terça-feira, 19 de setembro de 2023

LEIA A ÍNTEGRA DO DISCURSO DE LULA NA ASSEMBLEIA-GERAL DA ONU

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Leia a íntegra do discurso do presidente Lula na 78ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira (19). Seguindo a tradição, o Brasil abre anualmente uma das mais importantes reuniões de líderes mundiais.

Meus cumprimentos ao Presidente da Assembleia Geral, embaixador Dennis Francis, de Trinidad e Tobago. É uma satisfação ser antecedido pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Saúdo cada um dos chefes de Estado e de governo e delegadas e delegados presentes.

Presto minha homenagem ao nosso compatriota Sérgio Vieira de Mello e 21 outros funcionários desta organização, vítimas do brutal atentado em Bagdá, há 20 anos. Desejo igualmente expressar minhas condolências às vítimas do terremoto no Marrocos e das tempestades que atingiram a Líbia.

A exemplo do que ocorreu recentemente no estado do Rio Grande do Sul, no meu país, essas tragédias ceifam vidas e causam perdas irreparáveis. Nossos pensamentos e orações estão com todas as vítimas e seus familiares.

Senhoras e senhores, há vinte anos, ocupei esta tribuna pela primeira vez.

E disse, naquele 23 de setembro de 2003:

"Que minhas primeiras palavras diante deste Parlamento Mundial sejam de confiança na capacidade humana de vencer desafios e evoluir para formas superiores de convivência"

Volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na humanidade.

Naquela época, o mundo ainda não havia se dado conta da gravidade da crise climática.

Hoje, ela bate às nossas portas, destroi nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimentos a nossos irmãos, sobretudo os mais pobres.

A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã.

O mundo está cada vez mais desigual.

Os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade.

O destino de cada criança que nasce neste planeta parece traçado ainda no ventre de sua mãe.

A parte do mundo em que vivem seus pais e a classe social à qual pertence sua família irão determinar se essa criança terá ou não oportunidades ao longo da vida.

Se irá fazer todas as refeições ou se terá negado o direito de tomar café da manhã, almoçar e jantar diariamente.

Se terá acesso à saúde, ou se irá sucumbir a doenças que já poderiam ter sido erradicadas.

Se completará os estudos e conseguirá um emprego de qualidade, ou se fará parte da legião de desempregados, subempregados e desalentados que não para de crescer.

É preciso antes de tudo vencer a resignação, que nos faz aceitar tamanha injustiça como fenômeno natural.

Para vencer a desigualdade, falta vontade política daqueles que governam o mundo.

Senhores e senhoras

Se hoje retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia em meu país.

A democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão.

A esperança, mais uma vez, venceu o medo.

Nossa missão é unir o Brasil e reconstruir um país soberano, justo, sustentável, solidário, generoso e alegre.

O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo.

Como não me canso de repetir, o Brasil está de volta.

Nosso país está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais.

Resgatamos o universalismo da nossa política externa, marcada por diálogo respeitoso com todos.

A comunidade internacional está mergulhada em um turbilhão de crises múltiplas e simultâneas: a pandemia da Covid-19; a crise climática; e a insegurança alimentar e energética ampliadas por crescentes tensões geopolíticas.

O racismo, a intolerância e a xenofobia se alastraram, incentivadas por novas tecnologias criadas supostamente para nos aproximar.

Se tivéssemos que resumir em uma única palavra esses desafios, ela seria desigualdade.

A desigualdade está na raiz desses fenômenos ou atua para agravá-los.

A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento – a Agenda 2030 – pode se transformar no seu maior fracasso.

Estamos na metade do período de implementação e ainda distantes das metas definidas.

A maior parte dos objetivos de desenvolvimento sustentável caminha em ritmo lento.

O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado.

Nesses sete anos que nos restam, a redução das desigualdades dentro dos países e entre eles deveria se tornar o objetivo-síntese da Agenda 2030.

Reduzir as desigualdades dentro dos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio.

No Brasil, estamos comprometidos a implementar todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível.

Queremos alcançar a igualdade racial na sociedade brasileira por meio de um décimo oitavo objetivo que adotaremos voluntariamente.

Lançamos o plano Brasil sem Fome, que vai reunir uma série de iniciativas para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar.

