quarta-feira, 30 de março de 2022

INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA É ESSENCIAL PARA O CRESCIMENTO ECONÔMICO DO BRASIL

Avaliação foi feita por participantes da 9ª Conferência FAPESP 60 anos, que ressaltaram a queda nos recursos públicos destinados a essa finalidade nos últimos anos (foto: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

A inovação na indústria brasileira precisa ser urgentemente recuperada para que o Brasil possa se desenvolver, dinamizar sua economia e tornar-se competitivo. Nesse sentido, o Estado deve ampliar e tornar mais estáveis e previsíveis os recursos para pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empresas, além de criar mecanismos para estimular a formação de um ecossistema mais favorável à inovação no país.

A avaliação foi feita pelos participantes da 9ª Conferência FAPESP 60 anos: Indústria e Inovação, que aconteceu ontem (23/03).

O evento integra o ciclo de conferências comemorativas dos 60 anos da criação da FAPESP e reuniu especialistas para discutir a relevância da inovação tecnológica e sua centralidade nas agendas de muitas instituições e da própria FAPESP.

“Todos reconhecem que a origem da inovação está na ciência. O mais recente relatório da OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico], sobre as perspectivas da ciência, tecnologia e indústria, ressalta que, à medida que os setores dependentes do conhecimento continuam a se expandir e a pressão competitiva aumenta, o financiamento da pesquisa básica por parte dos governos torna-se um elemento mais central para apoiar a pesquisa e o desenvolvimento empresarial”, disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.

Na contramão de outros países, os recursos públicos para essa finalidade no Brasil nos últimos anos, contudo, vêm caindo acentuadamente, apontou Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Administração do grupo Ultra, líder da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) e membro do Conselho Superior da FAPESP.

“O investimento público em P&D no Brasil é decrescente. Há uma série de países que têm aumentado o volume de seus investimentos para essa finalidade nos últimos dez anos em relação ao tamanho de suas economias e ao seu Produto Interno Bruto [PIB]. A exceção é o Brasil”, comparou.

O Brasil investe atualmente entre 1% e 1,2% de seu PIB em P&D, somando os dispêndios públicos e privados em inovação, apontou Wongtschowski.

“Isso é muito pouco para o tamanho e a relevância do Brasil e para as ambições que devemos ter em relação à ciência e tecnologia no país”, avaliou.

A intensidade dos gastos no setor industrial brasileiro também vem caindo nos últimos anos. Os dados da última Pesquisa de Inovação (Pintec), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que os dispêndios das indústrias no Brasil em P&D em termos de percentagem do faturamento caíram de 2,37% em 2011 para 1,65% em 2017.

A indústria de transformação, que representa 12% do PIB do Brasil, é responsável por metade das exportações brasileiras e responde por dois terços do investimento empresarial em P&D no país, apontou o executivo.

“A indústria é importante para a economia do país e só sobreviverá a longo prazo se inovar, ou seja, se for modernizada e atender às demandas de sustentabilidade impostas pelo mercado hoje”, sublinhou Wongtschowski.

O setor industrial também dá sustentação a outros dois importantes setores da economia brasileira: o agronegócio e o setor de serviços, destacou o executivo.

O gronegócio brasileiro não conseguiria ser competitivo sem ativos industriais como tratores, colheitadeiras, sistemas de irrigação, sensores para agricultura de precisão e fertilizantes. Já no setor de serviços, as novas soluções desenvolvidas no sistema financeiro hoje, por exemplo, dependem de computadores e redes de transmissão de dados desenvolvidos por indústrias, apontou Wongtschowski.

“O dinamismo do agronegócio e do setor de serviços brasileiros está diretamente vinculado à existência de uma indústria competitiva. E a indústria só será competitiva por meio da inovação”, avaliou.

Falta de Estado empreendedor

De acordo com Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, a inovação, tema relativamente recente na agenda pública e privada do Brasil, hoje é central para os ministérios de Ciência e Tecnologia, Economia e para as agências de fomento à pesquisa em todo o mundo, como a FAPESP.

“A inovação tornou-se agenda permanente no Brasil, mas é preciso reconhecer que o país não tem se saído bem nesse aspecto”, avaliou.

