sábado, 29 de fevereiro de 2020

SABE POR QUE NA FINLÂNDIA AS FAKE NEWS NÃO CONSEGUEM SUCESSO???

Resultado de imagem para nÃO À FAKES NEWS
Devemos ler e pesquisar. 

OS FINLANDESES AMAM OS LIVROS. CADA CIDADÃO COMPRA 04 TÍTULOS E FAZ EMPRÉSTIMO DE MAIS 12 NA BIBLIOTECA, ANO APÓS ANO.

A literatura sempre esteve no coração dos finlandeses, e talvez hoje esteja mais presente do que nunca. Mais de 20 milhões de livros são vendidos na Finlândia a cada ano, o que representa uma média de 4 livros por pessoa, incluindo o público infantil. 

Na Finlândia, assim como em qualquer outro lugar, os leitores são claramente divididos em: compradores assíduos de livros e outros. Aproximadamente um em cada seis finlandeses com idade entre 15 e 79 compra pelo menos 10 livros por ano. Juntos, esses compradores assíduos adquirem mais de metade de todos os livros vendidos. Em geral, a aquisição de livros é algo bastante comum: três entre quatro finlandeses compram pelo menos um por ano.
Mesmo após o advento da internet, os finlandeses continuam atraídos pelos livros.
Mesmo após o advento da internet, os finlandeses continuam atraídos pelos livros.
O advento da internet não parece ter afetado a popularidade dos livros em uma grande escala. Por exemplo, em 1995 (antes do uso da internet se tornar global), uma quantidade ainda menor de livros eram comprados na Finlândia comparada à realidade de hoje. Portanto, a popularidade dos livros aumentou mesmo com as grandes proporções tomadas pela mídia eletrônica. E não é só isso: os preços dos livros aumentaram em uma proporção maior do que seus volumes. Os leitores estão dispostos a pagar mais por seus livros.
Os livros de ficção finlandesa permanecem no topo da lista de mais populares no país, apesar de obras do mesmo gênero traduzidas de outros idiomas venderem muito bem também (mesmo após registrar uma ligeira queda nos últimos tempos). Aproximadamente um em cada três finlandeses leu algum livro de ficção nacional no ano passado. Outros livros bastante adquiridos são os de história, economia doméstica (livros de culinária em especial), memórias, crime e infantis. Os leitores do país estão lendo cada vez mais traduções de livros de ficção escritos em outras línguas.
Os livros se tornaram um presente bastante tradicional na Finlândia. Porém, este cenário está mudando bastante, pois as pessoas estão comprando cada vez mais livros para si mesmas. Aproximadamente metade dos livros comprados como presentes são destinados a membros da família (e provavelmente serão lidos no futuro por quem os comprou).

A terra das bibliotecas

Em média, cada finlandês faz empréstimo de mais de uma dezena de livros a cada ano. Nesta foto, temos uma das bibliotecas móveis finlandesas.
Em média, cada finlandês faz empréstimo de mais de uma dezena de livros a cada ano. Nesta foto, temos uma das bibliotecas móveis finlandesas.
Foto: Heikki Saukkomaa / Lehtikuva
A Finlândia é um país repleto de bibliotecas, há pelo menos uma por município. As mais de 300 bibliotecas centrais do país têm 500 filiais, especialmente em áreas esparsamente populadas. Também há bibliotecas móveis (em forma de ônibus especialmente equipados). As bibliotecas móveis realizam apenas 10% dos empréstimos em todo o país. A Finlândia tem até mesmo um barco-biblioteca. Incrível, não? Um sistema de reserva permite que bibliotecas móveis ofereçam os mesmos livros que as bibliotecas centrais.
A moderna biblioteca móvel abriga uma seleção de aproximadamente 4000 títulos, que vão de livros a revistas, jornais e material audiovisual. Os itinerários das bibliotecas móveis contêm dezenas de pontos. Mesmo em uma região com população relativamente densa, como a do norte do país, uma biblioteca móvel pode registrar até 50.000 quilômetros percorridos por ano (no norte, as distâncias são maiores).
Tendo como base os padrões europeus, os serviços prestados pelas bibliotecas públicas finlandesas são tecnologicamente avançados e substanciais em termos de volume. As bibliotecas são gratuitas, e cobram apenas pequenas multas para atrasos na entrega.
Seus serviços são extremamente populares e elas são usadas com bastante frequência (aproximadamente 40% dos cidadãos são usuários assíduos e visitam a biblioteca pelo menos duas vezes ao mês). Em média, os finlandeses fazem empréstimos de livros mais de uma vez em um prazo de 30 dias. Ainda, analisando o caso por outra perspectiva, as bibliotecas contêm pouco mais de 7 livros por pessoa, e cada livro é lido em média duas vezes e meia por ano.
Bibliotecas também adquirem grandes quantidades de livros. A cada ano, elas investem mais de 300 euros por cidadão na aquisição de livros e outros materiais. As bibliotecas também beneficiam escritores: autores e tradutores podem se candidatar para receber uma bolsa de financiamento para a produção de suas obras. Essas bolsas também são dadas como prêmio para autores que não podem trabalhar por causa de restrições impostas pela idade ou doenças.
Apesar dos livros serem o item em maior proporção nas coleções de bibliotecas públicas, há muitas outras coisas à disposição dos frequentadores: revistas, jornais e material audiovisual.
Por Matti Sovijärvi, março de 2014