Entre elas, está o Bolsa Família, que se tornou referência mundial em programas de transferência de renda para famílias que mantêm suas crianças vacinadas e na escola.

Inspirados na brasileira Bertha Lutz, pioneira na defesa da igualdade de gênero na Carta da ONU, aprovamos a lei que torna obrigatória a igualdade salarial entre mulheres e homens no exercício da mesma função.

Combateremos o feminicídio e todas as formas de violência contra as mulheres.

Seremos rigorosos na defesa dos direitos de grupos LGBTQI+ e pessoas com deficiência.

Resgatamos a participação social como ferramenta estratégica para a execução de políticas públicas.

Senhor presidente

Agir contra a mudança do clima implica pensar no amanhã e enfrentar desigualdades históricas.

Os países ricos cresceram baseados em um modelo com altas taxas de emissões de gases danosos ao clima.

A emergência climática torna urgente uma correção de rumos e a implementação do que já foi acordado.

Não é por outra razão que falamos em responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

São as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelas perdas e danos causados pela mudança do clima.

Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera.

Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo.

No Brasil, já provamos uma vez e vamos provar de novo que um modelo socialmente justo e ambientalmente sustentável é possível.

Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo.

87% da nossa energia elétrica provem de fontes limpas e renováveis.

A geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel cresce a cada ano.

É enorme o potencial de produção de hidrogênio verde.

Com o Plano de Transformação Ecológica, apostaremos na industrialização e infraestrutura sustentáveis.

Retomamos uma robusta e renovada agenda amazônica, com ações de fiscalização e combate a crimes ambientais.

Ao longo dos últimos oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira já foi reduzido em 48%.

O mundo inteiro sempre falou da Amazônia. Agora, a Amazônia está falando por si.

Sediamos, há um mês, a Cúpula de Belém, no coração da Amazônia, e lançamos nova agenda de colaboração entre os países que fazem parte daquele bioma.

Somos 50 milhões de sul-americanos amazônidas, cujo futuro depende da ação decisiva e coordenada dos países que detêm soberania sobre os territórios da região.

Também aprofundamos o diálogo com outros países detentores de florestas tropicais da África e da Ásia.

Queremos chegar à COP 28 em Dubai com uma visão conjunta que reflita, sem qualquer tutela, as prioridades de preservação das bacias Amazônica, do Congo e do Bornéu-Mekong a partir das nossas necessidades.

Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade.

A promessa de destinar 100 bilhões de dólares – anualmente – para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa.

Hoje esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares.

Senhor presidente

O princípio sobre o qual se assenta o multilateralismo – o da igualdade soberana entre as nações – vem sendo corroído.

Nas principais instâncias da governança global, negociações em que todos os países têm voz e voto perderam fôlego.

Quando as instituições reproduzem as desigualdades, elas fazem parte do problema, e não da solução.

No ano passado, o FMI disponibilizou 160 bilhões de dólares em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas 34 bilhões para países africanos.

A representação desigual e distorcida na direção do FMI e do Banco Mundial é inaceitável.

Não corrigimos os excessos da desregulação dos mercados e da apologia do Estado mínimo.

As bases de uma nova governança econômica não foram lançadas.

O BRICS surgiu na esteira desse imobilismo, e constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes.

A ampliação recente do grupo na Cúpula de Joanesburgo fortalece a luta por uma ordem que acomode a pluralidade econômica, geográfica e política do século 21.

Somos uma força que trabalha em prol de um comércio global mais justo num contexto de grave crise do multilateralismo.

O protecionismo dos países ricos ganhou força e a Organização Mundial do Comércio permanece paralisada, em especial o seu sistema de solução de controvérsias.

Ninguém mais se recorda da Rodada do Desenvolvimento de Doha.

Nesse ínterim, o desemprego e a precarização do trabalho minaram a confiança das pessoas em tempos melhores, em especial os jovens.

Os governos precisam romper com a dissonância cada vez maior entre a "voz dos mercados" e a "voz das ruas".

O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias.

Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos.

Em meio aos seus escombros surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas.

Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário.

Repudiamos uma agenda que utiliza os imigrantes como bodes expiatórios, que corrói o Estado de bem-estar e que investe contra os direitos dos trabalhadores.

