domingo, 5 de julho de 2020

CÂMARA DE VEREADORES DE ITABUNA INSTITUI DIA DO MAÇOM NO CALENDÁRIO DE ITABUNA

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Ricardo Xavier, autor do projeto, destaca importância do reconhecimento ao papel social desempenhado pelos maçons

A partir deste ano, o dia 20 de agosto entrará no calendário de eventos de Itabuna como Dia Municipal do Maçom, com direito a sessão solene da Câmara de Vereadores. Recentemente aprovado no Legislativo, o projeto que institui a data comemorativa é de autoria do edil Ricardo Xavier (Cidadania), que é presidente da Casa, e contou com relatoria do edil Júnior Brandão (Rede).

Xavier destaca o quão valoroso é o reconhecimento à importância dos integrantes da maçonaria – instituição de indiscutível trabalho social e compromisso de décadas com o bem comum. 

Agora devidamente referendadas por lei, as solenidades e atividades comemorativas à data deverão ser comunicada aos poderes públicos e à sociedade organizada. E a organização do evento ficará a cargo das lojas maçônicas sediadas no município.

A exemplo de tantas filiais da centenária entidade em diversas partes do Brasil e do exterior, as lojas maçônicas itabunenses fazem jus à cultura de valores como honradez, liberdade e honestidade. Não mais legítimo, portanto, os festejos anuais pelo Dia do Maçom.

Câmara Municipal de Itabuna


sábado, 4 de julho de 2020

O NAZISMO E AS RAÍZES DO MAL EM ESTADO PURO (I).

O conservadorismo autoritário alemão e os homens da velha ordem nutriram o desapreço e radicalizaram as suas ações em combate à nova ordem, na qual triunfavam direitos fundamentais e o conjunto de liberdades.

Por Roberto Bueno

O conservadorismo autoritário alemão e os homens da velha ordem nutriram o desapreço e radicalizaram as suas ações em combate à nova ordem, na qual triunfavam direitos fundamentais e o conjunto de liberdades.

Nas primeiras linhas do rico e multifacetado O homem sem qualidades, encarnado em Ulrich, Robert Musil destacava o valor da pergunta “onde estou?”, proveniente de tempos remotos, não abandonando os homens sequer quando a pior tempestade do deserto cobre com densa poeira não apenas o longínquo horizonte como também milímetros logo a frente dos olhos interditando a percepção da realidade. A inquietante pergunta musiliana “onde estou?” permanece como via para superar a interdição ao real, mas para potencializá-la, acrescer o “onde estamos”. Cortemos aqui por um momento e retornemos no tempo quase um século, especificamente ao ano de 1933, primeiros dias da escalada do horror.

O nazismo formalizou a ascensão ao poder com a nomeação de Hitler para a Chancelaria em 30.01.1933 pelas mãos de Hindenburg. O nazismo prometeu revolução sistêmica para revivescer a derrotada Alemanha na campanha bélica de 1914-1918, todavia sob impacto das sombras da Revolução Russa de 1917 que se espraiavam sobre a Europa ameaçando o conservadorismo de direita, também pressionado pela emersão da República de Weimar traduzida no plano legal pela Constituição de 1919 sustentada por liberais e social-democratas.

O conservadorismo autoritário alemão e os homens da velha ordem nutriram o desapreço e radicalizaram as suas ações em combate à nova ordem, na qual triunfavam direitos fundamentais e o conjunto de liberdades. A eclosão deste universo em processo de densificação de forças ao longo da década de 1920 expandiu-se na prática e foi traduzida pela gramática da literatura de Musil (2014, p. 84-85), eis que “tudo isso foi abolido de um só golpe, sem que as mesmas pessoas tivessem movido um dedo sequer! Juraram. que sacrificariam suas vidas pelos seus princípios, e mal mexeram um dedo!” A debacle dos direitos e dos dispositivos constitucionais weimarianos logo seria acompanhado pela Ermächtigungsgesetz (Lei de Plenos Poderes) de 23.03.1933, comprovando a concentração de poderes da nova ordem nazista contando com apoio de massa de indivíduos enquanto outros, omissos, assistiam o terror instalar-se segundo a gramática de Musil, ou seja, sem mover um dedo sequer!

