segunda-feira, 2 de setembro de 2019

CIENTISTAS ESTUDAM POR QUE NORDESTE FOI REGIÃO COM MAIS CASOS DE MICROCEFALIA ASSOCIADOS AO VÍRUS DA ZIKA

Pesquisadores buscam explicações para esse fenômeno dentro dos laboratórios e na realidade das cidades do interior nordestino.
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Um estudo traz uma explicação surpreendente para uma questão que intrigava os cientistas: por que o Nordeste foi a região com mais casos de microcefalia associados ao vírus da zika?
A doença viral atingiu 144 mil pessoas no país, incluindo 12 mil grávidas. O Nordeste não foi a região que mais teve casos da doença. Mas concentrou 88,4% dos casos de malformação em cérebro de bebês, enquanto o Sudeste, por exemplo, teve 8,7% dos casos de microcefalia. Os pesquisadores agora buscam explicações para esse fenômeno dentro dos laboratórios e na realidade das cidades do interior nordestino.
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FUTURO DO MERCADO DE TRABALHO DEPENDE DE INVESTIMENTOS NA CIÊNCIA!


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Até o ano de 2030, 50% dos empregos que você conhece hoje deixarão de existir. O dado é de um levantamento  Futuro do Trabalho 2018 do Fórum Econômico Mundial. E para que a humanidade possa preencher com eficiência os novos postos de trabalho, é preciso investir em ciência e tecnologia, conforme indicaram pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. 
Durante a conferência The Future of Work, realizado em São Paulo na última quinta-feira (29 de agosto) e organizado pelo MIT Sloan para a América Latina, os especialistas indicaram que a Inteligência Artificial (IA) e o Aprendizado de Máquinas serão algumas das tecnologias que vão demandar novos profissionais nas próximas décadas.
“Invenção não é o suficiente para a inovação, que basicamente trata-se de uma ideia nova. A ciência é a base para a inovação", disse Ezequiel Zylberberg, pesquisador do MIT e coautor do estudo Innovation in Brazil: Advancing Development in the 21st Century (Inovação no Brasil: Avançando o Desenvolvimento no Século 21, em tradução livre). A pesquisa, que foi publicada em inglês, será disponibilizada em português até o final deste ano. 
Na visão dele, o Brasil passa por um momento crítico devido ao corte de bolsas científicas anunciado pelo governo federal. Zylberberg acredita que instituições como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são importantes para formar e treinar pesquisadores, que podem gerar a base para a cadeia de inovações no Brasil. 
“O que está acontecendo com a comunidade científica, de sofrer corte de verbas dos estudantes, pode gerar um cenário catastrófico para o país”, ele declarou. “A ciência e a tecnologia são ferramentas para gerar novas indústrias, o que gera empregos e cria trabalho para o futuro.”

Trabalho com robôs
Para o holandês Gijs van Delft, diretor do Page Group Brasil, empresa de recrutamento, os robôs serão essenciais para o futuro do trabalho. Entretanto, ele acredita que nunca irão substituir 100% a necessidade de trabalhadores, pois as máquinas não possuem potencial de discernimento como os humanos. “Não podemos tratar com medo as profissões que não existem ainda”, ele comentou. “O fator humano é chave para promover a diversidade nas empresas e serão necessários postos de lideranças para gerenciar a atuação de pessoas e das máquinas.”

Roberto Rigobon, professor de economia aplicada do MIT Sloan, acredita que as áreas de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) contribuirão significativamente com melhorias e novas criações para o mercado de trabalho. Ele considera que, no futuro, não haverá competição entre tecnologia e pessoas, mas sim a colaboração do conhecimento humano e o processamento das máquinas.
Rigobon ainda sugeriu que cada vez mais as empresas vão precisar considerar o que ele chama de E.P.O.C.H.: sigla para os termos em inglês que significam "Ética; Presença e Contato Humano; Abertura e Empatia; Criatividade e Imaginação; e Esperança". “Vamos precisar de STEM para programar as máquinas, mas os dados podem cometer erros. O E.P.O.C.H. será complementar a Inteligência Artificial para tornar o trabalho mais rico”, afirmou.
FONTE:


sábado, 31 de agosto de 2019

CAMINHÃO COM CIÊNCIAS EM ITAJUÍPE!

