quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

ESTUDANTES DE IBITIRA CRIAM HERBÁRIO PARA CATALOGAR PLANTAS EM RISCO DE EXTINÇÃO NA REGIÃO

Com o intuito de catalogar algumas espécies de plantas em risco de extinção no distrito de Ibitira, em Rio do Antônio, estudantes do Colégio Estadual Professora Lia Publio de Castro, situado na localidade, desenvolveram um herbário. A iniciativa integra o projeto “Herbário: plantas em extinção no distrito de Ibitira”, que conquistou o 1º lugar na categoria “Cientista Júnior” entre as pesquisas científicas concluídas, na 9ª Feira de Ciências, Empreendedorismo e Inovação da Bahia (FECIBA), realizada de forma on-line, em dezembro de 2021.


A partir de ideias obtidas por análises no distrito de Ibitira, as estudantes Maria Clara Batista, 16, e Maria Virgínia Viana, 15, ambas do 1° ano do Ensino Médio, perceberam que a população tem pouco conhecimento sobre as espécies de árvores que estão em extinção. Partindo deste problema, elas resolveram produzir um herbário para que sirva de exemplo para futuros estudos de plantas em extinção e, também, para informar à população sobre as implicações que poderiam ocorrer caso essas plantas desaparecessem do ecossistema.

Maria Clara Batista falou sobre o impacto do projeto na sociedade. “Plantas em risco de extinção é um entrave grande no que tange a flora da região. No entanto, é mais problemático ainda que a população não saiba as graves consequências que isso gera. Nosso trabalho tem importante papel na conscientização de cada cidadão do distrito de Ibitira, uma vez que os mesmos podem obter informações suficientes sobre a temática em pauta e, por sua vez, parar e repensar seus hábitos, moldando-os para melhor ajudar o meio ambiente. Ademais, o projeto pode servir para futuros estudos de plantas na região”.

Para Maria Virgínia Viana, a iniciativa contribuiu para o seu aprendizado. “O projeto me trouxe uma reflexão sobre como os danos ambientais não estão tão longe assim, pois, mesmo próximos a mim, se nota isso pela quase extinção das plantas, que estão presentes no projeto e não são poucas. Isso conseguiu me conscientizar em certos pontos, trazendo uma preocupação maior e ajudando a levar esse conhecimento às pessoas próximas para evitar, mesmo que minimamente, a perda dessas plantas importantes para a sobrevivência de um ecossistema”, comentou.
 
O orientador Marcos Batista destacou a importância do projeto para o aprendizado e crescimento dos estudantes. “A pesquisa científica é um instrumento transformador, que possibilita a cada estudante experiências que ampliam sua visão de mundo. Ela é capaz de aguçar e alimentar a curiosidade, a criatividade e o protagonismo dos estudantes. Acredito que a educação científica é indispensável dentro do processo de ensino e aprendizagem.

Fonte:

Escolas Educação

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

FECIBA - FEIRA DE CIÊNCIAS, EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO DA BAHIA: ESTUDANTES BAIANAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA DESENVOLVEM POMADA CICATRIZANTE À BASE DE ANGICO VERMELHO

 


Pesquisa está em fase inicial, mas já revela a alta eficácia da pomada. 
 
O angico vermelho é uma árvore de porte médio a grande que apresenta fácil adaptação. A planta, que está presente no cerrado, na caatinga e na Mata Atlântica, tem um grande potencial medicinal. Após analisar suas caraterísticas, as alunas do Colégio Estadual de Casa Nova, Camila Castro, Emilly Franca e Anne Cardoso, orientadas pela professora Adelange dos Santos, desenvolveram uma pesquisa sobre uma pomada cicatrizante de baixo custo à base de angico vermelho.

A ideia de estudar essa espécie em específico surgiu quando uma das alunas ouviu da sua avó sobre os poderes cicatrizantes do angico. “Ela nos contou que após sofrer um acidente, no qual deixou um grave ferimento na sua perna, seus familiares utilizaram o pó da casca do angico vermelho no local do ferimento, o que fez cicatrizar rapidamente”, explica Camila.