“Por mais que tenhamos feito um esforço significativo nos últimos 20 anos, o desempenho do Brasil nesse quesito não tem sido satisfatório”, avaliou Pacheco.

Uma das razões para isso pode ser a falta de um Estado empreendedor, apontou Jorge Guimarães, diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

“Embora o Brasil tenha reunido, desde o final da Segunda Guerra Mundial, pilares fundamentais [para estimular a inovação], como a disponibilidade de talentos, instituições acadêmicas fortes e empresas transnacionais, que já existiam desde os anos 1950 no país, não tivemos e ainda não temos um Estado empreendedor”, afirmou Guimarães.

“Continuamos escapando da necessidade de o Estado participar pesadamente na subvenção e no recurso reembolsável para inovação que exige risco. E a empresa não vai pegar dinheiro emprestado e correr o risco de criar a inovação”, avaliou.

As principais agências de fomento à pesquisa do país, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a FAPESP, foram criadas no período pós-guerra, quando países como os Estados Unidos estabeleceram a meta de aumentar os investimentos em P&D, ressaltou Guimarães.

“Essas agências de fomento à pesquisa básica e à formação de recursos humanos enfrentaram esses desafios com muita eficiência e hoje estabeleceu-se um grupo forte de entidades no país com muita capacidade de enfrentar esse desafio”, disse.

Na avaliação de Fernando Galembeck, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Materiais Complexos Funcionais (Inomat) – um dos INCTs financiados pela FAPESP e pelo CNPq no Estado de São Paulo –, é preciso que todo o ecossistema brasileiro de inovação seja forte.

“O elemento mais importante nesse ecossistema é o talento, ou seja, pessoas capazes de trabalhar em equipes diversificadas. Para ter inovação precisamos reunir muitas competências”, afirmou.

O evento pode ser assistido na íntegra em: fapesp.br/15350/9a-conferencia-fapesp-60-anos-industria-e-inovacao.

Elton Alisson | Agência FAPESP 

Fonte:

Agência FAPESP



30 DE MARÇO DE 1867: ESTADOS UNIDOS COMPRAM O ALASCA À RÚSSIA POR 7,2 MILHÕES DE DÓLARES - O MAIOR ERRO GEOPOLÍTICO DA RÚSSIA



No dia 30 de Março de 1867, o então presidente dos Estados Unidos, Andrew Johnson, apresentou ao Senado uma proposta de compra de 1,5 milhão de quilómetros quadrados do Alasca, então pertencente à Rússia.

Não foram poupadas críticas à compra do que alguns chamavam o "jardim dos ursos do presidente". O negócio foi aprovado pelo Senado por apenas um voto.


Para entender o contexto histórico da transacção, é preciso retroceder no tempo até 1853. Naquela época, a Rússia e a Turquia estavam em guerra. O Reino Unido e a França apoiavam os turcos no pequeno conflito que ameaçava tornar-se uma grande guerra. O distante território da Rússia além do Estreito de Bering, então chamado América Russa, estava indefeso a um ataque da Marinha britânica.


O grande território gelado possuía apenas alguns centros de revenda de peles e alguns fortes militares. Uma companhia russo-americana que controlava o comércio na região foi encarregada oficialmente, em 1854, de fazer a proposta de venda aos Estados Unidos. Na realidade, a Rússia precisava de dinheiro.

                                     General Map of Alaska, United States.

Quando Washington acenou com a disposição de negociar, o Reino Unido  comprometeu-se a respeitar na guerra o território em questão e o esboço do contrato de venda desapareceu misteriosamente. Mas a miséria russa continuou e as poucas vantagens económicas do território fizeram a ideia da venda voltar à tona em 1857.

O grão-duque Constantino, irmão do czar Alexandre II, queria que a Rússia se concentrasse na sua política interna e achou que a América Russa era um luxo descabido na situação que o país vivia . Quando as negociações foram reiniciadas com Washington, começou a Guerra Civil Americana. Nos quatro anos seguintes, os planos foram novamente esquecidos.

