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Em 2013, uma operação da Polícia Federal batizada "Agro-Fantasma" decretou a prisão de 11 pessoas, a maioria agricultores familiares, em Irati e outros 14 municípios do interior do Paraná. Os pequenos produtores rurais seriam mais tarde acusados de desviar verbas do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo federal. Eles ficaram presos preventivamente – antes mesmo de haver processo criminal contra eles – por períodos de até 90 dias. A operação foi ordenada por Sergio Moro e, sete anos depois, encerrada após a absolvição, pela juíza substituta dele, Gabriela Hardt, de todos os acusados. Por falta de provas. Mas os efeitos da injustiça para os lavradores, suas associações e suas famílias não terminaram em 2020.
Além dos agricultores familiares, funcionários da Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab, foram presos de forma preventiva e em seguida acusados de estelionato, associação criminosa, falsificação de documento público, falsidade ideológica, peculato e prevaricação, entre outros crimes. Com as prisões e a exposição midiática, o PAA de Irati foi desmontado. O programa comprava alimentos de pequenos produtores rurais pelo governo federal com duas finalidades básicas: promover o acesso à alimentação saudável em creches, escolas e abrigos para idosos e incentivar a agricultura familiar.
Mas os danos causados pela Operação Agro-Fantasma vão além do desmonte dessa política pública. Ela impactou a reputação e a saúde mental dos envolvidos e de seus familiares, gerando danos psicológicos, morais e materiais irreparáveis. A semelhança com outras prisões arbitrárias da Polícia Federal não é coincidência: esse já era o método de Moro, então um juiz federal como qualquer outro.
Na semana passada, o Intercept publicou um vídeo contando essa história. Fomos até Irati e ouvimos alguns dos agricultores familiares que ficaram presos por várias semanas e até meses. Emocionados, eles nos contaram que, depois das prisões, muitos produtores e seus familiares tiveram problemas de saúde e depressão — alguns até deixaram o campo para tentar lidar com os traumas.
As prisões da Agro-Fantasma foram amplamente divulgadas pela mídia grande na época, mas o veredicto de absolvição dos acusados se restringiu a veículos independentes e ligados à agroecologia. Ou seja: o reparo das manchas na reputação dos acusados não foi proporcional aos danos. Ao Intercept, um deles chegou a dizer "(...) Quando acontece um fato desses, as pessoas que conviveram com você e te conhecem a vida toda também [passam a] te desconfiar, né, desconfiar de você. Então isso é muito pesado, é muito forte".
O Intercept foi o primeiro veículo a revelar, na série Vaza Jato, a relação próxima e ilícita entre o juiz Moro, a PF e procuradores do Ministério Público Federal durante a Lava Jato. Este ano, mesmo bajulado pela imprensa como uma opção da "terceira via", Moro desistiu de concorrer à presidência, mas já admitiu em entrevistas a possibilidade de disputar cargos como o de governador do Paraná, de senador ou de deputado federal.
O caso Agro-Fantasma e as absolvições dos agricultores não são novidades – são de conhecimento público há anos. O que a nossa equipe foi buscar em Irati é um aspecto pouco abordado dessa história: o pesado custo humano da arbitrariedade de Moro.
A pouco mais de um mês da data-limite para a candidatura, o ex-juiz sumiu das manchetes, mas estamos aqui para te lembrar dos desmandos e dos abusos de poder do sujeito que hoje ambiciona ter um mandato político.
Recomendo que você assista ao vídeo "Os fantasmas que assombram Sergio Moro". Está em nosso site e no nosso canal do YouTube.
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