De acordo com as pesquisadoras, o estudo indicou que a espécie tem substâncias adstringentes e hermostáticas, que auxiliam na cicatrização de ferimentos. Camila afirma que a pomada apresenta um valor de produção baixo e alta eficácia. “A pomada cicatrizante é um produto totalmente natural, no qual agradaria o público consumidor pela sua eficiência e baixo custo, pois é produzida com ingredientes próprios do bioma caatinga”.

A pesquisa, que faz parte do Programa Ciência na Escola, da Secretaria de Educação, foi uma das vencedoras da 9ª Feira de Ciências, Empreendedorismo e Inovação da Bahia (FECIBA). Atualmente, o projeto está em fase de estudo e precisa de recursos para compreender todos os benefícios da pomada, como funcionaria o processo de fabricação e a certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Estamos em busca de apoiadores na área científica e laboratoriais para que nos auxilie no desenvolvimento de testes para o avanço do produto”, diz Camila.

A orientadora do estudo, Adelange dos Santos, destaca a importância de incentivar e apoiar ideias dos jovens alunos. “É importante fomentar esse tipo de projeto, no sentido de possibilitar aos nossos alunos diversas possibilidades de vivência, considerando os recursos que o nosso estado oferece. Hoje, a nossa sociedade requer estudantes com múltiplas habilidades, especialmente que sejam capazes de inovar e de serem empreendedores”.

Bahia Faz Ciência
 
A Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) estrearam no Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico, 8 de julho de 2019, uma série de reportagens sobre como pesquisadores e cientistas baianos desenvolvem trabalhos em ciência, tecnologia e inovação de forma a contribuir com a melhoria de vida da população em temas importantes como saúde, educação, segurança, dentre outros. As matérias são divulgadas semanalmente, sempre às segundas-feiras, para a mídia baiana, e estão disponíveis no site e redes sociais da Secretaria e da Fundação. Se você conhece algum assunto que poderia virar pauta deste projeto, as recomendações podem ser feitas através do e-mail comunicacao.secti@secti.ba.gov.br.

Fonte:

PESQUISA CIENTÍFICA: O FANTASMA DA AÇÃO ENTRE AMIGOS - EDITORES QUE PUBLICAM EM PERIÓDICOS QUE FAZEM PARTE DO CONSELHO EDITORIAL



Estudo aponta indícios de conluio na avaliação de artigos científicos, com favorecimento a membros de conselhos editoriais de revistas

Pesquisadores da França, do Reino Unido, da Itália e do Canadá publicaram um estudo na revista PLOS Biology que apresenta evidências de um esquema na seleção de artigos científicos capaz de configurar conluio e má conduta: o favorecimento, na hora de escolher trabalhos que serão publicados, a autores ligados ao conselho editorial dos periódicos. O grupo analisou manuscritos de 5.468 revistas da área biomédica, divulgados entre 2015 e 2019. Foram produzidos dois indicadores com base nesses trabalhos. Um deles quantificou a presença nesses títulos de autores altamente prolíficos, aqueles que produzem uma quantidade de artigos bem acima da média de seus pares. O outro indicador mediu o quanto a distribuição de autores de papers era desigual entre as revistas.

O objetivo, ao computar os dois índices, era verificar se havia concentração de trabalhos de alguns pesquisadores em periódicos específicos. Na metade das revistas, o autor mais prolífico havia publicado no máximo 3% do total de artigos. Mas em um grupo fora da curva, com mais de 200 periódicos, um único pesquisador era responsável por entre 11% e 40% de todos os papers publicados. Entre esses títulos, havia alguns com fator de impacto razoável, como o Journal of Enzyme Inhibition and Medicinal Chemistry, da editora Taylor & Francis, Current Problems in Surgery, da Elsevier, e o Journal of the American Dental Association.

O passo seguinte foi estudar detidamente uma amostra de 100 revistas selecionadas aleatoriamente entre as que sobressaíram em um dos indicadores ou em ambos. Observou-se, então, que em 61% dos casos o autor mais prolífico fazia parte do conselho editorial do periódico. Também se analisou a data de submissão e de publicação dos artigos. Em cerca de metade das revistas da amostra, o tempo para análise e aceitação de trabalhos dos autores mais prolíficos era em média de 85 dias – ante 107 dias para artigos de outros pesquisadores. O trabalho da PLOS Biology, assinado por três pesquisadores da Universidade de Rennes, na França, e por colegas das universidades de Ottawa, no Canadá, Pavia, na Itália, e Oxford, no Reino Unido, classifica essas revistas como “periódicos de autopromoção” e levanta a hipótese de terem se tornado “um novo tipo de entidade editorial ilegítima com certas características, como uma proporção alta de artigos publicados pelo mesmo grupo de autores, relações entre os editores e esses autores e publicação de pesquisas de baixa qualidade”.

