quarta-feira, 4 de agosto de 2021

O BRASIL PRODUZ MAIS PETRÓLEO DO QUE CONSOME. PORÉM, IMPORTA PETRÓLEO, GASOLINA E DIESEL. ENTENDA...

Brasil nunca comprou tanta gasolina e diesel de outros países como nos últimos anos.| 
Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo

O Brasil tem comemorado um recorde atrás do outro quando o assunto é produção de petróleo. Em novembro do ano passado o país superou, pela primeira vez em sua história, a marca de 3 milhões de barris de petróleo produzidos diariamente. E fechou o ano com outra marca histórica: 1 bilhão de barris na soma dos 12 meses, aumento de 7,8% em relação ao volume produzido em 2018. Mas, contraditoriamente, vem aumentando a importação de gasolina e diesel.

O salto da produção se deu, em grande parte, graças ao pré-sal, que em dezembro correspondeu a 66,8% da produção nacional, totalizando 2,1 milhões de barris por dia. Na comparação com o mês anterior houve aumento de 2,6% e, em relação a dezembro de 2018, uma alta de 40,6%. O campo de Lula, localizado na Bacia de Santos, foi o maior produtor, registrando 1 milhão de barris/dia de petróleo.

Produção nacional

País duplicou a produção de petróleo nas últimas duas décadas:

Por dia

Em milhões de barris/meses de dezembro:


A abundância de combustível fóssil poderia levar alguém a imaginar que, finalmente, o país não precisa mais comprar derivados de petróleo de ninguém, especialmente gasolina e diesel, e que também os brasileiros poderão pagar menos na hora de abastecer o carro. Na prática, porém, não passa de ilusão. Mesmo com a produção acima do que os brasileiros consomem, o Brasil continua a importar petróleo bruto e derivados. E mais: o país nunca comprou tanta gasolina e diesel de outros países como nos últimos anos.

Os números da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) mostram que em 2010 a importação de gasolina ficou em 3,2 milhões de barris. De lá para cá houve um salto enorme e, no ano passado, as importações chegaram a mais de 30 milhões de barris, quase dez vezes mais que há uma década. O mesmo aconteceu com diesel: em 2000 eram pouco mais de 36 milhões de barris importados e em 2019 o número passou de 80 milhões.

Importação de derivados de petróleo
País nunca importou tanto gasolina e diesel como nos últimos anos:

Total do ano, em milhões de barris:


Capacidade de produção de gasolina e petróleo pesado

A explicação para a crescente importação de derivados e dos preços altos, segundo especialistas, está em uma série de fatores, mas basicamente podem ser resumidos em quatro pontos: o aumento do consumo, a baixa capacidade das refinarias instaladas no Brasil, a qualidade do petróleo produzido pelos poços brasileiros, a alta carga tributária sobre combustíveis e a influência dos preços no mercado internacional.

“Nós produzimos petróleo pesado e nossa capacidade de refino desse tipo de óleo ainda é muito limitada, sem contar que falta tecnologia. Para conseguirmos processar esse petróleo nós temos que importar óleos finos de outros países. Outro problema é que somos um país de dimensões continentais, tornando mais fácil importar e transportar gasolina e diesel para algumas regiões do país, distantes dos centros nacionais de produção”, diz o professor Celso Grisi, da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Para o economista José Mauro de Morais, coordenador de Estudos de Petróleo no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a grande importação de gasolina e diesel está ocorrendo porque não houve os investimentos necessários em refinarias. “Foram planejadas refinarias imensas no Maranhão e no Ceará, mas não deram em nada. Então nós vamos ficar assim por muitos e muitos anos, já que não estamos investindo em refinarias”, prevê.

Na avaliação do economista do Ipea, a solução a médio e longo prazos será privatizar o setor de refino de petróleo para atrair investidores – a Petrobras quer vender oito refinarias até 2021. “Mas para isso será preciso manter a liberdade de preços. Se o empresário perceber que os preços estão sendo controlados pelo governo, ele não vai investir no Brasil.”