O conservadorismo autoritário alemão e os homens da velha ordem nutriram o desapreço e radicalizaram as suas ações em combate à nova ordem, na qual triunfavam direitos fundamentais e o conjunto de liberdades. A eclosão deste universo em processo de densificação de forças ao longo da década de 1920 expandiu-se na prática e foi traduzida pela gramática da literatura de Musil (2014, p. 84-85), eis que “tudo isso foi abolido de um só golpe, sem que as mesmas pessoas tivessem movido um dedo sequer! Juraram. que sacrificariam suas vidas pelos seus princípios, e mal mexeram um dedo!” A debacle dos direitos e dos dispositivos constitucionais weimarianos logo seria acompanhado pela Ermächtigungsgesetz (Lei de Plenos Poderes) de 23.03.1933, comprovando a concentração de poderes da nova ordem nazista contando com apoio de massa de indivíduos enquanto outros, omissos, assistiam o terror instalar-se segundo a gramática de Musil, ou seja, sem mover um dedo sequer!

O nazismo requer o desarme ou neutralização da inteligência dado o reconhecimento do fator cultural como linha de força articuladora de duríssima resistência aos propósitos de domínio e controle absoluto. Exitosa a iniciativa nazista, Musil (2014, p. 83) projetava dias difíceis em 1933, pois “Com uma prontidão sem par para o sacrifício, a Alemanha renunciou, em poucas semanas, a pesquisadores e eruditos entre os quais não há poucos que sejam insubstituíveis – [pelo menos] quando se leva em consideração os critérios que orientaram a vida espiritual durante séculos; e nenhum debate dessas condições de vida pode permanecer indiferente ao que aconteceu”. O nazismo liquidou a intelligentsia alemã e seus melhores frutos acumulados, como categorias filosóficas arraigadas na cultura e na vida ordinária, a exemplo dos imperativos éticos embebidos no pietismo, que não conviveriam com as práticas nazistas. Estas destruíam o núcleo duro do humano, enquanto a ética perpassada pela dimensão de religiosidade apoia a constituição de sentido e objetivos à vida, dimensão que Levi (1988, p. 71) admite estar “enraizada em cada fibra do homem; [que] é uma característica da substância humana”, contraditória com o propósito de dessubstancialização e final extermínio do homem.

As manipulações da propaganda nazista repercutiram profundamente na sociedade alemã, percebida em sua influência por Rosenfield (2015 p. 79) dado provocar “inúmeras mudanças imperceptíveis que se conjugavam numa reviravolta drástica das opiniões, da sensibilidade e dos gestos da vida cotidiana, refletindo os destinos de inúmeras relações sociais, amigáveis ou matrimoniais […]”. Não estava em causa a utilização da propaganda para apresentar ideias e ideais, mas para persuadir e incutir, de lança mão de instrumentos para falsificar fatos e ideologias e ganhar a adesão massiva para a implementação do projeto de poder totalitário.

O nazismo contou com a adesão explícita de muitos entusiastas e a obediência amedrontada dos restantes, espécie de “submissão diabólica à marcha indiferente do mundo” (MUSIL, v. II, p. 160), mas não sem a percepção de intelectuais como Klemperer (1999, p. 12) que anotou na entrada de seu diário em 14.01.1933 – uma quinzena antes da ascensão de Hitler ao poder em 30.01.1933 – que “É uma vergonha que a cada dia se torna pior. E todos se calam e baixam a cabeça, principalmente os judeus e sua imprensa democrática”. A submissão percebida por Musil preparou o terreno sobre o qual transitaria a missa fúnebre do povo alemão, fenômeno antecipado por Klemperer (1999, p. 14) ao decorrer dois meses do novo regime anotando em seu diário que “Ninguém ousa dizer nada, todos estão com medo”. Uma vez mais, a paralisia imposta aos indivíduos pela infusão do medo foi o dínamo que moveu a roda da máquina da morte sob o olhar contemplativo das forças que poderiam tê-la detido.

*Professor Associado da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Doutor em Filosofia do Direito (UFPR). Mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC). Mestre em Filosofia do Direito (UNIVEM). Especialista em Direito Constitucional e Ciência Política (Centro de Estudios Políticos y Constitucionales / Madrid). Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Direito (UnB) (2016-2019). Pós-Doutor em Filosofia do Direito e Teoria do Estado (UNIVEM).

BIBLIOGRAFIA

KLEMPERER, Viktor. Os diários de Viktor Klemperer. Testemunho de um judeu clandestino na Alemanha nazista. São Paulo: Objetiva, 1999.

LEVI, Primo. É isto um homem? Rio de Janeiro: Rocco, 1988.

Jornal GGN


RENATO FEDER: MAIS UM QUE VAI CAIR EM BREVE?

Renato Feder
Foto: Divulgação/Secretaria de Educação do Paraná

Empresa de Feder, cotado para o MEC, tem contratos com o governo federal.