Não há impedimento para que membros de conselhos editoriais de periódicos publiquem nas revistas que eles próprios coordenam, desde que isso fique claro na declaração de conflito de interesses e se garanta que não haja interferência no processo de revisão por pares. “Consideramos, no entanto, que uma proporção exagerada de artigos publicados por um autor poderia ajudar a identificar periódicos suspeitos de prática editorial duvidosa”, disse ao site de informações médicas Medscape uma das autoras do estudo, a farmacologista francesa Clara Locher, da Universidade de Rennes.

“Se é raro alguém publicar mais de dois a três artigos por ano em um mesmo periódico, imagine um pesquisador ser responsável por mais de 10% da produção de uma revista. Isso é bastante incomum”, complementa Dorothy Bishop, professora de neuropsicologia do desenvolvimento da Universidade de Oxford e coautora do estudo. “Não é possível afirmar de modo categórico que há um mau comportamento em todos os exemplos, porque pode existir alguma explicação para isso, mas há a preocupação com a presença de algum editor desonesto”, explicou Bishop à revista Times Higher Education (THE).

Em 2015, Bishop deparou-se com o problema pela primeira vez ao analisar a produção científica sobre autismo, uma de suas áreas de interesse. Em uma série de postagens em seu blog, ela mostrou que o psicólogo norte-americano Johnny Lee Matson, da Universidade do Estado da Louisiana, nos Estados Unidos, foi o responsável por 10% de todos os artigos publicados na revista Research in Developmental Disabilities (RDD) – e ele era o editor-chefe do periódico. Também constatou que Matson recebia um tratamento camarada em outros dois títulos em que publicara um número alto de artigos científicos: Developmental Neurorehabilitation (DN) e Journal of Developmental and Physical Disabilities (JDPD). No caso do DN, havia informações sobre as datas de submissão e aceitação de artigos – esse intervalo de tempo foi de apenas um dia para os 34 artigos propostos por Matson entre 2010 e 2014, o que sugere ausência de uma revisão por pares cuidadosa.

Bishop foi investigar esses dois periódicos e constatou que seus editores também recebiam tratamento diferenciado nas revistas em que o pesquisador da Universidade de Lousiana era editor: além da RDD, Matson também coordenava a Research in Autism Spectrum Disorders. Em 2014, um levantamento da empresa Thomson Reuters incluiu Matson na lista das “mentes científicas mais influentes do mundo” pela extensão de sua produção. Autor de mais de 800 artigos e 46 livros, seu índice H era de 67 – significa que 67 de seus papers obtiveram, pelo menos, 67 citações cada um.

O exemplo que animou os pesquisadores a produzir o levantamento é mais recente e rumoroso. Trata-se do caso do médico francês Didier Raoult, da Universidade Aix-Marselha, autor de um controverso paper sobre a utilidade da hidroxicloroquina, droga usada contra a malária, e do antibiótico azitromicina no tratamento da infecção por Covid-19, publicado no International Journal of Antimicrobial Agents. A polêmica envolvendo o artigo, que teria sido aceito para publicação em tempo recorde e no qual há suspeita de manipulação de dados, fez com que a produção do francês fosse esquadrinhada. Constatou-se que Raoult, além de ser o editor-chefe da revista New Microbes and New Infections (NMNI), da editora Elsevier, também era o seu autor mais prolífico: seu nome está em 32% de 726 artigos publicados pelo periódico. A epidemiologista Patricia Schlagenhauf, da Universidade de Zurique, na Suíça, que acaba de assumir o cargo de editora-chefe do NMNI, afirmou à THE que “pretende ter uma gama mais ampla de membros do conselho, que terá de ser mais global e diversificado”. Mas saiu em defesa de seu antecessor. “Raoult e seu grupo são muito ativos em pesquisas no âmbito do interesse da revista. Produzem muitos artigos bons e, às vezes, polêmicos. A revista NMNI provavelmente teve muita sorte de ter alguns desses artigos submetidos.”

