segunda-feira, 8 de junho de 2020

QUAIS SÃO OS IMPACTOS E OS BENEFÍCIOS DO ENSINO A DISTÂNCIA? ESTUDO REALIZADO NOS ESTADOS UNIDOS MODELAM OS PREJUÍZOS. E NO BRASIL? COMO FICAMOS?

Crédito: Pixabay

Pandemia expôs ‘várias patologias que talvez ficassem um pouco mascaradas no dia a dia’, diz Carol da Costa, do Insper.

Quase 80% dos estudantes, no mundo, foram afetados pelo fechamento das escolas devido à pandemia da Covid-19. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) são exatos 1,38 bilhão de crianças e adolescentes. 

Uma parcela desse grupo passou a usar ferramentas de Ensino à Distância (EaD). Mas quais foram os aprendizados que esse novo método de ensino impulsionou em comparação com o modelo clássico, anterior à pandemia? Promove benefícios? Essa questão é pauta de muitas discussões sobre o sistema educacional no período de crise.

Um estudo da McKinsey & Company apresentou uma estimativa dos impactos do EAD no aprendizado dos alunos nos Estado Unidos  (COVID-19 and student learning in the United States: The hurt could last a lifetime(link abaixo). O levantamento dividiu os alunos em três categorias: aqueles que tiveram aulas online com estrutura de qualidade, estudantes com acesso precário aos conteúdos e jovens que ficaram sem estudar. 

Na categoria de ensino dentro da média de qualidade, o impacto é de três à quatro meses de atraso. 

Já na categoria abaixo da média, é de sete a onze meses. 

Para alunos que não tiveram aula, é de um ano a quatorze meses de perda. “Se lá (EUA) está ruim, aqui deve estar muito pior”, diz Carolina da Costa, professora do Insper e sócia da Mauá Capital.

Costa participou, nesta sexta-feira (5/6), do webinar promovido pelo JOTA em parceria com o Centro de Gestão e Políticas Públicas do Insper. Estavam presentes também Tadeu da Ponte, mestre em Matemática pelo IME-USP, professor e coordenador do Centro de Educação do Insper, e Jorge Lira, professor titular do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segundo Ponte, “uma vez que passamos a utilizar ferramentas e tecnologias para ensinar, não voltamos ao estado anterior”. Para ele, é como se os estudantes não se lembrassem mais dos modelos de ensino anteriores à pandemia, havendo a criação de uma descontinuidade ou disrupção no aprendizado.

O conceito de “disrupção” não pertence ao dicionário português. Costa explica o termo traduzindo-o para “descontinuidade”, dentro dos processos educacionais. Quando uma criança aprende a andar, ela não precisará mais engatinhar. Isso não significa que ela não sabe praticar o movimento, e sim que não faz mais sentido. De acordo com a professora, “todo processo de disrupção é um processo de aprendizagem”. 

A avaliação foi uma das partes mais afetadas pelo ensino à distância. Segundo Ponte o método “não é só importante pelo ponto de vista de a escola avaliar a aprendizagem dos alunos, mas também é indutora de comportamentos e atitudes. A avaliação faz com que o aluno se preocupe com os estudos”, diz. 

Apesar das dificuldades enfrentadas atualmente no ensino, existem qualidades que foram desenvolvidas. “O WhatsApp trouxe ao professor uma intimidade maior para a deficiência que o aluno tem. Houve uma brecha, toda uma suspensão a pensar em como o currículo deve se aproximar dos percursos individuais dos alunos”, afirma Lira. 

“A tecnologia, para aqueles que tiveram acesso, não gerou a percepção de um modelo melhor, que substitui o ensino tradicional. Ela expôs várias patologias que talvez ficassem um pouco mascaradas no dia a dia normal da escola e que temos uma oportunidade enorme de discutir”, afirma Costa sobre o modelo atual de ensino remoto. Para ela, o ensino brasileiro tinha muitas dificuldades e agora tem suas “rachaduras” mais visíveis.

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