Avanço da IA reforça o
debate sobre a necessidade de regulação que se intensificou com as redes
sociais.
A
rápida popularização da IA trouxe com ela um misto de admiração e ansiedade. Ao
mesmo tempo em que os recursos trazidos por essa tecnologia podem ajudar e até
viabilizar determinadas tarefas – em especial na área da saúde –, por outro,
paira no ar o prenúncio de (mais) desemprego e precarização do trabalho, notícias
falsas (fake news) e desinformação incontroláveis – incluindo imagens e sons. E
a pior de todas as ameaças: aumento do potencial de destruição planetária –
pelo menos vão nesse sentido os alertas mais recentes de alguns cientistas e
empresários das big techs.
ChatGPT
foi um dos primeiros “produtos” de IA a chegar ao varejo, mas há outros se
popularizando rapidamente, incluindo os concorrentes do sistema da OpenAI, como
o Bard, da Alphabet (Google), e uma versão aperfeiçoada do Bing, da Microsoft,
que se “autodenominou” Sydney.
As
tecnologias eletrônicas e digitais vêm conquistando espaços no cotidiano desde
a Revolução Industrial – isso não é novidade –, mas a velocidade com que elas
vêm evoluindo e transformando hábitos e horizontes é uma novidade cada vez mais
difícil de acompanhar. Entre a invenção da geladeira no século XIX e sua
chegada aos lares, demorou quase um século. A partir da Segunda Guerra Mundial,
o ritmo de popularização de inovações tecnológicas começou a se acelerar.
Com
o computador, o celular e a internet, o lapso de tempo baixou para três ou
quatro décadas. A evolução dos celulares, dos tijolões pretos com telinha verde
para os smartphones de alta capacidade acessíveis de hoje, levou cerca de 30
anos.
E
apesar de ChatGPT e toda a nova vanguarda da IA, algumas aplicações dessas
tecnologias já haviam se tornado populares e baratas, disponíveis no próprio
celular, como a senha biométrica, o reconhecimento de imagem para organização
de fotos e a transcrição voz-texto.
Para
o neurocientista Sidarta Ribeiro, o “boom” do ChatGPT é preocupante. “Acho que
esse é um evento tão importante que estamos tendo dificuldade de apreciar a
magnitude dele”, afirmou. Reconhecido como um dos maiores especialistas do País
em substâncias psicoativas e autor do best-seller “O oráculo da noite”, Ribeiro
alerta para os impactos sociais da disseminação desse tipo de tecnologia. Para
ele, a nova onda de substituição de empregos que há 20 ou 30 anos atingiu as
atividades de menor qualificação, com menores salários, agora tende a abalar
profissões que exigem mais preparo, mais formação intelectual.
“Aquilo
que aconteceu em segmentos menos privilegiados da população, agora vai
acontecer com segmentos mais privilegiados. Por isso, é necessário entender a
magnitude da transformação em curso”, afirmou Ribeiro.
“Há
apenas 10 anos, nenhuma máquina poderia fornecer de forma confiável
reconhecimento de linguagem ou imagem em nível humano”, afirma Max Rose,
criador da plataforma Our World in Data em uma análise histórica da IA. Agora,
esses sistemas tornaram-se cada vez mais capazes, com indícios de que já
superam os humanos em testes em todos os domínios.
Hoje,
a IA tem aplicação em praticamente todas as áreas cujas tarefas podem ser
delegadas a um computador. A advogada Cynthia Picolo, presidente do Laboratório
de Políticas Públicas e Internet (Lapin) destaca o avanço que a IA traz para a
vida de todos, mas frisa a necessidade de regulação. Especialista na legislação
de Privacidade e Proteção de Dados (LGPD), Picolo explica que já existem
projetos em discussão no Congresso Nacional (leia mais na página 7), mas pede
atenção da sociedade para que sejam previstos obrigações e mecanismos para
assegurar direitos e mitigar riscos relacionados aos impactos da IA.
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