Em 1866, as acções da companhia de comércio russo-americana caíram rapidamente e a empresa estava à beira da falência. A venda do território do hoje Alasca voltou a ser assunto, na Rússia e nos Estados Unidos. O enviado do czar à América, Eduard von Stoeckl, encaminhou a transacção e estava confiante. Afinal, escreveu, os Estados Unidos compraram a Louisiana à França, a Flórida à Espanha e o Texas e a Califórnia ao México.

A decisão da venda foi tomada em São Petersburgo em 16 de Dezembro de 1866. O então secretário de Estado William Seward era um expansionista convicto e viu na compra do Alasca a possibilidade de restabelecimento da ordem no continente. As negociações duraram quatro dias. O preço final ficou em 7,2 milhões de dólares, ou seja,  4,74 dólares por metro quadrado.

Desde 3 de Janeiro de 1959, o Alasca é oficialmente o 49º Estado norte-americano.

Fonte:




terça-feira, 29 de março de 2022

HELENA NADER SERÁ A PRIMEIRA MULHER A PRESIDIR A ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

 


Atual vice-presidente, a biomédica da Unifesp e presidente de honra da SBPC foi eleita após Assembleia Geral realizada em 29 de março

A Academia Brasileira de Ciências  (ABC) elegeu, pela primeira vez em seus 105 anos, uma mulher para a presidência. A eleição de Helena Nader, biomédica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi definida na Assembleia-Geral desta terça-feira (29). Helena encabeçou a chapa única que concorreu ao pleito.  Ela será empossada durante a Reunião Magna da ABC, entre 3 e 5 de maio de 2022, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e assume o cargo para o triênio 2022-2025. O voto na ABC não é obrigatório. Dos 568 membros habilitados pra votar, 420 votaram

Vice-presidente da ABC desde 2016, a pesquisadora vai assumir a cadeira do físico Luiz Davidovich. O químico Jailson Bittencourt de Andrade, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atuante no Centro Universitário Senai-Cimatec, ocupará a vice-presidência na nova Diretoria. Os outros membros da nova gestão podem ser conferidos no site da ABC.

Helena se considera “uma pessoa privilegiada por ter tido tantas oportunidades na vida e por estar agora presidindo, como mulher, uma instituição centenária, ao lado de uma diretoria da mais alta qualidade. Espero que possamos motivar ainda mais a ciência brasileira”.

Ao longo de sua carreira, Helena aliou as atividades de pesquisa ao exercício de cargos administrativos em destacadas instituições científicas. Foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC, 2011-2017), onde atualmente é presidente de honra, presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq, 2009-2010) e é co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas).

Bacharel em ciências biomédicas pela Unifesp e licenciada em biologia pela Universidade de São Paulo (USP), Helena tem como objeto de pesquisa a heparina, um composto que evita a coagulação do sangue e impede a formação de trombos. A pesquisadora é bolsista de produtividade nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), publicou mais de 380 artigos em qualificadas revistas científicas internacionais e já formou 46 mestres e 51 doutores.

Helena nasceu na cidade de São Paulo, em 1947, e passou a infância com os pais e a irmã na capital paulista e em Curitiba (PR), para onde seu pai foi transferido. Ainda na adolescência, teve sua primeira experiência acadêmica no exterior, ao cursar o último ano do ensino médio nos Estados Unidos. Depois da graduação, ingressou direto no doutorado em ciências biológicas na Unifesp, sob a orientação do Acadêmico Carl Peter Von Dietrich (1936-2005), que viria a ser seu companheiro por 22 anos e pai de sua filha Julia. Em 1977, fez um pós-doutorado na mesma área pela Universidade do Sul da Califórnia (Estados Unidos).

Sua brilhante atuação como cientista foi reconhecida por importantes distinções acadêmicas, como o Prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia 2020, concedido pelo CNPq, Fundação Conrado Wessel (FCW) e Marinha do Brasil; o Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher (2020);  o Prêmio Scopus 2007, concedido pela Elsevier e pela Capes; o  título de professora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 2005; o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2022; e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2008, outorgada pelo governo do Brasil.