Sergio Massillon, diretor institucional da Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Biocombustíveis (Brasilcom), tem avaliação semelhante sobre os motivos da importação de gasolina e diesel, mas vê isso como um fator positivo para o país. “A importação de derivados de petróleo é consequência da diferença entre a demanda e a capacidade de os produtores de combustíveis fósseis atenderem à esta demanda. Destarte, a importação é fator positivo pois evita o desabastecimento destes produtos no mercado brasileiro”, ressalva.

Massillon defende ainda que a importação permite “comparar os preços ofertados pelo mercado internacional com aqueles ofertados pelos produtores nacionais” e assim evitar “altas desnecessárias ou reduções com origem política que, no passado, resultaram em enormes prejuízos ao principal produtor, a Petrobras”.

Compra e venda de petróleo bruto

Ritmo do crescimento das exportações foi maior que o da redução das importações:

Em milhões de barris:


Carga tributária e mercado globalizado

O preço da gasolina e diesel cobrado nos postos, segundo especialistas, não depende da produção nacional, apesar dos recordes recentes. Hoje, com a abertura do mercado brasileiro de petróleo e o fim das intervenções governamentais, os derivados passaram a ser regulados pelos preços internacionais.

“Antes da abertura do mercado, a Petrobras era monopolista e definia os preços de acordo com os interesses do governo. Os prejuízos da empresa eram cobertos pelo Tesouro Nacional, pelos contribuintes. Recentemente, com o mercado em livre competição, vieram outros ofertantes, ou seja, os preços passaram a ser regidos pelo mercado internacional. Mas não é só isso: a carga tributária é muito alta, de tal maneira que grande parte do preço da gasolina e do diesel é composto por impostos – ICMS, PIS, Cofins, Cide. E há ainda o câmbio. O dólar alto também impacta o preço”, explica Mauro de Morais.

Apesar de todos esses problemas, o economista do Ipea ressalta que o preço da gasolina no Brasil está na média mundial. “Na Noruega, por exemplo, a gasolina custa hoje ao consumidor mais ou menos R$ 7,70. Na França, R$ 6,80 e em Portugal, R$ 6,85. Vale observar que a Noruega é um grande produtor. Nesses países eles taxam alto os combustíveis fósseis e estão buscando outras fontes de energia. Não querem aumentar a poluição”, diz.

Para Mauro de Morais, no Brasil uma redução forçada dos preços da gasolina traria risco de destruir a produção nacional de álcool, que é um exemplo para o mundo, e quebrar financeiramente as usinas, que têm papel importante na economia.

Na avaliação do professor Celso Grisi, além do problema do "custo Brasil" – que inclui carga tributária, transportes, tarifas de embarque e desembarque nos portos, entre outros encargos –, e da cotação do dólar, a distribuição oligopolizada também afeta os preços. “São basicamente três grandes distribuidoras, conhecidas pelas marcas Shell, Ipiranga e BR Distribuidora”, cita ao defender maior abertura nesse setor.

Sergio Massillon vê a autossuficiência na produção de derivados não só como saída para melhorar os preços, mas também para a economia de divisas do país. “A decisão estratégica da Petrobras de desinvestir oito de suas refinarias reflete a necessidade de atrair investidores nacionais ou internacionais para suprir, com a expansão de parques de refino, a demanda brasileira”, diz o diretor da Brasilcom, entidade que tem entre seus membros empresas interessadas em adquirir refinarias da Petrobras.

Fonte:

Gazeta do Povo

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/gasolina-importacao-petrobras-producao/ 

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MERCADO APOIA E VÊ COM BONS OLHOS OS AUMENTOS NO PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS. POR ISSO CONSUMIDOR, NÃO ESPERE GASOLINA MAIS BARATA. A TENDÊNCIA É AUMENTAR CADA VEZ MAIS.


   Combustíveis: pesadelo das distribuidoras é que falte infraestrutura para dar vazão ao potencial de consumo da população (Ricardo Moraes/Reuters)

Depois de quase três meses sob nova gestão, a Petrobras fez o primeiro aumento nos preços dos combustíveis da gestão Silva e Luna dia 07 de julho, acompanhando a valorização do preço internacional do petróleo. A companhia elevou o preço do litro da gasolina em 6% e do diesel em 3,7% Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, a decisão de ajustar os valores do diesel, gás de cozinha e gasolina nas refinarias foi uma surpresa positiva para o mercado.