Para Ludo Waltman, especialista em bibliometria da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, os indícios de favorecimento demonstram a necessidade de ampliar a transparência dos processos editoriais de periódicos científicos. A melhor maneira de evitar o problema, disse ele à revista Science, seria tornar públicos os comentários feitos pelos revisores de cada artigo, permitindo que os leitores julguem se o paper foi devidamente avaliado.

Fonte:

Jornal da Ciência

CANDIDA AURIS: ANVISA CONFIRMA TERCEIRO CASO DE ‘SUPERFUNGO’ NO PAÍS. ESTAMOS NUMA FASE...

Candida auris: superfungo identificado em 2009 já foi confirmado em 47 países (KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)


Estudo de 2021 sugere que caos hospitalar criado pela covid-19 pode ter criado condições para a proliferação do fungo

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) confirmou hoje o terceiro surto de Candida auris em um hospital da rede pública no Recife. A espécie foi detectada na urina de um paciente.

Conhecido como “superfungo”, ele resiste a medicamentos e, de acordo com a agência, é considerado uma ameaça séria à saúde pública. A infecção por C. auris pode ser fatal, principalmente para pacientes imunodeprimidos ou com comorbidades. Os dois primeiros casos foram confirmados em Salvador em 2020.

A agência alertou ainda que há outro caso suspeito em investigação laboratorial, em um paciente do mesmo hospital.


Mais informações em:

Exame

Folha


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

PROVÍNCIA DO CANADÁ PLANEJA COBRAR “IMPOSTO” DE NÃO VACINADOS CONTRA COVID.


Primeiro-minsitro de Quebec disse que aqueles que recusam os imunizantes estão sobrecarregando o sistema de saúde.

Quebec, a segunda província mais populosa do Canadá, planeja forçar os adultos que se recusam a se vacinar contra a Covid-19 a pagar uma “contribuição de saúde”. A medida provavelmente estimulará um debate sobre direitos individuais e responsabilidade social.

O primeiro-ministro da província, François Legault, disse a repórteres nesta terça-feira (11) que a proposta, cujos detalhes ainda estão sendo finalizados, não se aplicaria àqueles que não podem ser vacinados por razões médicas.

Os não vacinados sobrecarregam os outros e o Ministério das Finanças da província está determinando uma quantia “significativa” que este grupo seria obrigado a pagar, disse Legault.

Os governos em todo o mundo estão determinando restrições de movimento aos que se recusam a se vacinar contra a Covid-19, mas um imposto abrangente sobre todos os adultos não vacinados pode ser uma medida rara e controversa.

Embora esse imposto possa ser justificado no contexto de uma emergência de saúde, disse Carolyn Ells, professora de medicina e ciências da saúde da Universidade McGill, se sobreviverá a uma contestação judicial dependerá dos detalhes.

Mas Ells expressou surpresa que o governo esteja dando um passo tão “dramático” agora, quando ainda restam outras opções, como expandir a exigência dos comprovantes de vacinação.

Províncias em todo o Canadá estão enfrentando um aumento exponencial nos casos de Covid-19 que forçou dezenas de milhares de pessoas ao isolamento e sobrecarregou o setor de saúde.

Quebec foi uma das mais atingidas, registrando regularmente a maior contagem diária de casos de coronavírus de todas as províncias e tendo milhares de profissionais de saúde fora de seus empregos.

“A vacina é a chave para combater o vírus. É por isso que estamos procurando uma contribuição de saúde para adultos que se recusam a ser vacinados por razões não médicas”, disse Legault.

O primeiro-ministro disse que, embora a província tenha cerca de 10% de pessoas não vacinadas, estas representam 50% das pessoas em Unidades de Terapia Intensiva.

Legault e seu partido enfrentam uma eleição provincial em outubro.

Na segunda-feira (10), o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau disse que o governo federal havia garantido doses suficientes da vacina contra Covid-19 para que todos os canadenses elegíveis recebessem a dose de reforço.