Além de membro titular da ABC, Helena também é membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS, sigla em inglês). A professora também se destacou, desde o início da carreira, pelo posicionamento ativo em defesa da ciência, tecnologia, inovação e educação brasileira, expresso em artigos publicados recentemente no Estadão, na revista Piauí e na Folha de S.Paulo. Promover a igualdade de gênero e pluralidade na ciência também são pautas prioritárias para Helena.

Resultado reforça movimento ativo da ABC por maior representatividade

O resultado da eleição reforça um movimento ativo da ABC por maior representatividade de gênero em seus quadros. Recentemente, a Academia também elegeu, em um resultado inédito, mais mulheres do que homens como membros titulares para o ano de 2022. Foram escolhidos 13 nomes para a categoria, dos quais oito são mulheres.

Embora o cenário esteja avançando, historicamente, foram poucas as mulheres em cargos de liderança em academias e instituições pelo mundo. Nélida Piñon e Ana Maria Machado são as duas únicas presidentes mulheres da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde sua fundação, em 1897. Na Academia Nacional de Medicina (ANM), fundada em 1829, ainda não constam regentes do gênero feminino.

Em nível internacional, dentre os 303 presidentes da tradicional Academia Francesa de Ciências (ASF, sigla em francês), cuja fundação data de 1699, há apenas uma mulher: a bioquímica Marianne Grunberg-Manago (1995-96). A Royal Society, fundada em 1660, nunca foi presidida por uma mulher e a primeira presidente mulher da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS, sigla em inglês), fundada em 1863, é a atual, eleita em 2016, Marcia Mc Nutt. Alemanha, Inglaterra e Itália não tiveram presidentes do gênero feminino em sua história secular. Assim, a eleição de Helena Nader como presidente da Academia Brasileira de Ciências é um marco internacional na história das academias científicas.

Fonte:

Jornal da Ciência



29 DE MARÇO DE 1951: O CASAL ROSENBERG É DECLARADO CULPADO DE ESPIONAGEM

                                                                            Ethel e Julius Rosenberg após serem condenados

Num dos mais  apaixonantes julgamentos da história política em todo o mundo, Julius e Ethel Rosenberg são declarados culpados, em 29 de Março de 1951, de espionagem por passar segredos relativos à bomba atómica à União Soviética. 

O "caso do Casal Rosenberg" acendeu paixões e manifestações foram organizadas em todos os cantos do planeta durante o processo pela sua libertação. Marido e mulher foram mais tarde sentenciados à pena de morte e executados na cadeira eléctrica em Junho de 1953. 

A condenação dos Rosenberg foi o clímax de uma série de sucessivos episódios de suposta espionagem iniciados com a prisão do físico britânico Klaus Fuchs na Inglaterra, em Fevereiro de 1950. As autoridades britânicas, com o apoio do FBI, reuniram evidências que Fuchs – actuante no desenvolvimento da bomba atómica tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial – havia passado informações altamente secretas a funcionários soviéticos. Fuchs quase imediatamente reconheceu a culpa e passou a fazer uma série de acusações. 

O físico disse que o norte-americano Harry Gold servia de pombo-correio aos agentes soviéticos aos quais Fuchs passava as informações. As autoridades norte-americanas capturaram Gold, que em acto contínuo apontou o seu dedo em direcção a David Greenglass, um jovem cientista que trabalhava no laboratório onde a bomba atómica havia sido desenvolvida. Gold declarou que Greenglass estava ainda mais envolvido na espionagem do que Fuchs. 

Preso, Greenglass prontamente confessou, acusando a sua irmã Ethel e o seu cunhado Julius de serem os espiões que controlavam toda a operação. O país vivia então o auge do macartismo e o clima era de anticomunismo. Sabia-se que tanto Ethel quanto Julius tinham fortes ligações com a esquerda, tendo participado em inúmeras actividades políticas e sociais nos EUA no final dos anos 1930 e na década de 1940. 

Julius foi preso em Julho e Ethel em Agosto de 1950. Tinham dois filhos, de cinco e de três anos. Contrariamente a Fuchs, Gold e Greenglass, ele negou qualquer envolvimento em actividades de espionagem. Ethel negou com a mesma obstinação. 