Isso porque a empresa vinha demorando a fazer correções nestes valores. Desde que assumiu a presidência da companhia após a saída de Roberto Castello Branco, Silva e Luna tinha feito duas reduções nos valores, acompanhando reduções pontuais do preço do barril. No entanto, a cotação tem tido tendência de aumento. Em abril, o preço do petróleo estava na faixa de R$ 60. Hoje, está na faixa dos R$ 70.

"Esse zelo com as margens que foi mostrado é fundamental para o mercado. A gente vive um momento político quente e existem pressões vindas dos caminhoneiros, por exemplo. Mesmo assim, a Petrobras preservou as margens, o que a gente viu como bem simbólico e positivo", explica Ilan.

O analista destaca, porém, que ainda há uma defasagem de cerca de 14% nos valores da gasolina. Ou seja, a empresa ainda "deveria" aumentá-la para não perder dinheiro. Para ele, o aumento desta semana foi uma surpresa porque a defasagem estava na faixa de 20% há um tempo, sem sinalizações de ajuste. 

Com a alta, a companhia "tranquilizou" acionistas e o mercado que acompanham as contas da Petrobras de perto.

"A saúde financeira e as margens falaram mais alto. Isso não significa que o executivo não está com a caneta na mão, já que ele é acionista majoritário, mas acho que é bem simbólico", diz.

A precificação dos combustíveis é assunto delicado para acionistas, consumidores e Governo Federal porque a empresa sofreu interferências políticas em governos anteriores para represar aumentos, comprometendo o caixa e aumentando o risco de investidores e acionistas, além da própria dívida.

No entanto, o custo político de se fazer aumentos atrás de aumentos também precisou ser considerado nos últimos meses, tanto que divergências em como eles vinham sendo feitos culminaram na demissão de Roberto Castello Branco no início do ano pelo presidente Jair Bolsonaro.

Em sua despedida da empresa, em videoconferência de resultados do ano 2020, Castello Branco chegou a mandar um alerta ao presidente da República. Ele usou uma camisa com a frase em inglês "Mind The Gap" (cuidado com o vão), em referência à possível distância entre o preço internacional e o que a empresa estava sendo cobrada por praticar.

Desde que assumiu, Silva e Luna reforçou que mantém a estratégia adotada pela gestão anterior, de focar investimentos no pré-sal, e otimizar os resultados financeiros para os acionistas, o que tem sido bem visto pelo mercado financeiro e especialistas do setor de petróleo. Desde 2018, a empresa tem vendido campos de petróleo de águas rasas, negócios secundários e vai abrir mão do monopólio do refino do petróleo no país.

Exame Negócios

PETROBRAS DIVULGA BALANÇO TRIMESTRAL HOJE DIA 04 DE AGOSTO: O QUE ESPERAR DA MAIOR ESTATAL BRASILEIRA?

            

REDUÇÃO DA DÍVIDA;

ALTA NA RECEITA E NO LUCRO;

COMBUSTÍVEIS SUBINDO DE PREÇO;

ALTOS DIVIDENDOS PARA OS ACIONISTAS.

DEVEM COMPOR OS RESULTADOS FINANCEIROS DA PETROBRAS NESTE SEGUNDO TRIMESTRE.

Os primeiros resultados financeiros da Petrobras com o general Silva e Luna realmente à frente da gestão da companhia serão conhecidos nesta quarta-feira, 4.

Quando a empresa divulgou o balanço do primeiro trimestre, em abril, Silva e Luna já era o presidente, mas aqueles dados mostraram ainda todo o fim da gestão de Roberto Castello Branco. Agora, os dados da nova gestão virão à tona.

O balanço do segundo trimestre da petroleira deve trazer bons resultados, influenciados principalmente devido ao preço do petróleo, alta na produção trimestral e à continuidade da política de venda de ativos que a gestão tem mantido desde que assumiu o comando da Petrobras.

No primeiro trimestre, o preço do barril de petróleo era negociado em média em 61 dólares. Agora está em 69.

O mundo vive um movimento de alta na demanda pelos combustíveis, enquanto a oferta ainda segue “apertada” pelos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Eles até decidiram abrir as torneiras dos poços, mas num ritmo lento, de modo a manter os preços da commodity em alta.