O Colégio Polivalente e a Pró-Reitoria de Extensão-Proex da Universidade Estadual de Santa Cruz convidam toda comunidade de Itajuipe para participarem  do "Caminhão com Ciência " onde serão realizadas oficinas e exposições científicas. Acontecerá neste sábado (31) de agosto, a partir das 8:00h no Colégio Polivalente de Itajuipe. Venha participar!! 
O que: Caminhão com Ciências 
Data: 31 de agosto (sábado)
Local: Colégio Polivalente de Itajuipe 
Horário: A partir das 8:00h









terça-feira, 27 de agosto de 2019

A ESCOLA TAMBÉM É LUGAR DE CIÊNCIA


A necessidade de fortalecimento da visão científica dentro das escolas foi um consenso do 1º Seminário Catarinense Escola é Lugar de Ciência, realizado segunda-feira (26) na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Para tanto, os participantes levantaram uma série de propostas destinadas a criar um movimento nesse sentido, que poderá ser amplificado para todo o estado e todo o País.
Entre as principais medidas, a promoção de seminários regionais e a abertura de discussões sobre as condições para a realização de pesquisas no ambiente escolar. Também foi proposto o estreitamento das relações entre a Comissão de Educação da Assembleia, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e o Fórum Estadual Popular de Educação com a Secretaria Estadual da Educação e a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação no Estado de Santa Catarina (Fapesc). O esforço conjunto poderá levar à criação de uma Frente Parlamentar em Defesa da Ciência e da Educação.


As propostas constarão de uma carta a ser encaminhada às lideranças políticas estaduais e nacionais e apresentadas no 2º Encontro Nacional dos Presidentes de Comissões de Educação dos Legislativos Estaduais, a ser realizado entre os dias 12 e 13 de setembro em Cuiabá (MT).
“A reunião foi muito importante e significativa para o setor de educação básica de Santa Catarina”, avaliou o professor André Ramos, secretário regional da seção catarinense da SBPC. Além de participar na organização e promoção do seminário, a SBPC inspira o movimento que nasceu na Assembleia com o projeto SBPC Vai à Escola, que já leva ciência para diversas instituições de ensino fundamental no estado.
“Essa carta vai trazer uma sistematização do debate entre professores, palestrantes e entidades participantes e propor ações para que as escolas de ensino básico se tornem um modelo de formação científica democrática e inovadora”, afirmou a deputada Luciana Carminatti (PT/SC), uma das idealizadoras do encontro.
O presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, participou do seminário ministrando a palestra “A escola em debate: o papel da Ciência e de outros saberes”. Ele defendeu que as universidades se aproximem mais das comunidades onde estão inseridas e que prestem contas de suas atividades, não tendo vergonha de mostrar que a educação é cara. “A universidade tem sua autonomia, mas ao mesmo tempo tem que prestar contas à sociedade. Tem que estar mais próxima da comunidade, apoiar o ensino básico, discutir melhorias, além de valorizar os professores, investindo na formação e condições de trabalho”, resumiu.
André Ramos destacou o sucesso de público do evento. A Secretaria Estadual de Educação fomentou a presença de escolas do interior (com dispensa do ponto e apoio financeiro para transporte e alimentação) em um número limitado de 300 profissionais. Porém, mais de 500 professores lotaram o Auditório Deputada Antonieta de Barros, que tem capacidade para 420 pessoas. Dezenas de pessoas ocuparam uma sala contígua onde foi instalado um telão para quem quisesse acompanhar os debates e não conseguiu entrar.
Um dos temas mais debatidos, segundo Ramos, foi o avanço do obscurantismo e os ataques à ciência e ao meio ambiente. “Isso mostra que os professores no chão da escola estão ávidos pelo debate em rede desses temas”, afirmou o secretário regional da SBPC.
Janes Rocha – Jornal da Ciência, com informações da Agência Alesc