Fonte:

CNN Brasil

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

USO DE MÁSCARA NÃO AFETA A RESPIRAÇÃO NEM RESPOSTA CARDIOVASCULAR DURANTE EXERCÍCIO FÍSICO

Resultado de estudo realizado por pesquisadores da USP pode servir de base para novas recomendações para a promoção da saúde e bem-estar durante a pandemia de COVID-19 (foto/crédito: Natália Mendes Guardieiro)

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Embora possa causar algum desconforto, o uso de máscaras de tecido não interfere significativamente nos padrões de respiração e fisiologia cardiovascular durante a prática de exercício físico em intensidades moderadas a vigorosas. Foi o que mostrou estudo com homens e mulheres não envolvidos em esporte competitivo.

“ O estudo mostra que os mitos de que o uso de máscara durante o exercício físico seria prejudicial, afetando, por exemplo, a saturação de oxigênio do sujeito, não se sustentam. O uso da proteção não alterou significativamente o funcionamento corporal durante a prática de exercício moderado a pesado”, afirma Bruno Gualano , professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e autor do artigo.

O estudo, apoiado pela FAPESP, foi divulgado na plataforma  medRxiv , em formato pré-print, sem a revisão dos pares.

No estudo, realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, 17 homens e 18 mulheres saudáveis realizaram testes ergoespirométricos em esteira – que avaliam as respostas cardiopulmonares por meio da troca de gases expirados e inspirados durante o exercício físico – em diferentes intensidades de esforço. Os participantes do estudo correram com máscara de tecido de três camadas e sem ela, numa outra sessão, para que a comparação fosse feita. Foram avaliadas diferentes intensidades de exercícios.

Os testes permitiram analisar uma infinidade de variáveis fisiológicas, como o consumo de oxigênio e a capacidade respiratória. “Também avaliamos medidas de funcionamento cardiovascular, a saturação de oxigênio e a acidose no sangue. A conclusão foi que as perturbações provocadas pela máscara foram muito pequenas, especialmente nas intensidades abaixo do esforço máximo, que são capazes de trazer enormes benefícios à saúde”, afirma Gualano.

Respostas fisiológicas compensatórias

Já nas altas intensidades – quando o sujeito faz o máximo esforço possível antes de entrar em cansaço extremo e parar o exercício – foi possível perceber pequenas alterações respiratórias. “Mas o organismo consegue lidar bem com isso, por meio de respostas fisiológicas compensatórias. A saturação de oxigênio, a frequência cardíaca, a percepção do esforço, os níveis de lactato (medida indicativa do equilíbrio ácido-base no organismo), a pressão arterial, tudo isso está dentro do esperado, mesmo com uso da máscara e em intensidades criticas”, afirma.

O pesquisador ressalta que os resultados do estudo permitem formular novas recomendações para a prática de exercício físico durante a pandemia.

“As máscaras não podem ser usadas como muleta para que as pessoas não pratiquem exercício físico. A pandemia é longa, e as máscaras junto com a vacinação são medidas necessárias para que o vírus não se dissemine; ao mesmo tempo, é importante que as pessoas continuem se exercitando. Vimos que, entre as intensidades moderadas e pesadas, que sabidamente fazem bem para a saúde, não há alteração marcante de fatores fisiológicos. Portanto, é preciso continuar usando a máscara em ambientes fechados. O uso de máscara e a prática de atividade física não são excludentes”, diz.

“Já para quem quiser fazer exercícios em intensidades exaustivas, pode realizá-los ao ar livre, sem aglomeração e em locais onde seja possível retirar a máscara por um período para que não ocorra perda de desempenho. É bom lembrar que, mesmo em altíssima intensidade, os efeitos da máscara foram mínimos”, completa.

Outro ponto interessante do estudo foi que, no geral, os resultados foram similares tanto para os homens quanto para mulheres. “A fisiologia do exercício de homens e mulheres é muito diferente, o que nos levou a pensar que pudesse haver um efeito diferente da máscara, mas isso não aconteceu”, diz.

Jogos Olímpicos com máscara

O mesmo grupo de pesquisadores realizou, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), outro estudo com atletas de alto nível. “Nesse outro estudo também observamos que as máscaras não prejudicavam o rendimento. Era apenas a percepção de esforço que aumentava: os atletas reclamavam do incômodo provocado pela máscara, mas o desempenho não se alterava”, conta.

