sexta-feira, 6 de março de 2020

DEVIDO ÀS FORTES CHUVAS A PREFEITURA DE ITAJUÍPE ATRAVÉS DA SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO DISPONIBILIZA NÚMEROS TELEFÔNICOS PARA SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA!



No fim de semana, muitas áreas de instabilidades vão atuar sobre grande parte do Nordeste do Brasil e grandes volumes de chuva poderão ser observados. 

No sábado, o sistema meteorológico chamado de "cavado" estará atuando no sul da Bahia e vai colaborar para espalhar muitas áreas de instabilidade sobre a região. O tempo fica bem fechado em grande parte da Bahia e a região de Vitória da Conquista pode voltar a registrar grandes volumes de chuva. O alerta é para o risco de temporais em quase todo o estado. Somente o norte da Bahia, é que o sol aparece mais forte, mas mesmo assim há condições para pancadas de chuva de moderada a forte intensidade com raios e rajadas de vento. 
Foto: Ryan Carlos - Vitória da Conquista - BA

No Maranhão e o Piauí, as condições de chuva também aumentam. O tempo fica mais instável com previsão de chuva a qualquer hora e risco de temporais. De Aracaju a João Pessoa, o sol brilha forte e não chove. Em Natal, o sol aparece faz calor e a chuva acontece de forma passageira.

No Ceará, áreas de agreste e sertão da Paraíba e de Pernambuco o sol aparece e por causa do calor e da umidade alta há condições para pancadas de chuva de moderada a forte intensidade com raios e rajadas de vento.        

No domingo, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) espalha muitas áreas de instabilidade sobre a costa norte do Nordeste entre Maranhão, Piauí e Ceará e provoca várias pancadas de chuva a qualquer hora do dia com risco de chuvas fortes. Por outro lado, a costa leste do Nordeste, terá um domingo de muito sol e tempo firme.

O centro-sul da Bahia, continua com tempo bastante instável com previsão de chuva no decorrer dia com risco de chuvas fortes, principalmente no sul da Bahia. Nas demais áreas da Região, predomínio de sol aumento de nuvens e pancadas de chuva com raios e rajadas de vento. 



quarta-feira, 4 de março de 2020

QUEM FAZ NOSSAS ROUPAS? O URGENTE DEBATE SOBRE CONSUMISMO E ESCRAVIDÃO

A Semana Fashion Revolution 2020 debaterá os temas consumo, composição das roupas, condições de trabalho e incentivo às ações coletivas.

O movimento global Fashion Revolution luta por uma indústria da moda mais limpa e justa e propõe temas para serem debatidos ao longo do ano e durante a Semana Fashion Revolution – principal campanha que em 2020 acontece de 20 a 26 de abril. Este ano os temas da campanha são: Composição, Condições de Trabalho, Ação Coletiva e Consumo. “Os temas representam uma visão sistêmica do problema e apontam possibilidades para que as soluções sejam trabalhadas”, diz Fernanda Simon, diretora executiva do movimento no Brasil.

A mensagem do movimento se baseia na questão do consumo global de moda que continua a ganhar velocidade em níveis insustentáveis e se baseia em uma cultura de descartabilidade. Em todo o mundo, são produzidas inúmeras roupas, a partir de materiais não sustentáveis, muitas das quais acabam incineradas ou em aterros. O Fashion Revolution prega que é necessário repensar todo o sistema, passando de um modelo construído sobre o consumo excessivo e a descartabilidade para um modelo circular, em que os materiais e produtos podem ser utilizados por muito mais tempo.
A maior parte das roupas são feitas de materiais e processos que requerem a extração de recursos naturais não renováveis e produzem impactos ambientais negativos consideráveis. O poliéster, por exemplo, representa cerca de 60% da produção global de fibras, e utiliza cerca de 342 milhões de barris de petróleo por ano (dados da Ellen MacArthur Foundation, 2017). Não é sustentável que a indústria do poliéster continue utilizando recursos virgens em sua produção. Desde a criação dessa fibra, em 1941, a utilização do poliéster vem crescendo exponencialmente na indústria da moda, e ao considerar que essa fibra pode levar até 400 anos para se decompor, todo o poliéster produzido nos últimos 80 anos ainda existe em algum lugar do planeta. Para estimular mais transparência e informações sobre a composição das roupas, o Fashion Revolution lança a hashtag #DoQueSãoFeitasMinhasRoupas, para assim aprofundar o questionamento sobre a maneira como as roupas são produzidas.
Sobre a questão das condições de trabalho, há mais pessoas escravizadas hoje do que nunca antes na história. Milhões de pessoas são forçadas a trabalhar, com baixos ou nenhum pagamento, e sob ameaças e violência. Do trabalho infantil nas plantações de algodão ao trabalho forçado nas fábricas de vestuário, a indústria global da moda é uma das que mais contribuem para a escravidão moderna, mas este continua a ser um crime oculto. O Fashion Revolution incentiva maior transparência na cadeia de valor, do campo à fábrica e para os centros de distribuição, a fim de eliminar as diversas formas de exploração.
Assim como os temas complexos de consumo, composição e condições de trabalho, o movimento também se debruça no poder das ações coletivas, entendendo que ações individuais são importantes, mas não são suficientes para trazer a mudança sistêmica necessária a fim de acabar com a exploração das pessoas e do planeta. O que não se pode alcançar sozinho, pode ser defendido coletivamente, tanto para produtores da cadeia de valor quanto para consumidores e ativistas. As pessoas que fazem as roupas estão mais aptas a conseguir melhores salários e condições quando têm uma voz coletiva no local de trabalho. É por isso que os sindicatos são uma força crucial para a mudança.
Com a Semana Fashion Revolution 2020, o movimento alcança uma nova proporção ao promover debates aprofundados e envolver outros atores da sociedade para marcar a história da moda rumo a um setor mais transparente, ético e limpo.

