129/2020, 421/2014, 422/2014 e 423/2014, que tratam de temas semelhantes. Os senadores Alvaro Dias (Podemos-PR), Lucas Barreto (PSD-AP), Jean Paul Prates (PT-RN), Plínio Valério (PSDB-AM) e Kátia Abreu (PP-TO) apresentaram oito emendas ao projeto. O senador Nelsinho Trad (PSD-MS) emitirá o relatório sobre esse projeto.

Senado Federal

Fonte: Agência Senado

segunda-feira, 8 de março de 2021

LULA ELEGÍVEL! MINISTRO FACHIN ANULA AS CONDENAÇÕES FEITA PELA LAVA JATO NA PRIMEIRA INSTÂNCIA.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou nesta segunda-feira 8 todas as condenações impostas ao ex-presidente Lula na Operação Lava Jato. Assim, o petista deixa de ser inelegível e se recoloca no jogo político para 2022.

Segundo Fachin, a Justiça Federal do Paraná, responsável pelas condenações em primeira instância, é incompetente para julgar os casos do triplex do Guarujá, do sítio de Atibaia e do Instituto Lula.

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Carta Capital

AS UTIs FORAM TOMADAS PELOS NEGACIONISTAS! E NA ESCOLHA DE QUEM DEVE TER DIREITO A UMA UTI, O ADULTO OU IDOSO TRABALHADOR PERDERÁ A VAGA PARA O JOVEM BALADEIRO! É HORA DE REFLETIR

          

Os governadores vão se proteger, adotando em conjunto medidas restritivas à circulação de pessoas, para que possam agir e se defender em bloco dos ataques do bolsonarismo.

Não só do bolsonarista clássico, do racista e homofóbico, que não quer saber de contenções. Há uma classe média jovem mobilizada contra as restrições.

São egoístas disseminados por todo o país. Eles são personagens de uma questão ética que todos, governos, servidores da área da saúde e suas entidades, já deveriam estar debatendo.

É a situação criada pelo negacionista que enfrenta medidas restritivas, desafia leis e bom senso e faz festa, promove aglomerações e sabota qualquer medida com alguma tentativa de racionalidade.

A questão ética, límpida, transparente, sem nenhuma complexidade, é esta: o negacionista jovem sem limites está lotando as UTIs e ficando cada vez mais tempo sob cuidados intensivos. Ele toma o lugar de quem se cuidou.

Por falta de vagas, os hospitais estão fazendo escolhas admitidas pelos médicos em todo o Brasil. E nessas escolhas está acontecendo o seguinte.

Um trabalhador com mais de 60 anos, com alguma comorbidade, em situação crítica e perspectivas desalentadoras, se estiver na fila, vai perder o lugar na UTI para um jovem festeiro de 25 anos.

O trabalhador adotou todos os cuidados, mas usou quatro ônibus por dia para ir e voltar da fábrica e acabou sendo infectado pelos riscos que não consegue evitar.

O jovem festeiro, que não usa máscara, sofreu contágio numa das tantas baladas que frequentou. Os dois chegaram juntos ao hospital na disputa pela vaga na UTI. O trabalhador sairá perdendo, porque a chance será dada aos jovens.

Ninguém pretende sugerir que se pergunte a um baladeiro se ele é um negacionista amoral contumaz e se não está constrangido.

Mas as famílias de festeiros deveriam saber, pela voz dos médicos, que seus filhos estão matando trabalhadores por tomar suas vagas nas UTIs. São criminosos que sabem o que fazem nas gandaias da pandemia.

Esse dilema ético deveria ser explicitado dentro das unidades de saúde, em publicações, cartazes nas paredes, em falas, em conversas com os pacientes, para que não seja normalizado. As decisões silenciosas sobre a prioridade aos negacionistas são uma questão a ser enfrentada.

Vivemos tempos de apelos pela transparência em todas as áreas. A família de um trabalhador na fila da UTI deveria ser informada de que ele foi deslocado para a área de cuidados paliativos por uma escolha.

Ah, dirão, mas não pode. Deveria poder. A ética médica, que não mais esconde dos pacientes a perspectiva da morte inevitável, por admitir que essa informação é um direito de quem está em situação terminal, deveria arranjar um jeito de lidar explicitamente com as escolhas.

Os familiares dos que perderam a preferência podem se revoltar? Podem. Mas a escolha sigilosa, que esconde do paciente o fato de que ele foi preterido, é uma crueldade.

E uma brutalidade ainda maior quando o escolhido é um negacionista que não só se dedicava à propagação do vírus, como muitas vezes conspirava abertamente contra tudo o que tenta conter a disseminação da doença.

Os jovens sem escrúpulos potencializaram a transmissão da Covid-19 e tiveram contribuição decisiva para o caos dos hospitais. Os servidores da saúde estão salvando quem ataca os próprios servidores da saúde.

São essas figuras repulsivas que tomam os lugares dos trabalhadores na fila da UTI. Eles são a imagem do Brasil do bolsonarismo do vale tudo.

Os negacionistas talvez ainda não sejam, mas daqui a pouco podem ser maioria nas UTIs do Brasil, quando forem tomando o lugar dos idosos, porque são jovens e importantes para o futuro do país. Muitos deles são assumidamente fascistas.

Fonte:

Blog do Moisés

sexta-feira, 5 de março de 2021

DO COMPLEXO DE DONA FLORINDA AO COMPLEXO DE VIRA LATAS: UMA TRAJETÓRIA DE NEGACIONISMO, TRAUMAS E ÓDIO A SI PRÓPRIO.