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

ZACIMBA GABA, A PRINCESA ANGOLANA QUE FOI ESCRAVIZADA E LUTOU PELA LIBERDADE DE SEU POVO



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Zacimba Gaba foi uma princesa guerreira cuja história foi, por muitos, esquecida, devido ao projeto que se impôs no Brasil de apagar a memória da escravidão.
Trata-se de uma princesa do reino de Cabinda, na Angola, África, nascida no século 17, que comandou seu povo numa guerra contra a invasão portuguesa na região costeira. Cabinda, na década de 1690, foi praticamente dizimada pelas tropas portuguesas e seus sobreviventes foram capturados e mandados ao Brasil como escravos.
No Espírito Santo, Brasil, ela foi vendida junto a 12 de seus súditos ao fazendeiro português José Trancoso. No campo de trabalho, Zacimba foi cruelmente castigada por não se submeter às ordens do senhor. Num primeiro momento, Trancoso não tinha noção do status de Zacimba entre os angolanos, mas percebeu logo o diferente tratamento dado a ela.
Um dia, a princesa foi levada à Casa Grande, onde Trancoso a interrogou por dias, para confirmar que ela era uma soberana. Nesse tempo, foi chicoteada e agredida, até admitir sua posição. Satisfeito, Trancoso estuprou Zacimba.
O fazendeiro também percebeu o poder dessa informação, e deixou claro que se houvesse qualquer levante e algo ocorresse com ele ou sua família, ele mataria Zacimba.

A princesa foi proibida de sair da Casa Grande e submetida a sessões de tortura física e psicológica. O mesmo ocorreu em massa entre os homens de seu povo, chicoteados diariamente nos campos. O sentimento de revolta pela sua libertação aumentava.
Uma arma muito utilizada entre os escravos brasileiros, como retruco contra capatazes violentos, era o envenenamento. Era comum o uso de um veneno proveniente da cabeça de uma cobra conhecida como Preguiçosa — possivelmente, uma jararaca — no Valo do Cricaré, que é mortal em pequenas doses constantes. O veneno era conhecido como pó de amassar sinhô.
O veneno devia ser dado em várias doses pequenas, pois não funcionava instantaneamente. Porém, com medo desse tipo de golpe, os senhores costumavam obrigar os escravos a provar das comidas que traziam, para provar que não estaria envenenada. Com essa consciência, Zacimba demorou anos para envenenar José Trancoso sem matar nenhum de seus irmãos.
Quando finalmente Trancoso morreu envenenado, Zacimba estava preparada e ordenou a invasão da Casa Grande pelos escravizados presos na senzala. Todos os torturadores foram mortos, mas a família do português foi poupada. Zacimba guiou seu povo pela fazenda, guerreando contra os capatazes, e fugiu, fundando um quilombo no Norte do Espírito SAnto, hoje município de Itaúnas.
Finalmente livre, o povo de Zacimba se tornou grande condutor de revoltas pela liberdade, e seu quilombo se tornou ponto de referência para escravos fugidos. A princesa passou o resto da vida guiando batalhas no porto de São Matheus, pela libertação dos negros que eram vendidos chegados de África, e a destruição dos navios negreiros.
Persistente em sua luta pela liberdade, a princesa guerreira morreu invadindo um navio português, lutando pela libertação de seu povo cabindense.
Aventuras na História

ELEVAÇÃO DO NÍVEL DOS OCEANOS EXIGE POLÍTICAS DE LONGO PRAZO

André Julião  |  Agência FAPESP
A elevação do nível dos oceanos pode ultrapassar 1,6 metro até o fim do século, com consequências desastrosas principalmente para as populações costeiras. Além de medidas para a redução das emissões de gases do efeito estufa a serem adotadas pelos países, os cidadãos precisam mudar hábitos e pressionar os tomadores de decisão para evitar um cenário catastrófico.