Quanto à produção, a Petrobras teve um crescimento de 1,4% neste segundo trimestre em comparação com o primeiro deste ano, com destaque para aumento do pré-sal.

No total, a produção do primeiro semestre de 2021 foi ligeiramente menor do que o mesmo período de 2020. O motivo: a venda de campos maduros em terra sem interesse comercial para a Petrobras.

Os dados da produção trimestral, divulgados mês passado, também mostraram que as exportações de petróleo subiram 45,4% no segundo trimestre contra o trimestre anterior e avançaram 8% na comparação com um ano antes, para 743 mil barris por dia.

Com a combinação de fatores positivos, a companhia deve apresentar uma receita de 98 bilhões de reais, EBITDA de 47 bilhões de reais e lucro líquido de 5,6 bilhões de reais segundo projeções da Ativa Investimentos.

Quanto à produção, a Petrobras teve um crescimento de 1,4% neste segundo trimestre em comparação com o primeiro deste ano, com destaque para aumento do pré-sal.

No total, a produção do primeiro semestre de 2021 foi ligeiramente menor do que o mesmo período de 2020. O motivo: a venda de campos maduros em terra sem interesse comercial para a Petrobras.

 

Os dados da produção trimestral, divulgados mês passado, também mostraram que as exportações de petróleo subiram 45,4% no segundo trimestre contra o trimestre anterior e avançaram 8% na comparação com um ano antes, para 743 mil barris por dia.

Com a combinação de fatores positivos, a companhia deve apresentar uma receita de 98 bilhões de reais, EBITDA de 47 bilhões de reais e lucro líquido de 5,6 bilhões de reais segundo projeções da Ativa Investimentos.

Isso porque após reduzir o endividamento para abaixo deste valor, a empresa aciona uma política de distribuição de dividendos nova, mais generosa aos acionistas.

Desde a gestão de Pedro Parente, no governo de Michel Temer, a empresa tem focado em reduzir o endividamento e a alavancagem, que dispararam nos anos anteriores.

Na gestão de Roberto Castello Branco, foi colocado em prática um plano ambicioso de venda de diversos ativos, como refinarias, poços de petróleo em terra e águas rasas.

A empresa também abriu mão de participar de negócios que não tinham a ver com o foco de explorar e produzir petróleo das águas profundas do pré-sal. Um dos exemplos foi a venda da participação da BR Distribuidora.

Os dados da produção de petróleo do segundo trimestre mostram que o pré-sal já é responsável por 70% do óleo da companhia.

Para analistas, a marca é positiva porque esses poços podem ser mais produtivos e de baixo custo de operação como alguns nos países do Oriente Médio, fonte de boa parte da energia consumida no mundo.

Mesmo com a perspectiva de bons resultados financeiros no trimestre, parte do mercado ainda não se convenceu de que a empresa superou a turbulência do início do ano, quando a Presidência da República trocou o comando da petroleira devido às altas dos combustíveis.

Como a empresa segue a paridade internacional do petróleo para precificar o diesel e a gasolina, se o petróleo sobe, os derivados também sobem para os consumidores internos do país.

Em relatório sobre os 100 dias da gestão de Silva e Luna, o banco BTG Pactual manteve a recomendação de compra de ações como neutra e afirma que ainda existe uma defasagem entre os preços internacionais da gasolina e o cobrado pela Petrobras nas refinarias.

Ou seja, apesar dos protestos de consumidores, os combustíveis saem abaixo do que deveriam para a empresa.

Mas, fora isso, a continuidade na política dos desinvestimentos e o foco no pré-sal dão boas perspectivas para a Petrobras, que deve apresentar nos próximos meses seu novo plano quinquenal, em que devem ser vistos para onde a maior empresa brasileira quer caminhar num mundo em transformação energética.

Exame Negócios

terça-feira, 3 de agosto de 2021

INVESTIMENTO EM EDUCAÇÃO É UM DOS MAIS RENTÁVEIS EM TERMOS ECONÔMICOS, DIZ EX-MINISTRO RENATO JANINE RIBEIRO

                                              Renato Janine Ribeiro (Foto: ABr)

Em entrevista ao programa Boa Noite 247, da TV 247, presidente da SBPC diz que Brasil, com somente 30% da população com condições para desenvolvimento educacional, poderia render muito mais caso ampliasse este panorama: “multiplicaríamos nossa criatividade e nossa produtividade várias vezes”

Ex-ministro da Educação e novo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), Renato Janine Ribeiro falou à TV 247 sobre a falsa oposição entre economia e investimento em conhecimento.