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

FÁBRICA EM ITAJUÍPE EXPORTARÁ MASSA DE CACAU PARA O ORIENTE MÉDIO


Itajuípe vai exportar massa de cacau para a Arábia Saudita, graças ao investimento de um grupo de empresários árabes que tem sede em Dubai. A fábrica baiana, que está quase pronta, vai produzir a massa, matéria prima usada no chocolate junto com líquor. A expectativa é de geração de, ao menos, 30 empregos diretos.
A produção de Itajuípe será enviada para a Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio. Além de aquecer o comércio e a indústria no município, o novo empreendimento é a garantia de novos empregos no município.
A experiência do prefeito Marcone Amaral, que foi ídolo de futebol no Oriente Médio, ajudou. Revelado no Vitória, ele jogou nos times Al-Shamal, Al-Gharata, El-Jaish, Al-Rayyan e Al-Arabi, além de ter defendido a seleção do Qatar na eleiminatória das copas de 2010 e 2014 e na Olimpíada Asiática na China. Foi tricampeão baiano e bicampeão do Qatar.
Marcone diz que está muito feliz com a escolha de Itajuípe para este projeto. “Viajarei em maio para o Oriente Médio para conhecer as lojas deste grupo de investidores, lojas que receberão a matéria prima de nossa fábrica. Isso será desenvolvimento não só para Itajuípe, mas para toda a região”, disse ao Blog do Thame.
Com informações do Blog Pimenta.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

DIA NACIONAL DOS LIVRO DIDÁTICO! ALGUÉM LEMBROU? ALGUÉM NESSES TEMPOS DE ZAP, ZAP. LEMBRA O QUE É ISSO??

NEM O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NEM O FNDE EM SEUS RESPECTIVOS SÍTIOS, POSSUEM UMA ÚNICA LETRA TRATANDO DA DATA.

A última alusão à data pelo governo federal é de 27 de fevereiro de 2018.


dia-nacional-do-livro-didatico


 O Dia Nacional do Livro Didático é celebrado no Brasil em 27 de fevereiro. 

O PNLD tem como objetivo avaliar e distribuir obras didáticas, pedagógicas, literárias e outros materiais de apoio à prática educativa às escolas públicas de educação básica das redes federal, estaduais, municipais. “É um programa universal. Ele consegue garantir capilaridade porque chega a todas as escolas, em todas as redes, desde que a rede e a escola façam a adesão. O livro didático hoje em alguns lugares é o único apoio que o professor tem para desenvolver o currículo.” Renilda Peres de Lima, diretora de Apoio às Redes de Educação Básica do MEC, 2018.
A aquisição de materiais didáticos ocorre de forma periódica e regular, de modo a atender todas as etapas e segmentos de ensino da educação básica: educação infantil; primeiro ao quinto ano do ensino fundamental; sexto ao nono ano do ensino fundamental, e ensino médio.
Criado em 1985, O PNLD substitui outro programa, do Instituto Nacional do Livro (INL), ainda mais antigo, inaugurado em 1929. Mesmo sendo uma das mais antigas políticas educacionais brasileiras, o PNLD passou por muitas adaptações para tornar o trabalho de escolha tanto da rede, quando do professor mais fácil e dinâmico.
A ORIGEM DO LIVRO DIDÁTICO
Alguns autores sugerem que o livro didático surgiu no século XIX como complemento aos en­sinamentos que não constavam na Bíblia.
No século XIX, o livro didático surgiu como um adicional à Bíblia, até então, o único livro aceito pelas comunidades e usado nas escolas. Somente por volta de 1847, os livros didáticos passaram a assumir um papel de grande importância na aprendizagem e na política educacional. Os primeiros livros didáticos, escritos so­bretudo para os alunos das escolas de elite, procuram complementar os ensinamen­tos não disponíveis nos Livros Sagrados. (OLIVEIRA et al, 1997, p. 26).
Já outros autores dizem que o livro didático sempre fez parte da cultura escola, mesmo antes da invenção da imprensa.
Sua origem está na cultura escolar, mesmo antes da invenção da imprensa no final do século XV. Na época em que os livros eram raros, os próprios estudantes univer­sitários europeus produziam seus cadernos de textos. Com a imprensa, os livros tor­naram-se os primeiros produtos feitos em série e, ao longo do tempo a concepção do livro como “fiel depositário das verdades científicas universais” foi se solidificando (GATTI JÚNIOR, 2004, p.36).
No Brasil as primeiras ideias sobre o livro didático surgiu em 1929, com a criação do Insti­tuto Nacional do Livro – INL, esse instituto foi criado para legitimar o livro didático nacional e auxiliar na sua produção. Mas tudo isso ficou no papel por muito tempo, foi apenas em 1934, no governo do presidente Vargas que o instituto começou a elaborar um dicionário nacional e uma enciclopédia e aumentar o número de bibliotecas publicas.
Mas em 1938, o então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema sugeriu a criação de um decreto-lei que iria fiscalizar a elaboração do livro didático, e com isso o governo iria contro­lar a informações que iria circular dentro das escolas.
O ministro do Ministério Educação e Saúde, Gustavo Capanema, durante o Estado Novo brasileiro, sugeriu a Getúlio Vargas a criação de decreto-lei para fiscalizar a elaboração dos livros didático[sic]. A comissão foi criada em 1938 e ‘estabelecia que, a partir de 1º de janeiro de 1940, nenhum livro didático poderia ser adotado no ensino das escolas pré- primárias, primárias, normais, profissionais, e secundárias no país sem a autorização prévia do Ministério da Educação e Saúde’ (FERREIRA, 2008: 38).
MEC - Acessado em 27/02/2020 às 07h
FNDE - Acessado em 27/02/2020 às 08h
Brasil Escola - Acessado em 27/02/2020 às 09h


sábado, 22 de fevereiro de 2020

A TOMADA DE MONTE CASTELO NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL FOI A MAIOR VITÓRIA DA F.E.B. NESSA GUERRA!

serpente fumando cachimbo
O Brasão bordado da Força Expedicionária Brasileira (FEB): A cobra fumando um cachimbo, criação do Tenente-Coronel Senna Campos.