Para os padrões actuais, o processo todo correu com uma celeridade espantosa. Começou em 6 de Março de 1951 e  em 29 de Março o júri declarou-os culpados de conspiração para cometer espionagem no mais alto grau. Os Rosenberg não foram auxiliados por uma defesa capaz. Muitos à época e desde então classificaram-na como incompetente. 

Mais danoso e cruel, porém, foi o testemunho de Greenglass e Gold. Greenglass declarou que Julius Rosenberg preparara um encontro secreto quando Greenglass passaria os planos de construção da bomba atómica a Gold. Harry Gold corroborou com a acusação de Greenglass e admitiu que, em seguida, transferiu os planos a um agente soviético. Esse depoimento selou o destino de Julius. 

Embora houvesse pouca evidência que ligasse Ethel directamente à espionagem, os promotores, baseados no depoimento do seu irmão, insistiram que ela era o cérebro por trás de todo o esquema. O júri considerou ambos culpados. Poucos dias depois, os Rosenbergs foram sentenciados à pena capital e executados na cadeira eléctrica da prisão de Sin-Sing, em Nova Iorque, em 19 de Junho de 1953. Ambos disseram até o fim que eram inocentes. 

O ‘Caso Rosenberg’ atraiu a atenção mundial. Os seus defensores proclamavam que eles tinham sido transformados em bodes expiatórios da histeria macartista que varria os EUA e do terror alimentado pelos meios de comunicação na Guerra Fria. 

O escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre declarou enfaticamente que a sua execução não passara de um “linchamento legal”.

Fonte:

Estórias da História

segunda-feira, 28 de março de 2022

GUERRA E CRISES SANITÁRIA E CLIMÁTICA AUMENTAM AS DESIGUALDADES SOCIAIS NO PLANETA

 


No sistema econômico mundial do século 21, empresas multinacionais enriquecem utilizando a infraestrutura pública de um país, seus recursos naturais, trabalhadores formados e cuidados pelo sistema público de educação e saúde, mas contribuem muito pouco com impostos para financiar essas atividades.

E de uma hora para outra, apenas apertando a tecla “enter”, estas empresas – assim como seus donos e acionistas bilionários – podem transferir todos os seus ativos para outra jurisdição, os chamados paraísos fiscais, onde a cobrança de impostos é literalmente zero, sem sofrer qualquer controle ou barreira.

Mas a conta que elas geram – o desemprego, o colapso do sistema de saúde e a devastação ambiental – fica no local de onde saíram para ser bancada por governos com o dinheiro dos poucos pagantes de impostos – principalmente os trabalhadores e a classe média, cada vez mais empobrecidos.

“É um sistema insustentável”, definiu o economista francês Thomas Piketty, especialista no assunto, autor do best-seller “O Capital no Século 21” entre outros livros.

A desigualdade é um problema histórico, principalmente de países em desenvolvimento como o Brasil, piorou com a pandemia do coronavírus e está se agravando com a guerra entre Rússia e Ucrânia.

Fonte:

Jornal da Ciência


sexta-feira, 25 de março de 2022

25 DE MARÇO DE 1199: BULA DO PAPA INOCÊNCIO III "ANUNCIA" A INQUISIÇÃO

 
                                                                                                                 Inocêncio III

A partir desta bula, não caberia mais aos bispos lutar contra a heresia; a tarefa passava agora aos prelados diretamente subordinados à Santa Sé.

Em 25 de março de 1199, o papa Inocêncio III publicou a bula Vergentis in senium, que instituía um procedimento de combate à heresia. Depois do segundo Concílio de Latrão, ocorrido no mesmo ano, a perseguição aos hereges tornou-se uma preocupação central da igreja católica. Os movimentos maniqueístas dualistas, que acreditavam numa existência separada do bem e do mal, de Deus e do Diabo, prosperavam e passavam a ser considerados um risco para a igreja. A bula do papa Inocêncio anunciava o envio de religiosos para doutrinar os integrantes desses movimentos, entre eles os cátaros, e estabelecia, assim, as bases da Inquisição.

