No dia 30 de
Março de 1867, o então presidente dos Estados Unidos, Andrew Johnson,
apresentou ao Senado uma proposta de compra de 1,5 milhão de quilómetros
quadrados do Alasca, então pertencente à Rússia.
Este Blog se destina a Divulgação Científica, Popularização da Ciência, Geopolítica e esclarecimento político nesse momento que as fake news dominam os noticiários.
quarta-feira, 30 de março de 2022
30 DE MARÇO DE 1867: ESTADOS UNIDOS COMPRAM O ALASCA À RÚSSIA POR 7,2 MILHÕES DE DÓLARES - O MAIOR ERRO GEOPOLÍTICO DA RÚSSIA
terça-feira, 29 de março de 2022
HELENA NADER SERÁ A PRIMEIRA MULHER A PRESIDIR A ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS
Atual vice-presidente, a biomédica da Unifesp e presidente de honra da SBPC foi eleita após Assembleia Geral realizada em 29 de março
A Academia Brasileira de Ciências (ABC) elegeu, pela primeira vez em seus 105 anos, uma mulher para a presidência. A eleição de Helena Nader, biomédica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foi definida na Assembleia-Geral desta terça-feira (29). Helena encabeçou a chapa única que concorreu ao pleito. Ela será empossada durante a Reunião Magna da ABC, entre 3 e 5 de maio de 2022, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e assume o cargo para o triênio 2022-2025. O voto na ABC não é obrigatório. Dos 568 membros habilitados pra votar, 420 votaram
Vice-presidente da ABC desde 2016, a pesquisadora vai assumir a cadeira do físico Luiz Davidovich. O químico Jailson Bittencourt de Andrade, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atuante no Centro Universitário Senai-Cimatec, ocupará a vice-presidência na nova Diretoria. Os outros membros da nova gestão podem ser conferidos no site da ABC.
Helena se considera “uma pessoa privilegiada por ter tido tantas oportunidades na vida e por estar agora presidindo, como mulher, uma instituição centenária, ao lado de uma diretoria da mais alta qualidade. Espero que possamos motivar ainda mais a ciência brasileira”.
Ao longo de sua carreira, Helena aliou as atividades de pesquisa ao exercício de cargos administrativos em destacadas instituições científicas. Foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC, 2011-2017), onde atualmente é presidente de honra, presidente da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq, 2009-2010) e é co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (Ianas).
Bacharel em ciências biomédicas pela Unifesp e licenciada em biologia pela Universidade de São Paulo (USP), Helena tem como objeto de pesquisa a heparina, um composto que evita a coagulação do sangue e impede a formação de trombos. A pesquisadora é bolsista de produtividade nível 1A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), publicou mais de 380 artigos em qualificadas revistas científicas internacionais e já formou 46 mestres e 51 doutores.
Helena nasceu na cidade de São Paulo, em 1947, e passou a infância com os pais e a irmã na capital paulista e em Curitiba (PR), para onde seu pai foi transferido. Ainda na adolescência, teve sua primeira experiência acadêmica no exterior, ao cursar o último ano do ensino médio nos Estados Unidos. Depois da graduação, ingressou direto no doutorado em ciências biológicas na Unifesp, sob a orientação do Acadêmico Carl Peter Von Dietrich (1936-2005), que viria a ser seu companheiro por 22 anos e pai de sua filha Julia. Em 1977, fez um pós-doutorado na mesma área pela Universidade do Sul da Califórnia (Estados Unidos).
Sua brilhante atuação como cientista foi reconhecida por importantes distinções acadêmicas, como o Prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia 2020, concedido pelo CNPq, Fundação Conrado Wessel (FCW) e Marinha do Brasil; o Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher (2020); o Prêmio Scopus 2007, concedido pela Elsevier e pela Capes; o título de professora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 2005; o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2022; e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2008, outorgada pelo governo do Brasil.