Carta Capital

RACISMO NA SAÚDE: NAS MATERNIDADES DO BRASIL, A DOR TAMBÉM TEM COR


Estereótipos de que negras são mais fortes e resistentes levam mulheres a sofrer com falta de analgesia no momento do parto.
(Foto: José Vicente da Silva / Agência Pública)
“Já vamos voltar com seu remedinho” foi a promessa que Michele Monteiro ouviu ao pedir anestesia a uma médica de plantão no final da tarde. Já passava das 22 horas do dia 24 de janeiro quando enfermeiras finalmente chegaram para ministrar um medicamento supostamente para amenizar as dores intensas que ela sentia. Grávida do seu quinto filho aos 42 anos, Michele estava em trabalho de parto há pelo menos 12 horas, em jejum, no Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch, na estrada do M’Boi Mirim, zona sul da cidade de São Paulo.
“A única coisa que eu consegui enxergar era que a dosagem era de 100 miligramas”, lembra. No prontuário de Michele, está registrada a prescrição via vaginal de duas doses de misoprostol, protocolo do medicamento quando usado para a indução do trabalho de parto. Mas ela relata que, em vez da anestesia que pediu à equipe médica, também foi ministrada a ocitocina sintética, substância comumente usada para aumentar as contrações. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o hormônio seja utilizado, na realidade, no pós-parto para reduzir o sangramento excessivo em mulheres com risco de hemorragia — o órgão considera que a administração sem controle e a qualquer momento antes do parto é uma conduta prejudicial e ineficaz. “Depois que aquilo entrou na minha veia, eu me senti esquartejada. Eu nunca senti uma coisa tão horrível na minha vida. Era uma dor como se eu estivesse levando várias pancadas no abdômen. Meu filho se encolhia de uma forma… Era uma contração horrível. E eu só pensava que iria morrer, ou ele iria morrer. Um dos dois”, lembra.
Michele e Leonardo Brito, seu companheiro, receberam a reportagem da Agência Pública no início de uma tarde de fevereiro, no meio da rotina de pais de um recém-nascido. Pesando 4,5 quilos e 54 centímetros ao nascer, o calmo Leozinho, chamado no diminutivo para diferenciar do nome do pai, não aparenta ter tão poucos dias de vida. “Nem acredito que tive ele”, diz a mãe ao amamentar o bebê, enquanto se recupera da cirurgia e das violências vividas no processo. “Eu ainda tenho algum abalo e tem coisas que também não quero ficar lembrando porque machuca muito”, desabafa. “Eu me sentia desamparada.”
MICHELE MONTEIRO, DE 42 ANOS: A GESTANTE RELATA QUE SOFREU COM DORES POR MAIS DE 14 HORAS ATÉ CONSEGUIR AUTORIZAÇÃO PARA CESÁREA (FOTO: JOSÉ CÍCERO DA SILVA/AGÊNCIA PÚBLICA)

Diagnosticada com sopro e pressão alta, o que caracterizava sua gravidez como de alto risco, Michele tentou internação em ao menos quatro hospitais da região. Entre o Hospital Beneficência, onde já havia tido seus outros quatro filhos, e o Hospital do M’Boi Mirim, decidiu pelo último por ter a autorização da companhia do marido durante o parto — obrigatoriedade já estabelecida pela Lei do Acompanhante, de 2005. Assim que pisou no hospital às 10h05 da manhã, a gestante informou que não queria o parto normal por conta da dificuldade em outras gravidezes.
A autorização para a cesárea veio às 0h20. A todo momento, enquanto implorava pela cesárea e pela anestesia, Michele insistia que ela já havia ultrapassado o limite do seu corpo. Como resposta, ouvia frequentemente: “Mas como? Você teve quatro filhos, dois normais, dois fórceps. Por que você não tenta mais um? Você é forte, vai conseguir”.

A cor da dor

“Mulheres pretas têm quadris mais largos e, por isso, são parideiras por excelência”, “negras são fortes e mais resistentes à dor”. Percepções falsas como essas, sem base científica, foram ouvidas em salas de maternidades brasileiras e chamaram atenção da pesquisadora Maria do Carmo Leal, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Doutora em saúde pública, ela decidiu pesquisar se esse senso comum resultava em um pior atendimento às mulheres negras, como Michele, durante a gestação e o parto. Em 2017, Maria do Carmo e uma equipe de pesquisadores da Fiocruz — Silvana Granado Nogueira da Gama, Ana Paula Esteves Pereira, Vanessa Eufrauzino Pacheco, Cleber Nascimento do Carmo e Ricardo Ventura Santos — analisaram o recorte de raça e cor dos dados de uma ampla pesquisa nacional sobre partos e nascimentos, a “Nascer no Brasil”, realizada com prontuários médicos de 23.894 mulheres coletados entre 2011 e 2012.
Fruto dessa análise, o artigo “A cor da dor: iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil” examinou, também, a aplicação da anestesia local para a realização da episiotomia — corte feito na região do períneo para ampliar a passagem do bebê em partos vaginais. Os resultados mostraram que, apesar de sofrerem menos episiotomias em comparação às brancas, mulheres negras tinham chances menores de receber anestesia durante o procedimento. “O que a gente encontrou foi que, durante a episiotomia, que por sinal não é mais uma prática que se recomende que seja feita, a chance de a mulher negra não receber anestesia é 50% maior. Isso [o corte] é algo que realmente dói bastante”, pontua a pesquisadora.
Desse grupo de mulheres que receberam o corte no períneo, em 10,7% das mulheres pretas não foi aplicada a anestesia local para a realização do procedimento, enquanto no grupo das mulheres brancas a taxa de não recebimento de anestesia foi de 8%.
A pesquisadora afirma, no entanto, que o número de casos de episiotomias tem caído no Brasil. A diminuição, para Maria do Carmo, é algo a comemorar porque mostra o resultado de políticas públicas como a Rede Cegonha, estratégia lançada pelo governo federal em 2011 que estruturou nacionalmente ações para qualificar o atendimento de mulheres desde o planejamento reprodutivo ao pós-parto. Mas o panorama de episiotomias no país carece de dados. O Ministério da Saúde informou à Pública que não há registros específicos sobre o procedimento por ele ser considerado “secundário ao parto”.
Com relação à anestesia peridural, aplicada para o controle da dor em partos vaginais, a pesquisadora explica que ainda é muito baixa no sistema público no Brasil: “Não chega a 10% das mulheres”.
O estudo da Fiocruz escancarou também outras disparidades raciais no atendimento de mulheres grávidas. Segundo a pesquisa, mulheres negras possuem maior risco de ter um pré-natal inadequado, realizando menos consultas do que o indicado pelo Ministério da Saúde; têm maior peregrinação entre maternidades, buscando mais de um hospital no momento de internação para o parto; e frequentemente estão sozinhas, com ausência de acompanhante durante o parto.
Para a pesquisadora, essas disparidades durante o pré-natal e o parto expressam o racismo estrutural. “Isso é uma questão de racismo, achar que [mulheres negras] são um ser humano diferente, que não sentem dor”, reflete Maria do Carmo. “Não é um problema só do setor de saúde. O racismo é uma questão muito forte na sociedade brasileira, há um maltrato generalizado a essas populações, principalmente de cor negra e indígenas. Mas os profissionais da saúde poderiam fazer coisas para melhorar a abordagem [durante o atendimento]”, conclui.