Segundo Janine Ribeiro, o Brasil, como país que oferece somente a 30% da população as condições necessárias para um bom desenvolvimento educacional, já conseguiu feitos muito relevantes, como chegar a ser a sexta economia do mundo, por exemplo. Porém, ele ressalta: o que não poderia ser feito se as condições fossem oferecidas a 100% da população?

“Um país como o Brasil, que tem apenas 30% da população com todas as oportunidades em termos não só de educação, mas de moradia, alimentação, saúde e transporte, e tem 70% abaixo desse piso de oportunidades, um país assim está rendendo muito menos do que poderia. Se nós conseguimos ser a sexta ou sétima economia mundial desse jeito, se conseguimos chegar a ser o 12.º país em produção científica qualificada rendendo com 30% da população, imagine se nós tivermos 100% da população com as oportunidades? É óbvio que nós vamos multiplicar nossa criatividade e nossa produtividade por várias vezes. Vamos ter um potencial realizado muito maior”. Ele ainda afirmou: “investimento em educação é um dos mais rentáveis do ponto de vista econômico. Você cria uma mão de obra qualificada.”

Segundo o ex-ministro, o Brasil só será um país desenvolvido quando conseguir realmente avançar na produção de ciência. O foco somente em industrialização, segundo ele, já é coisa do passado. “O Brasil se industrializou, depois se desindustrializou. Hoje, a diferença não é exatamente agropecuária e extratividade versus indústria. Hoje é inteligência e ciência embutidas nos produtos versus não embutidas. Se você tiver um setor de indústria de alta complexidade ou um setor de serviços de alta qualificação científica, você é um país desenvolvido. Se não tiver, você está no subdesenvolvimento. E o Brasil está nesse subdesenvolvimento. Então ele tem que mexer nisso, os governos futuros e a sociedade brasileira têm que ter muita noção disso.”


Jornal da Ciência

SBPC MANIFESTA PREOCUPAÇÃO COM REDUÇÃO SIGNIFICATIVA DO NÚMERO DE INSCRITOS PARA O ENEM. DE 4,8 MIHÕES DE INSCRITOS PARA 1,7 MILHÕES DE ESTUDANTES.


Em nota, entidade aponta que expressiva queda se deve essencialmente ao corte de isenções de matrículas – de 4,8 milhões para apenas 1,7 milhões de candidatos. MEC recusou conceder o benefício neste ano a alunos que deixaram de comparecer ao exame em 2020 por conta da covid-19. “A SBPC considera essa perda de potenciais alunos do ensino superior um problema social relevante, ainda por cima causado por um critério desumano” 

Leia a nota abaixo:


EM FAVOR DO ENEM

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifesta sua preocupação diante da significativa redução do número de alunos inscritos para o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) deste ano. Tal redução se deve essencialmente à queda das isenções de matrícula, de 4,8 milhões para apenas 1,7 milhão de candidatos. Essa enorme diminuição decorre de ter o MEC recusado isentar da taxa de inscrição os alunos que, inscritos no exame do ano passado, não compareceram devido à covid-19. Teremos, assim, o ENEM com o menor número de candidatos desde 2005, representando uma queda de 5,6 milhões se o compararmos ao de 2014.

A SBPC considera essa perda de potenciais alunos do ensino superior um problema social relevante, ainda por cima causado por um critério desumano. O medo racional à morte precoce é um dos sentimentos mais compreensíveis em nossa espécie. Quando o Ministério de Educação (MEC) decidiu, em 2015, negar a gratuidade no ano seguinte a quem não comparecesse ao ENEM, foi muito clara a decisão ministerial: abria-se uma exceção para os casos justificados. Ora, não há melhor justificativa do que o medo de morrer de uma doença que já tinha ceifado centenas de milhares de vidas no Brasil.

