Os governadores vão se proteger, adotando em conjunto medidas restritivas à circulação de pessoas, para que possam agir e se defender em bloco dos ataques do bolsonarismo.
Não só do bolsonarista clássico, do racista e homofóbico, que não quer saber de contenções. Há uma classe média jovem mobilizada contra as restrições.
São egoístas disseminados por todo o país. Eles são personagens de uma questão ética que todos, governos, servidores da área da saúde e suas entidades, já deveriam estar debatendo.
É a situação criada pelo negacionista que enfrenta medidas restritivas, desafia leis e bom senso e faz festa, promove aglomerações e sabota qualquer medida com alguma tentativa de racionalidade.
A questão ética, límpida, transparente, sem nenhuma complexidade, é esta: o negacionista jovem sem limites está lotando as UTIs e ficando cada vez mais tempo sob cuidados intensivos. Ele toma o lugar de quem se cuidou.
Por falta de vagas, os hospitais estão fazendo escolhas admitidas pelos médicos em todo o Brasil. E nessas escolhas está acontecendo o seguinte.
Um trabalhador com mais de 60 anos, com alguma comorbidade, em situação crítica e perspectivas desalentadoras, se estiver na fila, vai perder o lugar na UTI para um jovem festeiro de 25 anos.
O trabalhador adotou todos os cuidados, mas usou quatro ônibus por dia para ir e voltar da fábrica e acabou sendo infectado pelos riscos que não consegue evitar.
O jovem festeiro, que não usa máscara, sofreu contágio numa das tantas baladas que frequentou. Os dois chegaram juntos ao hospital na disputa pela vaga na UTI. O trabalhador sairá perdendo, porque a chance será dada aos jovens.
Ninguém pretende sugerir que se pergunte a um baladeiro se ele é um negacionista amoral contumaz e se não está constrangido.
Mas as famílias de festeiros deveriam saber, pela voz dos médicos, que seus filhos estão matando trabalhadores por tomar suas vagas nas UTIs. São criminosos que sabem o que fazem nas gandaias da pandemia.
Esse dilema ético deveria ser explicitado dentro das unidades de saúde, em publicações, cartazes nas paredes, em falas, em conversas com os pacientes, para que não seja normalizado. As decisões silenciosas sobre a prioridade aos negacionistas são uma questão a ser enfrentada.
Vivemos tempos de apelos pela transparência em todas as áreas. A família de um trabalhador na fila da UTI deveria ser informada de que ele foi deslocado para a área de cuidados paliativos por uma escolha.
Ah, dirão, mas não pode. Deveria poder. A ética médica, que não mais esconde dos pacientes a perspectiva da morte inevitável, por admitir que essa informação é um direito de quem está em situação terminal, deveria arranjar um jeito de lidar explicitamente com as escolhas.
Os familiares dos que perderam a preferência podem se revoltar? Podem. Mas a escolha sigilosa, que esconde do paciente o fato de que ele foi preterido, é uma crueldade.
E uma brutalidade ainda maior quando o escolhido é um negacionista que não só se dedicava à propagação do vírus, como muitas vezes conspirava abertamente contra tudo o que tenta conter a disseminação da doença.
Os jovens sem escrúpulos potencializaram a transmissão da Covid-19 e tiveram contribuição decisiva para o caos dos hospitais. Os servidores da saúde estão salvando quem ataca os próprios servidores da saúde.
São essas figuras repulsivas que tomam os lugares dos trabalhadores na fila da UTI. Eles são a imagem do Brasil do bolsonarismo do vale tudo.
Os negacionistas talvez ainda não sejam, mas daqui a pouco podem ser maioria nas UTIs do Brasil, quando forem tomando o lugar dos idosos, porque são jovens e importantes para o futuro do país. Muitos deles são assumidamente fascistas.
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