Racismo na saúde

Em dezembro de 2017, o programa Roda Viva, da TV Cultura, dedicou uma edição especial para discutir questões raciais no Brasil. O episódio trouxe quatro especialistas à bancada do programa de entrevistas, entre eles a atriz e escritora Elisa Lucinda. Durante o debate, ela argumentou que negras e negros pobres recebiam menos anestesia em hospitais públicos: “Quando eu soube disso, parecia que era ficção. Isso é muito grave”, disse Lucinda. “Chegamos a um nível altíssimo de metástase do racismo porque houve quem trouxesse a obra da escravidão até aqui, há quem a reproduza”, completou.
Quatro dias após o programa ir ao ar, a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) publicou em seu site uma nota de esclarecimento para se posicionar sobre a declaração veiculada em rede nacional. A entidade, que representa médicos anestesiologistas de todo o Brasil, relacionou o problema da menor taxa de aplicação de anestesia em episiotomias feitas em mulheres pretas, encontrada no estudo dos especialistas da Fiocruz, ao quadro de vulnerabilidade e iniquidade econômica em relação à população negra no país. “Quando se analisa a diversidade racial no Brasil, levando em consideração a pobreza e outras formas de desigualdade social, a população negra vai receber proporcionalmente uma assistência médica mais limitada em todos os seus níveis, desde a dificuldade em conseguir uma consulta com especialista até a realização de uma cirurgia e anestesia. Isso não significa, de maneira alguma, que a medicina e os seus médicos são racistas e preconceituosos, e sim que vivemos em uma sociedade em que a desigualdade social compromete o atendimento médico adequado a toda a população”, afirmou a instituição no texto.

Maria do Carmo concorda que o problema tem, em sua raiz, uma sociedade desigual com homens e mulheres negras. De fato, dados de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a pobreza no Brasil também tem cor: entre os 10% mais pobres do país, 75,2% são negros. Mas a professora não exime a contribuição direta dos profissionais de saúde para o cenário de mau atendimento — já que mesmo mulheres negras com acesso ao sistema privado de saúde sofrem com discriminação e racismo.
Esse é o caso da jornalista B. S., que contou sua história em condição de anonimato. “É uma experiência muito difícil de falar, sabe? Eu não consigo falar ainda abertamente sobre isso”, disse por áudio em uma troca de mensagem no WhatsApp, uma semana antes de encontrar a reportagem da Pública para dar o seu relato.
Mãe de primeira viagem, na época com 27 anos, ela procurou se munir com toda a informação possível sobre humanização e o processo fisiológico do parto. Para passar pelo período de gestação com mais conforto, por exemplo, passou a frequentar aulas de ioga para gestantes duas vezes por semana — do grupo de dez mulheres, ela era a única negra da turma. Entre suas pesquisas, B. S. escolheu o Hospital São Lucas, em Santos, cidade do litoral norte de São Paulo, para dar à luz a sua primeira filha. A instituição faz parte do projeto Parto Adequado, realizado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em parceria com Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare Improvement (IHI).
Mas toda a informação prévia e o preparo de B. S. não evitaram as violências que a jornalista sofreu durante o parto. “Minha obstetra coordenava esse processo de transformação desse hospital particular, que era onde eu tinha nascido, e atendia meu plano. Quando eu falei com ela, eu disse que queria sem anestesia porque o que era importante era minha filha. Mas, na hora do parto, eu não dei conta e implorava por anestesia”, conta.
A resposta da equipe médica ao pedido foi negativa. As enfermeiras, relata ela, faziam piadas e soltavam comentários como “ser mãe é assim mesmo, ser mãe dói”. “Algumas cenas hoje doem como uma pancada no peito. Lembro que alguém, hoje não sei quem, me fechou no box [do banheiro] e disse: ‘Fica aí até você dilatar’. A sensação é que eu estava presa”, conta a jornalista. “Eu pedia anestesia e não me explicavam o porquê não me davam. Eu fui para o hospital às 23 horas e, às 2 horas da manhã, eu estava com dilatação total e gritava de dor.”
O parto de B. S. foi feito com episiotomia, com aplicação de anestesia local. Ela só teve a percepção de que sofreu uma violência após algumas semanas, ao encontrar as colegas do grupo de ioga pré-natal e que tiveram filhos com a mesma obstetra. “Elas me falaram que, quando elas estavam muito cansadas, a mesma equipe médica perguntou se elas queriam anestesia. Até então, eu pensava que era um processo horrível mesmo. Só que aí veio essa informação e eu senti uma coisa quebrar em mim. Ficou uma dor latente”, diz.
Na visão da jornalista, além de questões técnicas, há um despreparo das médicas com relação a temas como racismo e saúde mental. “Parece sutil, mas tem tudo a ver. Você não consegue ter um parto humanizado se você não tiver uma relação interpessoal adequada com as pessoas. Se o discurso continua violento e você fizer procedimentos que pareçam humanizados, não adianta nada.”
Como forma de reconhecer desigualdades raciais no âmbito da saúde, como altas taxas de mortalidade materna e infantil e prevalência de doenças crônicas entre a população negra, o governo federal criou, em 2006, a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN). A estratégia, resultado direto da pressão de ativistas do movimento negro, previa ações como a produção de dados racializados e inclusão do tema “racismo e saúde da população negra” na formação técnica dos trabalhadores do SUS, com o objetivo de orientar e capacitar profissionais da saúde. A portaria que instituiu o programa foi publicada em 2009. Mas, após uma década, o projeto andou pouco. Segundo levantamento do jornal O Globo, realizado em 2019, apenas 57 dos mais de 5 mil municípios tinham projetos para implementar a resolução.
Em nota à Pública, o Ministério da Saúde pontuou que o programa não possui verba específica, cabendo aos estados e municípios a implementação da política. “Atualmente, existem quatro projetos vigentes com o tema PNSIPN, celebrados com universidades para a oferta de capacitações para profissionais de saúde da Atenção Primária em Promoção da Equidade Étnico-racial no SUS”, informou a pasta. O valor total aprovado para esses projetos é de aproximadamente 2,5 milhões de reais.

