terça-feira, 24 de agosto de 2021

AGRONEGÓCIO BRASILEIRO TEM EXPORTAÇÕES DE US$ 11,3 BILHÕES. A CHINA LIDERA AS IMPORTAÇÕES DE NOSSOS PRODUTOS.

 

O superávit comercial do agro no mês passado foi de US$ 10,1 bilhões.

As exportações do agro em julho deste ano foram de US$ 11,3 bilhões, crescimento de 15,8% frente ao mesmo período de 2020. Destaca-se que os preços das commodities mantêm sua tendência de recuperação, tendo a maioria dos produtos superado o nível dos preços pré-pandêmicos.

O superávit comercial do agro no mês passado foi de US$ 10,1 bilhões. No acumulado de janeiro a julho de 2021, as vendas externas do setor chegaram a US$ 72,7 bilhões, 19,9% a mais na comparação com o mesmo período do ano de 2020. A soja em grãos liderou a pauta exportadora do agro brasileiro em julho, com participação de 35,3% no total e receita de US$ 4,0 bilhões (incremento de 15,3% em relação ao mesmo período de 2020). O segundo foi a carne bovina in natura, com crescimento de 30,6% frente a julho do ano passado e faturamento de US$ 902,6 milhões.

A China foi o principal destino das exportações brasileiras em julho, com participação de 35,2% do total e destaque para os embarques de soja em grãos, carne bovina in natura, celulose, açúcar de cana em bruto e carne de frango in natura.

Em seguida veio a União Europeia, com parcela de 15%, seguida
por Estados Unidos (7,4%). Completam a lista dos dez principais mercados para os produtos do agro: Tailândia (2,9%); Japão (2,4%); Vietnã (2,3%); Irã (2,2%); México (1,8%); Indonésia (1,8%); e Coreia do Sul (1,7%).

Os dados são da análise da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com base nos dados do Ministério da Economia.

Fonte:

AGROLINK

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

LANÇADO O OBSERVATÓRIO PESQUISA, CIÊNCIA E LIBERDADE

 

Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade tem como principal missão registrar, acompanhar, tornar público e encaminhar às autoridades competentes qualquer atentado à liberdade de expressão, à liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento científico entre nós. Buscará, desse modo, promover de modo amplo o direito ao acesso à integridade dos resultados de pesquisas e investigações científicas probas, qualificadas e eticamente orientadas, para que se possa, através da promoção de uma ciência cidadã, contribuir para a manutenção da democracia em nosso país.

Conheça os membros da Comissão

Maria Filomena Gregori, professora livre-docente do Departamento de Antropologia da Unicamp e pesquisadora do Pagu – Núcleo de Estudos de Gênero da mesma universidade (coordenadora da Comissão);

Deborah Duprat, jurista, foi membro do Ministério Público Federal de 1987 a 2020, vice-procuradora-geral da República de 2009 a 2013 e ex-procuradora-geral em 2009;

Otávio Guilherme Cardoso Alves Velho, antropólogo, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente de honra da SBPC;

Deisy Ventura, professora titular de Ética da Faculdade de Saúde Pública (FSP) e do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP. Ela também é presidente da Associação Brasileira de Relações Internacionais – ABRI (2019-2021);

Conrado Hubner Mendes, professor-doutor de Direito Constitucional na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT);

Sérgio Carrara, professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Carlos Benedito Martins, professor titular de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB);

Elizabeth Villela da Costa, do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH);

Maria Hermínia Tavares, da Comissão Arns;

Marcela Lupoli, advogada na Cesnik, Quintino e Salinas Advogados (CQS);

Veja abaixo o vídeo de lançamento:

Lançamento do Observatório

Entidades parceiras ou colaboradoras:

Ciências Sociais Articuladas.

Portal SBPC

sábado, 21 de agosto de 2021

UM AGOSTO AUTORITÁRIO. O QUE ESPERAR EM SETEMBRO?


