Foi na Praça de São Pedro,
no Vaticano, repleta de fiéis, que o Papa Francisco canonizou neste domingo
(13) cinco beatos da Igreja Católica, incluindo a brasileira Maria Rita de
Sousa Brito Lopes Pontes (1914-1992), a Irmã Dulce, que passa a ser venerada como
Santa Dulce dos Pobres.
O Pontífice também canonizou
o cardeal britânico John Henry Newman (1801-1890), fundador do Oratório de São
Filipe Néri; a italiana Giuseppina Vannini (1859-1911), cofundadora da
Congregação das Filhas de São Camilo; a indiana Maria Teresa Chiramel
Mankidiyan (1876-1926), fundadora das Irmãs da Sagrada Família; e a suíça
Margarita Bays (1815-1879), da Ordem Terceira de São Francisco de Assis.
Durante a missa de
canonização de Irmã Dulce e outros quatro santos, o Papa Francisco afirmou que
essas pessoas que se dedicam ao serviço dos mais pobres na vida religiosa
fizeram “um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo”.
A santa, conhecida
popularmente como Anjo Bom da Bahia, foi uma das religiosas mais populares do Brasil
graças ao trabalho social prestado aos mais pobres e necessitados,
principalmente na Bahia.
Francisco disse que, como os
leprosos citados nos textos bíblicos, “todos nós precisamos de cura” e somente
Jesus oferece essa cura. Por isso, segundo ele, é preciso rezar, pois “a oração
é o remédio da alma”.
Além disso, Francisco
comentou que é preciso “caminhar juntos” na fé, e não de forma isolada, e
acompanhar os “que se perderam no caminho”. Os santos canonizados neste domingo
levaram ao mundo essa mensagem, declarou.
“Peçamos para ser, assim,
luzes gentis no meio das trevas do mundo”, afirmou. “Hoje, agradecemos ao
Senhor pelos novos santos, que caminharam na fé e agora invocamos como
intercessores. Três deles são freiras e mostram-nos que a vida religiosa é um
caminho de amor nas periferias existenciais do mundo.”
Veja abaixo a íntegra do
sermão do Papa Francisco, fornecida pelo Vaticano:
“A tua fé te salvou. (Lc 17,
19). É o ponto de chegada do Evangelho de hoje, que nos mostra o caminho da fé.
Neste percurso de fé, vemos três etapas, vincadas pelos leprosos curados, que
invocam, caminham e agradecem.
Primeiro, invocar. Os
leprosos encontravam-se numa condição terrível não só pela doença em si, ainda
hoje difusa e devendo ser combatida com todos os esforços possíveis, mas pela
exclusão social. No tempo de Jesus, eram considerados impuros e, como tais,
deviam estar isolados, separados (cf. Lv 13, 46). De facto, quando vão ter com
Jesus, vemos que «se mantêm à distância» (Lc 17, 12). Embora a sua condição os
coloque de lado, todavia diz o Evangelho que invocam Jesus «gritando» (17, 13)
em voz alta. Não se deixam paralisar pelas exclusões dos homens e gritam a
Deus, que não exclui ninguém. Assim se reduzem as distâncias, e a pessoa sai da
solidão: não se fechando em auto lamentações, nem olhando aos juízos dos
outros, mas invocando o Senhor, porque o Senhor ouve o grito de quem está
abandonado.
Também nós – todos nós –
necessitamos de cura, como aqueles leprosos. Precisamos de ser curados da pouca
confiança em nós mesmos, na vida, no futuro; curados de muitos medos; dos
vícios de que somos escravos; de tantos fechamentos, dependências e apegos: ao
jogo, ao dinheiro, à televisão, ao telemóvel, à opinião dos outros.”, disse o
Papa no sermão.
A cerimônia foi acompanhada
por autoridades brasileiras como o vice-presidente, Hamilton Mourão; o
governador da Bahia, Rui Costa; o prefeito de Salvador, ACM Neto; e os
presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre.