Despreparo

A médica Mariana Prado, residente em ginecologia e obstetrícia no Hospital Municipal Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha, no Campo Limpo, bairro da zona sul da capital paulista, compartilha a visão de que falta preparo aos profissionais, a maioria brancos, com relação ao tema. A profissional diz testemunhar cotidianamente os impactos do preconceito racial no atendimento de mulheres da região.
“Aqui a gente recebe a população pobre da zona sul. [Na obstetrícia], a gente atende muita mulher preta, com certeza a maior incidência”, diz a médica. “Existe um diagnóstico que se chama ‘negligência materna’. Se uma mulher fez menos consultas de pré-natal do que o recomendado, que são seis, ela recebe esse diagnóstico. E a incidência desse diagnóstico em mães negras é muito maior”, relata. “Então, ela é julgada, não importa, por exemplo, se foi porque ela descobriu tardiamente a gravidez.”
A jovem médica também integra o coletivo NegreX, formado por estudantes de medicina e profissionais negros com o objetivo de aprofundar o debate sobre o racismo na área de saúde. Para ela, que se dedica a entender como as relações raciais se manifestam na medicina, a diferença de tratamento de mulheres negras é resultado de um processo histórico e estrutural. “No início da cesárea no Brasil, os testes eram feitos em mulheres pretas escravizadas. É irônico pensar que testamos uma técnica em corpos negros lá atrás e, agora, negamos anestesia a uma mulher dizendo ‘você é resistente e vai dar certo’ porque ela é preta. Isso vem de muito longe na história da obstetrícia”, comenta em referência ao fato de que o cirurgião José Maria Picanço (barão de Goiânia) teria sido o primeiro a fazer uma operação cesariana no Brasil, aplicando a técnica em uma mulher negra escravizada em 1817, no Recife (PE).

Direito a um parto sem dor

No segundo semestre de 2018, a defensora Nálida Coelho, coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública (Nudem), ajuizou uma ação para garantir o direito de uma gestante em receber anestesia. Semanas antes do parto, a mulher havia sido encaminhada a uma maternidade que só oferecia métodos não farmacológicos de alívio da dor, como analgésicos. Como já havia passado por outras gestações com partos extremamente dolorosos, ela protocolou em seu plano de parto a reivindicação de anestesia. Mas o pedido foi negado pela maternidade.
No SUS, o acesso à anestesia e medicamentos para aliviar a dor e sofrimento em qualquer procedimento é garantido pela Portaria nº 1.820, de 2009, emitida pelo Ministério da Saúde. Em alguns municípios, como São Paulo e Belo Horizonte, existem legislações específicas que regulamentam a analgesia em mulheres em trabalho de parto. Na capital paulista, por exemplo, a anestesia ao parto está prevista na Lei Municipal 15.894 desde 2013.
A Defensoria Pública levou à Justiça o caso de J., que ocorreu no município de Marília, interior de São Paulo. Quando ela já estava com quase 39 semanas de gestação, a maternidade atendeu aos ofícios da Defensoria Pública e transferiu a gestante para outra instituição, para que seu direito fosse assegurado.
Nálida recomenda às mulheres procurarem o Nudem e as ouvidorias dos hospitais antes do parto para evitar uma violação de direitos ou, se essa violação ocorrer, para uma ação de indenização.
Depois da experiência que tiveram no Hospital do M’Boi Mirim, Michele Moreira e Leonardo Brito chegaram a pensar, por um momento, na possibilidade de judicializar o caso. “Eu entraria em um processo se eu soubesse que poderia tirar essa médica de rede”, diz Michele. Seu marido procurou a ouvidoria do hospital no dia 6 de fevereiro para protocolar uma reclamação. “Eu fui na ouvidoria, mas de ouvidoria não tem nada, né? É uma ‘questionadoria’. Eles queriam questionar tudo, se ela realmente estava dentro da lei [para fazer cesárea], por estar com 39 semanas. Eles tentaram defender a médica, nem ouviram minha sugestão”, criticou o marido.
Pública entrou em contato com o Hospital do M’Boi Mirim, que informou que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) é a responsável por posicionamentos à imprensa. A SMS, por sua vez, afirmou que Michele “foi internada para início de tratamento conforme condição clínica, de acordo com as diretrizes vigentes baseadas na melhor evidência científica disponível. Após o parto, a mãe e o recém-nascido do sexo masculino seguiram internados sob cuidados multidisciplinares em leito de alojamento conjunto na Maternidade. No dia 27 de janeiro, a paciente e o bebê receberam alta hospitalar em boas condições clínicas”.
A SMS informou que a unidade hospitalar em que Michele foi internada faz parte da Rede Cegonha e do Programa Parto Adequado, “utilizando protocolos específicos para uso de medicamentos como a ocitocina”. “Qualquer remédio administrado no hospital é comunicado ao paciente e o mesmo pode recusar sua administração”, disse em nota a assessoria de imprensa do órgão. Quanto ao parto cesáreo, a meta do município, segundo a SMS, é atingir o preconizado pela OMS, uma taxa de 15%. “A OMS aponta que a cesárea é um procedimento cirúrgico que, quando realizado por razões médicas, pode salvar a vida de uma mulher e de seu bebê e, quando realizado sem indicação clínica, pode colocar em risco a vida e o bem-estar das mães e de seus filhos. A escolha da via de parto na rede municipal de São Paulo é baseada em critérios clínicos, maternos e fetais, com o objetivo de proteger a gestante e o bebê.”
Com relação ao combate ao racismo no sistema público de saúde, o órgão municipal afirmou que existe no âmbito da SMS a Área Técnica da Saúde da População Negra, “criada em 2003, com objetivo de promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das iniquidades étnico-raciais e o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS no âmbito municipal”.
Evangélica, Michele conta que ora todos os dias à noite. Em suas preces, pede a Deus pela vida das mulheres que passaram ou que ainda vão passar pelo mesmo que ela: “Muitas mulheres vão entrar e vão fazer parte de tudo que eu passei, mas algumas não vão sair. Minha cabeça fica me incomodando, batendo na tecla que está chegando alguém lá agora que pode estar na mesma situação. Ou que talvez esteja saindo alguém que já passou por isso, mas que não vai abrir a boca. E as sequelas que ficam? Quem vai limpar? Quem vai tratar?”, questiona.

