Economista explica escândalo das Americanas ao DCM: “Mentindo para o Brasil”.
Escândalo das Lojas Americanas também se conecta com a privatização da Eletrobras e até com fundos do Nubank. Por: Pedro Zambarda de Araujo
Assessor econômico na Câmara dos Deputados pelo PSOL, David Deccache é bacharel, mestre e doutorando em Economia pela UnB. É defensor da Teoria Monetária Moderna (MMT), que encara a moeda como “dívida pública”.
Em seus estudos, ele critica a austeridade fiscal de economistas neoliberais e se alinha a uma ala da esquerda que não deseja ver o governo Lula deixando de cumprir suas promessas mais desenvolvimentistas de campanha.
No dia 18 de janeiro, Deccache concedeu uma entrevista aos jornalistas Kiko Nogueira e Pedro Zambarda no DCMTV. De forma didática, ele explicou o escândalo bilionário contábil das Lojas Americanas e os sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira.
Alguns highlights:
A mídia está escondendo a cobertura do caso Americanas porque o Jorge Paulo Lemann é dono da Ambev, que patrocina os veículos. É o feijão com arroz. Isso dá uma pista das resistências que o governo Lula enfrenta ao abordar salário mínimo, coisa que essa gente não gosta.
O caso das Lojas Americanas eu considero fundamental para a gente ter uma relação pedagógica com a população. A partir desse caso, a gente consegue puxar fios. A partir deles, a gente consegue revelar muitos esquemas.
São tantos esquemas que a gente não consegue sequer imaginar. As palavras do BTG [Pactual], do André Esteves, que teve o Paulo Guedes, e eu adoro quando os capitalistas começam a brigar entre si, é uma briga linda, quero que eles se matem, revelem os podres de um e do outro.
O BTG vai acabar tomando um calote milionário das Americanas. Eles estão revoltados. Disseram o seguinte: “O Lemann é um semideus do capitalismo mundial. Semideuses no capitalismo são protegidos pela Justiça. Os menores como nós, que temos só alguns bilhões, sofremos as opressões da Justiça”.
Eles reclamaram da Justiça. Que só vai para os
menos bilionários, não para os mais bilionários. O André Esteves se ressente
por ter estado em Bangu. É sério. Eles falam isso quando vão recorrer de uma
decisão que protege as Americanas do saque dos credores.
Quem
nunca contabilizou 40 bilhões “por acidente” na planilha do Excel? Esses caras
que ganhavam milhões por conta da fraude, do crime. Esses 18 diretores ganhavam
de forma “acidental”, certo? Não queriam fazer isso. Óbvio.
E
o curioso é que essa “inconsistência” ocorre há pelo menos 10 anos. Inflando o
valor da empresa. Olha só que curioso. Distribuindo dividendos em algo
basicamente fictício. E quando distribui dividendos, não se paga imposto de
renda no Brasil.
Quem
tem “meritocracia” não tem que pagar imposto! Porque essa gente “trabalha”,
certo?
Quem não trabalha é o operário da construção civil.
Isso é mole. O duro é fazer fraude contábil. Por isso que eles não têm que
pagar imposto de renda. Só professor tem que pagar. Porque ele fica lá
ensinando crianças. Enfermeiro fica cuidando de pessoa doente. Isso não é “trabalho”.
Isso que os executivos fizeram é que é trabalho.
Esses homens é que dão valor para o Brasil.
Maquiando a contabilidade e mentindo para o Brasil. A partir disso a gente vai
puxando fios e é curioso até onde a gente consegue chegar.
O
fio entre a privatização da Eletrobras e o caso das Americanas
A gente puxa a Eletrobras. Lembro que, quando a
gente questionava a avaliação da Petrobras, a precificação, diziam que é “coisa
do PSOL que não sabe fazer conta”. Quem fez a auditoria das Americanas foi a
PwC, meus caros parlamentares!
Você tem noção de quantos gênios tem na PwC? Da
avaliação que os minoritários fizeram da Eletrobras? É isso que eles alegavam.