A famosa expressão se tornou lema da Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), e deve sua popularização ao então Presidente Getúlio Vargas que, diante do inimaginável caso de o Brasil entrar na guerra contra a Alemanha de Adolf Hitler, teria dito: “é mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil entrar na guerra”… Algum tempo depois tudo mudou, a cobra fumou e o Brasil foi à guerra!

A ordem era capturar a crista que corre do Monte Belvedere para noroeste, inclusive Monte Castelo, a fim de impedir que o inimigo mantivesse sob sua vista a estrada 64, que ligava Pistóia, a Porretta Terme e Bolonha. Nessas poucas linhas a instrução de operações n.º 71, de 26 de novembro de 1944, inaugurava a saga que se tornaria símbolo da ação da Força Expedicionária Brasileira na Itália: a campanha para a tomada de Monte Castelo, conquistados pelos soldados brasileiros há 75 anos. 

Monte Castelo

A instrução era do comando do IV Corpo de Exército e foi enviada ao general Mascarenhas de Moraes, comandante da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária. O primeiro ataque ao monte reuniu três batalhões de infantaria brasileiro, três grupos de artilharia e três pelotões de carros de combate americanos. Os brasileiros avançaram no dia 29, um dia depois de os alemães terem expulsado as tropas americanas que haviam tomado o Monte Belvedere. O ataque fracassou. As baixas chegaram a 190 entre os combatentes. 

Seria preciso outro ataque – 12 de dezembro, que parou na reação alemã em meio ao nevoeiro e ao imenso lodaçal que se formara com a chuva  – para que o comandado da FEB chegasse à conclusão de que a elevação só poderia ser tomada por meio da ação combinada de duas divisões, com o que o comando do 5.º Exército, ao qual a FEB estava subordinada, concordou. 

A ofensiva só foi retomada em fevereiro de 1945. “Se prepara que amanhã nós vamos tomar Monte Castelo”. Foi assim que o soldado Juventino das Silva, veterano da FEB contou em vídeo preparado pelo Comando do Exército como soube que reiniciaria a marcha paralisada em dezembro. Era o dia 20 quando a tropa foi informada. Ali também estavam o coronel Amerino Raposo, então tenente de artilharia e outro entrevistado pelo Exército, o sargento artilheiro Boris Schnaiderman e o sargento Newton Lascalea, que pertencia a uma companhia de petrechos pesados. 

Na manhã de 21, a tropa partiu às 5h30 para tomar a posição – um dia antes, conforme o plano, a 10.ª Divisão de Montanha conquistara Monte Belvedere. “Monte Castelo custou muito caro à FEB: 478 brasileiros tombaram em combate, sendo 103 no último dos três ataques. O supremo sacrifício não fora em vão”, escreveu o general Edson Pujol, comandante do Exército, em sua ordem do dia sobre a data, comemorada em todas as unidades da Força. 
Com a queda do monte, não só caía o maciço de cristas, que abria o caminho para Bolonha e para o Vale do Pó, prenunciando o fim da guerra na Itália, mas também a FEB conquistava um dos símbolos  – o mais conhecido deles  – de sua campanha na Itália.

Cinco livros para ler sobre a FEB:

A FEB pelo seu Comandante; J.B. Mascarenhas de Moraes (Editora Biblioteca do Exército)
O Brasil na Segunda Guerra Mundial, Teresa Isenburg (22 Editorial)
Barbudos, Sujos e Fatigados, soldados brasileiros na 2.ª Guera Mundial, Cesar Campiani Maximiano (Grua Livros)
Guerra em Surdina, Boris Schnaiderman (Cosac & Naify)
Crônicas da Guerra na Itália, Rubem Braga (Record)


sábado, 8 de fevereiro de 2020

40 ANOS DE PT. 40 ANOS DE LUTA! UM PARTIDO QUE NUNCA MUDOU DE NOME OU SIGLA PARA CONTINUAR EXISTINDO!

Festival PT 40 Anos: Gleisi e Haddad reacendem orgulho de ser petista


Presidenta e ex-ministro foram os anfitriões do ato de abertura em comemoração ao aniversário do partido; programação segue até domingo; sábado tem Lula e Mujica.

Com todos os ingressos gratuitos esgotados antes mesmo do início da programação, o Festival PT 40 anos começou fazendo jus às enormes expectativas da militância. Logo em seu primeiro ato, no sempre emblemático Circo Voador, o evento – que vai até domingo (9) no Rio Janeiro – juntou cultura e diversidade à providencial exaltação à história do partido fundado em 10 de fevereiro de 1980.
Logo de cara, a presidenta Nacional Gleisi Hoffmann reiterou que celebrar o nascimento daquela que hoje é a maior legenda progressista da América Latina é, e sempre será, um ato político.  “A gente tem que comemorar nossa caminhada. Nem sempre ela foi fácil. Às vezes dolorosa e difícil. Por isso a gente também tem que ter alegria porque este partido é uma preciosidade na história política brasileira”, declara.
Sob o olhar atento do público, Gleisi ainda fez questão de enviar recado àqueles que insistem em afrontar um partido nascido para defender os anseios do povo brasileiro: “Nós temos que nos orgulhar do Partido dos Trabalhadores. Disseram que iam acabar conosco, que iam nos destruir, que iam nos varrer do mapa. Erraram porque nós estamos aqui de cabeça erguida”.
Disseram que iam acabar conosco, que iam nos destruir, que iam nos varrer do mapa. Erraram porque nós estamos aqui de cabeça erguida”, Gleisi Hoffmann
O ex-ministro Fernando Haddad concorda e completa: “A única coisa que incomoda o andar de cima é o PT. A única coisa que é uma pedra no sapato deles é o PT. E é por isso que eles deflagraram uma guerra neste país não só contra o partido.  Mas enquanto tiver um companheiro ou companheira nosso na rua da amargura nós vamos estar com a estrela no peito, percorrendo este país para fazer justiça social, desenvolvimento e inclusão”.
Enquanto tiver um companheiro ou companheira nosso na rua da amargura nós vamos estar com a estrela no peito, percorrendo este país para fazer justiça social, desenvolvimento e inclusão”, Haddad