Fonte:

segunda-feira, 2 de março de 2020

LULA EM PARIS: SOFRIMENTO DO POVO BRASILEIRO É RESULTADO DE ATAQUES À DEMOCRACIA NO PAÍS

Lula na França

“Senhora Anne Hidalgo,
Senhoras e senhores representantes do Conselho de Paris,
Minhas amigas e meus amigos,
Agradeço de coração o título que a cidade de Paris me concede, por meio de seus representantes. Agradeço especialmente à prefeita Anne Hidalgo, pela generosa indicação, e ao Conselho de Paris que a aprovou.
Este título teria de se estender, na realidade, às mulheres e homens que defendem a democracia e os direitos da pessoa humana, às brasileiras e brasileiros que lutam por um mundo melhor.
Receber este privilégio me emociona, primeiramente, porque a cidade de Paris é universalmente reconhecida como símbolo perpétuo dos Direitos do Homem e da mais elevada tradição de solidariedade aos perseguidos.
E me emociona de maneira especial porque foi concedido num dos momentos mais difíceis da nossa luta, quando me encontrava preso de forma ilegal, uma prisão política num processo que ainda não se encerrou.
Era o momento em que mais precisávamos da solidariedade internacional, para denunciar as injustiças que vinham sendo cometidas contra o povo brasileiro e as agressões ao estado de direito em meu país.
E o povo de Paris, como em tantas outras ocasiões, estendeu a nós sua proteção fraternal. Recordo-me de ter escrito, numa carta de agradecimento em outubro passado, que Paris estava rompendo o muro de silêncio que ocultava os crimes contra a democracia no Brasil.
Gostaria de estar nesta cidade libertária para simplesmente celebrar a fraternidade entre os povos e recordar os laços de solidariedade que nos unem ao longo da História. Afinal, sempre houve lugar para brasileiros e latino-americanos entre os lutadores da liberdade que Paris acolheu.
Mas é meu dever falar aqui em nome dos que sofrem, em meu país, com o desemprego e a pobreza, com a revogação de direitos históricos dos trabalhadores e a destruição das bases de um projeto de desenvolvimento sustentável, capaz de oferecer inclusão e oportunidades para todos.
É meu dever falar em nome de milhões de famílias de agricultores, das populações que vivem à margem dos rios e nas florestas, dos indígenas e dos povos da Amazônia, para denunciar a deliberada destruição das fontes de vida em nosso país, por causa das políticas irresponsáveis e criminosas de um governo que ameaça o planeta.
O que está ocorrendo no Brasil é o resultado de um processo de enfraquecimento do processo democrático, estimulado pela ganância de uns poucos e por um desprezo mesquinho pelos direitos do povo; desprezo que tem raízes profundas, fincadas em 350 anos de escravagismo.
No período historicamente breve em que o Partido dos Trabalhadores governou o Brasil, muitos desses direitos foram colocados em prática pela primeira vez. Dentre eles, o direito fundamental de alimentar a família todos os dias, o que se tornou possível graças à combinação do Bolsa Família com outras políticas públicas, com a valorização do salário e a geração de empregos.
Temos especial orgulho de ter aberto as portas da Universidade para 4 milhões de jovens, na maioria negros, moradores da periferia e dos rincões mais isolados de nosso imenso país; quase sempre os primeiros a conquistar um diploma universitário em gerações de suas famílias.
Milhares desses jovens tiveram a oportunidade de estudar nas melhores universidades do mundo, graças a um programa da presidenta Dilma Rousseff. Certamente alguns deles se encontram em Paris.
Bastaram 13 anos de governos que olharam o povo em primeiro lugar, para começarmos a reverter a doença secular da desigualdade em nosso país.
Foram passos ainda pequenos para a dimensão do desafio, mas estávamos no caminho certo, porque 36 milhões saíram da pobreza extrema e o Brasil saiu do tristemente conhecido Mapa da Fome da ONU.
Este processo, ao longo do qual cometemos erros, certamente, porém muito mais acertos, foi interrompido em 2016 por um golpe parlamentar, sustentado por poderosos interesses econômicos e geopolíticos, com apoio de seus porta-vozes na mídia e em postos-chave das instituições.
Como sabem, a presidenta Dilma, uma mulher honrada, foi afastada pelo Congresso sem ter cometido crime nenhum, num processo em que as formalidades encobriram acusações vazias.
A este primeiro golpe contra a Constituição e a democracia, seguiu-se a farsa judicial em que fui condenado, também sem ter cometido crime algum, por um juiz que hoje é ministro do presidente que ele ajudou a eleger com minha prisão.
Quando a Justiça Eleitoral cassou minha candidatura, contrariando uma determinação da ONU baseada em tratados internacionais assinados pelo Brasil, lançamos a candidatura do companheiro Fernando Haddad.
Ele foi vítima de uma das mais perversas campanhas de mentiras por meio das redes sociais, disparadas e financiadas ilegalmente pelo adversário, num crime eleitoral que denunciamos e que até hoje, passados quase18 meses, não foi julgado pelo tribunal competente.
O candidato que venceu aquelas eleições, dono de um histórico de ataques à democracia e aos direitos humanos, foi poupado pelas grandes redes de televisão de enfrentar em debates o companheiro Haddad. Essa mídia, portanto, é corresponsável pela ascensão de um presidente fascista ao governo do Brasil.
A triste situação em que se encontra meu país e o sofrimento do nosso povo são consequência de repetidos ataques, maiores e menores, ao estado de direito, à Constituição e à democracia.Se hoje estou aqui, num estado provisório de liberdade e ainda sem direitos políticos, é porque em novembro passado, num julgamento por maioria, o Supremo Tribunal Federal do Brasil reconheceu, para todos os cidadãos, o direito constitucional à presunção de inocência que havia sido negado ao cidadão Lula, às vésperas de minha prisão.
Aqui na Europa, quero me encontrar e agradecer a todos que nos apoiaram nesses momentos tão duros. Mas quero especialmente dialogar com os que trabalham para enfrentar a desigualdade, essa doença criada pelo homem e que está corroendo o próprio conceito de humanidade.
Quero compartilhar as políticas exitosas que tivemos no Brasil, conhecer a experiência, os projetos de outros países e dos que estudam e lutam contra a desigualdade no mundo.
No recente encontro que tive com Sua Santidade papa Francisco, fiquei contagiado pelo entusiasmo com que ele convoca os jovens economistas a debater e buscar saídas para essa questão, que é crucial para o presente e o futuro.
Quero propor aos dirigentes políticos, aos governantes e à sociedade civil dos mais diversos países que promovam, não apenas o debate, mas ações concretas em conjunto, para reverter a desigualdade.
Sei que é possível. Temos de ter fé na juventude, como tem o papa Francisco. Temos de ter fé na humanidade e na nossa capacidade de construir, pelo diálogo e pela política, as bases de um mundo mais justo.
Sei o quanto tem sido importante a solidariedade internacional, na Europa, nos Estados Unidos e ao redor do mundo, para que se restaure plenamente o processo democrático, o estado de direito e a justiça para todos em meu país. E mais uma vez agradeço, em nome dos que sofrem com a atual situação.
O povo de Paris me acolhe hoje entre seus cidadãos, como um reconhecimento pelo que fizemos, junto com tantos companheiros e com intensa participação social, para reduzir a desigualdade e combater a fome no Brasil.
Quero me despedir afirmando que nossa luta prosseguirá, com a participação de todos vocês, porque é a luta pela democracia, pela igualdade, pelos direitos dos desprotegidos, pela humanidade e pela paz.
Muito obrigado.”
Lula