Documentos obtidos pela CNN mostram que Renato Feder, cotado para assumir o Ministério da Educação, atuou como conselheiro administrativo de uma de suas empresas enquanto exercia o cargo de secretário estadual de Educação no Paraná. Os documentos também mostram que, desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, a Multilaser fechou dois contratos com o governo federal -- e ambos estão em vigor.

O primeiro, no valor de R$ 14,2 milhões, foi firmado em dezembro de 2019 e tinha como objetivo o fornecimento de mais de 28 mil tablets ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a realização do Censo 2020, que foi adiado por conta da pandemia da Covid-19.

Contrato da Multilaser com o governo federal

Contrato da Multilaser com o governo federal

Foto: Reprodução/Portal da Transparência


O último contrato da Multilaser com o governo federal, firmado com dispensa de licitação, foi assinado no dia 15 de maio deste ano e tinha como objetivo o fornecimento de mais de 100 mil máscaras cirúrgicas. O valor do contrato foi de R$ 313 mil e a pasta responsável pela compra foi o Ministério da Educação, a mesma que Renato Feder está cotado para comandar. 

Contrato da Multilaser com o governo federal

Contrato da Multilaser com o governo federal

Foto: Reprodução/Portal da Transparência

Maiores informações no site da CNN:


LOJA MAÇÔNICA 28 DE JULHO COMPLETA 50 ANOS DE FUNDAÇÃO!



MENSAGEM DO VENERÁVEL MESTRE

No dia em que celebramos o nosso Jubileu de Ouro muitos são os sentimentos que nos visitam, pois também são muitas e significativas as experiências que vivemos em nossa Loja e, a partir do que aprendemos com ela, como maçons na sociedade.

Acredito na Maçonaria como uma comunidade, ou seja uma unidade de propósitos na diversidade de pensar, agir e construir na sociedade.

Numa comum-unidade partilhamos, aprendemos, nos apoiamos, por vezes discordamos, mas tudo isso em torno de ideais comuns acerca do que seja o bem viver, a construção de uma sociedade melhor para todos ou, como denominamos, em nossa linguagem ritualística, a construção da "Grande Obra".

Foi nessa perspectiva da comum-unidade que a nossa Loja se tornou referência na Maçonaria. Ao longo dos anos, e a partir da colaboração de seus obreiros, ela desenvolveu e aperfeiçoou a formação do homem maçom, o fazer ritualístico (que é reconhecido nacionalmente), a interlocução com a comunidade, a ação filantrópica, a formação da juventude, entre tantas outras ações que temos como patrimônio imaterial da nossa Loja Maçônica 28 de Julho.

Se, por um lado, o reconhecimento diz que muito temos realizado, a inquietação e o espírito criativo e servidor dos obreiros da nossa Loja afirma que ainda há muito o que fazer.

Por isso, celebramos os nossos 50 anos reconhecendo e honrando esse meio século de contribuições  nos âmbitos maçônicos e social ao tempo em que pavimentamos o futuro com ações que fortalecem nossa identidade maçônica e buscam potencializar nossa presença na sociedade.

Exorto-os, meus amados irmãos, envolvidos pela Egrégora formada pela energia maçônica universal, a iniciar a construção de muitos e muitos novos anos de ação da Loja 28 de Julho com "espírito de sacrifício e amor à Maçonaria", sabedores que somos de que ela é comunidade, escola, areópago, templo, sem deixar de ser mãe acolhedora, que afaga e enxuga nossas lágrimas.

A Loja Maçônica 28 de Julho é fruto da busca por um ideal comum de Maçonaria e de sociedade, um modelo de ação que se pauta pela busca incessante pela Verdade, glorificando o Direito e a Justiça, tudo isso ao mesmo tempo em que oferece ao homem condições de aperfeiçoamento moral, filosófico e intelectual, sem esquecer de inseri-lo numa comunidade de vida onde ele possa aparar as arestas de suas imperfeições na lida imposta pelos desafios da convivência.

Parabéns Loja Maçônica 28 de Julho!



Parabéns aos seus obreiros, cunhadas, sobrinhas, sobrinhos e amigos da nossa instituição!

Nós hoje exaltamos a nossa história reafirmando o compromisso de continuar a ser uma instituição atenta aos desafios do nosso tempo, amparados pelo que, magnificamente, afirmam os ensinamentos do Rito Brasileiro quando diz que na conjugação da "Tradição e Evolução" encontraremos muitas das respostas às demandas da vida  sociedade.