Além de membro titular da ABC, Helena também é membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS, sigla em inglês). A professora também se destacou, desde o início da carreira, pelo posicionamento ativo em defesa da ciência, tecnologia, inovação e educação brasileira, expresso em artigos publicados recentemente no Estadão, na revista Piauí e na Folha de S.Paulo. Promover a igualdade de gênero e pluralidade na ciência também são pautas prioritárias para Helena.
Resultado reforça movimento ativo da ABC por maior representatividade
O resultado da eleição reforça um movimento ativo da ABC por maior representatividade de gênero em seus quadros. Recentemente, a Academia também elegeu, em um resultado inédito, mais mulheres do que homens como membros titulares para o ano de 2022. Foram escolhidos 13 nomes para a categoria, dos quais oito são mulheres.
Embora o cenário esteja avançando, historicamente, foram poucas as mulheres em cargos de liderança em academias e instituições pelo mundo. Nélida Piñon e Ana Maria Machado são as duas únicas presidentes mulheres da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde sua fundação, em 1897. Na Academia Nacional de Medicina (ANM), fundada em 1829, ainda não constam regentes do gênero feminino.
Em nível internacional, dentre os 303 presidentes da tradicional Academia Francesa de Ciências (ASF, sigla em francês), cuja fundação data de 1699, há apenas uma mulher: a bioquímica Marianne Grunberg-Manago (1995-96). A Royal Society, fundada em 1660, nunca foi presidida por uma mulher e a primeira presidente mulher da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos (NAS, sigla em inglês), fundada em 1863, é a atual, eleita em 2016, Marcia Mc Nutt. Alemanha, Inglaterra e Itália não tiveram presidentes do gênero feminino em sua história secular. Assim, a eleição de Helena Nader como presidente da Academia Brasileira de Ciências é um marco internacional na história das academias científicas.
Fonte:
29 DE MARÇO DE 1951: O CASAL ROSENBERG É DECLARADO CULPADO DE ESPIONAGEM
Num dos mais
apaixonantes julgamentos da história política em todo o mundo, Julius e
Ethel Rosenberg são declarados culpados, em 29 de Março de 1951, de espionagem
por passar segredos relativos à bomba atómica à União Soviética.
O "caso do Casal Rosenberg" acendeu paixões e manifestações foram organizadas em todos os cantos do planeta durante o processo pela sua libertação. Marido e mulher foram mais tarde sentenciados à pena de morte e executados na cadeira eléctrica em Junho de 1953.
A condenação dos Rosenberg foi o clímax de uma série de sucessivos episódios de suposta espionagem iniciados com a prisão do físico britânico Klaus Fuchs na Inglaterra, em Fevereiro de 1950. As autoridades britânicas, com o apoio do FBI, reuniram evidências que Fuchs – actuante no desenvolvimento da bomba atómica tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial – havia passado informações altamente secretas a funcionários soviéticos. Fuchs quase imediatamente reconheceu a culpa e passou a fazer uma série de acusações.
O físico disse que o norte-americano Harry Gold servia de pombo-correio aos agentes soviéticos aos quais Fuchs passava as informações. As autoridades norte-americanas capturaram Gold, que em acto contínuo apontou o seu dedo em direcção a David Greenglass, um jovem cientista que trabalhava no laboratório onde a bomba atómica havia sido desenvolvida. Gold declarou que Greenglass estava ainda mais envolvido na espionagem do que Fuchs.
Preso, Greenglass prontamente confessou, acusando a sua irmã Ethel e o seu cunhado Julius de serem os espiões que controlavam toda a operação. O país vivia então o auge do macartismo e o clima era de anticomunismo. Sabia-se que tanto Ethel quanto Julius tinham fortes ligações com a esquerda, tendo participado em inúmeras actividades políticas e sociais nos EUA no final dos anos 1930 e na década de 1940.
Julius foi preso em Julho e Ethel em Agosto de 1950. Tinham dois filhos, de cinco e de três anos. Contrariamente a Fuchs, Gold e Greenglass, ele negou qualquer envolvimento em actividades de espionagem. Ethel negou com a mesma obstinação.