Antes da missa, a cantora
baiana Margareth Menezes, o padre Antonio Maria e o sanfoneiro cearense
Waldonys tocaram e cantaram no altar a música oficial da canonização.
Irmã Dulce foi beatificada
em 2011, após ter o primeiro milagre reconhecido. A graça alcançada foi a
recuperação de uma paciente que teve uma grave hemorragia pós-parto e cujo
sangramento subitamente parou, sem intervenção médica. Após beatificada, Dulce
Lopes Pontes passou a ser chamada “Bem-aventurada Dulce dos Pobres”.
Para ser considerada santa,
Irmã Dulce precisaria ter um segundo milagre reconhecido, o que ocorreu em maio
deste ano. O miraculado, o maestro soteropolitano José Maurício, voltou a
enxergar após fazer uma oração para a então beata. Ele teve glaucoma e começou
a perder a visão em 1999. Em 2000, ele já estava cego, mas em 2014 voltou a
enxergar.
José Maurício foi ao
Vaticano para acompanhar a cerimônia de beatificação e chegou a receber a
bênção de Papa Francisco durante a missa de canonização.
Além do milagre recebido por
José Maurício, outras duas graças alcançadas por devotos após orações a Irmã
Dulce estavam sendo analisadas pelo Vaticano para o processo de canonização da
religiosa. Os três casos foram enviados ao Vaticano pelas Obras Sociais Irmã
Dulce (OSID), em 2014, após análise de profissionais da própria instituição. Os
outros dois milagres que ainda não foram confirmados pelo Vaticano continuam
sendo analisados.
Vale ressaltar que o
Vaticano tem quatro exigências quanto à veracidade de uma graça, até ser
considerada milagre: ser preternatural (a ciência não consegue explicar),
instantâneo (acontecer imediatamente após a oração), duradouro e perfeito.
Trajetória de Irmã Dulce
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes nasceu
em 26 de maio de 1914, em Salvador. Quando ela tinha 7 anos, sua mãe morreu.
Aos 13 anos, ela acolhia mendigos e doentes na casa onde morava com o pai e os
irmãos, no bairro de Nazaré, em Salvador (BA). A vida religiosa começou aos 18
anos, quando, após se formar como professora primária, ela ingressou na
Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.
Somente aos 19 anos, mais especificamente em 13 de agosto de 1933, recebeu o
hábito de freira e adotou o nome de Irmã Dulce em homenagem à mãe, que se
chamava Dulce Maria; naquele mesmo mês, ela viveu 6 meses em São Cristovão (SE)
e depois voltou para Salvador.
No ano de 1935, iniciou a
assistência à comunidade carente, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas
que foi formado no bairro de Itapagipe, na capital baiana. Em 1939, Irmã Dulce
invadiu cinco casas, em um local de Salvador conhecido como Ilha dos Ratos. Nos
imóveis, ela acolhia enfermos e desabrigados. Ainda na década de 30, ajudou
operários do bairro de Itapagipe, em Salvador, a formarem a União Operária São
Francisco.
Logo depois, juntamente com
Frei Hildebrando Kruthaup, fundou o Círculo Operário da Bahia. Junto aos
trabalhadores, ela inaugurou um colégio para os filhos dos operários e ainda
ajudou a fundar os cinemas Plataforma e São Caetano, além do Cine Teatro Roma;
a renda obtida nos cinemas contribuía para a manutenção do Círculo Operário. Na
década de 60 transformou um galinheiro do Convento de Santo Antônio em
albergue. Mais tarde, o lugar deu origem ao Hospital Santo Antônio, no Largo de
Roma, em Salvador, e as Obras Sociais que levam o nome dela.
Em 13 de março de 1992,
faleceu em Salvador na Bahia. Em 2011, foi nomeada beata. Em 13 de outubro de
2019 foi canonizada e se tornou santa com o nome Santa Dulce dos Pobres.
Fonte:
Irmã Dulce aos 18 anos
Ao se consagrar Freira da Ordem Imaculada Conceição
Irmã Dulce o Papa João Paulo II