Lula e Mujica

O ex-presidente do Uruguai e atual senador Pepe Mujica participa, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de debate sobre o Sentido da Política Transformadora no Mundo neste sábado (8). O diálogo está marcado para as 18h na Fundição Progresso. A seguir, confira a programação completa:



PT PROÍBE ALIANÇA POLÍTICO-ELEITORAL COM PARTIDOS DE EXTREMA-DIREITA, AGENDA LIBERAL E CANDIDATOS QUE TENHAM ATACADO O PT!

DERROTAR BOLSONARO E SEU GOVERNO, DEFENDER O POVO, A DEMOCRACIA E A SOBERANIA, COM LIBERDADE PLENA PARA LULA!
O enfrentamento da agenda ultraneoliberal do governo Bolsonaro e seus aliados e das políticas fiscais antipopulares a ela associadas – que produzem o crescimento da pobreza, da desigualdade, do desemprego, da fome e o desmonte das políticas de saúde, educação e segurança – devem ser o centro do discurso e das propostas de ação política, social e parlamentar do Partido dos Trabalhadores.
Estas políticas atingem diretamente as classes populares, maioria do povo brasileiro, esmagadas pela luta cada vez mais árdua pela sobrevivência. É essa agenda excludente de direitos e concentradora de riqueza que se constitui como a principal ameaça à construção de uma democracia plena no Brasil. A crise da política e da democracia entre nós é indissociável da crise social imposta ao país pelo modelo ultraneoliberal e autoritário, que também compromete a soberania e as bases para a construção de um projeto de desenvolvimento com inclusão.
O governo Bolsonaro e a direita combinam o entreguismo, o ultraliberalismo e o neofascismo com o retrocesso na agenda de direitos humanos, incentivando a discriminação e a violência contra negros e negras, mulheres, indígenas e a população LGBT. Acusamos também os ataques a artistas, cientistas, educadores, ambientalistas. Devemos repudiar permanentemente essa tentativa de inaceitável retrocesso democrático e civilizatório e entender que estas pautas são estruturantes para a construção de uma sociedade justa e igualitária e devem ser defendidas por todos nós, entendendo que a defesa intransigente da democracia nos unifica.
Em meio à rejeição provocada pela truculência deste governo, setores da elite econômica e seus porta-vozes na mídia e na política tentam, agora, se diferenciar do bolsonarismo, mas sem abrir mão do modelo econômico com que sonhavam desde os anos 1990. Um autoproclamado “centro político” (uma espécie de bolsonarismo envergonhado) busca atrair setores progressistas e de esquerda para uma frente ampla em defesa da democracia, mas sem propor qualquer debate sobre o programa econômico ultraneoliberal.
São setores que apoiaram ativamente a ascensão deste governo e apoiam entusiasticamente a agenda de “reformas” que está destruindo a previdência, revogando direitos trabalhistas, desnacionalizando a economia, tirando os pobres do orçamento, entregando as riquezas e empresas que pertencem ao país. Medidas que sacrificam o povo e estão sendo impostas num ambiente de barbárie política e institucional.
Não podemos perder de vista que o verdadeiro cerne do governo Bolsonaro é a agenda ultraneoliberal, ancorada numa ortodoxia fiscal suicida permanente e na privatização destrutiva de empresas estratégicas para a soberania e o desenvolvimento nacional. Lutar pela democracia, pela soberania e pelos direitos do povo é lutar contra essa agenda conduzida pelo ministro da destruição, Paulo Guedes, e seus apoiadores no Congresso Nacional.
Também não podemos abandonar a grande contribuição histórica que o PT deu à esquerda brasileira, que foi sua capacidade de atrair amplos setores da sociedade para construir uma maioria que promoveu as mudanças imediatas importantes na vida do povo brasileiro, invertendo a agenda que excluía a maioria do povo no orçamento público. A vitória do Lula em 2002 e as conquistas dos governos do PT deram ao Brasil e ao nosso povo, em quase treze anos, mais direitos, melhores condições de vida e uma perspectiva que não tiveram em 500 anos de história.
O PT buscará constituir a Frente Democrática Popular, com forte participação dos partidos de esquerda, movimentos sociais e populares, setores progressistas, as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, para construir a força social e popular necessária para impedir os retrocessos e derrotar as políticas do governo Bolsonaro. Tal estratégia é compatível e complementar à formação de alianças táticas com setores sociais e políticos que tenham contradições reais com determinadas políticas do governo Bolsonaro. Por exemplo: contra a agenda do lavajatismo, que compromete a democracia, e os retrocessos obscurantistas.
Qualquer aliança que não contemple a abolição da agenda econômica e social do governo Bolsonaro e seus aliados fará muito pouco pela democracia no Brasil e nada por sua população.
O PT e Lula têm sido alvo principal de perseguição, do autoritarismo associado ao lawfare, expresso no lavajatismo e desmascarado pela Vaza Jato. Tentam também manter na defensiva os movimentos sociais e populares e a oposição política. Moro e o lawfare protegem lideranças aliadas, ministros e o próprio clã bolsonarista das investigações sobre suas relações com a milícia, os laranjas, a corrupção, o assassinato de Marielle e Anderson e outros graves crimes. Embora as tensões entre Bolsonaro e Moro sejam persistentes, ambos compartilham o mesmo objetivo: impedir que o PT e as forças progressistas e populares voltem a governar o país.