Lula à Paris: La souffrance du peuple brésilien est le résultat des attaques à la démocratie au Brésil

Madame Anne Hidalgo
Mesdames et Messieurs représentants du Conseil de Paris
Mes amies et mes amis,
Je vous remercie de tout mon cœur du titre que la Ville de Paris vient de me décerner aujourd’hui par le biais de ses représentants. Je remercie tout particulièrement Madame la Maire Anne Hidalgo de sa généreuse nomination, et le Conseil de Paris qui l’a adoptée.
En vérité, ce titre devrait s’étendre aux femmes et aux hommes qui défendent la démocratie et les droits de la personne humaine, et aux Brésiliennes et Brésiliens qui luttent pour un monde meilleur.
Remporter ce privilège est quelque chose qui me touche singulièrement, du fait que la ville de Paris est universellement reconnue comme le symbole perpétuel des droits de la personne humaine et de la plus haute tradition de solidarité à l’endroit de ceux qui sont persécutés.
Et celui-ci m’émeut de façon particulière parce qu’il m’a été accordé au cours de l’un des moments les plus difficiles de mon combat, alors que j’avais été illégalement incarcéré – une prison politique imbriquée dans un processus qui n’a pas encore pris fin.
Un moment où nous avions le plus besoin de solidarité internationale pour dénoncer les injustices commises contre le peuple brésilien et les agressions à l’État de droit dans mon pays.
Et le peuple de Paris, comme en tant d’autres occasions, nous a étendu sa protection fraternelle. Je me souviens d’avoir écrit, dans une lettre de remerciement en octobre dernier, que Paris brisait le mur du silence qui dissimulait les crimes commis contre la démocratie au Brésil.
J’aurais aimé me trouver ici dans cette ville libertaire tout simplement pour célébrer la fraternité entre les peuples et pour me souvenir des liens de solidarité qui nous ont unis tout au long de l’histoire. Après tout, il y a toujours eu de la place pour les Brésiliens et les Latino-Américains parmi les défenseurs de la liberté que la ville de Paris a accueilli.
Mais il est de mon devoir de parler ici au nom de ceux qui sont victimes dans mon pays le fléau du chômage et de la pauvreté, de l’abrogation des droits historiques des travailleurs et de la destruction des fondements d’un projet de développement durable, susceptible d’offrir de l’inclusion et des opportunités à tous.
Il est également de mon devoir de parler au nom des millions de familles qui vivent de l’agriculture, et au nom des populations qui habitent les berges des rivières et les forêts, des peuples autochtones et des peuples de l’Amazonie, et de dénoncer la destruction délibérée des sources de vie dans notre pays du fait des politiques irresponsables et criminelles d’un gouvernement qui menace la planète.
Ce qui se passe dans notre pays est le résultat d’un processus d’affaiblissement de la démarche démocratique, stimulé par la cupidité de quelques-uns et par un mépris mesquin envers les droits du peuple ; un mépris dont les racines profondes peuvent être décelées dans les 350 ans d’esclavage au Brésil.
Au cours de la brève période historique durant laquelle le Parti des travailleurs a gouverné le Brésil, bon nombre de ces droits ont été mis en application pour la première fois. Parmi ceux-ci, le droit fondamental des Brésiliens de pouvoir nourrir leur famille tous les jours, ce qui est devenu possible grâce à l’association du Programme Bolsa Familia (Bourse famille) à d’autres politiques publiques : la valorisation des salaires et la création d’emplois.
Nous sommes particulièrement fiers d’avoir pu ouvrir les portes des universités à quatre millions de jeunes, pour la plupart des noirs, des habitants de la périphérie et des coins les plus isolés de notre immense pays ; presque toujours les premiers à conquérir un diplôme universitaire depuis des générations.
Des milliers de ces jeunes ont eu l’occasion d’étudier dans les meilleures universités du monde, grâce à un programme créé par la présidente Dilma Rousseff. Plusieurs de ces universités, bien entendu, se trouvent à Paris.
Il a fallu 13 ans de gouvernements préoccupés prioritairement au sujet du bien-être du peuple, pour être à même de commencer à renverser le fléau séculaire de l’inégalité dans notre pays.
Ce processus n’a signifié qu’une petite étape – si nous tenons compte de l’ampleur du défi. Mais il est sûr que nous sommes sur la bonne voie : 36 millions de brésiliens sont sortis de l’extrême pauvreté et le Brésil a quitté la triste carte de la faim de l’ONU.
Ce processus, durant lequel nous avons commis certainement des erreurs, mais qui s’est soldé par un nombre beaucoup plus important de réussites, a été interrompu en 2016 par un coup d’État parlementaire, soutenu par de puissants intérêts économiques et géopolitiques, et appuyé par des porte-paroles introduits dans les médias et dans les postes clés des institutions.
Comme vous le savez, la présidente Dilma, une femme honorable, a été destituée par le Congrès sans avoir commis le moindre crime, moyennant un processus où des accusations vides se dissimulaient derrière des formalités.