Elevação do nível dos oceanos exige políticas de longo prazo
A avaliação foi feita pelos pesquisadores que participaram do primeiro episódio do programa Ciência Aberta em 2019, lançado no dia 19 de março com o tema “Oceanos Ameaçados”. A iniciativa é uma parceria da FAPESP com a Folha de S.Paulo.
“São necessárias políticas de Estado, o que não quer dizer políticas de governo. É preciso que seja algo perene, ao longo de décadas”, disse Michel Michaelovitch de Mahiques, professor no Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP).
Participaram do programa Ilana Wainer, professora no Departamento de Oceanografia Física do IO-USP e membro do comitê gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Criosfera, e Cristiano Mazur Chiessi, professor na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e líder do subgrupo Paleoclima do Núcleo de Apoio à Pesquisa – Mudanças Climáticas (Incline).
Chiessi lembrou que a cidade de Santos foi uma das primeiras a estabelecer um plano no longo prazo para o enfrentamento das mudanças climáticas. A iniciativa foi parte de um projeto com apoio da FAPESP.
“Não foi algo feito apenas por pesquisadores, mas em conjunto com o poder público e com a sociedade civil. O plano ainda não foi colocado em prática, é muito recente. Mas, se for, vai efetivamente gerar condições um pouco menos difíceis para as populações afetadas pela elevação do nível do mar e por outras questões associadas a mudanças climáticas dos oceanos”, disse o pesquisador.
O estudo concluiu que o custo mínimo com obras na região da Ponta da Praia de Santos e na Zona Noroeste, as mais afetadas pela elevação do nível do mar no município, ficaria em torno de R$ 300 milhões. Não se adaptar às mudanças climáticas, por outro lado, poderia custar até R$ 1,5 bilhão.
Os pesquisadores ressaltaram que a elevação do nível dos oceanos já ocorreu em outros períodos na Terra, mas não em uma velocidade tão alta como agora.
“A taxa em que esse aumento está ocorrendo é muito rápida. Desde 1993, a elevação é de 3,1 milímetros (mm) por ano. Em 1900, era de 1,7 a 2 mm por ano. A partir de um determinado ponto, o aumento começou a ser exponencial. Mudanças [climáticas] sempre existiram, mas agora estamos alimentando o sistema com os gases [do efeito] estufa”, disse Wainer.
O mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Organização das Nações Unidas (ONU), lançado em 2013, apontou que a taxa de elevação do mar seria de 8 a 16 mm por ano até o fim do século, muito maior do que os 3,2 mm anuais observados atualmente. Para o ano 2100, portanto, o nível dos mares subiria entre 50 centímetros e 1 metro.
“É importante mencionar que, quando o quinto relatório do IPCC foi fechado, a compreensão e a representação do degelo das calotas polares eram extremamente incipientes”, disse Chiessi.
Os novos modelos, explicou, preveem um aumento ainda maior, chegando a 1,6 metro de elevação até 2100, levando em conta o derretimento das calotas polares. Estudos recentes, que serão contemplados no próximo relatório do IPCC, indicam valores anda mais altos do que 1,6 metro de elevação para o fim do século.
Sintonia com a atmosfera
Os oceanos têm um papel fundamental na regulação do clima do planeta, ao redistribuir o calor que chega em excesso na região tropical até as regiões polares, ao mesmo tempo em que levam o frio dos polos para os trópicos.
“Os oceanos, junto com a atmosfera, funcionam como um ar condicionado do planeta, levando calor para as regiões frias e frio para onde está muito quente”, disse Wainer.
Chiessi explicou que a transferência de energia na forma de calor do Atlântico Sul para o Atlântico Norte anualmente é da ordem de 0,4 petawatt, o equivalente ao produzido por 285 mil usinas hidrelétricas de Itaipu. “Essa grande circulação no Atlântico está marcantemente ameaçada”, disse.
“Quando há o derretimento das geleiras, existe um aporte de água doce no mar. Desse modo, não se consegue mais formar essa água profunda e densa necessária para a circulação continuar se movendo. Como consequência, o oceano acaba sendo menos eficiente em redistribuir o calor”, explicou Wainer.
Consciência e tecnologia
Para os pesquisadores, pressionar os tomadores de decisão é fundamental para evitar um cenário catastrófico. Além de diminuir o consumo de plástico, que afeta os ecossistemas marinhos e inevitavelmente chega aos humanos por meio do consumo de peixes e frutos do mar, é fundamental diminuir as emissões de gases do efeito estufa.
“Obviamente, ninguém vai abandonar os carros, parar o transporte aéreo e marítimo da noite para o dia. Não é isso. Mas existem dois pontos importantes. Um é a tomada de consciência, individual e coletiva, de que é necessário um maior respeito pelos oceanos e pelo planeta. E o outro é usar a tecnologia a nosso favor. Optar por meios de transporte menos poluentes, por exemplo. Existem várias coisas que podem ser feitas, senão para impedir, pelo menos para diminuir a taxa de crescimento [de emissões]. Temos que ter consciência de que só temos esse planeta [e por isso] temos que cuidar melhor dele”, disse Mahiques.
FONTE:

CIÊNCIA ABERTA

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

MAIS DE 70 MILHÕES DE BRASILEIROS PODEM SOFRER FALTA D'ÁGUA ATÉ 2035.

Matéria com o pesquisador Carlos Joly (foto) para Agência Fapesp.

O Brasil possui a maior reserva terrestre de águas superficiais, além de duas das maiores áreas úmidas do mundo – o Pantanal Mato-Grossense e a Bacia Amazônica – e vastos reservatórios de água subterrânea. Essa abundância de água, porém, não garante a segurança hídrica do país. O recurso natural está distribuído de forma bastante desigual pelo território nacional e, sem investimentos em infraestrutura para garantir o abastecimento, 74 milhões de brasileiros podem sofrer com a falta d’água até 2035. As conclusões são do relatório temático “Água: biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano no Brasil” e de seu respectivo sumário para tomadores de decisão, lançados no úlitmo dia 8 de agosto, durante o 15º Congresso Brasileiro de Limnologia, em Florianópolis (SC). Resultado de uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês) – apoiada pelo programa BIOTA-FAPESP– e as universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o relatório foi elaborado por um grupo de 17 pesquisadores, de diversas instituições do país.
“A água é um recurso de suma importância para o Brasil, onde já vemos regiões, como o Sudeste, que têm enfrentado crises hídricas bastante sérias nos últimos anos”, disse à Agência FAPESP o pesquisador  Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES. “A redução da disponibilidade de água poderá acirrar os conflitos pelo uso desse recurso no país”, avaliou o pesquisador, que também é coordenador do programa BIOTA-FAPESP.
O relatório destaca que, além da população e da biodiversidade, praticamente todas as atividades econômicas no Brasil dependem de água. A agricultura irrigada e a pecuária são os principais usuários dos recursos hídricos do país, consumindo, respectivamente, por volta de 750 mil e 125 mil litros de água por segundo. Além disso, 85% da produção agropecuária nacional – localizada nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul – depende da água proveniente das chuvas, que tem, aproximadamente, 40% de sua origem na evapotranspiração da Amazônia.
Já a indústria usa mais de 180 mil litros de água por segundo e, pelo menos, 80% dos reservatórios hidrelétricos recebem água proveniente de unidades de conservação, que asseguram o fornecimento do recurso em quantidade e qualidade necessárias para suas operações, apontam os autores.
Esses setores econômicos altamente dependentes de água já têm sofrido os impactos da diminuição da disponibilidade do recurso em função de fatores como as mudanças climáticas, de uso do solo, fragmentação de ecossistemas e poluição, apontam o relatório.
Anos de seca prolongada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste resultaram em uma perda estimada de R$ 20 bilhões no faturamento do setor agrícola em 2015 – um recuo de quase 7% em relação ao ano anterior. Por outro lado, mudanças no uso do solo em função da expansão agrícola e do represamento de rios podem comprometer a disponibilidade e a qualidade da água em todo o país, afetando os usos pela biodiversidade aquática e pela população humana.