Para os padrões actuais, o processo todo correu com uma celeridade espantosa. Começou em 6 de Março de 1951 e em 29 de Março o júri declarou-os culpados de conspiração para cometer espionagem no mais alto grau. Os Rosenberg não foram auxiliados por uma defesa capaz. Muitos à época e desde então classificaram-na como incompetente.
Mais danoso e cruel, porém, foi o testemunho de Greenglass e Gold. Greenglass declarou que Julius Rosenberg preparara um encontro secreto quando Greenglass passaria os planos de construção da bomba atómica a Gold. Harry Gold corroborou com a acusação de Greenglass e admitiu que, em seguida, transferiu os planos a um agente soviético. Esse depoimento selou o destino de Julius.
Embora houvesse pouca evidência que ligasse Ethel directamente à espionagem, os promotores, baseados no depoimento do seu irmão, insistiram que ela era o cérebro por trás de todo o esquema. O júri considerou ambos culpados. Poucos dias depois, os Rosenbergs foram sentenciados à pena capital e executados na cadeira eléctrica da prisão de Sin-Sing, em Nova Iorque, em 19 de Junho de 1953. Ambos disseram até o fim que eram inocentes.
O ‘Caso Rosenberg’ atraiu a atenção mundial. Os seus defensores proclamavam que eles tinham sido transformados em bodes expiatórios da histeria macartista que varria os EUA e do terror alimentado pelos meios de comunicação na Guerra Fria.
O escritor e filósofo francês
Jean-Paul Sartre declarou enfaticamente que a sua execução não passara de um
“linchamento legal”.
Fonte:
segunda-feira, 28 de março de 2022
GUERRA E CRISES SANITÁRIA E CLIMÁTICA AUMENTAM AS DESIGUALDADES SOCIAIS NO PLANETA
No sistema econômico mundial do século 21, empresas multinacionais enriquecem utilizando a infraestrutura pública de um país, seus recursos naturais, trabalhadores formados e cuidados pelo sistema público de educação e saúde, mas contribuem muito pouco com impostos para financiar essas atividades.
E de uma hora para outra, apenas apertando a tecla “enter”, estas empresas – assim como seus donos e acionistas bilionários – podem transferir todos os seus ativos para outra jurisdição, os chamados paraísos fiscais, onde a cobrança de impostos é literalmente zero, sem sofrer qualquer controle ou barreira.
Mas a conta que elas geram – o desemprego, o colapso do sistema de saúde e a devastação ambiental – fica no local de onde saíram para ser bancada por governos com o dinheiro dos poucos pagantes de impostos – principalmente os trabalhadores e a classe média, cada vez mais empobrecidos.
“É um sistema insustentável”, definiu o economista francês Thomas Piketty, especialista no assunto, autor do best-seller “O Capital no Século 21” entre outros livros.
A desigualdade é um problema histórico, principalmente de países em desenvolvimento como o Brasil, piorou com a pandemia do coronavírus e está se agravando com a guerra entre Rússia e Ucrânia.
Fonte:
sexta-feira, 25 de março de 2022
25 DE MARÇO DE 1199: BULA DO PAPA INOCÊNCIO III "ANUNCIA" A INQUISIÇÃO
Inocêncio III
A partir desta bula, não caberia mais aos bispos lutar contra a heresia; a tarefa passava agora aos prelados diretamente subordinados à Santa Sé.
Em 25 de março de 1199, o papa
Inocêncio III publicou a bula Vergentis in senium, que
instituía um procedimento de combate à heresia. Depois do segundo Concílio de
Latrão, ocorrido no mesmo ano, a perseguição aos hereges tornou-se uma
preocupação central da igreja católica. Os movimentos maniqueístas dualistas,
que acreditavam numa existência separada do bem e do mal, de Deus e do Diabo,
prosperavam e passavam a ser considerados um risco para a igreja. A bula do
papa Inocêncio anunciava o envio de religiosos para doutrinar os integrantes
desses movimentos, entre eles os cátaros, e estabelecia, assim, as bases da
Inquisição.
