Um país faminto não tem tempo pra bravatas eleitorais
Sérgio Moro tem um problema
para além de todos os demais problemas que tem. Historicamente, no Brasil, os
temas mais relevantes em anos eleitorais giram em torno de Saúde, Segurança,
Educação e Renda, conforme mostra o histórico dos institutos de pesquisa.
Houve, no entanto, um momento em que uma palavra se intrometeu entre as
preocupações correntes da população: no auge da Lava Jato, a
Corrupção chegou a ser a segunda mais citada.
Na semana passada eu conversei com Mauro Paulino (Datafolha) e Márcia Cavallari (Ipec, o
ex-Ibope). Os mais experientes executivos de institutos de
levantamento popular do país disseram o mesmo: a corrupção não deve ser
eleitoralmente relevante, este ano, para decidir as eleições. Sabem quantas
vezes Moro falou a palavra “corrupção” em uma entrevista dia desses? O canal
Galãs Feios contou: 50. É morotemático.
Moro tem outro problema: o antipetismo está voltando a seu curso natural
pré-Lava Jato. Sempre houve antipetismo no Brasil. Na eleição de 1989, lembro
claramente da circulação de fake news pré-internet dizendo que o PT, caso
vencesse as eleições, iria colocar estranhos morando nas nossas casas. Uma
amiga, ainda criança, assustada, chegou a separar as bonecas que mais gostava –
todas as outras ela teria que dar, compulsoriamente, para crianças que não
tinham bonecas. A mando do PT, claro.
O antipetismo que definiu a eleição de Jair Bolsonaro não deve ter a mesma
força esse ano. A popularidade do PT voltou a aumentar depois de junho de
2019, quando vocês sabem o que aconteceu. Moro teria muita força
eleitoral caso antipetismo e combate à corrupção estivessem entre as prioridades
da população. A impactante foto registrada no ano passado pelo jornalista
Domingos Peixoto deveria gritar no rosto de Moro: há coisas mais urgente lá
fora, e o governo que o senhor ajudou a eleger e do qual participou é
responsável por elas.
Fonte:
The Intercept Brasil
Leandro Demori
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