Ce premier coup d’État contre la Constitution et la démocratie a été suivi par une farce judiciaire lors de laquelle j’ai été condamné, également sans avoir commis le moindre crime, par un juge qui est maintenant ministre du président qu’il a aidé à élire à la faveur de mon arrestation.
Lorsque la justice électorale a révoqué ma candidature, contrariant une décision de l’ONU fondée sur des traités internationaux signés par le Brésil, nous avons lancé la candidature de notre camarade Fernando Haddad.
Celui-ci a été victime, par le biais des réseaux sociaux, d’une des campagnes les plus perverses de mensonges, lancée et financée illégalement par son adversaire : un crime électoral que nous avons dénoncé et qui, jusqu’à cette date, près de 18 mois déjà, n’a pas encore été examiné par la juridiction compétente.
Le candidat qui a remporté ces élections, qui est d’ailleurs depuis toujours connu par ses attaques contre la démocratie et contre les droits de l’homme, a été épargné par les grandes chaines de la télévision de débattre avec notre camarade Haddad. Ces médias sont donc co-responsables de l’ascension au gouvernement du Brésil d’un président fasciste.
La triste situation dans laquelle se trouve mon pays et la souffrance de notre peuple est la conséquence d’attaques renouvelées, graves ou plus ou moins graves, contre l’État de droit, la Constitution et la démocratie.
Si je me trouve aujourd’hui ici, en état provisoire de liberté quoiqu’encore privé de mes droits politiques, c’est parce qu’en novembre dernier, à la majorité des voix de ses membres, la Cour suprême du Brésil a reconnu pour tous les citoyens, le droit constitutionnel à la présomption d’innocence qui avait été refusée au citoyen Lula à la veille de mon arrestation.
Ici, en Europe, je souhaite rencontrer et remercier tous ceux qui nous ont soutenus en ces temps difficiles et tourmentés. Mais je souhaite surtout dialoguer avec ceux qui travaillent pour faire face à l’inégalité, ce chancre créé par l’homme, qui érode le concept même de l’humanité.
Je veux partager avec vous les politiques réussies que nous avons mis en œuvre au Brésil, connaître l’expérience et les projets d’autres pays et de ceux qui prennent au sérieux les inégalités dans le monde et luttent contre celles-ci.
Lors de ma récente rencontre avec Sa Sainteté le pape François, j’ai été frappé par l’enthousiasme avec lequel il convoque les jeunes économistes à débattre et à à trouver des moyens de résoudre cette question, cruciale pour le présent et l’avenir.
Je voudrais proposer aux dirigeants politiques, aux gouvernants et à la société civile des plus divers pays, de promouvoir, de façon conjointe, non seulement un débat, mais également de présenter des actions concrètes en vue d’inverser les inégalités.
Je sais que c’est possible. Nous devons croire dans la jeunesse comme le fait le pape François. Nous devons croire dans l’humanité et dans notre capacité à construire, au moyen du dialogue et de la politique, les fondements d’un monde plus juste.
Je sais à quel point la solidarité internationale a été importante en Europe, aux États-Unis et dans le monde entier, afin que le processus démocratique, l’État de droit et la justice pour tous dans mon pays soit pleinement rétabli. Et encore une fois, je vous remercie au nom de ceux qui sont les victimes des conséquences de la situation actuelle.
Le peuple de Paris m’accueille aujourd’hui parmi ses citoyens, en reconnaissance de ce que nous avons fait –nous et tant d’autres camarades, au moyen d’une participation sociale intense – pour réduire les inégalités et lutter contre la faim au Brésil.
Je veux maintenant, avant de vous dire au revoir, vous assurer que notre lutte se poursuivra grâce à la participation de vous tous, parce qu’il s’agit en fait d’une lutte pour la restauration de la démocratie, de l’égalité, des droits de ceux qui ne disposent pas de protection, de l’humanité et de la paix.
Merci.”
Lula

AS BRASILEIRAS QUE LIDERARAM O SEQUENCIAMENTO DO NOVO CORONAVÍRUS

Ester Cerdeira Sabino (à esq.) e Jaqueline Goes de Jesus fazem parte da equipe que fez o sequenciamento do sequenciamento do genoma do novo coronavírus, que teve casos confirmados no Brasil em fevereiro (Foto: USP Imagens; Currículo Lattes)
Ester Cerdeira Sabino (à esq.) e Jaqueline Goes de Jesus fazem parte da equipe que fez o sequenciamento do sequenciamento do genoma do novo coronavírus, que teve casos confirmados no Brasil em fevereiro (Foto: USP Imagens; Currículo Lattes)

Duas cientistas brasileiras tiveram papel essencial no sequenciamento do novo coronavírus, que teve primeiro caso na América Latina confirmado em 26 de fevereiro. Publicado em uma rapidez surpreendente – apenas dois dias após a verificação do primeiro paciente com a doença no Brasil –, o estudo que elas conduziram ao lado de outros pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz (IAL), da Universidade de Oxford e do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP) ajudará epidemiologistas, virologistas e especialistas em saúde pública a desenvolverem vacinas e testes diagnósticos.