Agosto trouxe uma escalada do autoritarismo no Brasil. Em menos de 20 dias, Jair Bolsonaro travou uma batalha pela lunática PEC do voto impresso e consolidou a narrativa de "golpe" para sua provável derrota em 2022. Isso nos custou R$ 1 bilhão em emendas para a base bolsonarista na Câmara às vésperas da votação da PEC. E em seguida vimos a ameaça de impeachment de ministros do STF. 


A cereja do bolo veio com uma mensagem enviada por Bolsonaro chamando apoiadores às ruas no 7 de setembro e alardeando a necessidade de um "contragolpe". Em meio a tudo isso, o cômico desfile das Forças Armadas em Brasília, que não deixa de ser uma afronta e um recado. 

A sequência de abusos tem causa clara, mas seus desdobramentos não são tão óbvios.

Bolsonaro derrete em praça pública. Seu governo que sempre se baseou no caos, agora vive de empilhar desastres. Inflação, fome, vexames internacionais, rendição completa ao Centrão. Não deu outra, o presidente alcançou o recorde de rejeição: 54%, segundo a pesquisa XP/Ipespe divulgada nesta terça-feira, consideram seu governo ruim ou péssimo. 

Com a ideia de "contragolpe", Bolsonaro e seus apoiadores (que ainda são muitos) jogam para a torcida na tentativa de fomentar uma "reação" ao "golpe do STF" que juram estar em curso. É o tipo de ideia capaz de fazer sentido para quem acredita que a constituição brasileira é comunista e que há latifúndios de maconha nas universidades federais. Mas não se engane, eles estão tentando virar um jogo que nesse momento é bastante desfavorável para o ex-capitão.

O cenário que se desenha é nebuloso, mas é também nele que um exercício de cidadania se faz crucial em tempos de crise: o apoio e a manutenção de uma imprensa contundente que vai além da informação pura e simples e do serviço de utilidade pública. 

O governo mais caótico, irresponsável e letal que o Brasil já elegeu exige mais do que o feijão-com-arroz do jornalismo: exige investigação profunda, denúncia e um olhar crítico que, por décadas de comercialização da notícia, a maior parte das nossas redações não teve a liberdade de desenvolver.

Fonte: 

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

ANÁLISE: O OCIDENTE FECHOU OS OLHOS PARA A REALIDADE NO AFEGANISTÃO. UM OUTRO OLHAR SOBRE A QUESTÃO!


É estranho a comunidade internacional agora demonstrar espanto pela rápida tomada do Afeganistão. Os fatos não só eram visíveis como ocorreram com apoio da Otan e seus aliados. Emran Feroz analisa 20 anos de um fracasso.

"Possivelmente vai ser como da última vez, quando os talibãs tomaram Cabul da noite para o dia", comentava Ahmad J. no último sábado (14/08). Apesar de ser apenas um menino quando o grupo fundamentalista islâmico ocupou a capital do Afeganistão, 25 anos atrás, ele ainda se lembra bem daquela manhã.

De repente, os militantes estavam lá, enquanto fugiam os representantes do governo mujahidin, que durante anos haviam se combatido mutuamente. Agora, quase duas décadas após o começo da ocupação do país pela Otan, esse quadro podia se repetir. "Os últimos dias deixaram claro que eles logo vão estar aqui", disse Ahmad.

No dia seguinte, sua previsão se confirmaria: depois de haverem conquistado todas as capitais provinciais importantes, os talibãs marcharam sobre Cabul. Em muitos casos, o exército e a polícia abandonaram seus postos antes mesmo de os rebeldes entrarem na cidade.

Repercussões da "guerra ao terror"

Ao mesmo tempo, o presidente Ashraf Ghani abandonava o país às pressas, junto com sua comitiva, agindo como um governador neocolonial. E era assim que ele era tachado nos últimos anos, não só pelo Talibã como por muitos afegãos que não ganharam nada com seu aparato estatal corrupto.

Segundo alguns relatos, os homens de Ghani teriam levado bolsas cheias de dinheiro vivo. Anos atrás, aliás, o presidente deposto havia comentado que não tinha simpatia pelos refugiados afegãos, que no Ocidente acabariam mesmo como lavadores de pratos.

Após a fuga, os islamistas ocuparam o palácio presidencial, posando diante da escrivaninha de Ghani. Na subsequente entrevista improvisada à emissora Al Jazeera, um dos comandantes presentes mencionou que durante oito anos estivera preso e fora torturado pelos americanos na prisão de Guantánamo.

Mero acaso? Dificilmente. Foi antes mais uma prova de como a "war on terror" dos Estados Unidos radicalizou muitos no Afeganistão, e de que muitos deles até hoje não esqueceram essa "guerra".

Os vencedores estão em Cabul

Os acontecimentos continuaram se precipitando: uma multidão acorreu ao aeroporto de Cabul, onde tropas americanas realizavam a evacuação de seus concidadãos. O caos perdurou até o dia seguinte: algumas pessoas se agarraram a um dos aviões que decolavam e morreram na desesperada tentativa.

Enquanto isso, os soldados dos EUA disparavam contra a multidão de afegãos. "Um parente meu foi morto: ele era médico", contaria mais tarde o jornalista e autor de podcasts afegão-holandês Sangar Paykhar. A escritora e ativista Nadia Hashemi relata que o acesso às aeronaves foi em parte vedado a afegão-americanos como ela, supostamente por não serem americanos brancos.

As cenas mais recentes de Cabul deixaram mais óbvio do que nunca que a missão ocidental no Afeganistão foi um fracasso. Em seu discurso de quarta-feira, o presidente americano, Joe Biden, não mencionou sequer uma vez aqueles afegãos mortos nas últimas duas décadas na guerra americana contra o terrorismo.

Em vez disso, suas palavras foram, mais uma vez, marcadas por negação da realidade e ignorância. Pois os verdadeiros vencedores dessa guerra não estão em Washington, mas em Cabul.

Em vez de 90 dias, 24 horas

Os talibãs nunca estiveram tão fortes. Só nas últimas semanas, pilharam equipamento de guerra americano de alta tecnologia. Com exceção da província de Panjshir, ao norte de Cabul, notória por sua resistência permanente contra o Talibã, agora os extremistas controlam novamente quase todo o país. Acrescente-se a isso a força política no palco internacional, pela qual o grupo tanto se empenhou nos últimos anos.

Numerosas análises e prognósticos quanto a uma tomada de poder pelo Talibã tiveram que ser repetidamente corrigidos nos últimos dias. Ainda no sábado, o serviço secreto americano CIA estimava que a capital seria tomada nos próximos 30 a 90 dias – no fim das contas, não foram nem 24 horas.

Mesmo analistas renomados de Washington ficaram sem palavras diante das ocorrências mais recentes. Bill Roggio, do think tank conservador de direita Foundation for the Defense of Democracies, classificou como "um dos maiores fiascos do serviço secreto nas últimas décadas" a campanha militar vitoriosa dos talibãs, cuja estratégia de guerra teria sido "brilhante". Os extremistas se concentraram inicialmente no norte, antes de tomar outras cidades por todo o país.

Afeganistão já estava nas mãos do Talibã

São muitos os fatores que levaram a tudo isso. Diversas causas do fracasso do Ocidente foram recalcadas e ignoradas durante anos – não só para evitar humilhação, mas por que, mesmo depois de todo esse tempo, não se conhecia o Afeganistão.

Praticamente todos os distritos das capitais provinciais que caíram antes de Cabul já eram controlados pelo Talibã há anos: lá ele se estabelecera, agindo e governando na sombra. Nessas regiões rurais, os extremistas conseguiram logo fincar pé, também devido à corrupção disseminada da capital e às numerosas operações militares da Otan e seus aliados afegãos.

Pois os ataques com drones e as batidas noturnas brutais regularmente fizeram vítimas civis nas aldeias afegãs. Muitos familiares dos mortos se associaram ao Talibã, de uma forma ou de outra. Isso ocorria também logo às portas de Cabul: bem antes dos últimos desdobramentos, bastavam 20 a 30 minutos de carro para entrar em território talibã.

Corrupção favorecida pelos EUA

Mas isso é algo que os responsáveis nos governos do Ocidente não querem enxergar. Em vez disso, tiveram lugar felicitações mútuas: falou-se dos "convincentes valores próprios", concentrando-se nas supostas conquistas ocorridas no Afeganistão desde 2001. Falou-se de democracia, embora nos últimos 20 anos não tenha acontecido uma única transferência de poder democrática no país asiático.

Esse fato seguramente nada tem a ver com aqueles afegãos que, sob risco de vida, de fato foram às urnas eleitorais, mas, acima de tudo, com as elites corruptas que os EUA colocaram no poder em Cabul: homens como Hamid Karzai ou o foragido Ashraf Ghani usaram o novo sistema para seus próprios fins, recorrendo sempre a fraudes eleitorais para se manterem no poder.

Outros protagonistas locais agiram da mesma forma, inclusive muitos senhores de guerra e barões do narcotráfico que se tornaram os aliados mais estreitos do Ocidente na região do Hindu Kush. Eles enriqueceram pessoalmente graças às generosas verbas assistenciais do exterior e transferiram bilhões de dólares para o estrangeiro.

Ao mesmo tempo, igualmente contavam entre os principais beneficiados pela guerra, por exemplo, através de firmas de segurança privadas criadas por eles mesmos para simular atentados às tropas da Otan. Posteriormente assinaram contratos lucrativos com base no suposto perigo de terrorismo.

Ocidente: não é nossa culpa

Pelo menos desde o fim de 2019 sabe-se que em Washington e outras capitais todas essas aberrações eram conhecidas. Foi quando o jornal The Washington Post publicou os Afghanistan Papers, em que cerca de 400 oficiais americanos de alto escalão mais ou menos admitiam seu próprio fracasso no Afeganistão. Os detalhes a respeito foram mantidos a sete chaves durante anos.

Hoje, porém, ninguém quer falar do assunto. Em vez disso, afirma-se que o Talibã atropelou o Afeganistão e o Ocidente, vindo do nada: os protagonistas estrangeiros tentaram alcançar o melhor para o país, mas infelizmente não deu certo.

A verdade é que – após 20 anos de uma intervenção falha, que custou a vida de centenas de milhares de afegãos, além de transformar milhões deles em refugiados e precipitá-los na miséria – o Ocidente não apenas perdeu o interesse no Afeganistão: ele não se sente corresponsável pela desgraça resultante. "Eles são assim, não é nossa culpa", reza o jargão cultural-relativista, que ressoa especialmente alto por estes dias.

Emran Feroz é austríaco de raízes afegãs e há anos escreve sobre a situação no Hindu Kush para veículos de idioma alemão, como Die ZeitTAZ e WOZ, mas também internacionais, como The New York Times e a emissora CNN.


Deutsche Wlle

WIKI

WIKI - Talibãs

AFEGANISTÃO CEMITÉRIO DE IMPÉRIOS! TALIBÃS: NACIONALISTAS? EXTREMISTAS? TERRORISTAS? FANÁTICOS RELIGIOSOS? GUERRILHEIROS OU RESISTÊNCIA POPULAR?

Um membro do Talibã segura uma automática em cima de veículo enquanto patrulha as ruas de Kabul, em 16 de agosto de 2021 - Wakil Kohsar / AFP

Entenda o que é o Talibã do Afeganistão e saiba quem está na liderança do grupo fundamentalista.

O braço político do Talibã, que o representa internacionalmente, é sediado em Doha, Catar, e liderado por Abdul Baradar.

No idioma pachto, "talibã" significa "estudante". Hoje em dia, porém, o nome do movimento militante do Afeganistão evoca antes imagens de terror e destruição do que de homens e mulheres debruçados sobre livros

Depois que o Talibã completou sua tomada do país, no domingo (15), ao ocupar a capital, Cabul, e se instalar no palácio presidencial, centenas de civis invadiram a pista do aeroporto local, em pânico.

Eles tentaram embarcar nos poucos aviões militares que ainda estavam decolando, tamanho seu desespero de escapar de um país agora mais uma vez sob o domínio dos fundamentalistas islâmicos.

Liderança talibã

Há uma clara hierarquia dentro do grupo islamista, cujo líder supremo desde 2016 tem sido Mawlawi Hibatullah Akhundzada.

O erudito religioso é autoridade máxima em todas as questões políticas, religiosas e militares, apoiado por três vices e um ministros encarregados de áreas como forças armadas, serviço secreto e economia. Constituído por 26 membros, o Rahbari Shura ou Quetta Shura é a mais alta autoridade consultiva.

O braço político do Talibã, que o representa internacionalmente, é sediado em Doha, Catar, e liderado pelo cofundador do grupo, o Mulá Abdul Ghani Baradar. Foi esse subgrupo que, por exemplo, se encarregou das negociações com os Estados Unidos, sob liderança do Mulá Abdul Hakim.

                                             Quem é quem na liderança talibã / DW

Finanças do Talibã

O grupo militante faz muito dinheiro com a exportação de ópio e heroína: a Organização das Nações Unidas estima o faturamento com o comércio ilícito de drogas, apenas em 2018 e 2019, em mais de 400 milhões de dólares, o que equivale a 60% da renda total dos talibãs.

Outras fontes de renda são mineração, impostos e doações, segundo o analista de política econômica Hanif Sufizada, do Centro de Estudos sobre o Afeganistão. Supõe-se que alguns países também transfiram dinheiro diretamente para o Talibã.

Guido Steinberg, do Instituto Alemão para Política Internacional e Segurança (SWP), explica que o grupo conta com dois países aliados: "Um é bastante improvável: o Irã. As Guardas Revolucionárias têm apoiado o Talibã nos últimos anos, para derrotar os americanos. Porém o mais importante é o Paquistão, que luta ao lado do Talibã."

História do Talibã

O Talibã emergiu da brutal guerra civil que se sucedeu à retirada da União Soviética do Afeganistão. Embora o grupo tenha se formado oficialmente em 1994, depois do fim da Guerra Fria, alguns dos seus combatentes haviam lutado contra as forças soviéticas, com o ajuda secreta da CIA e forte apoio saudita e paquistanês.

Especula-se que a origem do nome do movimento seria o fato de muitos de seus membros terem sido estudantes de madrassas (escolas religiosas) afegãs e paquistanesas onde se prega uma forma extrema do islã sunita, e que eram financiadas com dinheiro saudita.

Inicialmente, o Talibã era apenas mais um entre centenas de grupos que lutavam na guerra civil que eclodiu após a retirada soviética.

O Mulá Mohammed Omar, que se tornaria o fundador do Talibã afegão, ficou desapontado por a lei islâmica não ter sido instaurada em seu país após o fim da ocupação soviética. Ele reuniu 50 estudantes que juraram livrar o Afeganistão de senhores da guerra e criminosos. Eles falavam em restaurar a ordem, a paz e a segurança no país assolado pela guerra.

Opinião: Chega de hipocrisia em relação ao Afeganistão

O grupo cresceu rapidamente, com apoio decisivo dos serviços de inteligência do Paquistão, e começou a tomar cidades e províncias.

O grupo era inicialmente popular entre a população, por combater sádicos senhores da guerra - muitos deles anteriormente apoiados pelos EUA -, reabrir rotas de comércio e por proibir práticas tribais difundidas no interior do Afeganistão como a "Bacha bazi", uma forma de escravidão sexual de meninos.

Em 1996, os talibãs ocuparam a capital Cabul e derrubaram o governo. Também executaram brutalmente um ex-presidente do país que governou com apoio soviético. Dois anos mais tarde, o regime tinha controle sobre 90% do Afeganistão.

Valores talibãs: o rigor da sharia

No entanto, o saldo do regime talibã não foi apenas um comércio mais seguro: a ideologia do grupo se baseia no salafismo, uma forma radical do islamismo. Uma vez no poder, ele impôs com rigor a lei da sharia, em parte contrária aos direitos humanos e especialmente severa com as mulheres e meninas.

A partir dos dez anos, as meninas ficavam proibidas de frequentar a escola. As mulheres tinham que trajar burca, cobertas da cabeça aos pés.

Dirigir automóveis era punido com pena de morte, e elas só podiam sair em público escoltadas por um homem, em geral o marido ou um irmão. Televisão, música e salas de cinema foram banidos para todos os afegãos. Assassinos e adúlteros eram executados em público, furtos eram punidos com amputação.

O regime também passou a destruir símbolos que não se enquadravam na sua visão radical, como estátuas budistas milenares e também ordenou que praticantes de outras religiões usassem emblemas em suas vestimentas para que fossem identificados em público.

Segundo observadores, décadas depois, os talibãs não mudaram sua abordagem. "Os relatos vindos de Kandahar e outras regiões já ocupadas nas últimas semanas não soam promissores", diz a analista americana Jessica Berlin. "Não temos nenhuma razão para acreditar que eles se tornaram mais humanitários."


Fim do primeiro regime talibã

A comunidade internacional passou a tratar como pária o Afeganistão sob regime talibã, devido às infrações dos direitos humanos, mas não interveio até depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, que fizeram 3 mil vítimas nos Estados Unidos.

O líder Osama bin Laden, que orquestrara os ataques com sua rede terrorista Al Qaeda, encontrou asilo no Afeganistão. Quando o Talibã se recusou a entregá-lo, os EUA, sob o presidente George W. Bush, invadiram o país e acabaram por derrubar o governo extremista.

Ressurgência talibã

Em 2018, o governo americano do presidente Donald Trump começou a negociar um tratado de paz com o Talibã, sem incluir o governo eleito. Líderes do grupo foram soltos a pedido do governo republicano. 

Conversações internas de paz entre o governo afegão e os rebeldes se iniciaram em setembro de 2020, mas logo se estagnaram. Trump também passou a retirar tropas do país nas semanas finais do seu mandato e estabeleceu que todos os soldados sairiam em maio de 2021.

Em abril de 2021, o presidente Joe Biden anunciou um adiamento, determinando que as forças dos EUA e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se retirariam do Afeganistão até 11 de setembro, 20º aniversário dos atentados de Nova York e Washington.

Pouco depois, o prazo foi antecipado para o fim de agosto. Serviços de inteligência dos EUA previam que Cabul poderia se manter por mais alguns meses após saída americana. Mas críticos expressaram apreensão pela rapidez da saída das tropas, temendo que o país caísse no caos, e que o governo democraticamente eleito não fosse capaz de manter o poder. Tudo indica que eles estavam com a razão.

Assista o vídeo: Pequena história do Talibã: DW

Fonte: Deutsche Welle

Brasil de Fato

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

HOJE! SBPC, OBSERVATÓRIO DO CONHECIMENTO E LAUT REALIZAM PESQUISA SOBRE AMEAÇAS E VIOLAÇÕES À LIBERDADE ACADÊMICA.

               

Levantamento terá como foco docentes e pesquisadores; live de lançamento será nesta quinta-feira (19), às 18h, pelo Youtube.

O Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Observatório do Conhecimento e o Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo (LAUT) vão traçar um panorama das violações e ameaças ao exercício da liberdade acadêmica e de cátedra no País. As entidades realizarão uma pesquisa para rastrear casos, ouvindo docentes e pesquisadores de instituições de ensino superior de todo o País. Os questionários poderão ser respondidos de forma anônima.

“Por violações e ameaças entendemos ações e pressões feitas sobre professores e pesquisadores no exercício de suas atividades acadêmicas e que visam limitar ou constranger a autonomia universitária”, explica Josué Medeiros, coordenador do Observatório do Conhecimento. Segundo ele, com exceção dos casos que ganham repercussão na mídia, não há uma dimensão real do problema e pouco se sabe sobre como as vítimas lidam com as ameaças e violações. “O levantamento dessas informações ajudará a aprofundar o debate sobre o assunto.”

Para a antropóloga Maria Filomena Gregori, professora da Universidade de Campinas (Unicamp) e coordenadora do Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da SBPC essas perseguições, desqualificações e obscurantismos em relação à ciência levam à necessidade de intensificar as denúncias de casos para que sejam evidenciados e não passem impunes. “Temos assistido um número crescente de casos de violações nestes últimos dois anos, e esta indicação de abusos gerou a necessidade de instituições de tradição, como, por exemplo, a SBPC de se articular para conhecer melhor a realidade para poder combate-lo”, comenta.

Gregori cita que o LAUT já havia feito um levantamento prévio da liberdade acadêmica no Brasil, mas que só trazia dados relativos a abusos relacionados a docentes e pesquisadores das ciências humanas. “A ideia agora é ampliar isso e coletar informações em todo o território nacional e assim conhecer as várias peculiaridades para entender melhor como essas violações têm ocorrido”, explica.

O questionário da pesquisa nacional “A liberdade acadêmica está em risco no Brasil?”, que leva cerca de 10 minutos para ser respondido, estará disponível neste link https://pt.surveymonkey.com/r/CYCS3YB. A identificação não é obrigatória.

O lançamento ocorrerá em uma live nesta quinta-feira (19), às 18h, e contará com a presença de Fernanda Sobral e Miriam Pillar Grossi, da diretoria da SBPC; e de personalidades que sentiram na pele este tipo de perseguição: Deborah Duprat, procuradora da República; Conrado Hubner Mendes, professor de direito constitucional da USP; Debora Diniz, antropóloga; Pedro Hallal, epidemiologista, entre outros. O evento, que será mediado pela jornalista Mônica Waldvogel, terá transmissão ao vivo pelo Youtube, nos canais da SBPC e do Observatório do Conhecimento.

Sobre Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade/SBPC

O Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da SBPC tem como principal missão registrar, acompanhar, tornar público e encaminhar às autoridades competentes qualquer atentado à liberdade de expressão, à liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento científico entre nós. Buscará, desse modo, promover de modo amplo o direito ao acesso à integridade dos resultados de pesquisas e investigações científicas probas, qualificadas e eticamente orientadas, para que se possa, através da promoção de uma ciência cidadã, contribuir para a manutenção da democracia em nosso país. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) representa mais de 160 sociedades científicas associadas e mais de três mil sócios ativos, entre pesquisadores, docentes, estudantes e cidadãos brasileiros interessados em ciência e tecnologia. Saiba mais: http://portal.sbpcnet.org.br/observatorio-pesquisa-ciencia-e-liberdade/

Sobre o Observatório do Conhecimento

O Observatório do Conhecimento é uma rede formada por associações e sindicatos de docentes de universidades de diferentes estados brasileiros, além de parceiros da área da educação, ciência e pesquisa que se articulam em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade e da liberdade acadêmica. Apresenta uma plataforma de informação e análise de qualidade sobre as políticas públicas para o ensino superior propostas pelo Executivo Federal e Congresso Nacional. Saiba mais: https://observatoriodoconhecimento.org.br/

Sobre o LAUT

O Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo é uma instituição independente e apartidária de pesquisas interdisciplinares, comprometida em produzir e disseminar conhecimento sobre a qualidade do estado de direito e da democracia. Tem como objetivo monitorar as diversas manifestações do autoritarismo e de repressão às liberdades, a fim de fundamentar a mobilização da sociedade civil e a defesa das liberdades. Saiba mais: https://laut.org.br/sobre-laut-centro-de-pesquisa/

SERVIÇO:

Lançamento da pesquisa nacional “A liberdade acadêmica está em risco no Brasil?”

Data: quinta-feira, 19 de agosto, às 18h

Transmissão: canais do Youtube da SBPC e do Observatório do Conhecimento.

Evento gratuito e aberto a todos





segunda-feira, 16 de agosto de 2021

PERIGO DA COVID LONGA PODE SER MUITO MAIOR DO QUE PENSAMOS. COMEMORAR A CURA OU ALTA NÃO É AINDA O MOMENTO.


Em certos pacientes, sequelas da covid-19 só aparecem meses depois da infecção original. Ao mesmo tempo, estudo alemão indica que percentagem dos assintomáticos seja bem mais alta do que se pensa. DW entrevista.

Entre as grandes incógnitas que cercam a pandemia de covid-19, estão os casos assintomáticos. O que impede que certos indivíduos desenvolvam patologias após se contagiarem com o novo coronavírus? Seus casos contêm conclusões que possam ser úteis aos demais pacientes?

Contudo ser assintomático talvez não seja sempre uma bênção. O estudo Gutenberg Covid-19 da Universidade de Medicina de Mainz, Alemanha, se ocupa não só dos efeitos diretos da pandemia, mas seu impacto maior sobre a saúde pública.

Uma de suas constatações é que o número de casos não identificados seria bem maior de que se pensava. E estes também podem estar sujeitos a complicações tardias e duradouras da infecção original, em parte graves – a assim chamada "covid longa".

A DW entrevistou o chefe do projeto Gutenberg Covid-19, o professor de epidemiologia clínica da Universidade de Mainz Philipp Wild, sobre essa nova vertente de investigação sobre a pandemia:

"Voltamos a ter grandes eventos públicos, portanto precisamos de sistemas de alerta precoce. Estamos nos perguntando se há uma assinatura molecular, algo que se possa medir no sangue, indicando que o paciente está a caminho de desenvolver a síndrome de covid longa."


DW: Como o senhor e sua equipe determinaram que mais de 40% da população da Alemanha não se dá conta de que tem covid-19?


Philipp Wild: Selecionamos uma amostra de voluntários proporcional à população alemã e lhes perguntamos se haviam tido uma infecção com o novo coronavírus com distância de dois, quatro meses. Fizemos com eles um teste de PCR, e medimos seus anticorpos, os quais indicam se houve uma infecção, independente de a pessoa ter sido vacinada.


E vocês acompanharam mais de 10 mil voluntários por um período de seis meses.


Exato. A maioria dos casos não conhecidos era entre os os mais idosos: 63%, ou quase dois terços, dos participantes maiores de 75 anos. Entre os de 25 a 30 anos, só um terço tivera infecções não detectadas.


Então está na hora de difundir os autotestes, não só para cada um ver se está infectado, mas também para saber se teve covid-19 no passado?


Sem dúvida, é uma boa ideia passar a testar melhor a população, sobretudo agora, que estamos relaxando as medidas preventivas. Voltamos a ter grandes eventos públicos, como a recente Eurocopa do futebol, portanto precisamos de sistemas de alerta precoce. E os vacinados também devem ser testados, porque podem contagiar quem ainda não foi inoculado.

Mas também constatamos que ainda precisamos determinar quais anticorpos precisamos medir nos indivíduos. A maioria só apresenta certos tipos, então temos que aprender quais deles procurarmos, pois só aí será possível fazer uma triagem de longo prazo da covid-19.


Quantos desses casos não detectados podem ser "covid longa"?


É uma questão debatida. Ainda a estamos investigando no nosso estudo, e vai ser preciso um pouco mais de tempo, pois a definição de "covid longa" é seis meses após a infecção original. Mas o que sabemos é que, dos casos conhecidos, 10% desenvolvem covid-19 de longo prazo, e que em 10% destes – ou 1% do total – se trata de uma forma severa. Agora precisamos entender quantos dos casos assintomáticos são capazes de desenvolver a forma longa.


Há razão para se temer que, em jovens que tiveram covid-19 sem saber, os órgãos foram danificados, mas isso só vá ser constatado anos depois?


De fato, é o que tememos. Estamos nos perguntando se há uma assinatura molecular, algo que se possa medir no sangue, indicando que o paciente está a caminho de desenvolver a síndrome de covid longa. Mas ainda é uma questão de pesquisa, tudo o que estamos fazendo agora ainda é especulativo. Precisamos compilar mais dados para estarmos seguros de como abordar esses casos e identificá-los.

Mas, sim, o nosso temor é que, mesmo após infecções assintomáticas ou brandas, alguns pacientes estejam arriscados de desenvolver covid de longo prazo.


Fonte:

DW