Por isso mesmo, a SBPC apela às autoridades para que, faltando ainda quase quatro meses para a realização do ENEM, revejam essa decisão desumana e errada e isentem da taxa de inscrição os alunos que, por medo de contágio pela covid-19, deixaram de prestar o exame em 2020. Também exorta o MEC para que adote protocolos sanitários mais rigorosos, para que o ENEM deste ano transcorra sem exposição a riscos evitáveis e desnecessários.

A SBPC considera que o MEC deve ter como meta aumentar o acesso da população vulnerável ao ensino superior de qualidade, ao invés de restringir ainda mais o acesso da população de baixa renda às nossas universidades públicas, já que o acesso ao ensino superior é maior o motor para inclusão social e redução de desigualdades, inclusive para a reparação histórica da escravidão.

São Paulo, 3 de agosto de  2021.

Diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC


Jornal da Ciência

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA REQUER ESFORÇO GLOBAL EM INOVAÇÃO, APONTAM CIENTISTAS

                        

   

Elton Alisson | Agência FAPESP

Para zerar até 2050 as emissões globais de dióxido de carbono (CO2) do setor energético, de modo a limitar o aumento da temperatura média global a 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, como estabelecido no Acordo de Paris, o mundo precisará fazer, até 2030, um esforço sem precedentes para implantar imediatamente e de forma massiva todas as tecnologias de energia eficiente e limpa já existentes, como a bioenergia.

Paralelamente a esse esforço, será preciso um grande impulso global para acelerar a inovação em energia, uma vez que a maior parte da redução nas emissões de CO2 do setor até 2030 será possível por meio de tecnologias disponíveis hoje. Após esse período e até 2050, porém, quase metade da redução das emissões do setor virá de tecnologias que atualmente estão apenas em fase de projeto-piloto ou de protótipo, como baterias avançadas, sistemas de produção de hidrogênio e captura de CO2 do ar.

As conclusões são dos autores do relatório especial “Net Zero by 2050: a roadmap for the global energy sector”, lançado pela Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) no dia 18 de maio e apresentado por representantes do órgão em palestra na abertura da Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBEST) 2020-21.

O evento on-line, que termina hoje (26/05), faz parte das atividades do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) e ocorre paralelamente à segunda edição da Biofuture Summit, promovida pela Plataforma para o Biofuturo – consórcio formado por 20 países, incluindo o Brasil, com o objetivo de fomentar soluções de transporte de baixo carbono e a bioeconomia.

“Desbloquear a próxima geração de tecnologias de baixo carbono vai requerer muito esforço em pesquisa e desenvolvimento e investimento da ordem de US$ 90 bilhões para demonstração até 2030”, disse Paolo Frankl, líder da divisão de energias renováveis da IEA.

Segundo o especialista, para atingir a meta da transição energética global, a produção de biocombustíveis deverá triplicar nesta década para atender à demanda crescente, principalmente do setor de transporte. Já a produção de combustíveis líquidos avançados – como o etanol celulósico –, que hoje representa menos de 1% do total da produção de biocombustíveis, deve saltar para quase 45% em 2030 e para 90% em 2050.

Nesse novo cenário, a bioenergia moderna se tornaria, em 2050, a segunda maior fonte energética, sendo responsável por suprir cerca de 20% da energia total consumida globalmente. Quase oito gigatoneladas de CO2 seriam capturados por ano por uma ampla gama de soluções, que combinariam bioenergia com captura e armazenamento de carbono e, eventualmente, hidrogênio, para produzir combustíveis e produtos químicos sintéticos.

“Isso representa uma enorme oportunidade e desafio para o setor de bioenergia inovar por meio de diversas formas de tecnologias que pode oferecer”, avaliou Frankl.

Para atingir essa meta, contudo, será preciso superar desafios, como o de obter maior consenso sobre a disponibilidade de matérias-primas, de forma sustentável, para produção de bioenergia, apontou o especialista.

“Isso é fundamental para aumentar a confiança dos investidores e, em última análise, atrair mais investimentos e promover a implantação de tecnologias em bioenergia”, avaliou Frankl.

Outro desafio, segundo o pesquisador, é fortalecer a cooperação internacional. “Há um ímpeto político sem precedentes e temos pelos menos quatro motivos de otimismo em relação à transição para a energia limpa em todo o mundo”, afirmou o especialista.