Uma das pesquisadoras envolvidas no estudo é Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP e coordenadora do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE), que é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp) e pelos britânicos Medical Research Council e Fundo Newton. A intenção do CADDE é reunir cientistas para realizar estudos em tempo real de epidemias de arboviroses, como é o caso da zika e da dengue. "A proposta é realmente ajudar os serviços de saúde e não apenas publicar as informações meses depois que o problema ocorreu”, explicou Sabino à Agência FAPESP.

Graduada em Biomedicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, mestre em Biotecnologia em Saúde e Medicina Investigativa (PgBSMI) pelo Instituto de Pesquisas Gonçalo Moniz - Fundação Oswaldo Cruz (IGM-FIOCRUZ) e Doutora em Patologia Humana e Experimental pela Universidade Federal da Bahia. Desenvolveu atividades de pesquisa no Laboratório de Biologia Molecular na Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto (FUNDHERP) e no Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Câncer da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Desenvolve pesquisas na área das arboviroses emergentes ZIKV, DENV, CHIKV, YFV, ORV e MAYV. É integrante do ZIBRA Consortium e participa do ZIBRA project - Zika in Brazil Real Time Analisys (http://www.zibraproject.org/), projeto itinerante de mapeamento genômico do vírus Zika no Brasil. Realizou estágio de doutoramento sanduíche na Universidade de Birmingham, Inglaterra, desenvolvendo e aprimorando protocolos de sequenciamento de genomas completos pela tecnologia de nanoporos dos vírus Zika, HIV, além de protocolos para sequenciamento direto do RNA. Atualmente desenvolve pesquisas como bolsista FAPESP, em nível de pós-doutorado, no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo - Universidade de São Paulo (IMT-USP), no âmbito do CADDE - Brazil-UK Centre for Arbovirus Discovery, Diagnosis, Genomics and Epidemiology (http://caddecentre.org). (Fonte: Currículo Lattes)

A pesquisa sobre o novo coronavírus de que Sabino e Goes de Jesus participaram determinou a sequência completa do genoma viral encontrado no Brasil, que foi chamado de SARS-CoV-2. Ela foi divulgada no fórum de discussão Virological.org. “Ao sequenciar o genoma do vírus, ficamos mais perto de saber a origem da epidemia", aponta Sabino.

Embora outros países tenham levado cerca de duas semanas para fazer o sequenciamento do coronavírus, a pesquisa brasileira foi concluída em dois dias; os cientistas já previam que, cedo ou tarde, a doença chegaria aqui.

Fonte:

CONCURSO DE DESENHO DA 17ª SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA, EDIÇÃO 2020!

O Próximo Tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – 2020 é:


“Inteligência Artificial: A Nova Fronteira da Ciência Brasileira”



Estão abertas até 16 de março de 2020, as inscrições para o IV Concurso de Desenhos para Escolha da Identidade Visual da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia – Edição 2020, uma parceria do Museu Itinerante Ponto UFMG juntamente com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do Governo Federal.
Podem participar do concurso estudantes do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e do Ensino Médio regularmente matriculados em escolas públicas e privadas de todo o Brasil.
O concurso tem por objetivo selecionar e premiar o desenho que será utilizado para a criação da identidade visual da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2020 (SNCT 2020). O tema desta edição é “Inteligência Artificial: A Nova Fronteira da Ciência Brasileira”.
O autor do trabalho vencedor será premiado com uma viagem a Brasília durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia para participar da Cerimônia de abertura do evento, com direito a um acompanhante. Além de receber certificado de participação e ter seu nome divulgado no site do MCTIC e em eventos relacionados às atividades da SNCT 2020.

domingo, 1 de março de 2020

A BALBÚRDIA NA UFBA DEU RESULTADOS!

Pesquisadores da Ufba reduzem em 16 horas diagnóstico do coronavírus.
Pesquisadores da Ufba reduzem em 16 horas diagnóstico do coronavírus
É um vírus que tem deixado todo mundo em alerta. Até 16 de fevereiro, foram contabilizadas 1.770 mortes e 70.548 casos confirmados. Mas em meio a tanta tensão e tanta propagabilidade, pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (Ufba) conseguiram trazer uma boa notícia: dá para identificar a presença do novo coronavírus em três horas.
O sucesso é fruto do trabalho do Laboratório de Virologia da universidade. A pesquisa, coordenada pelo virologista Gúbio Soares e realizada em conjunto com as pesquisadoras Silvia Sardi e Rejane Hughes, também membros do grupo, reduziu 16 vezes o tempo de diagnóstico da contaminação pelo Covid-19.
A rapidez é possibilitada pelo uso do equipamento Real Time, que custa R$ 150 mil e foi importado dos Estados Unidos. Os pesquisadores ainda usaram trabalhos científicos produzidos na China para orientar as análises.
O principal diferencial dos pesquisadores foi decidir que o equipamento verificaria apenas o material genético do coronavírus. Não foi considerado, por exemplo, a possível interferência de outros vírus.

Como ocorre o diagnóstico

Para chegar ao diagnóstico, os pesquisadores seguiram algumas etapas. Primeiro, a coleta das secreções respiratórias de um paciente com suspeita da infecção pelo coronavírus. As amostras foram resfriadas a 4°C.
Depois de extraído o material genético, foram adicionados nucleotídeos que identificam a presença ou não do coronavírus. As amostras são colocadas dentro dos equipamentos em microtubos de 200 microlitros, sendo apenas 15 por vez.
Três horas depois, o teste fica pronto. É possível acompanhar pela tela do equipamento todo o processo em tempo real. Quando o resultado é positivo para a infecção, é possível visualizar uma aparência ondulada nas amostras.

Grupo pioneiro

Essa não é a primeira vez que o Laboratório de Virologia da Ufba se destaca nacionalmente. O grupo foi o primeiro a descobrir o zika vírus, também com suporte do Real Time. Veio dos pesquisadores baianos o primeiro diagnóstico comprovado, em 28 de abril de 2015, quando o Ministério da Saúde ainda acreditava se tratar de infecção por parvovírus.
Fonte: