Em certos pacientes,
sequelas da covid-19 só aparecem meses depois da infecção original. Ao mesmo
tempo, estudo alemão indica que percentagem dos assintomáticos seja bem mais
alta do que se pensa. DW entrevista.
Entre as grandes incógnitas que
cercam a pandemia de covid-19, estão os casos assintomáticos. O que impede que
certos indivíduos desenvolvam patologias após se contagiarem com o novo
coronavírus? Seus casos contêm conclusões que possam ser úteis aos demais
pacientes?
Contudo ser assintomático talvez
não seja sempre uma bênção. O estudo Gutenberg Covid-19 da Universidade de
Medicina de Mainz, Alemanha, se ocupa não só dos efeitos diretos da pandemia,
mas seu impacto maior sobre a saúde pública.
Uma de suas constatações é que o
número de casos não identificados seria bem maior de que se pensava. E estes
também podem estar sujeitos a complicações tardias e duradouras da infecção
original, em parte graves – a assim chamada "covid longa".
A DW entrevistou o chefe do
projeto Gutenberg Covid-19, o professor de epidemiologia clínica da
Universidade de Mainz Philipp Wild, sobre essa nova vertente de investigação
sobre a pandemia:
"Voltamos a ter grandes
eventos públicos, portanto precisamos de sistemas de alerta precoce. Estamos
nos perguntando se há uma assinatura molecular, algo que se possa medir no
sangue, indicando que o paciente está a caminho de desenvolver a síndrome de
covid longa."
DW: Como o senhor e sua equipe
determinaram que mais de 40% da população da Alemanha não se dá conta de que
tem covid-19?
Philipp Wild: Selecionamos uma amostra de voluntários proporcional à
população alemã e lhes perguntamos se haviam tido uma infecção com o novo
coronavírus com distância de dois, quatro meses. Fizemos com eles um teste de
PCR, e medimos seus anticorpos, os quais indicam se houve uma infecção,
independente de a pessoa ter sido vacinada.
E vocês acompanharam mais de
10 mil voluntários por um período de seis meses.
Exato. A maioria dos casos não
conhecidos era entre os os mais idosos: 63%, ou quase dois terços, dos
participantes maiores de 75 anos. Entre os de 25 a 30 anos, só um terço tivera
infecções não detectadas.
Então está na hora de difundir os
autotestes, não só para cada um ver se está infectado, mas também para saber se
teve covid-19 no passado?
Sem dúvida, é uma boa ideia passar
a testar melhor a população, sobretudo agora, que estamos relaxando as medidas
preventivas. Voltamos a ter grandes eventos públicos, como a recente Eurocopa
do futebol, portanto precisamos de sistemas de alerta precoce. E os vacinados
também devem ser testados, porque podem contagiar quem ainda não foi inoculado.
Mas também constatamos que ainda
precisamos determinar quais anticorpos precisamos medir nos indivíduos. A
maioria só apresenta certos tipos, então temos que aprender quais deles
procurarmos, pois só aí será possível fazer uma triagem de longo prazo da
covid-19.
Quantos desses casos não detectados
podem ser "covid longa"?
É uma questão debatida. Ainda a
estamos investigando no nosso estudo, e vai ser preciso um pouco mais de tempo,
pois a definição de "covid longa" é seis meses após a infecção
original. Mas o que sabemos é que, dos casos conhecidos, 10% desenvolvem
covid-19 de longo prazo, e que em 10% destes – ou 1% do total – se trata de uma
forma severa. Agora precisamos entender quantos dos casos assintomáticos são
capazes de desenvolver a forma longa.
Há razão para se temer que, em
jovens que tiveram covid-19 sem saber, os órgãos foram danificados, mas isso só
vá ser constatado anos depois?
De fato, é o que tememos. Estamos
nos perguntando se há uma assinatura molecular, algo que se possa medir no
sangue, indicando que o paciente está a caminho de desenvolver a síndrome de
covid longa. Mas ainda é uma questão de pesquisa, tudo o que estamos fazendo
agora ainda é especulativo. Precisamos compilar mais dados para estarmos
seguros de como abordar esses casos e identificá-los.
Mas, sim, o nosso temor é que,
mesmo após infecções assintomáticas ou brandas, alguns pacientes estejam
arriscados de desenvolver covid de longo prazo.
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