Gualano relata que os resultados do estudo foram publicados antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio. “Tendo em vista todos os prejuízos esportivos, econômicos e organizacionais que decorrem da infecção de um atleta competitivo, sugerimos na época que seria interessante pensar no uso de máscara durante o treino, uma vez que o desempenho é pouco afetado; pode ser um trade-off interessante”, diz.

O pesquisador explica que, de maneira geral, atletas de alto rendimento não costumam apresentar quadros graves de COVID-19. “Mas o risco não é zero. Além disso, há o prejuízo do esporte, pois tem que isolar, testar contactantes e recuperar o atleta, o que é uma perda imensa para o competidor e para a equipe. Nos Jogos Olímpicos, vimos casos de atletas que perderam a competição por terem se infectados. Com a nova onda na Europa e nos Estados Unidos, os casos no esporte têm crescido substancialmente, e diversas ligas correm o risco de serem paralisadas”, diz.

A equipe de pesquisadores estuda agora o uso de máscara durante o exercício físico com grupos clínicos e crianças. “Estamos testando os efeitos do uso de máscaras em crianças saudáveis e com obesidade durante o esforço em diferentes intensidades, para entender se as máscaras são seguras em outros grupos mais vulneráveis também”, afirma.

Fonte:

APLICATIVO AJUDA COMUNIDADES A MONITORAR ENCHENTES E FORNECE DADOS PARA PREVENÇÃO DE DESASTRES

     Alunos em Balneário Rincão (SC) manipulam aplicativo Dados à Prova D’Água; envolvimento de comunidades no       desenvolvimento ajudou mapeamento de áreas suscetíveis a enchentes (foto: Rosinei da Silveira)


André Julião | Agência FAPESP – Um aplicativo pode mudar a forma como comunidades e órgãos governamentais lidam com as enchentes. Com um telefone celular em mãos, moradores de bairros vulneráveis a inundações podem não apenas se informar com antecedência sobre possíveis eventos do tipo como contribuir com os órgãos competentes no mapeamento de áreas suscetíveis e na prevenção de desastres.

A ferramenta é um dos desdobramentos do projeto Dados à Prova D’Água, parceria entre as universidades de Glasgow e Warwick, no Reino Unido, Heidelberg, na Alemanha, do Centro Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e da Fundação Getulio Vargas, com apoio da FAPESP e do United Kingdom Research and Innovation Global Challenges Research Fund.

“O princípio básico é de que tecnologia, engajamento das pessoas, geração, uso e circulação de dados melhoram a resiliência das comunidades vulneráveis a desastres socioambientais. Neste caso, inundações”, explica Maria Alexandra da Cunha, professora na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV), coordenadora da parte brasileira do projeto.

Levantamento realizado em 2020 pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) contabilizou 1.697 decretos de emergência ou estado de calamidade pública por conta de chuvas intensas naquele ano.

Segundo a área de Defesa Civil da CNM, os prejuízos chegaram a R$ 10,1 bilhões, decorrentes de tempestades, ciclones, deslizamentos, inundações, enxurradas e tornados, sendo o setor de habitação o mais afetado, com 280.486 moradias danificadas ou destruídas e prejuízos de R$ 8,5 bilhões.

O aplicativo Dados à Prova D’Água, que tem o mesmo nome do projeto, foi testado por professores, estudantes, agentes da Defesa Civil e moradores em mais de 20 municípios nos estados de Pernambuco, Santa Catarina, Mato Grosso, Acre e São Paulo e deve ser disponibilizado em breve na Play Store, loja virtual de aplicativos da Google.

Para alimentar o aplicativo, os pesquisadores usam o princípio da ciência cidadã. Alunos de escolas públicas passam por um treinamento, que envolve a construção de pluviômetros artesanais, usando uma garrafa PET e uma régua simples.

Cada estudante fica, então, responsável por verificar diariamente a quantidade de chuvas medida por cada um desses pluviômetros e inserir as medidas no aplicativo, que vão para o banco de dados do projeto. Espera-se que esses dados possam futuramente ajudar a subsidiar medidas de prevenção a desastres.