Dez anos depois, em julho de 1209, o exército dos cruzados, encarregado de erradicar os cátaros por determinação do papa, tomou a cidade francesa de Béziers. A heresia cátara provocou a "cruzada albigense", na qual vários considerados "hereges medievais" das cidades e arredores eram agredidos e mortos violentamente. Toda a região de Rennes-le-Château passou a carregar o estigma de uma história amarga e de sangue, que perdura até os dias de hoje.

Sob a direção do legado papal, Arnaldo Amalrico, e da autoridade local, Simão de Monfort, a cidade foi saqueada, e a população, massacrada. Ainda que majoritariamente católica, Béziers não desejava livrar-se dos cátaros. Antes de partir para o ataque, os cruzados perguntaram a Amalrico como reconhecer os hereges e distingui-los dos verdadeiros cristãos. A resposta teria sido: "Matem todos. Deus acabará por reconhecer os seus".

Durante 20 anos, os combates causariam estragos na região. Os albigenses, ou seja, os povos de Albi, comuna francesa da região dos Médios Pirineus, não reconheciam as divindades de Cristo e eram avessos à autoridade eclesiástica da Igreja. Num primeiro momento, eles foram vencidos, mas, depois, conseguiram organizar uma reconquista antes de se chocar com o exército real francês.

Gloriosa para os católicos, a Cruzada dos Albigenses não eliminou completamente o catarismo. 

O papa Inocêncio II excomunga os albigenses (esquerda), Cruzada contra os Albigenses (direita)


Em novembro de 1215, Inocêncio III presidiu a última sessão do Concílio de Latrão, que terminou com a condenação dos cátaros e dos valdenses, habitantes dos vales alpinos. O concílio também proibiu a criação de novas ordens religiosas, manteve a discriminação contra os judeus e fez surgir a expressão “transubstanciação”, termo usado pela Igreja Católica para explicar a conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo. 

De resto, o papa convocou uma nova cruzada. Mas seria seu sucessor, o papa Honório III, que a organizaria, dois anos depois. Em fevereiro de 1231, ao assinar a bula Excommunicamus, o papa Gregório IX instituiu formalmente a Inquisição, dando um passo adiante na máquina de perseguição criada por Inocêncio III. 

A partir desta bula, não caberia mais aos bispos lutar contra a heresia. A tarefa passava agora aos prelados diretamente subordinados à Santa Sé, que gozavam de poderes extraordinários. A prisão perpétua e a morte na fogueira tornaram-se meios reconhecidos pela igreja para lutar contra a heresia. Em setembro de 1231, os primeiros inquisidores começariam sua temida missão na Europa.

Gregório IX nomeou o primeiro inquisidor, Conrado de Marburgo. Os inquisidores subsequentes seriam recrutados essencialmente entre os dominicanos e os franciscanos.

PODCAST - Opera Mundi - Hoje na História: 1199 - Bula do papa Inocêncio III anuncia a Inquisição

Fonte:

Opera Mundi


quinta-feira, 24 de março de 2022

XADREZ DO GOLPE QUE SERÁ DADO NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, POR LUIS NASSIF.


Peça 1 – o desmonte da velha ordem


O mundo que conhecemos acabou. E o que vem pela frente é uma incógnita total. É o que está na raiz de todos os fenômenos políticos atuais, golpes de Estado, guerras, avanço da ultradireita, intolerância. Todos têm uma fonte comum: a crise da velha ordem do pós-guerra, que garantia um mínimo de regras para administração de conflitos. Com exceção dos golpes de Estado em algumas regiões do planeta – como na América do Sul – a democracia ocidental garantiu um período de estabilidade, que começa a entrar em crise já nos anos 70, com o avanço da financeirização e da desregulação da economia.

Seguiu-se um período de aprofundamento da miséria, de destruição de estados nacionais, somado à desorganização do mercado de informações, com o avanço das redes sociais. Comprometeu-se irreversivelmente o multilateralismo do pós-Segunda Guerra e o modelo de democracia ocidental. As regras em vigor não garantem mais a estabilidade política. Em todos os níveis, há um descolamento da opinião pública dos movimentos da política.

Criam-se vácuos, que abrem espaço para vírus desestabilizadores infiltrando-se em todos os poros da política, não apenas nos bolsões da ultradireita. E qualquer pedaço de pau é utilizado de bóia, até guerras de ocupação.

