A guerra na Ucrânia elevou o preço do
trigo ao maior nível dos últimos 14 anos. Em Chicago, os preços fecharam a
semana nos maiores níveis da história. Desde a madrugada de 24 de fevereiro,
quando começou a invasão russa, o trigo já subiu mais de 30%. No dia 04 de
março, o preço na bolsa de Chicago chegava a US$ 415 por tonelada – no começo do ano, o valor girava em torno de
US$ 250. O consumidor brasileiro
deve começar a sentir os efeitos na alimentação no final deste mês, quando as
indústrias tiverem que comprar as novas safras.
“O trigo a este preço ainda não começou a ser comprado no Brasil. Com o aumento, as empresas precisam examinar se repassam ao consumidor”, afirma Barbosa.
A Rússia é o maior exportador de trigo do mundo e tem sido boicotada economicamente pela invasão na Ucrânia – juntos, os dois países respondem por 29% das exportações mundiais de trigo. A queda na oferta de trigo, fator da alta dos preços, não vem apenas das sanções ou de uma eventual retaliação russa: o desabastecimento tem a ver com dificuldades logísticas – a guerra fechou portos, interrompeu o transporte – e com a queda da produção ucraniana da commodity.
O Brasil está vulnerável nesse cenário. O país importa entre 50% e 60% do trigo consumido pelo mercado interno: dos 12 milhões de toneladas consumidos anualmente, a produção brasileira do produto varia entre 5 a 6 milhões de toneladas. Os maiores produtores nacionais são Rio Grande do Sul e Paraná, que, juntos, produzem 85% do trigo nacional.
Segundo Álvaro Augusto Dessa, analista da Embrapa e doutor em administração, o estado do Rio Grande do Sul também exportou mais de 2 milhões de toneladas de trigo em 2021 porque é mais barato importar do que transportar o trigo do sul do País às regiões Norte e Nordeste.
“Como o mês de março é a época em que eles plantam o trigo porque começou o degelo da neve, a próxima safra será prejudicada. Os ucranianos devem levar 2 anos para retomar sua produção. A Rússia, com as sanções, não consegue receber o dinheiro, o que afeta a compra de produtos russos. Não há, neste momento, perspectiva de quando o problema será resolvido. Há aumento no preço do trigo no mundo inteiro”, avalia Dessa.
O Brasil importa trigo dos Estados Unidos e de países do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai – o País não compra a mercadoria da Rússia há 2 anos. Para Barbosa, o problema não será o desabastecimento de trigo, mas seu custo no mercado internacional.
Trigo e a alimentação brasileira
O trigo é a matéria-prima à produção de diversos alimentos, sendo o mais consumido o pão. O aumento no preço do pão de trigo afeta diretamente as camadas mais vulneráveis economicamente da população brasileira, que já sofrem com a inflação dos alimentos desde o início de 2021.
“O trigo é fundamental à alimentação do brasileiro mais pobre e representa até 30% da caloria diária ingerida”, argumenta Dessa, que também evita projeções futuras por considerar a guerra na Ucrânia “imprevisível”.
Ele diz ainda que a Embrapa tem previsão de produzir 22 milhões de toneladas de trigo no cerrado brasileiro, na região de Goiás. O projeto de tropicalização do trigo deve ser implementado entre 5 a 10 anos.
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