O ESPELHO NÃO ME REFLETE! 

O Complexo de Dona Florinda


Esse termo diz muito especificamente em um tipo de indivíduo bastante comum em nossa sociedade, aquele que é pobre, porém, acredita nos conceitos e princípios produzidos pelas elites para justificar as desigualdades como algo natural. 


É um tipo de pessoa que se acha da elite e pensa que logo irá melhorar de vida, que aquela sua situação é passageira e que as causas sociais de seus problemas vem não da exploração, mas da quantidade de conquistas conseguidas pelos sindicatos e pelos direitos humanos, que atrapalham o andar natural das coisas e não o deixa sair da pobreza. 


Trata-se de um tipo de indivíduo tão colonizado culturalmente que ele pensa pela lógica daquele que lhe causa a condição de pobreza e se vê espelhado nesse, se tornando distante de sua própria condição social, que para ele é uma questão meramente momentânea. 


Ele arraiga em si todo o discurso das elites e o corrobora, se vendo como parte integrante daquele grupo social, como superior aos demais pobres que vivem ao seu redor e que possuem as mesmas condições que ele.


Em outras palavras, é um indivíduo que mesmo sendo pobre, sendo de origem humilde, se acha superior aos demais a sua volta, se acha mesmo um indivíduo especial, que tem mais capacidade de raciocínio, que tem maior censo crítico e, ao mesmo tempo, corrobora todos os discursos reacionários e costuma ter aversão ao povo e a tudo o que é do povão, a tudo o que é popular. 


Ele valoriza coisas estrangeiras como as músicas, filmes, cultura, acha o Brasil e o restante do terceiro mundo um lugar ruim, patético, que não é sério, sempre comparando esses lugares com países como o Canadá, Eua, Suécia, Suíça e outros países, não levando em conta o processo que fez esses países se desenvolverem e nem os processos históricos da produção da sociedade brasileira.


Esse indivíduo também tem um grande ódio para com os movimentos sociais, com as esquerdas e crê em uma meritocracia em que basta que o indivíduo se esforce para conseguir tudo o que deseja, como se não houvesse qualquer tipo de desigualdade e de diferença de oportunidades entre o filho de um gari e o filho de um médico. 


No fim das contas ele se acha superior aos demais, se vê como um pobre que logo irá vencer na vida ou que ainda não venceu devido às implantações de cotas e de coisas do tipo, o que estaria barrando a sua ascensão.


O termo foi inspirado em um personagem clássico do seriado mexicano Chaves, muito popular no Brasil. Esse personagem, Dona Florinda, vive de aluguel em um pobre cortiço, sobrevivendo com o filho da pensão deixada pelo seu marido, que morrera no exercício do ofício de marinheiro. 


É uma senhora que passa boa parte do dia ocupada com os seus afazeres domésticos, principalmente estendendo roupa no varal comum da vila (onde ocorre a maior parte das cenas da série). Ela usa rolinhos na cabeça e um vestido simples, com um avental. Mesmo vivendo nessas condições, ela se entende como uma pessoa da alta sociedade, debocha e se desfaz das pessoas que moram ao seu redor por se entender como parte da elite e ensina isso ao seu filho, usando muitas vezes uma frase clássica dita ao seu filho: “Não se misture com essa gentalha!”.


No Brasil há muita gente com uma forma de pensar muito semelhante, o que eu comecei a chamar de Complexo de Dona Florinda. Trata-se de pessoas de origem pobre e que ainda vivem em certo grau de pobreza, mas que abominam as pessoas ao seu redor, se entendem como diferentes, se acham mais inteligentes, mais estudadas, (quase nunca são realmente mais estudadas, mesmo assim se julgam mais instruídas), superiores, com uma compreensão mais clara do mundo.


Eles entendem as pessoas ao seu redor como ignorantes e manipuláveis. No caso do Brasil, muitas vezes ainda existe a questão “racial”, ou seja, o indivíduo ainda se entende como branco, mesmo que seu rosto no espelho mostre outra coisa.


Então, para se diferenciarem eles adotam o discurso da elite, para serem como a elite, para se sentirem como a elite. Passam a concordar com os pensadores da elite, com os jornais, jornalistas e revistas que as elites possuem e passam a dizer o mesmo discurso das elites e a votar nas elites. 


Não é por acaso que vemos alguns pobres contra o bolsa família, contra o Prouni, contra o Fies, contra o Minha Casa, Minha Vida, para não falar em outras questões, ao mesmo tempo em que acham uma boa medida as privatizações, desejam pena de morte e adoram criticar qualquer medida que tenha por objetivo dar oportunidade aos mais pobres.


Esse é o complexo de Dona Florinda, uma situação em que o pobre passa a pensar como o rico, defendendo as ideias da classe média e dos ricos, ideias que em vários sentidos vão prejudicá-lo no futuro, que vão tirar seu emprego, a sua bolsa de estudos ou a de seu filho, que vão criar arrocho salarial exatamente para ele, que ganha salário mínimo. Mesmo assim ele continua, pois ele se entende diferente dessa situação. Por fim ele vota no rico e desenvolve um grande ódio a quem defende direitos iguais aos mais pobres.


Fonte: Brasil em Discussão


Átila Siqueira é Historiador, Bacharel em História pela PUC-MG e Mestrando em História, pelo programa de pós-graduação em História da UFMG, na linha de História e Culturas Políticas.