quinta-feira, 20 de abril de 2023

LULA PRECISA FALAR MENOS NA QUESTÃO DA GUERRA ENTRE RÚSSIA E UCRÂNIA E AGIR MAIS. JÁ DIZIAM OS ANTIGOS: BOCA CALADA NÃO ENTRA MOSQUITO.


A GEOPOLÍTICA É UM MAR DE ARMADILHAS. E LULA PRECISA APRENDER ISSO. PRECISA OUVIR MAIS E FALAR MENOS. DEIXA A GEOPOLÍTICA QUE PARA QUEM ENTENDE. NUM MUNDO QUE ESTÁ EM PLENA GUERRA FRIA PELO CONTROLE DO COMÉRCIO MUNDIAL, DECLARAÇÕES EXPONTÂNEAS NÃO TEM LUGAR. CADA PALAVRA DEVE SER PENSADA E CALCULADA E SÓ PRONUNCIADA DEPOIS DE AVALIADA AS POSSÍVEIS E VARIADAS CONSEQUÊNCIAS. GEOPOLÍTICA NÃO É PARA AMADORES.


O presidente Lula aproveitou a visita do colega da Romênia, Klaus Werner Iohannis, na terça-feira 18 para modular o discurso a respeito da invasão da Ucrânia. O petista voltou a condenar a violação da integridade territorial do país pela Rússia, defendeu uma solução de paz “política e negociada” e rebateu as críticas de Washington, que acusou o brasileiro de “papaguear” a propaganda de Vladimir Putin. 

Antes tarde do que nunca. 

Ainda há tempo de reverter os estragos das declarações feitas na China e nos Emirados Árabes em um momento de “espontaneidade”, conforme a definição de um colaborador de Lula. Sob o petista, o País ainda tem crédito para gastar na geopolítica, prova o convite para o encontro, no Japão, do G-7, convescote das sete maiores economias.

O Brasil é uma nação independente, autônoma, e o presidente da República eleito pelo voto popular tem o direito de expressar opiniões sem se preocupar com as reações de Washington, Bruxelas, Pequim, Moscou ou da redação da GloboNews. Lula fez observações pertinentes a respeito da falta de empenho dos Estados Unidos e da União Europeia nas negociações de paz e insistiu no único caminho viável para resolver o conflito, a criação de um grupo de nações, espécie de G-20, sinceramente disposto a encontrar um termo entre as demandas da Rússia e da Ucrânia. 

O presidente caiu, no entanto, em uma armadilha. Deixou-se levar por um dos lados e minou o papel de mediador que pretende, ou pretendia, exercer. 

Recorro a José Sócrates, ex-primeiro-ministro de Portugal e colunista desta revista. O mundo, diz, divide-se atualmente em duas posições. Há quem defenda a paz sem condenar a Rússia e há quem condene a Rússia sem desejar a paz. 

Até a viagem à China, Lula trafegava com segurança por esse campo minado, mas pisou em um explosivo quando menos se esperava. Errou na forma e no tom. Os estragos estão feitos, mas há tempo de curar as feridas, tratamento iniciado com as declarações na presença do presidente romeno. 

Por falta de espaço, não vale a pena relembrar as motivações históricas e conjunturais para a invasão russa: de um lado, a “revolução” Maidan de 2014, patrocinada pelos Estados Unidos, que derrubou um governo ucraniano pró-Moscou, substituído por títeres ocidentais, o avanço da Otan rumo ao Leste, à revelia dos acordos assinados após a queda do Muro de Berlim, e as dúvidas sobre a extensão real do território da Ucrânia (a Crimeia foi um presente de Nikita Kruchev aos ucranianos em 1954). 

De outro, os delírios imperialistas e cafonas de Putin a respeito das glórias da Mãe Rússia. Para quem pretende, no entanto, conquistar a confiança das partes e ter sucesso no papel de articulador da paz, é um pecadilho (e Lula o cometeu) não condenar, sempre que possível, o fato de os russos terem violado tratados internacionais e conspurcado a integridade territorial de outro país, obrigado a se defender à custa de milhares de mortes, exílios forçados, destruição, fome e desespero. 

Eis um fato, tenha-se ou não simpatia pela Ucrânia ou por seu presidente-comediante. 

Mais: defensores incondicionais da paz precisam ser tão veementes agora quanto foram na condenação às invasões, baseadas em argumentos mentirosos, dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão. Pau que dá em Little Francis, dá em Francishenko. 

O pior, no atual cenário, seria a desmoralização de todos os possíveis interlocutores. Desde a crise dos mísseis em meados do século passado, auge da Guerra Fria, o planeta não corria riscos reais de um conflito nuclear. Não só. Sem uma mediação confiável, a invasão da Ucrânia tende a se prolongar por tempo indefinido, assim como seus efeitos na economia mundial: inflação, estagnação, desabastecimento, violência. 

Quem comemora é a extrema-direita, que voltou a ganhar fôlego na Europa, continua com as garras afiadas na América Latina e sonha em voltar à Casa Branca. Nas suas ponderações, Lula não pode ser ingênuo a ponto de ignorar o risco, logo ele que propôs ao presidente dos EUA, Joe Biden, uma aliança mundial contra o extremismo fascistoide.

Fonte: Revista Carta Capital.

Texto Original de Sérgio Lírio.






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