A campanha Lula Livre teve grande impacto internacional e no Brasil, denunciou as injustiças e o arbítrio contra Lula e gerou imensa solidariedade. Mas é importante registrar que Lula está solto, e não livre! É imperativo para a democracia a anulação da sentença ilegal e mentirosa de Sérgio Moro e o restabelecimento dos direitos políticos de Lula. Sua presença no cenário nacional muda a qualidade da disputa, fortalece a esquerda e o campo popular e seguramente será decisiva para impulsionar a resistência contra o desmonte do país e do estado e avançar nas lutas populares, como também para se constituir social e politicamente um amplo movimento de retomada do projeto democrático e popular em 2022.
Para isso a figura aglutinadora do Lula e lideranças importantes do Partido, como Fernando Haddad e Dilma Rousseff, devem percorrer  o país, dialogando com as forças políticas, sociais, econômicas e institucionais para dizer que o Brasil só será de fato uma Nação justa e soberana com a retomada de um governo progressista e popular, constituindo-se como alternativa para as eleições de 2022.
LUTA SOCIAL
O PT e os movimentos sindical e popular precisam expressar com toda veemência a indignação com a situação social imposta à maioria da população. É intolerável seguir com 12 milhões de desempregados, a explosão do trabalho informal sem nenhum direito social e trabalhista; com 13,5 milhões de brasileiras e brasileiros sobrevivendo com até R$ 8,00 por dia; com a inadimplência do cartão de crédito, pressionada pelos juros escorchantes, que atinge 78,9% dos usuários; com 2,3 milhões de cidadãos na fila humilhante do INSS; com o retrocesso no Bolsa Família, que tinha 14 milhões de beneficiários e já caiu para 13,2 milhões, com estimativas de mais de um milhão na fila.
São intoleráveis o fim da política de valorização do salário mínimo, a taxação do seguro-desemprego, o desmonte do SUS e da educação pública; com a política criminosa de estímulo à violência policial e à impunidade, na origem do genocídio dos jovens negros, para só mencionar as situações mais visíveis e dramáticas. A centralidade de nossas lutas está na resistência e na conexão com a situação social do nosso povo. Temos o desafio de articulá-las a movimentos amplos em defesa da democracia e dos direitos sociais.
Nesse sentido, o Plano Emergencial de Emprego e Renda (PEER), apresentado pelo PT, e a proposta de uma Reforma Tributária Justa e Solidária, articulada pelos partidos da oposição, constituem-se num primeiro grande passo para dialogarmos com a sociedade e mostrarmos que existem saídas econômicas e sociais que não apenas incluem mas têm como centro os interesses e reivindicações das classes populares.
O PT precisa estar nas ruas e periferias, incentivando, mobilizando manifestações e movimentos que se contraponham à retirada de direitos e à entrega da nossa soberania. Os movimentos de luta popular em tantos países da América Latina são referências nessa caminhada.
É fundamental nosso apoio à greve dos petroleiros, que além de lutar por seus direitos defendem para o Brasil nossa principal e mais estratégica empresa, a Petrobrás. Temos de estar engajados nas lutas que fazem os companheiros e companheiras da Casa da Moeda, do Dataprev, Eletrobrás, Correios, dos trabalhadores na educação, dos estudantes, agricultores, movimentos organizados LGBT, negros e negras, juventude, mulheres, artistas e tantos outros. Esse é o lugar de um Partido que acredita na força e organização do povo e que sabe articulá-las à luta institucional, disputando e vencendo eleições democráticas, governando para garantir avanços para as classes populares, construindo uma sociedade mais justa e democrática.
O Partido tem de estar atento e mobilizado para as tarefas e prioridades de enfrentamento e luta, tanto no parlamento quanto no campo social e popular, que estão na pauta deste primeiro semestre e acompanham o texto desta Resolução. O PT fortalecerá sua implantação nos territórios e investirá prioritariamente no diálogo com o povo. Construir núcleos de base, nos locais de trabalho e estudo, criar e fortalecer núcleos temáticos e setoriais. Fortalecer a formação política dos filiados e dar um salto na comunicação partidária, para alcançar o conjunto da militância e disputar as redes sociais. Enfrentar a escalada neofascista e derrotar o bolsonarismo exigirá um esforço de renovação e reorganização do Partido dos Trabalhadores, aumentando nossa capacidade de mobilização, nossa organicidade, nossa presença na luta cotidiana dos trabalhadores e movimentos sociais, de forma a conquistar o apoio político da maioria da população.
É desta forma que acumularemos força e condições para DERROTAR BOLSONARO E SEU GOVERNO, DEFENDER O POVO BRASILEIRO, A DEMOCRACIA, A SOBERANIA E LULA LIVRE.
ELEIÇÕES 2020
As eleições de 2020 serão uma grande oportunidade para o PT conversar com a sociedade brasileira, falar de nosso legado em inúmeras administrações municipais, dos grandes investimentos de Lula e Dilma nas cidades e conquistar governos que ajudem a apontar o caminho futuro para o desenvolvimento local e o resgate do projeto de governo popular iniciado com Lula, em 2003.
É o momento em que é especialmente importante fazer uma imersão na realidade local e nas demandas das pessoas, no dia a dia das cidades, nos desafios e possíveis soluções. É também um momento de discutir e construir propostas para enfrentar o déficit de moradia, o custo do transporte, a falta de remédios e médicos nos postos de saúde, a ausência de professores na escola, o asfalto na rua e tantos outros temas do cotidiano, articulando-os aos problemas nacionais e ao combate à direita e sua política de desmonte do país, das políticas sociais e de desenvolvimento soberano.