Dez anos depois, em julho de 1209, o exército dos cruzados,
encarregado de erradicar os cátaros por determinação do papa, tomou a cidade
francesa de Béziers. A heresia cátara provocou a "cruzada albigense",
na qual vários considerados "hereges medievais" das cidades e
arredores eram agredidos e mortos violentamente. Toda a região de
Rennes-le-Château passou a carregar o estigma de uma história amarga e de
sangue, que perdura até os dias de hoje.
Sob a direção do legado papal, Arnaldo Amalrico, e da
autoridade local, Simão de Monfort, a cidade foi saqueada, e a população, massacrada.
Ainda que majoritariamente católica, Béziers não desejava livrar-se dos
cátaros. Antes de partir para o ataque, os cruzados perguntaram a Amalrico como
reconhecer os hereges e distingui-los dos verdadeiros cristãos. A resposta
teria sido: "Matem todos. Deus acabará por reconhecer os seus".
Durante 20 anos, os combates
causariam estragos na região. Os albigenses, ou seja, os povos de Albi, comuna
francesa da região dos Médios Pirineus, não reconheciam as divindades de Cristo
e eram avessos à autoridade eclesiástica da Igreja. Num primeiro momento, eles
foram vencidos, mas, depois, conseguiram organizar uma reconquista antes de se
chocar com o exército real francês.
Gloriosa para os católicos, a Cruzada dos Albigenses não
eliminou completamente o catarismo.
Em novembro de 1215, Inocêncio III presidiu a última sessão
do Concílio de Latrão, que terminou com a condenação dos cátaros e dos
valdenses, habitantes dos vales alpinos. O concílio também proibiu a criação de
novas ordens religiosas, manteve a discriminação contra os judeus e fez surgir
a expressão “transubstanciação”, termo usado pela Igreja Católica para explicar
a conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo.
A partir desta bula, não caberia mais aos bispos lutar
contra a heresia. A tarefa passava agora aos prelados diretamente subordinados
à Santa Sé, que gozavam de poderes extraordinários. A prisão perpétua e a morte
na fogueira tornaram-se meios reconhecidos pela igreja para lutar contra a heresia.
Em setembro de 1231, os primeiros inquisidores começariam sua temida missão na
Europa.
Gregório IX nomeou o primeiro inquisidor, Conrado de
Marburgo. Os inquisidores subsequentes seriam recrutados essencialmente entre
os dominicanos e os franciscanos.
PODCAST - Opera Mundi - Hoje na História: 1199 - Bula do papa Inocêncio III anuncia a Inquisição
Fonte:
quinta-feira, 24 de março de 2022
XADREZ DO GOLPE QUE SERÁ DADO NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS, POR LUIS NASSIF.
Peça 1 – o desmonte da velha ordem
O mundo que conhecemos acabou. E o que vem pela frente é uma incógnita total. É o que está na raiz de todos os fenômenos políticos atuais, golpes de Estado, guerras, avanço da ultradireita, intolerância. Todos têm uma fonte comum: a crise da velha ordem do pós-guerra, que garantia um mínimo de regras para administração de conflitos. Com exceção dos golpes de Estado em algumas regiões do planeta – como na América do Sul – a democracia ocidental garantiu um período de estabilidade, que começa a entrar em crise já nos anos 70, com o avanço da financeirização e da desregulação da economia.
Seguiu-se um período de aprofundamento da miséria, de destruição de estados nacionais, somado à desorganização do mercado de informações, com o avanço das redes sociais. Comprometeu-se irreversivelmente o multilateralismo do pós-Segunda Guerra e o modelo de democracia ocidental. As regras em vigor não garantem mais a estabilidade política. Em todos os níveis, há um descolamento da opinião pública dos movimentos da política.