Que o Supremo Arquiteto do Universo abençoe nossa Loja e conceda a todos nós a saúde e a proteção necessárias para que possamos continuar a fazer parte dela por muitos e muitos anos.

04/07/2020

Aniversário da Loja Maçônica 28 de Julho - Itabuna-BA.

Rafael Gama Moreira
Venerável Mestre
Loja Maçônica 28 de Julho
Gestão: 2019-2021


sexta-feira, 3 de julho de 2020

COM DESAFIO DA CHINA, EUA RETOMAM MODELO DE REGIMES MILITARES NA AMÉRICA LATINA

                               

OS EUA E A IMPOSIÇÃO DE REGIMES MILITARES NA AMÉRICA LATINA

Por Roberto Bueno*

Tenho insistido em sucessivos espaços que devemos observar a realidade tal como ela se põe aos nossos olhos como pré-requisito para que possamos intervir nela de forma eficaz, e nesta quadra da história estamos perante um dos maiores desafios que é o de enfrentar o regime militar que ascendeu pela via democrática mas cujo procedimento no poder é fugidio às regras que até ali o elevaram, com sobradas mostras de sua insubordinação às regras constitucionais a que qualquer governo eleito deve submeter-se.

O regime vem sucessivamente apresentando sensibilidade ao perfeito enquadramento ao regime constitucional, como se as barreiras dos direitos e garantias individuais e coletivas resultassem uma grande moléstia para o exercício do poder segundo a forma como o regime o concebe, ao que parece, liberto de travas de qualquer sorte.

O presente controle militar do Brasil não é uma novidade histórica, senão que representa a retomada de modelo de domínio norte-americano na América do Sul que remonta à doutrina de segurança nacional largamente aplicada no continente, por exemplo, na década de 1970.

Foi após a Guerra do Vietnã que ocorreu a elaboração da doutrina Nixon-Kissinger, cujos termos haviam sido inspirados pela percepção de quão imperioso era evitar os severos danos políticos impostos à política interna norte-americana, tal como ocorrera nos EUA em face das sucessivas perdas de vida naquele embate bélico, que ao final contaram-se às dezenas de milhares.

Sob esta premissa foi desenvolvida a doutrina Nixon-Kissinger cujo teor era o de evitar intervenções militares diretas nas suas áreas de interesse geopolítico mundo afora.

A síntese da doutrina é que os EUA passariam a instrumentalizar as forças armadas de seus países-satélite, realizando assim a defesa de seus interesses através destas forças armadas locais na qualidade de prepostos.

Para fins de legitimação seriam mobilizados recursos midiáticos e neles veiculados valores justificadores tais como a defesa da democracia, dos valores da sociedade ocidental, do cristianismo mas, de nenhum modo secundariamente, contra a anunciada grave ameaça do comunismo, identificado como grande inimigo universal ao qual dar combate sem tréguas em todas as latitudes, mas muito especialmente na zona de proteção máxima do império, a América Latina, cujas riquezas potencialmente sustentam o estilo de vida norte-americano.

Para a implementação da doutrina Nixon-Kissinger foram concebidas diversas estratégias como a implementação de convênios militares com os países-satélite, levando oficiais para treinamento em escolas militares do império, e também acordos comerciais para a venda de armamento com determinadas contrapartidas de interesse político do império, assim como acordos econômicos que carregavam fortemente os países contratantes da dívida, e que redundava tão somente em instrumento de imposição de dependência econômica que logo permitiria poder de barganha aos EUA para impor decisões geopolíticas e também em matéria de política interna de sua conveniência.

Sob este contexto de estratégias de domínio o Brasil era considerado naquela quadra da década de 1970 como um país estratégico na América do Sul para que a geopolítica na região e os interesses do império pudessem ser mais facilmente assegurados, percepção que bem é possível perceber que o Departamento de Estado reitera nos dias que correm.

Em suas profundezas a administração dos EUA está composta de longa data pelos interesses das grandes corporações transnacionais, que ali tem seus operadores e influencia fortemente no processo de tomadas de decisões de Estado.

A orientação da política externa dos EUA sempre esteve concatenada com os interesses destas grandes corporações transnacionais e a sua forma de efetivar-se na América do Sul ocorreu através da mobilização das Forças Armadas, cooptadas e adestradas como forma de torná-las operativas e eficientes o suficiente para o cumprimento da finalidade de realizar atividades repressivas.

Objetivamente foram tomados como alvos diretos os inimigos do Estado, assim classificados todos os indivíduos que adotassem posições contrárias aos interesses do império, vale dizer, o das grandes corporações transnacionais.