 

Peça 2 – os vácuos políticos e a guerra da Ucrânia

 

O que se observa hoje, na guerra da Ucrânia, é a marcha da insensatez em todos os níveis. Mas é um capítulo importante para analisar o efeito-boia.

Vladimir Putin planejou a invasão da Ucrânia baseado em um quadro internacional sem o elemento guerra.

1. Nos Estados Unidos, a liderança débil de Joe Biden.

2. Na Europa, o enfraquecimento irreversível da União Europeia, depois do Brexit e da aposentadoria de Angela Merkel.

3. Na Ucrânia, um sistema político tão esgarçado que abriu espaço para a eleição de um humorista de TV.

4. No multilateralismo, uma organização (a OTAN) atrás de um função.

Em cima desse cenário, avaliou as consequências maiores da guerra, das represálias e definiu estratégias de resistência. Consumada a invasão da Ucrânia, quando o elemento guerra entrou, todo o quadro anterior se desfez:

1. Biden viu na guerra contra a Rússia a oportunidade de recuperar a popularidade e a liderança sobre um país dividido. E radicalizou..

2. A Alemanha viu na guerra a grande oportunidade para o fortalecimento da União Europeia. E radicalizou.

3. O apoio externo fortaleceu o presidente da Ucrânia e a resistência aos russos.

Ou seja, a guerra tornou-se boia de salvação para todos os atores iniciais, mudando radicalmente o cenário anterior.

Seguiram-se represálias inimagináveis em um mundo minimamente racional, com retaliações econômicas inéditas contra a Rússia que afetam a economia mundial como um todo; gritos de guerra partindo  dos porta-vozes da diplomacia europeia; e a opinião pública internacional sendo manobrada por informações unilaterais com o discurso em uníssono pela guerra.

Se alguém tenta incutir um mínimo de racionalidade na discussão, é submetido ao imbecil coletivo da mídia – a multidão de analistas que pretende refletir a voz das ruas, condenando qualquer forma de negociação, mesmo sabendo que o alvo é um país com o maior arsenal atômico do planeta.

 

Peça 3 – a teoria do choque e o caso brasileiro


Em setembro de 2016, no auge do golpe do impeachment, publiquei o artigo “Xadrez da Teoria do Choque e do Capitalismo de desastre”, tentando juntar as peças para entender o comportamento político nacional.

“Há um conjunto de peças soltas no golpe que, quando devidamente organizadas, permitem entender de modo muito mais claro um dos aspectos mais relevantes: a influência externa.

São elas:

1.     A campanha sistemática da mídia de destruição da autoestima nacional.

2.     Recém instalado o golpe, a corrida do ouro entre Eduardo Cunha e José Serra, para ver quem se antecipava na aprovação da nova legislação do petróleo.

3.     A ida repentina do senador Aloysio Nunes aos Estados Unidos, para conversar com membros do Senado.

4.     Antes dele, a ida do Procurador Geral da República aos Estados Unidos, para reuniões com o Departamento de Justiça e outros setores sensíveis.

5.     A bandeira mágica que acompanha o golpe, de colocar a salvação do Brasil no trinômio reforma da Previdência-livre fluxo de capital-desregulação/privatização.

Para juntar as peças acima, vale a pena um mergulho no livro “A Doutrina do Choque” da norte-americana Naomi Klein”.

O livro analisa situações políticas de choque – desastres naturais, golpes de Estado, que produzem uma desorganização institucional no país, permitindo grandes negócios com bens públicos até que se retome a normalidade institucional.

O caso mais emblemático é o da União Soviética. A crise política produzida pela Glasnost permitiu um pacto entre a elite política do Partido Comunista e da KGB que resultou na apropriação  do poderoso aparato industrial soviético pelos antigos chefes políticos. O poder na Rússia acabou nas mãos de um autocrata apoiado por oligarcas beneficiados pelo desmonte do país.

