As facções em luta no início do conflito (Verão de 1936); a zona nacionalista está em azul, a republicana a vermelho, e o verde expressa os avanços dos nacionalistas.
17
de Julho de 1936: Início da Guerra Civil Espanhola com a insurreição das forças
instaladas em Melilla, contra o poder republicano.
A guarnição espanhola de Melilla subleva-se
contra o governo republicano no dia 17 de Julho de 1936. É o começo de uma guerra
civil de três anos e um prelúdio aos horrores da Segunda Guerra Mundial. A
acção do dia 17 de Julho que tentou derrubar o governo republicano, no entanto,
foi derrotada parcialmente. No entanto, causou profunda crise política no
governo. Mais tarde, o decorrer dos factos deu abertura para o estabelecimento
do regime franquista, que permaneceu no poder em Espanha até 1975.
A
jovem república espanhola era à época vítima de uma espiral de violência,
resultado da instabilidade política, tendo como consequência várias centenas de
mortos. Poucos meses antes, a Frente Popular, em 16 de Fevereiro, conquistava
uma vitória eleitoral e o confronto tornou-se inevitável após o assassinato do
deputado monárquico José Calvo Sotelo em 13 de Julho.
A
sublevação militar, chamada de “Glorioso Movimiento” para os seus chefes, era resultado de um
plano preparado minuciosamente por um longo período. A principal inspiração foi
o general Emilio Mola, ex-chefe de
polícia e que se tornou governador militar de Pamplona, região de pequenos
proprietários de terra carlistas e católicos, ferozmente hostis à República, a
Navarra.
Emilio Mola foi inspiração para o movimento golpista
No
dia seguinte, Franco deixa o seu posto nas Ilhas Canárias e viaja secretamente
para Melilla, desembarcando dois dias mais tarde na Andaluzia com as suas
tropas. Tratava-se essencialmente de marroquinos muçulmanos ou
"mouros" e soldados da Legião Estrangeira. Guarnições de muitas das
grandes cidades também se sublevam, mas uma boa parte do exército permanece
fiel ao governo.
Em
três dias, os rebeldes "nacionalistas" tomam a Galiza e a
Velha-Castela, perto da fronteira com Portugal, bem como parte de Navarra, Leão
e Astúrias. Em Navarra e Aragão, os insurgentes beneficiam do apoio das
milícias carlistas, os requetés. Eram camponeses-soldados bem treinados,
católicos fervorosos e entusiasmados monárquicos. O carlismo era um movimento
político tradicionalista de carácter antiliberal e contra revolucionário
surgido na Espanha no século XIX.
Os
nacionalistas conseguem penetrar também na Andaluzia, Córdova, Granada e Cádis,
com a ajuda de batalhões mouros e de unidades da Legião. Contudo, em Barcelona,
são repelidos pelas milícias operárias. Fracassam também em Valência e no
Levante Mediterrâneo.
Hoje ponto turístico, cidade de Melilla foi em 1936 cenário de confronto civil
Os
nacionalistas contavam com uma rápida rendição do governo, porém grandes
cidades escapavam-lhes ao controlo –
Madrid, Barcelona, Valência. Elas conseguiram manter-se principalmente no Sul
com a ajuda de tropas marroquinas.
O
general Mola projecta então tomar Madrid fazendo convergir sobre a capital
quatro colunas de tropas, combinando a sua acção com a insurreição de civis
madrilenos, supostamente partidários do governo mas na verdade favoráveis ao
‘Movimento’. Era o que a história consagrou como a Quinta Coluna.
A
manobra, porém, fracassa diante da mobilização inesperada da população. A
capital permanece em mãos das tropas legalistas comandadas pelo general. Ao
cabo dos 3 dias de Julho - 18, 19 e 20 de Julho – a Espanha emerge dividida em
dois, com uma ligeira vantagem do governo, que mantém sob o seu controlo as principais
zonas industriais, bem como 14 milhões de habitantes contra 10,5 milhões dos insurgentes. Era o início da
guerra civil.
A
guerra civil prolongou-se durante dois anos e meio, opondo exércitos de mais de
800 mil homens em cada lado, com apoio activo do estrangeiro. E, ao
internacionalizar-se, iria servir de ensaio para a guerra que se iria travar na
Europa contra o nazismo e o fascismo. Com efeito, a Alemanha nazi iria testar
em Espanha algumas das suas armas mais modernas, inclusive em Guernica que se
tornaria símbolo do terror nazi.
Um
dado a considerar no resultado da guerra civil espanhola é que nas vésperas do
golpe de Estado militar de Franco, as divisões da Frente Popular e os excessos
da ultra-esquerda eram latentes.
A
frente de esquerda tinha a legitimidade das urnas para levar adiante uma
revolução social. Contudo a acção de pequenos grupos que enveredaram para a
pilhagem e os assassinatos, especialmente no Norte, debilitaram-na. Entre esses
grupos destacaram-se a Confederación Nacional del Trabajo e Federación
Anarchista Iberica, ambas anarquistas e o Partido Obrero de Unificaciòn
Marxista de ultra-esquerda.
Os
militantes do POUM eram vistos com hostilidade pelo Partido Comunista Espanhol.
Essas rivalidades entre os partidos de esquerda atingiriam o auge em Barcelona
em 1937 quando ocorreram violentos embates fratricidas. Esses episódios
enfraqueceram gravemente o campo republicano durante anos.
Fontes:
Opera Mundi
Estórias da História