A oposição aos interesses do império poderia ser expressa através da adoção de diversas ações como foi observável no Brasil, na Argentina, no Uruguai, no Chile e tantos outros países latino-americanos onde as Forças Armadas agiram com brutal intuito repressivo e ultrapassando com sobras o mural da dignidade adentraram celeremente o território da criminalidade vitimadora da população civil, cujo único e grande ilícito sempre foi o de apresentar qualquer tipo de resistência, até mesmo quando exclusivamente o fizesse no plano intelectual, contra a alienação da soberania dos Estados latino-americanos.

Também como inimigos seriam considerados todos aqueles que nutrissem ideologia comunista, ou que professassem o desenvolvimentismo em matéria econômica, assim como se dedicassem a enfatizar a cultura autóctone, constitutiva de importante foco de unificação e resistência aos processos de colonização cultural, logo extensível ao domínio político com maior facilidade para obter a legitimação popular e aglutinação em torno a elementos comunitários e nacionais.

As Forças Armadas adestradas nas escolas militares do império foram sendo cooptadas ao longo do tempo por diversas formas, inclusive pela concessão de honrarias, com o objetivo de obter a sua adesão a ideologia e prestar os melhores serviços à política externa norte-americana, absoluta e exclusivamente voltada a proteção dos interesses de suas grandes corporações transnacionais, fenômeno claramente observado no Chile na década de 1970 com o golpe de Pinochet quanto o tinha sido em 1964 no golpe contra João Goulart no Brasil assim como também entre nós mais recentemente em 2016.

Os esforços para manter coesas estas forças equipadas com armas ademais de bem dispostas para as ações de repressão de sua própria gente podem reclamar sucessivas recompensas metálicas, especialmente em favor dos mais altos comandos.

É notável, contudo, que podemos divisar em horizonte impreciso e momento incerto, o esgotamento e cizânia interna, assim como conflito externo, quando aos olhos do público resulte de todo perceptível o tamanho descomunal dos privilégios atribuídos às Forças Armadas comparativamente a miséria a que seja relegada a população.

O mesmo raciocínio quanto a dissonância é possível aplicar a outra ordem de altos servidores do Estado, que foram também tomados como alvo de cooptação pelo poder imperial para realizar os seus propósitos. Estes atores não utilizam a farda mas mantém igual disciplina interna, e sob o uniforme preto compõem pretensamente a elite intelectual de servidores do Estado detendo alto poder de intervir nos rumos das políticas públicas.

Estes indivíduos formam eixo alimentado por atividades de inteligência sob o qual assenta a nova estrutura de apoio para os golpes de Estado bem como a posterior garantia de sua operatividade política e das alterações impostas à nova organização plutocrática do sistema econômico ainda sob a vigência de uma ordem constitucional que reclama alteração jurisprudencial para que não seja necessário substituí-la, portanto, realizando uma substituição de regime sem alterar as normas fundadoras do próprio regime.

O processo de captura do Estado e do objetivo final de expropriação de riquezas implica estratégias de entorpecimento de percepção da realidade.

Assim aos povos vão sendo suprimidas as circunstâncias de contato e fortalecimento de suas respectivas culturas, restando eles eventualmente mais próximos e mais facilmente acessando a cultura de Miami do que a de seus antepassados imediatos.

Este processo de colonização atingiu fortemente ao longo do tempo também as mais altas instâncias das Forças Armadas e aos poderes togados, restando prejudicadas as suas atividades em prol da defesa de políticas nacionalistas, quando não mesmo animados o suficiente para impedir a sua consecução, ainda quando tal seja a opção política inequivocamente expressa pelas urnas.

Aqui emerge a situação para a qual os principais atores das instituições foram oportunamente adestrados a reconhecer.

Apresentados a escolha de projetos políticos alheios a lógica pró-imperialista, percebem tratar-se da senha identificadora da presença do inimigo, e que a contradição política aos interesses econômicos das grandes corporações do império justificará plenamente a tomada de quaisquer medidas para a eliminação deste inimigo.

Estes altos postos do Estado foram sendo treinados para aspirar a implementação de modelo político alienígena em seus países de origem, desprezando as peculiaridades de sua gente, de suas experiências, de sua cultura e da íntegra dos valores que lhes caracteriza como povo.

A desarticulação substancial dos canais de conexão do povo com o poder no âmago de modelo político que deseja preservar as formas democráticas utiliza a estratégia da criminalização da esfera da política e de seus atores políticos.