“Os dados necessários à gestão de riscos de desastres fluem tradicionalmente de forma unidirecional, dos centros de expertise para a população e órgãos executores. O aplicativo possibilita ampliar esse fluxo, pois promove a participação direta da comunidade nos processos de gestão e amplia a fonte de dados locais dos centros especializados”, afirma Mário Martins, pesquisador vinculado ao projeto, que realiza o pós-doutorado na EAESP-FGV com bolsa da FAPESP.

A aplicação permite ainda enviar informações sobre áreas alagadas, intensidade de chuva e altura da água no leito do rio, além de conter dados disponibilizados por órgãos como as áreas de suscetibilidade do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e dados pluviométricos do Cemaden, para uso dos moradores das comunidades.

“Não queríamos apenas desenvolver um aplicativo. Durante nossas atividades nas áreas de estudo, nos preocupamos em discutir como o aplicativo poderia ser utilizado pelos moradores durante os desastres. Por isso, acabamos desenvolvendo um novo método de desenvolvimento de software e uma ferramenta que pudesse ser usada por todos”, conta Lívia Degrossi, que realiza pós-doutorado na EAESP-FGV.

A pesquisadora desenvolveu a aplicação em colaboração com profissionais do Cemaden, da Defesa Civil e da Secretaria de Meio Ambiente do Acre. Participaram ainda estudantes das escolas estaduais Renato Braga e Vicente Leporace, no Jardim São Luís, na cidade de São Paulo, e moradores do bairro, que fica no M’Boi Mirim, área do município com maior número de regiões de risco, segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Memórias de enchentes

“Trabalhamos em escolas públicas com baixos índices socioeconômicos e com histórico de inundações. O Jardim São Luís, com muitos córregos e montanhas, é bastante vulnerável aos alagamentos, mas também a desmoronamentos. A ideia era criar dados e promover a circulação dos que já existem, aqueles que os órgãos governamentais têm, mas não chegam às comunidades”, informa Fernanda Lima e Silva, que realiza estágio de pós-doutorado na EAESP-FGV com bolsa da FAPESP.

Junto com Degrossi, a pesquisadora coordenou a construção de um guia de aprendizagem para o desenvolvimento de uma disciplina eletiva, a ser oferecida por escolas públicas, preferencialmente com estudantes de ensino médio, sobre prevenção de desastres, ciência cidadã e o impacto das mudanças climáticas no dia a dia das pessoas. A rede de colaboradores envolveu professores das escolas participantes do projeto e do Cemaden Educação, que vai disponibilizar o guia em seu site.

Além da prevenção de desastres, o projeto trabalha com memórias das enchentes. Inicialmente, os estudantes do Jardim São Luís entrevistaram parentes mais velhos e levaram para a sala de aula histórias que acabaram fornecendo dados sobre o passado das enchentes na região.

Também foram realizadas rodas de conversa com os moradores mais antigos e até mesmo a produção de uma série de minidocumentários chamada Memórias à Prova D´Água, disponível on-line https://youtu.be/0J68ipWcZZg.

O trabalho contou com a parceria de pesquisadoras da Universidade de Warwick, que desenvolvem pesquisa sobre memórias de desastres com o objetivo de aumentar a resiliência comunitária.

A experiência rendeu ainda um capítulo de livro, que será publicado em uma edição especial sobre memórias e sustentabilidade do Bulletin of Hispanic Studies, a ser publicado em 2023.

“Fizemos também um mapeamento de percepção de risco em que os próprios moradores colocavam as áreas suscetíveis no mapa. É um conhecimento muito mais detalhado do que o feito pelos órgãos competentes. Consegue-se chegar ao nível da esquina do bairro e com isso foi detectado um problema forte com enxurradas, por exemplo”, conta Lima e Silva.

Os pesquisadores realizaram ainda oficinas da ferramenta de mapeamento colaborativo no OpenStreetMap, que tem licença de uso gratuita e permite que os usuários acrescentem informações aos mapas. O objetivo era mapear o bairro, chamando atenção para as enchentes e os riscos de deslizamentos de terra.

Neste ano, o grupo vai lançar um manual para que o programa possa ser implementado em mais localidades do país. “É muito importante que as pessoas se engajem com os dados, desde a sua geração até o uso. Esperamos poder contribuir para espalhar essa prática e aumentar a resiliência desses locais, uma vez que eventos extremos estão se tornando cada vez mais comuns”, encerra Cunha.

Agência FAPESP