Uma das razões de otimismo é que pelo menos 120 países, além de empresas, apresentaram metas de zerar suas emissões líquidas de CO2 até 2050. Há uma lacuna, entretanto, entre as promessas dos países e a realidade.

Após o maior declínio de todos os tempos, em 2020, devido à crise econômica global causada pela pandemia de COVID-19, as emissões globais de CO2 devem aumentar em quase 5% em 2021, se aproximando do pico de 2019. A demanda de carvão, óleo e gás também aumentou com a recuperação da economia.

“Por isso a IEA avaliou a necessidade desse relatório especial para ajudar os países a passar de promessas à promoção de cortes reais nas emissões”, afirmou Frankl.

Outros motivos para otimismo em relação à transição energética global é que hoje há um dos maiores pacotes de estímulo econômico para essa finalidade, e os Estados Unidos e a União Europeia anunciaram novas metas de limites de emissão de CO2 na recente Cúpula de Líderes sobre o Clima, promovida pelo presidente americano Joe Biden.

Os Estados Unidos anunciaram na abertura do evento, em abril, o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 50% até 2030 em relação aos níveis de 2005, atingindo 100% de eletricidade limpa até 2035 e emissões líquidas zero de CO2 até 2050.

“A inovação e a implantação de uma ampla gama de tecnologias de energia limpa são absolutamente essenciais para atingir esses objetivos ambiciosos”, disse David Turk, vice-secretário de energia dos Estados Unidos, na abertura do BBEST.

O país acaba de assumir a presidência da Plataforma para o Biofuturo, presidida pelo Brasil desde seu lançamento, em 2016.

“Nos últimos cinco anos, logramos um progresso considerável na consolidação da Plataforma para o Biofuturo como o principal fórum internacional para promoção da bioeconomia sustentável como componente-chave da transição energética”, afirmou o embaixador Sarquis, secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos do Itamaraty.

Ponto de encontro da bioenergia

O BBEST reúne virtualmente representantes de governos, órgãos internacionais, setor empresarial e pesquisadores de mais de 30 países. Estão previstas mais de 150 sessões on-line durante os três dias de duração do evento.

“Ao longo dos anos, o BBEST tem sido um ponto de encontro para diferentes áreas da ciência e engenharia se encontrarem, criando sinergias em bioenergia, biomassa, biocombustíveis, uso da terra, produtos biológicos e pesquisa de sustentabilidade. Criamos oportunidades para especialistas da indústria, da academia, do governo e de instituições não governamentais apresentarem suas tecnologias e desafios”, disse Gláucia Mendes Souza professora do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e membro da coordenação do Programa BIOEN.

O presidente da FAPESP, Marco Antônio Zago, destacou que o Programa BIOEN, que visa o avanço do conhecimento básico e aplicado em áreas relacionadas à produção de bioenergia, faz parte da missão da Fundação de apoiar pesquisas que contribuam para o desenvolvimento do Estado de São Paulo.

“Vemos na conferência uma oportunidade especial para o diálogo e a cooperação entre países, governos e organizações, além dos setores acadêmico e privado”, afirmou.

A íntegra do evento pode ser acessada em https://whova.com/portal/webapp/bsi1_202105/.

FAPESP

ESTUDO AVALIA EFICIÊNCIA DE FILTRAGEM DE 227 TIPOS DE MÁSCARA VENDIDOS NO BRASIL


Os modelos de uso profissional foram os mais eficazes na retenção de partículas de aerossol com tamanho equivalente ao do novo coronavírus, seguidos pelos feitos de TNT e vendidos em farmácia. A eficácia das máscaras de tecido variou entre 15% e 70%. Bom ajuste no rosto e ausência de costura são fatores que aumentam o grau de proteção (imagem de microscopia digital de diferentes máscaras feitas de material híbrido; Fernando G. Morais Et al./Aerosol Science and Technology)

Karina Toledo | Agência FAPESP 

A transmissão do novo coronavírus se dá principalmente pela inalação de gotículas de saliva e secreções respiratórias suspensas no ar e, por esse motivo, usar máscaras e manter o distanciamento social são as formas mais eficazes de prevenir a COVID-19 enquanto não há vacina para todos. Baratas, reutilizáveis e disponíveis em diversas cores e estampas, as máscaras de tecido estão entre as mais usadas pelos brasileiros. Contudo, sua capacidade de filtrar partículas de aerossol com tamanho equivalente ao do novo coronavírus pode variar entre 15% e 70%, como revela estudo conduzido no Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP).