Ao fazê-lo o sistema interdita aos legítimos representantes da vontade soberana da população, tomados como objetivos a desconectar dos meios de acesso ao poder decisório para assim distanciar a população do exercício da soberania.

O desprezo pela população facilita a tomada de decisões por parte de elite que aspira substituir qualquer representação popular por elite composta por burocratas treinados segundo parâmetros técnicos estrangeiros para implementar projeto político e econômico de matriz imperial em seus países, alegando refletir o superior estado da arte em todas as matérias quando nada mais representam do que douradas bombas de sucção.

O que resta evidente por trás destes movimentos é a intervenção de quadros nacionais no processo devido a interesses econômicos particulares que buscam a sua maximização aliando-se à elite internacional, prestando-se a orientar a política econômica interna dos países de que são nacionais para a mera extração de recursos em detrimento da implementação de processos desenvolvimentistas e criadores de melhores condições de vida para as suas populações.

No momento de aplicação deste modelo de política que engendra o real estrangulamento das populações nacionais, ipso facto, torna-se indispensável ter realizado a adequada preparação, treinamento e equipamento dos quadros repressivos do Estado para intervir e garantir a ordem pública sob o peso da machete, sombra das armas e apoio em gente capacitada para aplicar toda a sorte de violências, tortura incluída, tal como ocorreu tantas e repetidas vezes na história da América Latina também contando com o beneplácito dos tribunais e seu simbólico poder legitimador.

Todas estas e outras tantas alternativas de uso da força repressiva são concebidas no plano da factibilidade pela elite nacional e seus sócios internacionais, pois sob nenhum pretexto será admitida a retirada sequer de parcas fatias do bolo que os atores pretendem consumir a sós no pérfido conúbio de assaltantes vis.

Nada será percebido como estranho ou indesejável no que concerne a elevação do nível de violência pelo Estado quando esteja em causa a manutenção ou elevação dos benefícios derivados da expropriação de riquezas, sobretudo em tempos de guerra tais como o império praticamente nunca deixa de experimentar, embora aqueles em que enfrenta tão grave desafio como o atual que o contrapõe à China seja inusual.

Por este motivo toda sorte de políticos que apresentem como opção políticas nacionalistas e desenvolvimentistas ou que incluam o povo no orçamento devem sofrer severa persecução pelo aparato repressivo.

Neste sentido as forças do império devem manter mobilizadas as suas forças cooptadas em seus países-satélite governados por títeres para que não hesitem em dar curso ao massacre de sua gente de todas as formas possíveis para garantir o envio do máximo de riquezas para o império.

*Professor Associado da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Doutor em Filosofia do Direito (UFPR). Mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC). Mestre em Filosofia do Direito (UNIVEM). Especialista em Direito Constitucional e Ciência Política (Centro de Estudios Políticos y Constitucionales / Madrid). Professor Colaborador do Programa de Pós-Graduação em Direito (UnB) (2016-2019). Pós-Doutor em Filosofia do Direito e Teoria do Estado (UNIVEM).

Viomundo

quinta-feira, 2 de julho de 2020

"MORRA QUEM MORRER", A VELHA POLÍTICA ITABUNENSE EM SUA FORMA MAIS PURA.

*Por: João Nascimento

“Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova”. Esta frase de Mahatma Gandhi nunca fez tanto sentindo nos tempos atuais como está fazendo para os itabunenses durante essa pandemia.

Em um vídeo que circula nas redes sociais, o prefeito com mais mandatos da história de Itabuna, 05 no total, Fernando Gomes, propõem o seguinte raciocínio:

“Primeiro, lutar pela vida, a vida é uma só. [Depois que] morrer, acabou [a vida]. Não tem fortuna, não tem pobreza, não tem falência, não tem nada. Mas não posso abrir uma coisa que não tenho cobertura. Com a dúvida, com os nossos morrendo por causa de um leito em Itabuna, vou transferir essa abertura. No dia 8, mandei fazer o decreto, que no dia 9, abre, morra quem morrer”.

Alvo de muitas críticas após essas declarações, a assessoria de impressa de Fernando Gomes disse que a fala foi "má interpretada" pela população em geral e que não passou de um mal entendido. Mas, quem vive e convive com a realidade diária de Itabuna sabe que isso não é a verdade.

Todos os dias na cidade de Itabuna - durante a pandemia ou não - é nítido o descaso da atual gestão com a população. Bairros que faltam o mínimo de saneamento básico, ruas e avenidas esburacadas, hospital de base tratado como se fosse uma instituição qualquer, além de atrasos contínuos no pagamento dos servidores públicos são marcas carimbadas desse governo.