Diante dos retrocessos impostos pelas campanhas de desqualificação da política, como o fim do tempo de rádio e TV que era reservado aos partidos, e da censura da mídia a partidos como o PT, que defendem os interesses do povo, as eleições municipais constituem também uma grande oportunidade de fazer o debate das questões nacionais.
Temos de utilizar o espaço eleitoral para conversar com o povo sobre as consequências da agenda ultraneoliberal e da falta de compromisso de Bolsonaro e seu governo com o financiamento de políticas tão importantes como saúde, educação, saneamento, infraestrutura, segurança e investimentos públicos.
É o momento de pedir o voto municipal, mas também de disputar a agenda de desenvolvimento das nossas cidades, dos nossos estados e do nosso país. A nossa história recente mostra que é possível implantar um outro modelo de desenvolvimento, no qual os municípios são atores fundamentais do bem-estar social. É por esse compromisso que lutamos e lutaremos.
Disputaremos 2020 em cada município, mas sem perder a dimensão do contexto nacional nos destinos de cada uma de nossas cidades. Vencer a disputa local é importante passo para superarmos a agenda do atraso e DERROTAR BOLSONARO E SEU GOVERNO.
Isso só será possível se as petistas e os petistas de todo o país se dispuserem a enfrentar esse desafio – esse é o chamado do partido. Devemos participar das eleições em todos os municípios em que for possível, especialmente naqueles municípios com eleições em dois turnos e os que têm emissoras de rádio e TV geradoras de programas do horário eleitoral. Fazer campanha nas ruas, de casa em casa, olho no olho, no rádio, nas redes sociais e na televisão. Precisamos mostrar que um outro Brasil é possível, e que os governos municipais têm muita importância nessa construção.
Essa estratégia de fortalecimento da luta partidária não nos afasta da disposição de procurar e fazer alianças com as forças políticas que se aproximam dos mesmos compromissos com o povo, não só pela construção de alianças pontuais focadas em 2020, mas pela união de esforços contra o projeto de destruição social do governo Bolsonaro, que buscará a reeleição em 2022.
Coerente com esta Resolução, o PT define como centro estratégico eleitoral a construção de alianças com PCdoB, PSOL, PDT, PSB, Rede, PCO e UP. Onde o PT encabeça a chapa, composições com partidos para além deste espectro poderão ser autorizadas pelo Diretório Estadual.
Nas situações em que o PT não encabeça a chapa e o candidato seja de um partido que não integre o espectro citado acima, somente serão permitidas alianças táticas e pontuais se autorizadas pelo Diretório Estadual, desde que candidato(a) tenha compromisso expresso com a oposição a Bolsonaro e suas políticas e não tenha práticas de hostilidade ao PT e aos presidentes Lula e Dilma. O PT Nacional decide que não ocorram alianças com os partidos que sustentam o projeto ultraneoliberal (DEM, PSDB) e veta qualquer aliança com aqueles que representam o extremismo de direita em nosso país.
As mudanças nas regras eleitorais tornarão esse desafio ainda mais complexo, tendo em vista que disputaremos a eleição para vereadores e vereadoras sem a possibilidade de coligações proporcionais. Isso demandará maior esforço e criatividade do nosso partido, o que inclui debater os mandatos coletivos, rodízios com suplentes e outras formas alternativas para incentivar o maior número de candidaturas.
Temos de estimular as candidaturas jovens, de negros e negras, indígenas, LGBTI, ativistas de movimentos sociais, religiosos e agrários, compreendendo a estratégica disputa de narrativa que estas candidaturas têm para nosso projeto nacional.
Devemos ter um olhar estratégico para as candidaturas das mulheres, não só pela obrigatoriedade da cota de 30% na chapa, mas porque a democracia não será efetiva sem a crescente participação de metade de sua população nas decisões políticas do país. O PT tem se posicionado à frente dos demais partidos progressistas quando apresenta uma política articulada para as candidaturas femininas. Temos de ampliar o resultado positivo que tivemos nas eleições de 2018. O Projeto “ Elas por Elas” incentivará e fortalecerá candidaturas femininas fortes e competitivas, combatendo a prática nefasta das candidaturas “laranjas”. Apostaremos na liderança das mulheres como estratégia de formação de chapas vencedoras nas eleições de 2020.
O PT tem projeto nacional, e por isso a direção nacional participará ativamente e coordenará a construção da estratégia eleitoral através de seu GTE (Grupo de Trabalho Eleitoral) e se empenhará em construir soluções, junto com as direções locais, para que o partido possa disputar as eleições majoritárias e proporcionais de 2020 em condições de competividade, sem deixar de avocar para si decisões relativas aos municípios considerados prioritários nessa estratégia, incluídas aí todas as capitais.
Nessas eleições, além de recuperar e ampliar nossa presença nos governos municipais em todos os estados e regiões, precisamos ficar especialmente atentos para manter e consolidar a força política e social que o PT construiu no Nordeste.
Esse esforço coletivo será fundamental para a definição da política de financiamento das campanhas pelo Fundo Eleitoral, com regras que precisamos debater e construir em sintonia com os objetivos centrais do PT. Mas desde já alertamos que, pelas restrições financeiras na utilização dos recursos do Fundo, há necessidade de campanhas de finanças locais para viabilizar a eleição do maior número de companheiras e companheiros. O esforço coletivo e solidário, coordenado por nossa intervenção programática, será a garantia de sucesso nessas eleições.
Viva os 40 anos do PT, o Partido que mudou o Brasil e sempre está ao lado do povo brasileiro.
Rio de Janeiro, 7 de fevereiro de 2020

