“O
tempo é o senhor da razão”. Desconhece-se a autoria da frase que serve como bálsamo
para muitas situações, mas é sabido que acabou conquistando o planeta por obra
e graça do escritor francês Marcel Proust.
Na
verdade, o tempo é o melhor e mais justo julgador dos homens, não sem antes ser
a mais eficaz pena a escrever a história. Isso porque a vida, a depender da
situação, dá voltas que a colocam diante dos que envergam a toga de Cromos.
Ministro
do Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin anulou várias ações penais
eivadas pelo vício e que impuseram condenações ao ex-presidente Lula. A
Constituição estabelece que todos, sem exceção, têm direito ao contraditório e
ao devido processo legal, não cabendo ao julgador condenar com base em
indícios.
Ao
tomar tal decisão, o ministro Fachin lembrou que a forma como alguns processos
da Operação Lava Jato representou um golpe contra a nação e contra a democracia
brasileira.
O
ministro Luís Roberto Barroso, também do STF, afirmou em artigo para a edição
de estreia da revista do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri),
que “o motivo real” para o processo impeachment da então presidente Dilma
Rousseff (PT) foi a falta de apoio político, não as “pedaladas fiscais”. Em
outras palavras, golpe!
Barroso
já havia manifestado esse entendimento em julho de 2021, durante um simpósio.
“Creio que não deve haver dúvida razoável de que ela [Dilma] não foi afastada
por crimes de responsabilidade ou corrupção, mas, sim, foi afastada por perda
de sustentação política. Até porque afastá-la por corrupção depois do que se
seguiu seria uma ironia da história”, disse o magistrado.
Aliás,
se “pedaladas fiscais” fossem motivo para a abertura de processo de impeachment
contra o presidente da República, o atual chefe do Executivo já teria deixado
há muito o Palácio do Planalto. Afinal, aproximadamente 140 pedidos de
impeachment contra Jair Bolsonaro estão parados na presidência da Câmara dos
Deputados, aguardando a boa vontade de Arthur Lira.
A
mim cabe, na condição de ex-presidente da Câmara dos Deputados, ressaltar que
esses dois importantes vagões do Estado Democrático de Direito, somente agora
posicionados e movimentados nos trilhos da democracia, se negaram a apoiar a
locomotiva que propôs manter o trem na linha da verdade dos fatos e da
legalidade, evitando, certamente, que hoje estivéssemos a assistir a um Brasil
descarrilhado e sem comando.
À
época dos fatos, no comando da Câmara dos Deputados, anulei o ato golpista
tramado de forma maquiavélica contra a presidente Dilma Rousseff e contra o
Brasil.
Cumpri
com a minha obrigação não apenas de presidente da Câmara, mas de quem defende a
democracia. Paguei com a minha quota de sacrifício, mas não me arrependo de ter
defendido a verdade e o povo brasileiro.
Em
relação aos que entoaram zombarias na minha direção, até porque só eu sei o que
vi e vivi, sugiro um exame de consciência, se é que são capazes de enfrentar
tal desafio. Os algozes de então, hoje percebem e captam, entre dores de todos
os matizes, que são eles os verdadeiros abandonados, alguns no pântano da
decepção, outros nas areias movediças dos preconceitos e das próprias
idiossincrasias.
Preconiza
um conhecido provérbio latino que “a consciência tranquila é o melhor
travesseiro”. Apesar de todos os ataques sórdidos de que fui alvo, continuo
tranquilo e sereno em relação à decisão de anular a abertura do processo de
impeachment contra Dilma Rousseff.
(*) Waldir
Maranhão – Médico veterinário e ex-reitor da Universidade Estadual do
Maranhão (UEMA), onde lecionou durante anos, foi deputado federal, 1º
vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados.
Fonte
UCHO.INFO