quarta-feira, 19 de julho de 2023

SÉRIE SOBRE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. 01: INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL CHEGA AO VAREJO

Avanço da IA reforça o debate sobre a necessidade de regulação que se intensificou com as redes sociais.

A rápida popularização da IA trouxe com ela um misto de admiração e ansiedade. Ao mesmo tempo em que os recursos trazidos por essa tecnologia podem ajudar e até viabilizar determinadas tarefas – em especial na área da saúde –, por outro, paira no ar o prenúncio de (mais) desemprego e precarização do trabalho, notícias falsas (fake news) e desinformação incontroláveis – incluindo imagens e sons. E a pior de todas as ameaças: aumento do potencial de destruição planetária – pelo menos vão nesse sentido os alertas mais recentes de alguns cientistas e empresários das big techs.

ChatGPT foi um dos primeiros “produtos” de IA a chegar ao varejo, mas há outros se popularizando rapidamente, incluindo os concorrentes do sistema da OpenAI, como o Bard, da Alphabet (Google), e uma versão aperfeiçoada do Bing, da Microsoft, que se “autodenominou” Sydney.

As tecnologias eletrônicas e digitais vêm conquistando espaços no cotidiano desde a Revolução Industrial – isso não é novidade –, mas a velocidade com que elas vêm evoluindo e transformando hábitos e horizontes é uma novidade cada vez mais difícil de acompanhar. Entre a invenção da geladeira no século XIX e sua chegada aos lares, demorou quase um século. A partir da Segunda Guerra Mundial, o ritmo de popularização de inovações tecnológicas começou a se acelerar.

Com o computador, o celular e a internet, o lapso de tempo baixou para três ou quatro décadas. A evolução dos celulares, dos tijolões pretos com telinha verde para os smartphones de alta capacidade acessíveis de hoje, levou cerca de 30 anos.

E apesar de ChatGPT e toda a nova vanguarda da IA, algumas aplicações dessas tecnologias já haviam se tornado populares e baratas, disponíveis no próprio celular, como a senha biométrica, o reconhecimento de imagem para organização de fotos e a transcrição voz-texto.

Para o neurocientista Sidarta Ribeiro, o “boom” do ChatGPT é preocupante. “Acho que esse é um evento tão importante que estamos tendo dificuldade de apreciar a magnitude dele”, afirmou. Reconhecido como um dos maiores especialistas do País em substâncias psicoativas e autor do best-seller “O oráculo da noite”, Ribeiro alerta para os impactos sociais da disseminação desse tipo de tecnologia. Para ele, a nova onda de substituição de empregos que há 20 ou 30 anos atingiu as atividades de menor qualificação, com menores salários, agora tende a abalar profissões que exigem mais preparo, mais formação intelectual.

“Aquilo que aconteceu em segmentos menos privilegiados da população, agora vai acontecer com segmentos mais privilegiados. Por isso, é necessário entender a magnitude da transformação em curso”, afirmou Ribeiro.

“Há apenas 10 anos, nenhuma máquina poderia fornecer de forma confiável reconhecimento de linguagem ou imagem em nível humano”, afirma Max Rose, criador da plataforma Our World in Data em uma análise histórica da IA. Agora, esses sistemas tornaram-se cada vez mais capazes, com indícios de que já superam os humanos em testes em todos os domínios.

Hoje, a IA tem aplicação em praticamente todas as áreas cujas tarefas podem ser delegadas a um computador. A advogada Cynthia Picolo, presidente do Laboratório de Políticas Públicas e Internet (Lapin) destaca o avanço que a IA traz para a vida de todos, mas frisa a necessidade de regulação. Especialista na legislação de Privacidade e Proteção de Dados (LGPD), Picolo explica que já existem projetos em discussão no Congresso Nacional (leia mais na página 7), mas pede atenção da sociedade para que sejam previstos obrigações e mecanismos para assegurar direitos e mitigar riscos relacionados aos impactos da IA.

Fonte:

Jornal da Ciência


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