sábado, 1 de fevereiro de 2020

CORONAVÍRUS: MAIS FAKE NEWS QUE INFORMAÇÕES!!! ESSE É O BRASIL QUE CONSTRUÍMOS!

Coronavírus expõe a nossa desinformação sobre a China, o maior fenômeno econômico dos nossos tempos.

O governo chinês estendeu o feriado para ajudar no combate à epidemia do coronavírus.
Foto: Nicolas Asfouri/AFP via Getty Images


EPIDEMIAS, DOENÇAS CONTAGIOSAS E CRISES SANITÁRIAS são momentos que desvelam racismo, estigma e discursos colonialistas que se perpetuam no mundo. No Brasil, um exemplo disso ocorreu em 2014, quando a possibilidade da ebola chegar ao país gerou um surto, não da doença, mas do vírus letal da xenofobia, como bem definiu Eliane Brum.
A atual repercussão do coronavírus na China reabre esse debate que, em última instância, é sobre produção de conhecimento e poder.
Não é a primeira vez que a China passa por uma crise epidêmica. A história das doenças contagiosas que se espalham medo é longa. Também é longa a história de como as autoridades chinesas, com seus erros e acertos, contornaram suas próprias crises, como no surto de cólera de 1949 e a varíola em 1950.
A mais recente e marcante epidemia foi a Síndrome Respiratória Aguda Severa, a Sars, na sigla em inglês. Como pontuaram os sinólogos Arthur Kleinman e James Watson, no livro “Sars in China: prelude to pandemic?, a Sars em 2003 provocou uma das mais sérias crises de saúde de nossos tempos. Kleinman, que tem cinco décadas de experiência em intervenção em saúde pública na China, acredita que a epidemia foi uma espécie de prelúdio de novas catástrofes de saúde que viriam acontecer no século 21. Ainda que o número de mortes tenha sido de aproximadamente 1.000 pessoas – pequeno comparado a outras epidemias –, a Sars mobilizou inseguranças, medos e preconceitos sobre o país. Os Estados Unidos não pouparam os boatos de que se estaria espalhando bioterror em seu território. O impacto sobre as vidas humanas na China e sobre a economia global foi tremendo, desvelando a fragilidade do mundo globalizado.
Passada a Sars, hoje a notícia do coronavírus se espalha por meio de uma onda de pânico moral que mistura fake news, desinformação, racismo e estereótipos tolos. Notícias falsas gravíssimas percorrem o WhatsApp. A mais debatida nas redes sociais foi a de que o vírus teria tido origem na sopa de morcegos, o que fez com que brasileiros – que vivem no país que se come coração de galinha e tripa de boi – ficassem escandalizados. Um vídeo no Twitter mostrava uma cena grotesca de um jovem chinês comendo um pássaro vivo, como a prova cabal que era por isso que o vírus se espalha.
Na apuração de informações para esta coluna, descobri, com a ajuda do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia (EUA), que grupos bolsonaristas no WhatsApp foram inundados de boatos, em forma de “breaking news”, que diziam que os chineses estavam morrendo caídos nas ruas, que pais abandonaram filhos no aeroporto ao saberem da contaminação e que 23 milhões de pessoas estavam em quarentena e 112 mil haviam morrido. Essa é a narrativa apocalíptica – ou a doutrina do choque, como diria a escritora Naomi Klein – sempre muito bem manipulada para fins políticos.
Tudo isso repete o antigo imaginário euro-estadunidense que procura associar a China à impureza simbólica e concreta. Há pelo menos 30 anos, a imprensa liberal ocidental, quando aborda o produção de manufaturas baratas, recorre sistematicamente à expressão “infestação” do mundo de mercadorias chinesas. Os chineses estão sempre contaminando o mundo de alguma forma.
Para contrabalançar os estereótipos negativos, vieram os estereótipos positivos. A grande notícia das redes sociais foi de que “A China construirá um hospital em 10 dias” – manchete que circulou de forma padronizada em diversos veículos. A difusão dessa notícia veio dos órgãos oficiais da imprensa chinesa, numa tentativa de direcionar as narrativas internacionais sobre a epidemia e o país.
É evidente que a manchete do hospital tem uma intenção positiva, que é mostrar uma China dinâmica, com tecnologia de ponta e vontade governamental para resolver seus problemas internos. Mas não deixa de ser o estereótipo do outro extremo, que reatualiza o eterno retorno da mítica chinesa acerca de suas grandiosas construções.
Autores como historiador búlgaro Tzvetan Todorov e o antropólogo francês François Laplantine mostraram que a imagem do Brasil pelos missionários europeus no século 16 era ambivalente: entre o mau e o bom selvagem, paraíso ou inferno. Os maus selvagens eram os indígenas rudes, sem roupa, sem pelo, sem alma. Os bons selvagens eram os nativos de alma pura, que não conheciam a malícia e a maldade.
No caso dos morcegos e desinformação, vê-se um etnocentrismo cru que desumaniza o outro. No caso do hospital, cai-se em idealização também estereotipada.
É importante frisar que não estou fazendo uma crítica a quem compartilhou a notícia. Eu mesma compartilhei. A construção rápida de um hospital mostra pragmatismo diante da calamidade. Além disso, a notícia tem um papel político para se opor à fantasia acerca dos morcegos, que fixam os chineses em um lugar bárbaro e exótico.
O problema, portanto, não é nossa ação individual, mas precisamente o desalentador fato de que, entre o morcego e o hospital, não sobra quase nada. Caímos sempre na armadilha do dualismo “tradição-modernidade”. Se a gente olha esse debate de longe, estruturalmente, o que concluímos é que não saímos do mesmo lugar de narrativas extremas e caricatas sobre o maior fenômeno econômico mundial dos nossos tempos. Sabemos muito pouco sobre o país mais populoso do mundo, com quase 1,4 bilhão de pessoas.
Como disse o historiador Peter Burke, os estereótipos sobre o outro tendem a ser hostis, desdenhosos ou condescendentes, transformado-o em exótico, distante e até monstros. A ideia de uma China envolta em um véu de mistérios – e por causa disso, um país incompreensível – é uma invenção colonialista centenária, que responde a um projeto de poder. De um lado, a caricatura não rompe com o colonialismo que criou uma imagem bárbara e exótica do oriente. Por outro, alimenta a mediocridade intercultural do projeto de nação brasileiro no qual estamos afundados atualmente.