Precisamos resgatar as melhores tradições humanistas que inspiraram a criação da ONU.

Políticas ativas de inclusão nos planos cultural, educacional e digital são essenciais para a promoção dos valores democráticos e da defesa do Estado de Direito.

É fundamental preservar a liberdade de imprensa.

Um jornalista, como Julian Assange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima.

Nossa luta é contra a desinformação e os crimes cibernéticos.

Aplicativos e plataformas não devem abolir as leis trabalhistas pelas quais tanto lutamos.

Ao assumir a presidência do G20 em dezembro próximo, não mediremos esforços para colocar no centro da agenda internacional o combate às desigualdades em todas as suas dimensões.

Sob o lema "Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável", a presidência brasileira vai articular inclusão social e combate à fome; desenvolvimento sustentável e reforma das instituições de governança global.

Senhor presidente,

Não haverá sustentabilidade nem prosperidade sem paz.

Os conflitos armados são uma afronta à racionalidade humana.

Conhecemos os horrores e os sofrimentos produzidos por todas as guerras.

A promoção de uma cultura de paz é um dever de todos nós. Construí-la requer persistência e vigilância.

É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças.

Bem o demonstra a dificuldade de garantir a criação de um Estado para o povo palestino.

A este caso se somam a persistência da crise humanitária no Haiti, o conflito no Iêmen, as ameaças à unidade nacional da Líbia e as rupturas institucionais em Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger e Sudão.

Na Guatemala, há o risco de um golpe, que impediria a posse do vencedor de eleições democráticas.

A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU.

Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz.

Mas nenhuma solução será duradoura se não for baseada no diálogo.

Tenho reiterado que é preciso trabalhar para criar espaço para negociações.

Investe-se muito em armamentos e pouco em desenvolvimento.

No ano passado os gastos militares somaram mais de 2 trilhões de dólares.

As despesas com armas nucleares chegaram a 83 bilhões de dólares, valor vinte vezes superior ao orçamento regular da ONU.

Estabilidade e segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade.

A ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo.

A comunidade internacional precisa escolher:

De um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito.

De outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz.

As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados.

Além de não alcançarem seus alegados objetivos, dificultam os processos de mediação, prevenção e resolução pacífica de conflitos.

O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo.

Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria.

O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade.

Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime.

Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia.

Senhoras e senhores

A desigualdade precisa inspirar indignação.

Indignação com a fome, a pobreza, a guerra, o desrespeito ao ser humano.

Somente movidos pela força da indignação poderemos agir com vontade e determinação para vencer a desigualdade e transformar efetivamente o mundo a nosso redor.

A ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno.

Mas só o fará se seus membros tiverem a coragem de proclamar sua indignação com a desigualdade e trabalhar incansavelmente para superá-la.

Muito obrigado.

Fonte:

MSN

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

NOVO PAC DIRECIONA MAIS INVESTIMENTOS PARA A INDÚSTRIA DE DEFESA DO QUE PARA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA E SAÚDE.


Nota da Abed, Anpocs e Abcp sobre o Novo PAC (2023):

No dia 11 de agosto o presidente Lula da Silva lançou o Novo PAC. O tema foi ofuscado pelas notícias sobre o escândalo das joias recebidas e vendidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Nós, cientistas sociais, acompanhamos com interesse especial o evento e, de imediato, sentimos que a Nação precisa de explicações. O Novo PAC prevê investir R$ 52,8 bilhões na inovação da indústria de Defesa, mais do que em Educação, Ciência e Tecnologia (R$ 45 bilhões) e Saúde (R$ 30,5 bilhões). Também temos acompanhado atentamente os desdobramentos do envolvimento indevido de militares das Forças Armadas em atividades políticas alheias à sua destinação constitucional.


A precariedade do controle civil sobre as instituições militares é lembrada há muito por especialistas, acadêmicos ou não, bem como o desinteresse do governo em esclarecer seus planos de Defesa Nacional deixando esta tarefa aos quarteis. Durante a transição de governo foram criados 37 grupos de trabalho em áreas estratégicas. Sintomaticamente, não houve grupo de trabalho sobre a Defesa, tema mantido como tabu em todos os governos da Nova República. Nunca tivemos esclarecimentos sobre essa ausência, que ao final diz muito.


Nos primeiros meses de 2023, o Governo estabeleceu diretrizes em setores relevantes da vida nacional, a exemplo da Economia, da Saúde e da Educação. Ainda não o fez, contudo, em relação à Defesa Nacional, que carece de visão de futuro capaz de articular recursos humanos e materiais à luz de um plano de Defesa Nacional orientado para o futuro. Enquanto isso, as Forças Armadas são mantidas como corporações insuladas, mas passíveis de serem acionadas por interesses políticos e corporativos. Não prestam satisfação ao poder civil.


Cabe ao Executivo e ao Legislativo decidirem sobre a formação dos militares e a construção de uma base logística de Defesa apta a sustentar o emprego da força. O que se nota, contudo, é mais insulamento e maior poder de barganha junto ao Executivo que não dá explicações convincentes sobre o tratamento privilegiado dado às Forças Armadas.


O orçamento destinado hoje às Forças Armadas não é compatível com a construção de uma sociedade democrática. Entendemos que a melhor Defesa Nacional é um povo bem-educado e com saúde. Depois da experiência catastrófica do governo anterior, esperava-se do governo atual mais ousadia para lidar com o tema das Forças Armadas, ou seja, colocar em prática a ideia basilar de que o poder das Forças Armadas deve ser definido pela autoridade civil. O governo não pode continuar refém de uma instituição marcada pela tradição golpista.


A eleição de Lula da Silva para um terceiro mandato alimentou esperanças de democracia em muitos setores. Alimentou e entregou. Atravessou o cabo das tormentas. Na área de militar, contudo, continuamos sob mesmo padrão desde o governo José Sarney. Isto é, autonomia militar. Até quando?

Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED),

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS),

Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP).

Fonte:

ABEDEF

quarta-feira, 9 de agosto de 2023

NOVO ENSINO MÉDIO: MEC PROPÕE AUMENTAR CARGA HORÁRIA DE DISCIPLINAS BÁSICAS OBRIGATÓRIAS - VEJA AS DEMANDAS E AS PROPOSTAS DO MEC

 


MEC apresenta sumário dos resultados da consulta pública

Dados foram coletados no período de 9 de março a 6 de julho, durante a Consulta Pública para Avaliação e Reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio.

Ministério da Educação (MEC) divulgou, nesta segunda-feira, 7 de agosto, em coletiva de imprensa, o sumário com os principais resultados da Consulta Pública para Avaliação e Reestruturação da Política Nacional de Ensino MédioA cerimônia de apresentação, conduzida pelo Ministro de Estado de Educação, Camilo Santana, ocorreu na Sala de Atos do MEC, em Brasília (DF). Também compuseram a mesa o secretário de Articulação Intersetorial e com os Sistemas de Ensino, Maurício Holanda Maia, e o diretor de Programa da Secretaria Executiva, Gregório Grisa.  

O documento apresenta os principais aspectos da consulta pública, que foram divididos em 12 núcleos de resultados: carga horária; organização curricular; Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); equidade educacional, direitos humanos e participação democrática dos estudantes; educação a distância (EaD); infraestrutura; educação profissional tecnológica (EPT); formação e valorização dos professores; política de permanência; tempo integral; avaliação; e papel do MEC.  

Durante a apresentação do sumário, Camilo Santana destacou a importância da construção de uma política pública a várias mãos, principalmente com a participação dos entes federados. De acordo com o Ministro, esse foi um dos grandes erros da implementação do atual ensino médio, e que a atual gestão do MEC tem buscado corrigir. “O que estamos fazendo agora é corrigir, aperfeiçoar e melhorar o ensino médio. Nós queremos dar mais oportunidade aos nossos jovens, ouvindo professores, alunos, especialistas, técnicos e secretários de Educação”, afirmou.  

Próximos passos – O documento apresentado será encaminhado para apreciação do setor educacional e dos órgãos normativos, de modo que, até o dia 21 de agosto, possam enviar suas considerações para o MEC consolidar as propostas na versão final do relatório, que será enviado para apreciação do Congresso Nacional. “É importante frisar que essa é a proposta do MEC, fruto da consulta pública. Nós não queremos construir nada sem diálogo, por isso queremos elaborar um documento com consenso em relação ao aperfeiçoamento e às mudanças necessárias para melhorar a qualidade da educação do ensino médio no Brasil”, explicou. 

As propostas do MEC para o ensino médio também serão apresentadas para as Comissões de Educação da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, para que possam contribuir com o relatório final, com base nas informações coletadas em audiências públicas realizadas pelas casas legislativas.   

Entidades – Presidentes de algumas entidades educacionais ligadas à educação básica também estavam presentes no anúncio: Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed); Fórum Nacional de Educação (FNE); Fórum Nacional dos Conselho Estaduais Distrital de Educação (Foncede); Conselho Nacional de Educação (CNE); e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Antes da coletiva de imprensa, o Ministro Camilo Santana e sua equipe apresentaram o sumário ao grupo, em primeira mão. “Durante os quatro meses da consulta, essas entidades estiveram junto ao MEC promovendo esse debate necessário, em mais uma iniciativa de participação social e democrática. Agora, vamos nos debruçar sobre os dados para, juntos, construirmos uma proposta para a Política Nacional de Ensino Médio”, declarou. 

Consulta pública – As informações do sumário foram coletadas no período de 9 de março a 6 de julho, durante a Consulta Pública para Avaliação e Reestruturação da Política Nacional de EnsinoMédio. A iniciativa teve o objetivo de ouvir a sociedade e a comunidade educacional para a coleta de subsídios que contribuíssem para a tomada de decisões do MEC sobre os atos normativos que regulamentam o ensinomédio.        

A consulta pública contou com as seguintes ações: coleta pública de contribuições, por meio da Plataforma Participa + Brasil; Ciclo de Webinários com Especialistas; Ciclo de Seminários “Diálogos sobre a educação básica – ensino médio”, com a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd); consulta on-line com estudantes, professores e gestores; oficinas de pesquisas regionais; pesquisa presencial representativa; revisão sistemática de produção científica sobre o tema; seminário presencial com estudantes; audiências públicas com FNE, Consed, CNE e Foncede, além de um ciclo de reuniões com entidades ligadas ao Fórum.  

Sumário Executivo Portaria nº 399, de 8 de março de 2023, que institui a consulta pública para a avaliação e reestruturação da Política Nacional de Ensino Médio.












Fonte:

terça-feira, 8 de agosto de 2023

CIENTISTAS BRASILEIRAS TRAZEM NOVAS PESQUISAS SOBRE CÂNCER DE CABEÇA E PESCOÇO: COMO SABER SE HÁ METÁSTASE ANTES DE OPERAR?

Imagem: iStock

Pode ser na cavidade oral — nos lábios, na língua, na parte interna das bochechas, no palato — ou nos seios da face, na nasofaringe, na laringe e nas glândulas salivares, por exemplo. Juntos, os tumores de cabeça e pescoço são o oitavo tipo de câncer mais frequente em todo o mundo. No Brasil, de janeiro até o final deste ano, o INCA (Instituto Nacional do Câncer) estima que serão 22 mil novos casos.

O tratamento de toda essa gente, infelizmente, passa por algum grau de mutilação, quando o cirurgião extirpa a lesão maligna com uma margem generosa de tecido sadio junto para evitar que ela volte.

Essa volta, porém, tem um enorme risco de acontecer quando a doença já se disseminou por gânglios linfáticos espalhados pelas redondezas do pescoço. Eles seriam a primeira escala da longa viagem da metástase. Aí, infelizmente, a sobrevida do paciente cai pela metade.

Às vezes, só de apalpar a região, dá para o médico perceber os nódulos e, se é assim, ele não tem dúvida: o câncer já iniciou esse percurso. Mas, em muitos casos, não dá para ele sentir nada, mesmo com a doença já progredindo em outros territórios do corpo. Por isso, por segurança, como se não bastasse cortar um bom pedaço da região onde estava o tumor, o cirurgião precisa arrancar os vários gânglios do pescoço.

A operação, então, se torna maior ainda. As sequelas, possivelmente também. E muitas vezes sem necessidade. Mas como arriscar, não é mesmo? Melhor entregar todos os gânglios ao patologista para ele escrutiná-los e dizer se há metástase ou não.

Uma enorme dificuldade é que até hoje, ao contrário do que já acontece com muitos outros cânceres, não existem biomarcadores para tumores de cabeça e pescoço. Isto é, moléculas capazes de dar ao oncologista uma pista: se aquela lesão que ele está avaliando tem um melhor ou um pior prognóstico, se provavelmente já avançou até aqueles gânglios ou se está quieta, na dela.

Biomarcadores poderiam orientar o médico na decisão sobre a conduta, quem sabe até deixando aqueles gânglios em paz. E mais: em tese, poderiam se tornar até mesmo alvo de tratamentos mais eficazes amanhã ou depois.

Daí a importância de uma pesquisa brasileira que saiu no periódico científico Nature Communications, merecendo destaque de seus editores. Pois não é que pesquisadores do CNPEM — o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, em Campinas, no interior paulista, que é supervisionado pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação — foram atrás dos tais biomarcadores para o câncer de cabeça e pescoço? e quem procura acha. ainda mais quando resolve bisbilhotar a conversa entre as células.

O FUXICO CELULAR

Um tumor costuma dar no que falar. É grupinhos de células fofocassem a seu respeito. Ele seria o assunto da vez.

"A gente se comunica e nossas células também", explica Adriana Paes Leme. "A gente pega na mão do outro ou acena. As células podem encostar uma na outra ou podem interagir secretando determinadas moléculas." Interpretar o seu burburinho é que são elas! Exige equipamentos de altíssima tecnologia e ciência parruda.

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VIVA BEM - UOL

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

SBPC: A CIÊNCIA TEM PRESSA NA RECONSTRUÇÃO

Cerimônia de abertura da 75a Reunião Anual da SBPC. No centro da mesa, a ministra Luciana Santos (de blazer branco) e o professor da USP 

Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, à sua esquerda. Foto: Herton Escobar


Três ministros comparecem ao principal encontro dos cientistas brasileiros – o primeiro após os anos de obscurantismo. Presidente da entidade comemora, mas quer ação concreta: é preciso definir sem demora uma estratégia para a CT&I.

Entre 23 e 29 de julho, nos espaços da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) promoveu sua 75ª Reunião Anual – a primeira desde o fim do governo mais anti-ciência da história do país. 

Organizado com o mote “Ciência e democracia para um Brasil justo e desenvolvido”, o evento contou com a presença de três ministros do governo Lula. Ao prestigiarem o encontro, Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Camilo Santana (Educação) e Nísia Trindade (Saúde) marcam a tentativa da atual gestão de se aproximar da comunidade científica, que contrasta com o negacionismo e a truculência da anterior.

“A SBPC é apartidária, sempre dialoga com os governos, independentemente das posições, quando é para falar de política com P maiúsculo – ou seja, dos interesses da ciência, do Brasil e da democracia. Mas é verdade que o governo anterior foi muito negativo, especialmente nos ministérios da Saúde e Educação. Eles não fizeram nada a favor e fizeram várias coisas contra”, opinou o presidente da SBPC e ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro em entrevista ao Outra Saúde.

Mas para além da comemoração do fim de quatro anos de destruição nacional, um sentimento até mais presente nas mesas dos foi o de urgência da ação em prol da retomada. Ela envolve não só a retomada das condições de se fazer ciência no Brasil, mas o trabalho para transformar a face do país com essa ferramenta.

mesa com a ministra da Saúde foi uma das que abordou em mais detalhes as propostas do governo para essa reconstrução. Com o título de “Ciência, saúde e democracia: um projeto para o Brasil”, a intervenção de Nísia Trindade abarcou temas como os impactos da pandemia, a reconstrução do papel da ciência e tecnologia no MS, o financiamento de pesquisas estratégicas para o SUS e o fortalecimento do complexo industrial da saúde. A ministra também propôs a criação de um memorial das vítimas da covid-19.

Em comentário sobre a participação de Nísia, Janine Ribeiro avaliou que a ministra “é uma pessoa que conhece muito bem as questões da saúde e associa as qualidades de pesquisadora às de gestora”. Ele relatou também que o diálogo da SBPC com o ministério tem sido bastante fluido. O secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do ministério, Carlos Gadelha, é interlocutor de longa data da Sociedade, e está especialmente empenhado nesse movimento.