Criam-se vácuos, que abrem espaço para vírus
desestabilizadores infiltrando-se em todos os poros da política, não apenas nos
bolsões da ultradireita. E qualquer pedaço de pau é utilizado de bóia, até
guerras de ocupação.
Peça 2 – os vácuos políticos e a guerra da Ucrânia
O que se observa hoje, na guerra da Ucrânia, é a marcha da insensatez em todos os níveis. Mas é um capítulo importante para analisar o efeito-boia.
Vladimir Putin planejou a invasão da Ucrânia baseado em um quadro internacional sem o elemento guerra.
1. Nos Estados Unidos, a liderança débil de Joe Biden.
2. Na Europa, o enfraquecimento irreversível da União Europeia, depois do Brexit e da aposentadoria de Angela Merkel.
3. Na Ucrânia, um sistema político tão esgarçado que abriu espaço para a eleição de um humorista de TV.
4. No multilateralismo, uma organização (a OTAN) atrás de um função.
Em cima desse cenário, avaliou as consequências maiores da guerra, das represálias e definiu estratégias de resistência. Consumada a invasão da Ucrânia, quando o elemento guerra entrou, todo o quadro anterior se desfez:
1. Biden viu na guerra contra a Rússia a oportunidade de recuperar a popularidade e a liderança sobre um país dividido. E radicalizou..
2. A Alemanha viu na guerra a grande oportunidade para o fortalecimento da União Europeia. E radicalizou.
3. O apoio externo fortaleceu o presidente da Ucrânia e a resistência aos russos.
Ou seja, a guerra tornou-se boia de salvação para
todos os atores iniciais, mudando radicalmente o cenário anterior.
Seguiram-se represálias inimagináveis em um mundo minimamente racional, com retaliações econômicas inéditas contra a Rússia que afetam a economia mundial como um todo; gritos de guerra partindo dos porta-vozes da diplomacia europeia; e a opinião pública internacional sendo manobrada por informações unilaterais com o discurso em uníssono pela guerra.
Se alguém tenta incutir um mínimo de racionalidade
na discussão, é submetido ao imbecil coletivo da mídia – a multidão de
analistas que pretende refletir a voz das ruas, condenando qualquer forma de
negociação, mesmo sabendo que o alvo é um país com o maior arsenal atômico do
planeta.
Peça 3 – a teoria do choque e o caso brasileiro
Em setembro de 2016, no auge do golpe do impeachment, publiquei o artigo “Xadrez da Teoria do Choque e do Capitalismo de desastre”, tentando juntar as peças para entender o comportamento político nacional.
“Há um conjunto de peças soltas no golpe que, quando devidamente organizadas, permitem entender de modo muito mais claro um dos aspectos mais relevantes: a influência externa.
São elas:
1. A campanha sistemática da mídia de destruição da autoestima nacional.
2. Recém instalado o golpe, a corrida do ouro entre Eduardo Cunha e José Serra, para ver quem se antecipava na aprovação da nova legislação do petróleo.
3. A ida repentina do senador Aloysio Nunes aos Estados Unidos, para conversar com membros do Senado.
4. Antes dele, a ida do Procurador Geral da República aos Estados Unidos, para reuniões com o Departamento de Justiça e outros setores sensíveis.
5. A
bandeira mágica que acompanha o golpe, de colocar a salvação do Brasil no
trinômio reforma da Previdência-livre fluxo de
capital-desregulação/privatização.
Para juntar as peças acima, vale a pena um mergulho no livro “A Doutrina do Choque” da norte-americana Naomi Klein”.
O livro analisa situações políticas de choque – desastres naturais, golpes de Estado, que produzem uma desorganização institucional no país, permitindo grandes negócios com bens públicos até que se retome a normalidade institucional.
O caso mais emblemático é o da União Soviética. A crise política produzida pela Glasnost permitiu um pacto entre a elite política do Partido Comunista e da KGB que resultou na apropriação do poderoso aparato industrial soviético pelos antigos chefes políticos. O poder na Rússia acabou nas mãos de um autocrata apoiado por oligarcas beneficiados pelo desmonte do país.
