A gigante das telecomunicações chinesa Huawei afirma neste sábado (25) que irá se "defender" contra as alegações dos Estados Unidos de que contornava as sanções contra o Irã. A declaração ocorre após o anúncio de um acordo na Justiça americana que permitiu a libertação de Meng Wanzhou, diretora financeira e filha do fundador do grupo. Ela passou quase três anos detida no Canadá. Pequim libertou, por sua vez, dois canadenses que sofreram retaliações nesse imbróglio jurídico-diplomático.
Meng Wanzhou foi libertada na sexta-feira (24) da prisão domiciliar que cumpria no Canadá no âmbito de um julgamento de extradição para os Estados Unidos, que a acusava de fraude bancária, após um acordo alcançado entre as partes para "adiar" as diligências judiciais. Uma juíza canadense encerrou o processo de extradição contra a executiva e ordenou o levantamento de suas condições de fiança, colocando fim a uma saga legal de quase três anos. Meng embarcou rapidamente com destino à cidade chinesa de Shenzhen.
Logo depois, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou a libertação de dois cidadãos canadenses que estavam presos na China desde o final de 2018. As detenções de Michael Kovrig, ex-diplomata em posto em Pequim, e Michael Spavor, um especialista na Coreia do Norte, sempre foram consideradas por Ottawa como uma retaliação pela prisão de Meng.
Acordo
A decisão da presidente adjunta da Corte Suprema da Columbia Britânica, Heather Holmes, foi tomada depois que a defesa de Meng chegou a um acordo de adiamento do processo legal com o Departamento de Justiça dos EUA para evitar acusações de fraude por graves crimes. Anteriormente, o Tribunal Federal do Brooklyn havia dado aval a este acordo, a fim de acabar com o imbróglio judicial que complicou as relações entre as duas potências.
O governo dos Estados Unidos propôs "adiar" o processo contra a empresária até o final de 2022 se antes de 1º de dezembro o pacto não for impugnado ou rompido. A partir dessa data, as autoridades dos EUA retirarão todas as acusações.
Segundo a advogada do governo, Nicole Boeckmann, a acusada admitiu ter desempenhado um "papel fundamental" no esquema financeiro que a Huawei orquestrou para poder continuar a fazer negócios com o Irã e contornar as sanções impostas por Washington ao país. Meng respondeu em chinês às perguntas da juíza do Tribunal Federal do Brooklyn, Ann M. Donnellya, durante uma vídeochamada.
Saga de três anos
Meng Wanzhou, de 49 anos, filha do fundador da Huawei Ren Zhengfei, foi detida em 1º de dezembro de 2018 no aeroporto canadense de Vancouver a pedido de Washington. A Justiça americana a acusou de ter mentido para um executivo do banco HSBC durante uma reunião em Hong Kong em 2013 sobre os vínculos entre o grupo chinês e uma subsidiária chamada Skycom que vendia equipamentos para o Irã. A empresária sempre negou as acusações das autoridades dos EUA. A defesa acusou repetidamente funcionários canadenses e norte-americanos de "abuso" processual e pediu sua libertação.
Dias após a prisão de Meng no Canadá, a China deteve o empresário canadense Michael Spavor – que em agosto foi condenado a 11 anos de prisão por espionagem e roubo de documentos confidenciais de Estado – e o ex-diplomata Michael Kovrig, provocando uma séria crise diplomática entre Pequim e Ottawa.
Logo após a notícia da soltura de Meng e sua partida para a China, Trudeau anunciou que Pequim havia libertado os dois canadenses. "Há 12 minutos, o avião que transporta Michael Kovrig e Michael Spavor deixou o espaço aéreo chinês e se dirigia ao Canadá", informou o premiê em entrevista coletiva.
Sanções
Pequim acredita que o governo dos Estados Unidos, então liderado por Donald Trump, buscava sobretudo enfraquecer a Huawei, empresa chinesa líder mundial em equipamentos e redes 5G, sem equivalente do lado americano.
Desde 2019, a Huawei tem sido objeto de sanções do governo dos EUA, que a acusou de espionagem em seus telefones em favor da China.
Desde então, a companhia chinesa não pode acessar tecnologias americanas para seus produtos, como o sistema operacional Android, de propriedade do Google e usado por quase todos os fabricantes de smartphones, exceto a Apple. Devido às sanções, a Huawei também não pode acessar certos componentes para suas redes e smartphones.
O resultado é que o grupo chinês foi expulso do pódio global de fabricantes de smartphones, após chegar a ultrapassar brevemente a Samsung e a Apple. No final de 2020, a Huawei estava em sexto lugar em termos de vendas. No primeiro trimestre deste ano, suas vendas na China caíram 50% no comparativo anual, de acordo com a firma de análises Canalys.
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