Coordenado pelo professor Paulo Artaxo e apoiado pela FAPESP, o trabalho integra a iniciativa (respire!, cujo objetivo foi garantir o acesso da comunidade uspiana a máscaras seguras. Os resultados foram divulgados na revista Aerosol Science and Technology.

“Avaliamos a eficiência de filtração de 227 modelos vendidos no Brasil, seja em farmácia ou lojas de comércio popular. Nosso objetivo era saber em que medida a população está realmente protegida com essas diferentes máscaras”, conta Artaxo à Agência FAPESP.

Para fazer o teste, os cientistas utilizaram um equipamento que produz, a partir de uma solução de cloreto de sódio, partículas de aerossol de tamanho controlado – no caso 100 nanômetros (o SARS-CoV-2 tem aproximadamente 120 nanômetros). Após o jato de aerossol ser lançado no ar, a concentração de partículas foi medida antes e depois da máscara.

Os modelos que se mostraram mais eficazes no teste, como esperado, foram as máscaras cirúrgicas e as do tipo PFF2/N95 – ambas de uso profissional e certificadas –, que conseguiram filtrar entre 90% e 98% das partículas de aerossol. Na sequência, estão as de TNT (feitas de polipropileno, um tipo de plástico) vendidas em farmácia, cuja eficiência variou de 80% a 90%. Por último vieram as de tecido – grupo que inclui modelos feitos com algodão e com materiais sintéticos, como lycra e microfibra. Nesse caso, a eficiência de filtração variou entre 15% e 70%, com média de 40%. E alguns fatores se revelaram críticos para aumentar ou diminuir o grau de proteção.

“De modo geral, máscaras com costura no meio protegem menos, pois a máquina faz furos no tecido que aumentam a passagem de ar. Já a presença de um clipe nasal, que ajuda a fixar a máscara no rosto, aumenta consideravelmente a filtração, pelo melhor ajuste no rosto. Algumas máscaras de tecido são feitas com fibras metálicas que inativam o vírus, como níquel ou cobre, e por isso protegem mais. E há ainda modelos de material eletricamente carregado, que aumenta a retenção das partículas. Em todos esses casos, porém, a eficiência diminui com a lavagem, pois há desgaste do material”, comenta Fernando Morais, doutorando no IF-USP e no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), que é o primeiro autor do artigo.

Inspira e expira

Segundo Artaxo, as máscaras de algodão de duas camadas filtraram consideravelmente mais as partículas de aerossol que as feitas com apenas uma. Mas, a partir da terceira camada, a eficiência aumentou pouco, enquanto a respirabilidade diminuiu consideravelmente.

“Uma das novidades do estudo foi avaliar a respirabilidade das máscaras, ou seja, a resistência do material à passagem de ar. As de TNT e de algodão foram as melhores nesse quesito. Já as do tipo PFF2/N95 não se mostraram tão confortáveis. Mas a pior foi uma feita com papel. Esse é um aspecto importante, pois se a pessoa não aguenta ficar nem cinco minutos com a máscara, não adianta nada”, afirma Artaxo.

Como destacam os autores no artigo, embora com eficiência variável, todas as máscaras ajudam a reduzir a propagação do novo coronavírus e seu uso – associado ao distanciamento social – é fundamental no controle da pandemia. Eles afirmam ainda que o ideal seria a produção em massa de máscaras do tipo PFF2/N95 para distribuir gratuitamente à população – algo que “deveria ser considerado em futuras pandemias”, na avaliação de Vanderley John, coordenador da iniciativa (respire!, organizada pela Agência de Inovação da USP, e coautor do estudo.

“Hoje já está comprovado que a principal forma de contaminação é pelo ar e usar máscaras o tempo inteiro é uma das melhores estratégias de prevenção, assim manter janelas e portas abertas para ventilar os ambientes o máximo possível”, recomenda Artaxo.

Fonte:

O artigo Filtration efficiency of a large set of COVID-19 face masks commonly used in Brazil pode ser lido em www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/02786826.2021.1915466.

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FAPESP