O incêndio de Roma, 18 de julho de 64, óleo de Hubert Robert
O
imperador Nero Lúcio Domécio Aenobarbo (54-68), filho de Agripina, a Menor,
irmã do imperador Calígula e quarta esposa do Imperador Cláudio, que o adotou, tendo-lhe
prometido a sucessão, foi proclamado imperador ainda muito jovem.
Dotado
de grande inteligência, com qualidades artísticas e literárias bastante
grandes, pois tinha como precetores o filósofo Séneca e o prefeito dos
pretorianos Burro, durante os primeiros anos do seu governo mostrou-se
tolerante para com a população, o exército e a administração que o admiravam,
ao contrário do seu antecessor Cláudio.
Porém,
para além destas qualidades, Nero era um homem extremamente vaidoso, dado à
luxúria, prepotente e sanguinário. Mandou assassinar o irmão, Britânico, a mãe,
as suas esposas Octávia e Popeia Sabina e até Séneca, para além de inúmeros
patrícios, cavaleiros e senadores que ele próprio matou no Circo, aclamando-se
como gladiador ou queimando-os vivos para dar como oferenda aos deuses.
Como
se isto não bastasse, aparecia em público a cantar e tocar lira e quem não
aplaudisse as suas melodias e encenações ficava sujeito a ser condenado à
morte.
É
evidente que ao adotar esta conduta, a maior parte dos seus súbditos perdeu o
respeito ao imperador. Foi assim que, a 18 de julho do ano de 64, deflagrou um
gigantesco incêndio em Roma, destroçando 10 das 14 zonas da urbe, três das
quais ficaram completamente destruídas, dando a Nero a possibilidade de se apropriar
de uma parte dos terrenos, nos quais mandou edificar, mais tarde, a sua
sumptuosa residência, a Domus Aurea, que se opõe à miséria de uma Roma
destruída pelo incêndio.
Nero
foi apontado como o seu principal causador, já que enquanto a cidade era consumida
pelas chamas, e segundo as fontes, Nero deleitava-se a contemplar o cenário,
tocando a sua lira. O povo amotinou-se e, para calar as suspeitas, o imperador
resolveu perseguir os membros de uma nova seita judaica, os cristãos,
iniciando, assim, a primeira grande perseguição a esta religião nascente.
Esta
catástrofe inspirou a Nero o projeto de uma nova cidade que se baseou, não na
criação de novos bairros, mas na reconstrução racional dos destruídos, segundo
os princípios até então não experimentados que se baseavam nos alinhamentos
retificados, na altura limitada dos edifícios, nas ruas ladeadas por pórticos,
na proibição de paredes-meias, etc. Por outras palavras, pode-se dizer que foi
a primeira tentativa de criar um urbanismo racionalizado e disciplinado, que
até aí se tinha desenvolvido desordenadamente.
No
ano de 65, uma conspiração foi organizada contra Nero que, aterrorizado,
ordenou inúmeras execuções. Em 68, várias rebeliões estalaram em vários pontos
do Império e Nero não se atreveu a pedir a colaboração dos exércitos
fronteiriços leais. Os pretorianos abandonaram-no, sendo proscrito pelo Senado.
Vendo-se sozinho, acabou por se suicidar.
Parte do filme QUO VADIS, 1951, que retrata o incêndio de Roma.
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