Argumento de autoridade. “A PwC avaliou todos esses balanços”. “Balanços
criminosos” segundo o BTG, que chama o Lemann de “criminoso”, não o que eu ou
você falamos.
A PwC avaliou tudo positivamente e deixou passar,
como um “esquema de corrupção”. E a mesma PwC que avaliou o “esquema de
corrupção” do Lemann precificou a Eletrobras que é controlada principalmente
pelo Lemann hoje.
Ele tem as principais ações preferenciais da
empresa. Veja só. A mesma empresa que auditou as Lojas Americanas, fazendo com
que Lemann tivesse capital fictício, fruto de uma grande manipulação, de um
grande roubo, é a mesma que avaliou a Eletrobras que ele adquire a maior parte
das ações preferenciais.
A
gente começa a olhar esse esquema e é um negócio assustador. Os esquemas que
Lemann faz para não tributar a Ambev também são assustadores. A defesa dele na
Reforma Administrativa e Fiscal para destruir as universidades públicas.
É
assustador porque ele também é dono de conglomerados de educação privada no
Brasil, por isso ele ataca fortemente o ensino superior. Esse cara tem uma
bancada de parlamentares. Quando a gente olha tudo com alguma distância, a
gente vê os fundamentos da coisa toda.
E
é interessantíssimo notar que esses caras, apesar de fazerem isso tudo, eles
ainda são muito respeitados pela imprensa. Muito respeitados. E são criminosos.
Quem fala isso é o BTG. Os caras tentaram sacar R$ 800 milhões horas antes da
ação do banco. Sabiam disso?
Eles tentaram dar um golpe no BTG e o BTG não
gostou. Não pode roubar ladrão. E ainda são levados a sério. São convocados a
falar sobre Reforma Tributária. Colei no meu Twitter matérias do Valor Econômico
elogiando a gestão das Americanas no meio do ano passado, recomendando a compra
de ações.
Por que essa recomendação? Porque o Brasil “corre
risco de insolvência” com a eleição do Lula. “Compre ações das Americanas”.
Esses caras falavam isso. Porque o Lula iria subir o salário mínimo “para
ferrar o povo”. Compre ação das Americanas e se dê bem.
Como
o Nubank aparece no caso das Americanas
Outra coisa que é incrível. O Nubank criou um
aplicativo muito intuitivo. Muito agradável de se usar. Nele, eles não chamam
mais isso de fundos de investimento. Porque não é moderno para se usar.
É uma caixinha. Lá existe uma caixinha para você
realizar o seu sonho futuro. Comprar o carro próprio. Viajar. Para pagar a
faculdade do seu filho. E tem uma caixinha no Nubank de reserva de emergência.
É uma caixinha segura para você recorrer num
momento de necessidade. É aquela parte da renda que o cara deixa com liquidez
alta. O que tinha dentro desse troço? Papel das Lojas Americanas.
Um milhão de pessoas faziam parte dessa caixinha,
que deveria estar não em ações, mas em títulos públicos. Ou em investimentos
garantidos.
É uma caixinha. Lá existe uma caixinha para você
realizar o seu sonho futuro. Comprar o carro próprio. Viajar. Para pagar a
faculdade do seu filho. E tem uma caixinha no Nubank de reserva de emergência.
É uma caixinha segura para você recorrer num
momento de necessidade. É aquela parte da renda que o cara deixa com liquidez
alta. O que tinha dentro desse troço? Papel das Lojas Americanas.
Um milhão de pessoas faziam parte dessa caixinha,
que deveria estar não em ações, mas em títulos públicos. Ou em investimentos
garantidos.
Eles não chamam o caso das Americanas de “corrupção”. Para o povo entender, o que aconteceu foi simples. Ao invés de contabilizar empréstimos de banco como empréstimos, eles contabilizaram como caixa. Você inverte a sua situação financeira. É só isso.
Esse “erro” fazia a empresa turbinar seu valor de
mercado.
Fonte: Canal DCM
Abaixo o link para entrevista.