Infelizmente, foi a população que "foi chamar" Fernando e o elegeu com mais de 30 mil votos.

Itabuna não merece mais isso! No noticiário nacional, Itabuna só aparece levando notícias ruins.

É preciso mudar e esquecer essa velha política que "compra" a população com festas e só mostra serviço próximo a eleição! Precisamos crescer politicamente para o cenário estadual e nacional de forma positiva. E para que isso aconteça é preciso deixar de lado a velha política, juntamente aos velhos políticos.

*Texto de João Victor Santos do Nascimento, graduando em História pela UESC, membro e past - MC da Ordem DeMolay, capítulo 28 de julho.


OXE! COLÉ DE MERMO? VOCÊ FILA AULA E EU TENHO QUE CONTAR TUDO DE NOVO? MAS É NIUMA... A INDEPENDÊNCIA DA BAHIA EM BAIANÊS POR LOUTI BAHIA. SEM A VITÓRIA DA BAHIA, O BRASIL NÃO TERIA INDEPENDÊNCIA!



Oxe! Colé de mermo? Você fila aula e eu tenho que contar tudo de novo? Mas é niuma. 

Monumento ao 2 de julho. Imagem da Cabocla.

Se ligue que você não sabe da terça-metade. Tá ligado que a Família Real partiu a mil de Portugal pra cá em 1808? Vazou com medo de Napoleão e quando chegou, deu uma de porreta e chamou a gente de Reino Unido. Ficou todo mundo de boa e a gente comeu essa pilha. 

Tempo vai, tempo vem, rolou a crocodilagem: D. João VI e a Família Real partiram a mil de volta pra Portugal e ainda queriam que o Brasil voltasse a ser colônia. Aoooooooonde! 

Quem anda pra trás é caranguejo, mô pai. O povo se retô, pegô ar e o pau comeu. Aí, D. Pedro I, deu o zig na família e disse assim pra Portugal: “Quem vai é o coelho. Diga ao povo que fico!” Pô, véio, D. Pedro brocô. 

Mas aí, o bicho pegô. Portugal ficou virado no estopô e a gente recebeu a galinha pulano: as tropas de Madeira de Melo armaram uma bocada nas ruas de Salvador e foi aquela muvuca. Nosso povo lutou, mas ximbou e se lenhou: o exército português tomou a cidade na tora. 

O povo ficou injuriado e fugiu picado para o Recôncavo junto com nossos soldados. Lá, eles usaram o tutano pra organizar a reação: tiveram uma ideia massa e criaram o Exército Libertador. Tinha poucos soldados e muita gente do povo: pobres, negros libertos, negros escravizados, índios, agricultores, etc. Só tinha uma mulher que se alistou na cocó dizendo que era homem: Maria Quitéria de Jesus Medeiros. Já tinha pra mais de 10 mil pessoas, mas era tudo feito a migué: tinha poucas armas, ninguém sabia lutar, um mangue da porra. 




E eu falo mesmo que eu não sou baú: o exército de Portugal virado no diabo e a gente ia lutar de badogue e barandão? Aí é barril dobrado. Mas o povo tava na pilha e o couro comeu. Um barco português chegou em Cachoeira atirando e os baianos renderam eles a bordo de canoas. Ô povo retado! Ô povo virado no estopô. 

Enquanto isso, em Salvador, o exército português tava bagunçando, mandando e desmandando: uma esculhambação da porra. Foi então que eles invadiram o Convento da Lapa e mataram a Sóror Joana Angélica. Aí fedeu. Aí escancarou tudo. Eles foram fuleiro. A notícia deixou o povo agoniado e o Exército Libertador decidiu que ia arrodear Salvador. 

Joana Angélica - Wikiwand

Lá em Itaparica, o povo também deu testa ao exército português e não deixou invadir a ilha. Maria Felipa, uma negra retada, se juntou com mais 40 marisqueiras: elas ficaram de butuca e, na calada da noite, foram chavecar os vigias dos barcos. Levaram os donzelos pro mato e quando eles acharam que iam fazer ozadia, receberam foi uma surra de cansanção. Arde coma porra! É pior que tomar zunhada. Enquanto os vigias tavam nuzinhos, se coçando e se bulino, as mulheres colocaram fogo em mais de 40 barcos dos portugas. Receba, sinha miséra! 


Já nas águas da Baía de Todos os Santos e no Rio Paraguaçu, foi João das Botas que lutou contra mais de 40 barcos portugueses com sua “Flotilha Itaparicana” que só tinha barco de pescador. É brincadeira um esparro desse? Mas ele tirou onda e segurou os portugueses. 

