sexta-feira, 31 de março de 2023

ITAJUÍPE: 31 DE MARÇO - IN MEMORIAN DE CLODUALDO CARDOSO

 

“A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer”. Peter Burke


Clodualdo Cardoso, nascido em Canavieiras, 24 de novembro de 1904, tornou-se morador do antigo povoado de Pirangi por volta dos anos de 1920. No então povoado trabalhou como feirante, cabeleireiro, alfaiate e comerciante sendo dono de uma casa de torrefação, onde produzia o Café Vivas, e depois de uma papelaria.

Além das suas atividades profissionais, Clodualdo atuou em diversas organizações de cunho político e social. Colaborou com campanhas da Igreja Católica local, foi sócio da sociedade beneficente mantenedora do Hospital Pirangi e do Ginásio 7 de setembro (atuais Hospital Dr. Montival Lucas e Escola Municipal Diógenes Vinhaes), foi sócio fundador da Sociedade Aliança dos Artistas e Operários de Pirangi e colaborou para fundação de clubes de futebol locais. 

Na política esteve envolvido em movimentos emancipacionistas, desde o ocorrido em 1925 até o que elevou o então povoado de Itajuípe ao posto de cidade, em 1952. Foi filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCB), em 1945, ao Partido Social Trabalhista (PST), em 1958, e ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), nos anos de 1960. Defensor dos trabalhadores rurais e contra os maus tratos sofridos por estes nas fazendas de cacau, usou como recurso para sua militância dois jornais de sua propriedade: O Paladino (1956-1959) e o Tribuna de Itajuípe (1959-1962).

No campo político representativo, Clodualdo foi candidato a prefeito nas eleições de 1958, pelo PST, e a vereador nas eleições de 1962, pelo PTB. Nesta última foi eleito, mas teve o mandato interrompido em decorrência do GOLPE de 31 de março de 1964.

Clodualdo Cardoso, àquela altura com 59 anos de idade, foi preso e, naturalmente, se manteve longe da Câmara de Vereadores, porém seu nome esteve entre os principais assuntos durante o mês de abril daquele ano enquanto se discutiu sua condição e como seria cassado o seu mandato. E embora houvesse dúvidas quanto ao método, aparecia como certo aos demais vereadores que Clodualdo era culpado.

Caracterizado por seus então colegas de Câmara como "comunista fichado" responsável por implantar "desassossego a quase totalidade da população de Itajuípe, nas ruas promovendo comícios e através da sua impressa maliciosa" e "elemento nocivo a comunidade". A culpa que mais pesou a Clodualdo Cardoso era a de "levar, por seu intermédio, trabalhadores a junta de conciliação porque os fazendeiros não queriam se enquadrar na lei do salário mínimo".

Em 11 de maio de 1964, Clodualdo Cardoso, que estava preso no quartel militar em Ilhéus, por 6 votos a favor e 1 em branco teve seu mandato cassado acusado de ser comunista. Nesta mesma sessão o então Vereador Humberto Salomão Mafuz confessou que: "no dia 2 de abril havia assinado um documento onde afirmava ser Clodualdo Cardoso comunista. E dias depois, juntamente com o Sr. Marinielo, o entregou ao comendo de Ilhéus."

No ato da prisão Clodualdo estava na residência de uma das suas filhas, em Itabuna, cercado por seus netos.

Clodualdo Cardoso faleceu em 24 de setembro de 1967.

Igor F. Góes
Professor/Historiador
Graduado em História - UESC
Mestre em História - UNEB

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