No Brasil, à medida em que o impeachment se desenhava, houve uma revoada de lobistas para Brasília, prevendo a abertura de mais um grande período de negócios. O desmonte notório do estado brasileiro esconde negócios nos mais variados campos, desde a venda de subsidiárias da Petrobras, negócios com remédios, até o desmonte da produção de uréia pela Petrobras, para beneficiar indústrias nas áreas de potássio, fósforo e nitrogênio.

 

Peça 4 – o novo poder militar


O fato novo na história não são os 8 mil militares que passaram a ocupar cargos civis, mas a montagem de um complexo militar-miliciano debaixo do guarda-chuva do bolsonarismo.

Em “Xadrez da Tarcísio, o super-ministro de Bolsonaro, e os negócios do poder militar”, mostramos a entrada de empresas ligadas a militares na área de transporte, a partir da nomeação de militares para o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre), ainda no governo Dilma Rousseff.

Em “Xadrez de como Braga Netto tentou a operação Davati quando interventor no Rio”, mostramos os negócios articulados por ele, quando interventor no Rio de Janeiro, com empresas ligadas a mercenários, com os quais teve contato no Haiti.

Em “Xadrez do Partido Militar e dos militares bolsonaristas”, mostramos a blindagem das Forças Armadas a malfeitos praticados por empresas ligados a militares da reserva.

Em “Xadrez do alto comando sem espinha dorsal”, relacionamos uma lista de escândalos ligados a militares, sem apuração por parte do Alto Comando.

Em “Xadrez para entender a história do cabo das vacinas”, mostramos a razão de um cabo da PM ter encontrado portas abertas no Ministério da Saúde e os vínculos com reverendos e militares da reserva, que foram um ecossistema global.

Aqui, um levantamento das matérias sobre o reverendo Amilton Gomes, com ligações com a família Bolsonaro, e suas vinculações internacionais.

Essas aventuras empresariais mostram que grupos militares já aprenderam o caminho dos negócios do Estado, inicialmente em operações menores e malcheirosas. Mas, certamente, caminham para se tornar participantes ativos de um jogo cujo maior beneficiário, até agora, é o capital financeiro.

É mais um ponto a se considerar em relação às eleições de 2022.

 

Peça 5 – as eleições e o golpe


A Peça 4 reforça a ideia de que os atuais vitoriosos não abrirão mão passivamente dos pedaços de poder proporcionados pelo bolsonarismo.

A senha já está dada:

Em caso de vitória de Lula, por margem apertada, retornarão as denúncias sobre manipulação das urnas eleitorais.

Paralelamente, haverá a convocação de manifestações nos principais centros do país, especialmente na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Se tentará reeditar o golpe de 7 de setembro. E qual será o comportamento das Forças Armadas?

No fundo, essa é a questão crucial. Do lado de fora,, o crescente prestígio e atrevimento dos consultores militares; do lado de dentro dos quartéis, o discurso diuturno de um anticomunismo obsoleto.

Leve-se em conta que se trata de um país sem o menor apego às normas democráticas. A maneira como Ministros do Supremo Tribunal Federal endossaram os ataques à democracia é mais que revelador.

No já clássico “Como as democracias morrem”, os autores descrevem um dos processos mais insidiosos de destruição da democracia, o chamado “jogo duro institucional”, no qual jogam-se segundo as regras, mas levando-as aos seus limites. “Trata-se de uma forma de combate institucional cujo objetivo é derrotar permanentemente os rivais partidários – e não se preocupar em saber se o jogo democrático vai continuar”. É a descrição perfeita do arco político montado na Lava Jato, Sérgio Moro –> TRF 4 –> Felix Fischer (STJ) –> Luis Roberto Barroso/Luis Edson Fachin (STF), que já entrou para a história como o responsável maior pela desagregação democrática do país.

Pergunto: repetindo as mesmas circunstâncias, fariam de forma diferente, com as informações hoje disponíveis? A mídia, que aparentemente acordou com a Vaza Jato, estaria disposta a uma autocrítica, de não mais repetir processos desestabilizadores da democracia?

Esse é o drama nacional: um país cujas principais instituições não consolidaram princípios democráticos. E, por trás de tudo, as ondas que vêm dos centros políticos internacionais, de que todo arbítrio será tolerado, e nenhuma negociação será aceita.

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