Até então, a briga era essa: o povo baiano contra Portugal. Mas aí, D. Pedro entrou na dança e mandou reforço. Pra terra, ele contratou o general francês “Labativs” (se falar Labatut, use o “lá ele” porque Labatut tem rima). Ele chegou com mais soldados do resto do Brasil e deu um trato no nosso Exército Libertador. Um tapinha aqui, outro ali, mas tudo continuou meio nas coxas, feito a facão. Mas como a guerra já era daqui pra li, e como baiano é baiano: se não guenta vara, peça cacetinho. Só tem tu, vai tu mesmo: imagine a paletada de Cachoeira até Salvador. 

Já para o mar, D. Pedro contratou o Lord Cochrane (mas pode chamar de “Croquete” que é niuma). O cara era escocês e já tinha fama de mau lá nas Europa. Isso já assustou a marinha portuguesa: ponto pra D. Pedro. 

O Exército Libertador tinha muita garra mas pouca experiência. Chegou e cercou a cidade mas levou um baculejo daqueles do exército português. Foi na Batalha de Pirajá: os caras bagunharam a gente. Foi barril de mil. Nem dava pra brincar de esconde-esconde ou gritar “um, dois, três, salve todos”. Já era, pai! 

Só que o nosso Corneteiro Lopes recebeu uma ordem pra tocar “borimbora” (Tradução: recuar), deu revertério e tocou “se joga” (Tradução: Cavalaria avançar e degolar). Oxe! Aí, esculhambou tudo. O nosso exército sacudiu a poeira e pra se amostrar, deu-lhe uma carreira e passou a porra nos portuga que não entenderam nada. Os portuga vazaram quando ouviram o toque de “se pique” e a galera do mau correndo pra dentro. 

Foi o maior migué da história da Bahia, do Brasil e do mundo porque a gente não tinha nem um cavalo pra contar história, que dirá uma cavalaria inteira. Só mesmo baiano pra ganhar uma guerra no grito. Isso né culhuda não, véio: foi assim mermo. O Corneteiro Lopes se armou porque deu certo, mas se desse merda, uzoto ia dizer que foi ideia de jerico. 

Com isso, isolamos os portugueses dentro de Salvador e aí deixamos eles sem água e sem comida: não entrava nem geladinho, nem bolinho-de-estudante, nem um real de big big. 

Aí, quando a esquadra de Lord “Croquete” (Lord Cockrane) chegou e se juntou à flotinha de João das Botas, o sacrista do Madeira de Melo viu que já tava com a moral de jegue, chamou o rebanho de soldado dele na surdina e se picou de madrugada. Saiu no lixo mas João das Botas foi na cola deles até alto-mar e uns e oto “me disseram” que ele a largou o doce assim, ó: Se plante, viu, seu Madeira! Não se abra não, que eu não sou cupim. E nem volte aqui paroano! 

Na moral, véio, o nosso povo tirou onda: Salvador fiou livre e o Brasil consolidou sua independência. E quem não lutou com armas, lutou cuidando dos feridos, conseguindo comida para os soldados, doando dinheiro para as batalhas. 

Eita povo guerreiro! Eita povo boca de zero nove. E aí, painho, foi um arerê nas ruas de Salvador: o Exército Libertador entrou triunfante: todo mundo solto na buraqueira indo cumê água. A rua chega ficou apertada e assim nasceu o desfile do 2 de Julho. Né não é? 



Tá rebocado que você não sabia dessa história. Agora, tá ligado porque a tocha vem do Recôncavo, passa por Pirajá e chega na Lapinha, né? Tá ligado porque a festa é do povo, né? E tá ligado porque tem o Caboclo e a Cabocla, né? Ó paí! Não tá ligado não, seu leso. Me faça uma garapa! É porque eles representam a mistura popular que nos deu força pra lutar pela independência. 

Tá vendo aí? Fiz um texto grande pra apertar sua mente, mas a história é de lenhar, né não? 

Texto recebido em grupo de WhatsApp!

(Texto de Louti Bahia autor da página @amoahistoriadesalvador, pesquisador de cidades, especialista em Desenvolvimento Urbano, em Desenvolvimento Regional e em Planejamento Ambiental)

AGENDE AÍ: 

Quinta-feira, 2 de julho 2020, às 17h, vai ter live sobre a Independência da Bahia, com Louti Bahia, no Instagram @amoahistoriadesalvador.

Foto A TARDE