Essas mudanças, bem como a transposição de rios, promovem modificações na dinâmica e na estrutura dos ambientes aquáticos, causando perda na conectividade e alteração no regime hidrológico, o que favorece o estabelecimento de espécies exóticas. Da mesma forma, o aumento no aporte de poluentes em rios, lagos e riachos acarreta prejuízos à biodiversidade e aos serviços providos por ecossistemas aquáticos, como o fornecimento de água limpa e de peixes para o consumo, ressaltam os autores. “A água não é só um recurso hídrico, mas também um componente-chave da biodiversidade, patrimônio cultural do país e um elemento essencial para o bem-estar da população brasileira”, disse Aliny Pires, professora da UERJ e coordenadora do relatório.
Garantia de segurança hídrica
De acordo com o relatório, cerca de 10% das espécies de peixe continentais do país estão sob risco de extinção e 30% do total de espécies da fauna ameaçada no Brasil compreendem peixes e invertebrados de água doce. Quase 65% das áreas úmidas brasileiras – fundamentais na prevenção de enchentes e de outros desastres naturais – foram perdidas e a taxa atual de alteração desses ambientes observada é três vezes mais rápida que a de perda de floresta. “Em biomas como a Amazônia e o Pantanal, a alternância entre as cheias e as vazantes determina a estrutura e a dinâmica dos diversos ecossistemas da região”, afirmou Joly. “Nesses casos, a interrupção do pulso de inundações periódicas leva a um colapso no funcionamento dos ecossistemas”, disse.
O enfrentamento das ameaças e a conservação dos ambientes aquáticos e das áreas úmidas nas diferentes regiões do Brasil serão fundamentais para garantir a segurança hídrica no país, indica o relatório. A restauração florestal e a conservação dos mananciais e da vegetação ribeirinha podem trazer benefícios consistentes para a qualidade da água e reduzir, consideravelmente, os gastos com tratamento. No sistema Cantareira, que está situado na Região Metropolitana de São Paulo e abastece a capital, a recomposição da vegetação nativa, por exemplo, pode reduzir em cerca de três vezes os custos com o tratamento da água, considerando-se os valores da restauração, apontam os autores. “Um dos fatores que causaram as crises hídricas pelas quais São Paulo tem passado nos últimos anos é a remoção de cobertura vegetal nativa”, afirmou Joly.
Segundo o relatório, estima-se que a cada R$ 1 investido em infraestrutura para a segurança hídrica, mais de R$ 15 são obtidos em benefícios associados à manutenção das distintas atividades produtivas no país. Já a falta de investimento para essa finalidade pode causar perdas econômicas principalmente para o setor industrial, seguido pela pecuária e a agricultura de irrigação, além de comprometer a saúde da população e a manutenção da biodiversidade aquática. “A questão da segurança hídrica não está atrelada apenas à garantia da disponibilidade de água, mas também à gestão desse recurso, de modo a assegurar que exista e seja disponível para todos os setores usuários”, afirmou Pires.
A vazão média anual dos rios brasileiros é de, aproximadamente, 180 milhões de litros por segundo. A distribuição desse recurso, contudo, se dá de maneira extremamente desigual no território brasileiro e o país apresenta grandes perdas na distribuição. Uma redução média da perda de água na distribuição para valores próximos a 15% promoveria um ganho líquido em torno de R$ 37 bilhões até 2033, estima o relatório. “A região Norte do Brasil, por exemplo, tem a maior disponibilidade hídrica do país, em função da Amazônia, mas perde muita água na distribuição”, exemplificou Pires.

Fonte: 
Agência Fapesp