No Brasil, à medida em que o impeachment se
desenhava, houve uma revoada de lobistas para Brasília, prevendo a abertura de
mais um grande período de negócios. O desmonte notório do estado brasileiro
esconde negócios nos mais variados campos, desde a venda de subsidiárias da
Petrobras, negócios com remédios, até o desmonte da produção de uréia pela
Petrobras, para beneficiar indústrias nas áreas de potássio, fósforo e
nitrogênio.
Peça 4 – o novo poder militar
O fato novo na história não são os 8 mil militares que passaram a ocupar cargos civis, mas a montagem de um complexo militar-miliciano debaixo do guarda-chuva do bolsonarismo.
Em “Xadrez da Tarcísio, o super-ministro de Bolsonaro, e os negócios do poder militar”, mostramos a entrada de empresas ligadas a militares na área de transporte, a partir da nomeação de militares para o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre), ainda no governo Dilma Rousseff.
Em “Xadrez de como Braga Netto tentou a operação Davati quando interventor no Rio”, mostramos os negócios articulados por ele, quando interventor no Rio de Janeiro, com empresas ligadas a mercenários, com os quais teve contato no Haiti.
Em “Xadrez do Partido Militar e dos militares bolsonaristas”, mostramos a blindagem das Forças Armadas a malfeitos praticados por empresas ligados a militares da reserva.
Em “Xadrez do alto comando sem espinha dorsal”, relacionamos uma lista de escândalos ligados a militares, sem apuração por parte do Alto Comando.
Em “Xadrez para entender a história do cabo das
vacinas”, mostramos a razão de um cabo da PM ter encontrado portas abertas no
Ministério da Saúde e os vínculos com reverendos e militares da reserva, que
foram um ecossistema global.
Aqui, um levantamento das matérias sobre o reverendo Amilton Gomes, com ligações com a família Bolsonaro, e suas vinculações internacionais.
Essas aventuras empresariais mostram que grupos militares já aprenderam o caminho dos negócios do Estado, inicialmente em operações menores e malcheirosas. Mas, certamente, caminham para se tornar participantes ativos de um jogo cujo maior beneficiário, até agora, é o capital financeiro.
É mais um ponto a se considerar em relação às
eleições de 2022.
Peça 5 – as eleições e o golpe
A Peça 4 reforça a ideia de que os atuais vitoriosos não abrirão mão passivamente dos pedaços de poder proporcionados pelo bolsonarismo.
A senha já está dada:
Em caso de vitória de Lula, por margem apertada,
retornarão as denúncias sobre manipulação das urnas eleitorais.
Paralelamente, haverá a convocação de manifestações nos principais centros do país, especialmente na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Se tentará reeditar o golpe de 7 de setembro. E qual
será o comportamento das Forças Armadas?
No fundo, essa é a questão crucial. Do lado de fora,, o crescente prestígio e atrevimento dos consultores militares; do lado de dentro dos quartéis, o discurso diuturno de um anticomunismo obsoleto.
Leve-se em conta que se trata de um país sem o menor apego às normas democráticas. A maneira como Ministros do Supremo Tribunal Federal endossaram os ataques à democracia é mais que revelador.
No já clássico “Como as democracias morrem”, os autores descrevem um dos processos mais insidiosos de destruição da democracia, o chamado “jogo duro institucional”, no qual jogam-se segundo as regras, mas levando-as aos seus limites. “Trata-se de uma forma de combate institucional cujo objetivo é derrotar permanentemente os rivais partidários – e não se preocupar em saber se o jogo democrático vai continuar”. É a descrição perfeita do arco político montado na Lava Jato, Sérgio Moro –> TRF 4 –> Felix Fischer (STJ) –> Luis Roberto Barroso/Luis Edson Fachin (STF), que já entrou para a história como o responsável maior pela desagregação democrática do país.