Um momento menos vistoso da reunião foi a conferência do ministro Camilo Santana, da Educação. Sua fala concentrou-se em uma exposição sobre o desmonte dos últimos anos, sem apresentar novidades relevantes,  As medidas apresentadas para a correção dos problemas foram de ordem genérica, pouco criativas, além de não abordarem uma das polêmicas mais acesas em seu campo: a revogação ou não da “reforma” do Ensino Médio.

Já o discurso da ministra Luciana Santos trouxe mais detalhes sobre a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, convocada pelo governo federal em decreto publicado no último dia 14. Das quatro edições anteriores do evento, três ocorreram nos governos de Lula – em 2004, 2006 e 2010 –, com as duas últimas sendo presididas pelo então ministro Sérgio Rezende. A ministra anunciou o retorno de Rezende à Conferência, na condição de secretário-geral de sua próxima edição.

A retomada da Conferência é considerada bem-vinda pela SBPC, mas Janine alerta que o governo não pode descansar nem por um segundo até lá. “A Conferência vai ocorrer quase na metade do mandato; o ministério não pode esperar por ela para definir suas políticas”, alertou o presidente da SBPC, que também apontou duas questões que não podem passar batido pelo encontro.

A primeira é a criação de uma nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. “A atual já venceu”, ele lembra, “e é preciso definir quais são os principais pontos em que o Brasil quer ter excelência e quais serão os atores desse processo”. O argumento da especialização já havia sido defendido por Janine e outros na mesa promovida pela Fiocruz no evento, “Ciência, tecnologia e inovação em em defesa da vida”.

Nela, o presidente da SBPC debateu com Helena Nader (Academia Brasileira de Ciências – ABC) e Pedro Wongtschowski (Mobilização Empresarial para a Inovação – MEI). Concluíram que o Complexo Industrial da Saúde é uma das iniciativas a partir das quais o país pode, com orientação e execução corretas, tornar-se uma liderança econômica e de inovação.

A segunda questão é a ordenação de um Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), acrescentou Janine Ribeiro. Desde 2016, está prevista a edição de uma lei federal que disponha sobre suas normas, e quase nada andou nesse sentido. O filósofo considera que “a definição detalhada tem que ser feita ainda esse ano” para que seja debatida em detalhes até a Conferência do ano que vem.

A participação da ministra da Ciência e Tecnologia na Reunião Anual da SBPC também ficou marcada pelo anúncio do investimento de R$ 3,6 bilhões em recursos para o Pró-Infra, o Programa de Recuperação e Expansão da Infraestrutura de Pesquisa Científica e Tecnológica em Universidades e Instituições de Ciência e Tecnológica. 

Segundo Luciana Santos, os editais da Finep que distribuirão esses recursos oferecerão R$ 300 milhões para “a consolidação e expansão da infraestrutura de pesquisa nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste” e R$ 500 milhões para a construção de “infraestrutura focada em temas prioritários para o desenvolvimento nacional”, como “saúde, defesa, transição energética, transição ecológica e transformação digital“.

As medidas anunciadas por ela sugerem passos em direção a um objetivo – não necessariamente compartilhado por todo o governo – de dar ao momento de reconstrução nacional um sentido mais amplo e ousado. Não se trata apenas de retorno à normalidade democrática, mas de convite à soma de esforços por um Brasil socialmente justo, economicamente desenvolvido e cientificamente soberano.

Janine acredita que a SBPC pode e deve fazer parte desse movimento. “A SBPC tem 170 sociedades científicas afiliadas. Isso dá um poder de articulação muito grande. Queremos fazer a discussão política e de pesquisa científica, temos essa legitimidade e esse conhecimento para contribuir para essa discussão”, afirmou.

Traçando um balanço geral do evento, Janine Ribeiro acredita que “a reunião foi bem-sucedida”. Em sua visão, “o ambiente foi muito eufórico, muito alegre, tivemos três ministros aqui, inclusive os titulares das pastas com maior orçamento no governo brasileiro [Saúde e Educação], e 15 mil crianças e adolescentes passando pelo campus, para ver os estandes”.

Enquanto sociedade, “o Brasil está realmente apostando de novo na ciência”, concluiu.

Fonte:

Outras Palavras