Conhecimento made in Brazil

No início dos anos 2000, em função da conjuntura política dos BRICS, da China ter se tornado o maior parceiro comercial do Brasil, que envolveu a missão de Lula em 2004 à China e as Olimpíadas de Beijing de 2008, a mídia começou a romper o silêncio sobre o país oriental.
Em 2005, fiz uma pesquisa sobre representação da China na mídia brasileira. As capas de revista mostravam um dragão que ora ia nos devorar com sua economia, ora ia nos salvar. A revista Exame de 2005 trazia um dragão monstruoso, com suas garras de fora, engolindo um papagaio, que representava o Brasil.
Muitas matérias que surgiam antes das Olimpíadas iam nessa direção. Lembro de uma reportagem do Fantástico que passou grande parte do tempo mostrando as pessoas comendo inseto, e outra metade falando de um prédio transplantado e reerguido em pouquíssimo tempo. Em 2013, o problema persistia. Na primeira página de meu livro “China, Passado e Presente, eu falava que precisávamos superar as visões binárias entre o país exótico de pessoas estranhas que comem barata e o hipermoderno que constrói um prédio em poucos dias – precisamente a mesma coisa que volta em 2020.
Apesar dessas imagens se repetirem, o cenário político, econômico e cultural em relação à China era promissor e apontava um horizonte de conhecimento mútuo. Era a política-externa lulista, focada na cooperação sul-sul, nos BRICS, na produção de novas narrativas em um mundo que buscava a multipolaridade das relações internacionais.
O campo da sinologia profissional feita no Brasil se consolidava. Até então, como disse o professor de literatura Edward Said, os estudos sobre oriente nasceram no berço colonialista em que estudar o outro era uma forma de “dominar/controlar/intervir”. Mas a emergente sinologia no Brasil fazia parte de um projeto novo de conhecimento que repensava o mundo desde o sul global.
Escolas de chinês abriam por todos os lados, a Varig anunciava voo para Beijing e todo mundo queria fazer seu negócio da China. Entre os anos 2000 e 2013, também foi a era de ouro do jornalismo brasileiro e seus enviados especiais na China: Cláudia Trevisan, Gilberto Scofield, Sônia Bridi e Janaína Camara da Silveira, para citar apenas alguns nomes. Suas reportagens e seus livros também iam preenchendo o vazio narrativo deixado entre a sopa de morcegos e o prédio erguido em 10 dias.
Morar na China naquela época era viver no futuro dos países emergentes e sentir-se um ator da nova história do sistema mundial. Mas esse futuro – a gente sabe – virou pretérito. Esse mundo colapsou. A grande maioria dos enviados especiais foi embora e, hoje, em plena crise epidêmica, a imprensa brasileira se vira como pode para procurar especialistas que possam reportar uma visão realista do que está acontecendo.
No lado político, esse vazio informacional em relação à China não deve mudar nos próximos três anos. Nossa política externa é outra. Jair Bolsonaro diz “I love you” ao Trump, enquanto que o ministro das Relações Exteriores segue teorias eurocêntricas de extrema-direita que defendem a “civilização ocidental branca”. Não é à toa que os grupos bolsonaristas estão cheio de notícias falsas gravíssimas. Esse é o universo suscetível a visões maniqueístas e apocalípticas sobre o mundo.
Ainda que atualmente a gente tenha uma geração de sinólogos muito mais profissionalizada do que a que se formava nos anos 2000, os pesquisadores de hoje vivem um Brasil que tem pouco interesse na China. Desde 2013, o Brasil voltou-se a si próprio e alienou-se ainda mais do resto do mundo.
Conhecimento sobre a China exige jornalismo especializado, intercâmbio científico bilateral, aprendizado da língua, transformação dos currículos escolares, importação da indústria cultural e tradução de livros. Nada disso está no nosso horizonte a curto prazo em termos de projeto nacional.
Existe muito a se conhecer sobre a China e os chineses. Assim como comem cachorros, produzem excelentes vinhos. É um país que detém de uma indústria cinematográfica excepcional, no qual as cópias baratas convivem com a inovação tecnológica. Um país onde há uma explosão de movimentos LGBT e feministas que exigem seus direitos e negociam com o governo em seus próprios termos. Um país que tira milhões de pessoas da pobreza, mas que mantém o desafio da desigualdade.
Tanto a desinformação a respeito do vírus quanto o próprio desinteresse sobre o vírus são sintomáticos de uma era de pobreza informacional no âmbito intercultural. Só falamos do vírus de forma egoísta: quando o risco e o pânico batem em nossa porta. Quando a ignorância impera como um projeto nacional, a tendência é que a xenofobia, os preconceitos e as caricaturas reinem sozinhos.
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