Pergunto: repetindo as mesmas circunstâncias, fariam de forma diferente, com as informações hoje disponíveis? A mídia, que aparentemente acordou com a Vaza Jato, estaria disposta a uma autocrítica, de não mais repetir processos desestabilizadores da democracia?
Esse é o drama nacional: um país cujas principais
instituições não consolidaram princípios democráticos. E, por trás de tudo, as
ondas que vêm dos centros políticos internacionais, de que todo arbítrio será
tolerado, e nenhuma negociação será aceita.
quarta-feira, 23 de março de 2022
PREPAREM O BOLSO: BREVE PÃO E MACARRÃO PODERÃO SE TORNAR ARTIGOS DE LUXO!
A guerra na Ucrânia elevou o preço do
trigo ao maior nível dos últimos 14 anos. Em Chicago, os preços fecharam a
semana nos maiores níveis da história. Desde a madrugada de 24 de fevereiro,
quando começou a invasão russa, o trigo já subiu mais de 30%. No dia 04 de
março, o preço na bolsa de Chicago chegava a US$ 415 por tonelada – no começo do ano, o valor girava em torno de
US$ 250. O consumidor brasileiro
deve começar a sentir os efeitos na alimentação no final deste mês, quando as
indústrias tiverem que comprar as novas safras.
“O trigo a este preço ainda não começou a ser comprado no Brasil. Com o aumento, as empresas precisam examinar se repassam ao consumidor”, afirma Barbosa.
A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e tem sido boicotada economicamente pela invasão na Ucrânia – juntos, os dois países respondem por 29% das exportações mundiais de trigo. A queda na oferta de trigo, fator da alta dos preços, não vem apenas das sanções ou de uma eventual retaliação russa: o desabastecimento tem a ver com dificuldades logísticas – a guerra fechou portos, interrompeu o transporte – e com a queda da produção ucraniana da commodity.
O Brasil está vulnerável nesse cenário. O país importa entre 50% e 60% do trigo consumido pelo mercado interno: dos 12 milhões de toneladas consumidos anualmente, a produção brasileira do produto varia entre 5 a 6 milhões de toneladas. Os maiores produtores nacionais são Rio Grande do Sul e Paraná, que, juntos, produzem 85% do trigo nacional.
Segundo Álvaro Augusto Dessa, analista da Embrapa e doutor em administração, o estado do Rio Grande do Sul também exportou mais de 2 milhões de toneladas de trigo em 2021 porque é mais barato importar do que transportar o trigo do sul do País às regiões Norte e Nordeste.
“Como o mês de março é a época em que eles plantam o trigo porque começou o degelo da neve, a próxima safra será prejudicada. Os ucranianos devem levar 2 anos para retomar sua produção. A Rússia, com as sanções, não consegue receber o dinheiro, o que afeta a compra de produtos russos. Não há, neste momento, perspectiva de quando o problema será resolvido. Há aumento no preço do trigo no mundo inteiro”, avalia Dessa.
O Brasil importa trigo dos Estados Unidos e de países do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai – o País não compra a mercadoria da Rússia há 2 anos. Para Barbosa, o problema não será o desabastecimento de trigo, mas seu custo no mercado internacional.
Trigo e a alimentação brasileira
O trigo é a matéria-prima à produção de diversos alimentos, sendo o mais consumido o pão. O aumento no preço do pão de trigo afeta diretamente as camadas mais vulneráveis economicamente da população brasileira, que já sofrem com a inflação dos alimentos desde o início de 2021.
“O trigo é fundamental à alimentação do brasileiro mais pobre e representa até 30% da caloria diária ingerida”, argumenta Dessa, que também evita projeções futuras por considerar a guerra na Ucrânia “imprevisível”.
Ele diz ainda que a Embrapa tem previsão de produzir 22 milhões de toneladas de trigo no cerrado brasileiro, na região de Goiás. O projeto de tropicalização do trigo deve ser implementado entre 5 a 10 anos.